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Imaginário

Print version ISSN 1413-666X

Imaginario vol.13 no.14 São Paulo June 2007

 

 

 

Primeira impressão: o Rio de Janeiro visto por quem a ele chegou de navio

 

First impression: Rio de Janeiro seen by those who arrived there by ship

 

Primera impresión: Rio de Janeiro visto por quien llegó de navío

 

Zoy Anastassakis*

Museu Nacional – PPGAS/UFRJ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo, analiso alguns depoimentos colhidos entre imigrantes que chegaram à cidade do Rio de Janeiro por via marítima, procurando destacar entre seus relatos a impressão guardada em sua memória sobre os momentos iniciais passados nesta cidade. Considero a falta de domínio da língua no momento de chegada como uma oportunidade para acessar o modo como os cinco sentidos do corpo humano reagem a tal situação de novidade e estranhamento. Ou seja, supondo a falta de comunicação verbal, observo como o corpo media e constrói a atribuição de sentidos, e, assim, por conseqüência, se apresenta como um interessante dispositivo analítico de acesso às representações humanas.

Palavras-chave: Rio de Janeiro, Imigração, Memória, Primeira impressão, Os cinco sentidos do corpo humano.


ABSTRACT

In this article, I analyze some of the testimonies gathered from the immigrants that arrived at the city of Rio de Janeiro by sea, while trying to focus from their reports on the impression kept in their memory of the first moments spent in this city. I consider the lack of language fluency at their arrival as an opportunity to access the way by which the five senses of the human body react to such a situation of novelty and unfamiliarity. That means, taking for granted the lack of verbal communication, I observe how the body mediates and builds the attribution of senses, thus proving to be an interesting analytical device for access to human representations.

Keywords: Rio de Janeiro, Immigration, Memory, First impressions, The five senses of the human body.


RESUMEN

En este artículo, analizo algunos testimonios de inmigrantes que llegaron a la ciudad de Río de Janeiro por vía marítima, procurando realzar entre sus relatos la impresión guardada en su memoria sobre los primeros momentos pasados en esta ciudad. Considero la falta de dominio de la lengua en el momento de llegada como una oportunidad para acceder al modo como los cinco sentidos del cuerpo humano reaccionan a tal situación novedosa y de extrañamiento. Es decir, suponiendo ausencia de comunicación verbal, observo como el cuerpo media y construye atribución de sentidos, y, por ende, se presenta como un interesante dispositivo analítico de acceso a representaciones humanas.

Palabras clave: Río de Janeiro, Inmigración, Memoria, Primera impresión, Cinco sentidos del cuerpo humano.


 

 

Sou designer formada pela ESDI/UERJ e mestranda em Antropologia Social no Museu Nacional – PPGAS/UFRJ. Na graduação, iniciei um trabalho que pretendo retomar segundo novas perspectivas no mestrado. Trata-se de uma investigação acerca da primeira impressão de imigrantes que chegaram à cidade do Rio de Janeiro por via marítima. Em meu projeto de graduação buscava recriar graficamente algumas das imagens retidas na memória daqueles imigrantes sobre o momento de chegada na cidade do Rio de Janeiro. O resultado desse trabalho é um livro – ainda não publicado –, em que cada página corresponde a uma “imagem/memória”, recriada livremente por mim com os meios gráficos que estabeleci para o desenvolvimento do projeto, a saber: fotos/imagens de época reproduzidas em xerox, fotomontagem, digitação dos textos em máquina de escrever manual etc.

“Como é o Rio de Janeiro para o estrangeiro que chega à cidade pela primeira vez num navio?” era a pergunta que me fazia no projeto final do curso de graduação, em 1999. Assim, entrevistei alguns estrangeiros perguntando qual era a primeira impressão que traziam na memória do momento de chegada. Fiz 10 entrevistas pessoalmente e utilizei trechos de depoimentos de 23 imigrantes (judeus, árabes e europeus) do arquivo da Profª. Suzanne Worcman, do Departamento de Comunicação da UFRJ. Meus entrevistados não formavam um grupo, eram pessoas que encontrei separadamente. Todos provinham da Europa e haviam chegado ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial.

A idéia do projeto surgiu de um depoimento da arquiteta italiana Lina Bo Bardi: “como é o Brasil para o europeu que desembarca pela primeira vez no Rio de Janeiro?”. “Chegada ao Rio de Janeiro de navio em outubro. Deslumbre. Para quem chegava pelo mar, o Ministério da Educação e Cultura avançava como um grande navio branco e azul contra o céu.” A pergunta e a descrição da entrada na Baía deram-me a chave para um trabalho que juntasse as ferramentas oferecidas pela orientadora (dadas pelo conceito de flanar – aplicado a um modo de observação do espaço urbano carioca, apontado pela leitura de João do Rio) ao meu interesse pessoal por questões como memória, imigração, narrativa, estranhamento do mundo. Buscava encontrar novas maneiras de olhar a cidade do Rio de Janeiro, investigando-a como uma cidade vitrine do Brasil, uma cidade cartão-postal, cidade-imagem. Foi um pretexto para falar da cidade, para passear por ela com um olhar desnaturalizado. Nesse sentido, o depoimento de Lina Bo Bardi me deu a dica do que fazer. Ela havia chegado como imigrante, e essa distinção foi importante no trabalho. Decidi trabalhar com pessoas que tivessem vindo com o intuito de residir na cidade e que tivessem chegado de navio.

Apesar de terem escolhido o Rio de Janeiro, na sua grande maioria, as pessoas que entrevistei não traziam uma imagem definida da cidade. Ao chegarem, elas pouco sabiam. Fala-se do Pão de Açúcar, do Corcovado e das praias, como idéias prévias. Primeiras visões: a entrada na Baía de Guanabara, o perfil da cidade. A chegada no porto. Desembarque. Depois, surge o centro, a começar pelo próprio porto e pela Praça Mauá, seguidos pela Av. Rio Branco, Rua da Alfândega e Av. Presidente Vargas. Em seguida, aparece a Zona Sul. As praias, os monumentos naturais, os bairros e sua movimentação. Pouco se falou da Zona Norte. Um grande número de depoimentos não se referia a lugares da cidade, mas aos seus modos de ser, à culinária, ao clima, aos modos de vestir, aos meios de transporte.

Recolhidos os depoimentos, parti para a edição do material. Buscava pequenos trechos que formassem uma imagem, que tivessem uma unidade com a qual eu pudesse trabalhar graficamente. Selecionei alguns trechos, considerando a partir daí cada trecho como uma unidade do trabalho, que viria a se transformar em uma página do livro – objeto final. Iniciei então a pesquisa iconográfica, com o objetivo de recriar graficamente os depoimentos. Buscava, por meio das impressões daqueles imigrantes, recriar livremente uma possível cidade do Rio de Janeiro, vislumbrada por mim a partir da mediação das narrativas estrangeiras. As imagens geradas para o livro seriam recriações minhas daquilo que ouvi. Claro que me preocupei em ter uma coerência histórica. Um depoimento que falava da Avenida Rio Branco em 1948 teria de ter imagens contemporâneas a si. Reunidas as imagens que julgava suficientes, parti para a diagramação, descomprometida com qualquer realismo. O objetivo era utilizar todo o material – texto e imagens – para uma reinterpretação que acrescentasse meu ponto de vista, me posicionando em meio ao material empírico. Ou seja, utilizei os depoimentos a fim de promover um encontro meu com uma cidade do Rio que eu não tive oportunidade de conhecer. Por intermédio da mediação dos imigrantes, buscava encontrar um novo modo de olhar o local e também me encontrar com uma cidade impossível para mim.

Em um segundo momento, retomo o material à luz da antropologia. Partindo da pesquisa realizada na graduação, ampliando e recontextualizando as questões, problematizei algumas dessas delas a partir de seu confrontamento com a bibliografia indicada pelo curso “Rituais, jogos e performances”, ministrado pela Profª. Antonádia Borges, no PPGAS/Museu Nacional. Nesse curso discutimos autores, tais como Malinowski, Leach, Sahlins, Saussure, Jakobson, Pierce, Austin. Como resultado inicial redigi um artigo focado na percepção de novos contextos (como a chegada a uma nova cidade, a um novo país), onde a linguagem e a gramática (em um sentido mais amplo) não são dominadas, fazendo com que a comunicação seja principalmente mediada pelo corpo – por seus sentidos. Foi nesse artigo que me baseei para esta comunicação.

Tomo a situação de chegada como um momento em que a falta de domínio da linguagem verbal cria uma situação “boa para pensar” como se dá a comunicação em contextos atípicos. Atento também para a questão das felicidades e infelicidades (nos termos de Austin) vividas no momento de chegada, para a observação de como se opera a percepção e a adaptação a um mundo estruturado diferentemente do da terra natal. Ou seja, busco refletir sobre os modos como as pessoas operam os deslocamentos de sentido que experimentam a partir da imigração. Desse modo, pretendo reavaliar os depoimentos colhidos em 1999 buscando dentro do próprio discurso encontrar vestígios que me ajudem a reconstituir os contextos em que se deu a imigração para as pessoas com quem travei contato.

 

Oritual de chegada

Emigrar é um evento crítico na vida de uma pessoa, um momento necessariamente percebido como diferente do cotidiano, como extraordinário. Nesse momento ritual, o sujeito, muitas vezes, encontra-se desprovido de sua maior arma, a comunicação verbal. A necessidade urgente de decodificar a nova realidade provoca um estado de sensibilidade excessiva. O silêncio aguça os sentidos. A comunicação ocorre, mas os meios normais não estão à mão. Como “se virar”, então, para quebrar a barreira do silêncio? Nas palavras de Malinowski, “romper o silêncio é necessário para superar a estranha e desagradável tensão que os homens sentem quando se defrontam em silêncio” (1930).

O momento da chegada é analisado neste trabalho por meio das marcas deixadas no corpo. Sem esquecer que a experiência é vivida pela soma de todos os sentidos, efetuo uma separação entre os cinco sentidos que me parece analiticamente produtiva.

 

Desembarque

Em 1999, meu interesse era específico, pontual. Interessava-me recolher depoimentos (imagens) sobre a primeira impressão que os entrevistados guardavam do momento da chegada. Precisava de respostas diretas. Muitas das respostas começam com: “a minha primeira impressão” ou “eu me lembro”. Com certeza, isso se deve ao fato de eu ter repetido algumas vezes a mesma pergunta, durante a entrevista. Na época, não me interessava nada que desviasse do assunto principal, pois precisava de imagens sintéticas, fechadas, que eu pudesse recriar graficamente. Os entrevistados me contaram das felicidades e das infelicidades que envolveram sua chegada ao Rio de Janeiro. Para alguns, a chegada e a integração à nova cidade se deu com facilidade; para outros, foi uma seqüência de desastres, mal-entendidos, desencontros.

Muitos repetiam que consideravam uma vitória o fato de terem chegado aqui e se estabelecido com sucesso. A maioria veio em decorrência de guerras, por necessidade de deixar seu país e buscar um novo lugar para viver em paz. Não deviam contar com muitas alternativas, a vida tinha de dar certo. Era mister se adaptar ao novo modo de vida, estabelecer-se, criar vínculos, uma vez que não havia possibilidade de volta. Isso foi algo que me impressionou nos depoimentos: a necessidade de afirmação e reafirmação do êxito, do sucesso, como se quisessem me dizer de um final feliz. É claro que os caminhos foram cheios de percalços, e é nesses casos que as histórias ficam interessantes. As voltas que essas pessoas tiveram de dar para alcançarem seus objetivos livrando-se dos infortúnios falam delas, de onde elas vieram e de quem elas são. Enfim, revelam seus “fichários de representações pré-fabricadas” (JAKOBSON, 1956).

A primeira pessoa que entrevistei foi Maria Baranowska, polonesa, nascida em 1917. Em 1946, chegou ao Brasil, sozinha. Hoje vive como governanta (aposentada) numa mansão do Alto da Boa Vista. Fui a primeira pessoa a lhe fazer uma visita pessoal no Brasil.

Quando cheguei à casa em que trabalha, a encontrei eufórica, andando de um lado para o outro, com um vaso de orquídeas na mão. Então, nos sentamos para conversar, e ela me ofereceu as orquídeas de presente. Aos poucos, durante nossa conversa, misturou várias línguas, português, francês, inglês e polonês. Repetidamente, se desculpava por isso, mas voltava a se embaralhar. O que entendia, eu ia anotando. Foi uma conversa muito emocionada. Provavelmente, foi a primeira vez em que ela falava sobre a sua chegada.

“Primeira coisa, vou dizer, cheguei ao Brasil de noite, mais ou menos. Ilha das Flores, fomos para lá. Dia seguinte fui mostrada pelos companheiros de viagem a um senhor simpático, mas ele não falava outras línguas, e nós estávamos todos numa única língua, pessoas de todas as línguas. Então, de repente, eu vejo. Apreciei o tal simpático, e todo mundo cumprimentando, recebendo; e dizem, eu ouço dizer, a voz de uma das senhoras dizendo: “não, ela fala várias línguas, ela é sozinha, não tem ninguém, portanto ela pode ajudar na certa.Vamos falar com ela”. E me chamam. Ela sou eu! Aí eu digo “tudo bem”. Até achei muito bom pra mim porque assim eu aprendo logo de princípio as coisas de um povo, dessa beleza de verde natureza, que eu já conheci da Polônia (porque eu sou polonesa) pelo professor da escola, que Brasil tem... E ele encucou, coisas sobre Amazônia, ele dizia sempre que quem quer ver o mundo começa pela Amazônia. E eu já estava aqui... Então, começamos o trabalho que era registrar todos os imigrantes aqui.”

O trecho acima nos informa da chegada em si, do desembarque do navio, dos primeiros momentos passados em terra e da situação burocrática que se seguiu. Ela começou: “primeira coisa, vou te dizer:”. Assim, ela anunciou que ia me contar uma história, a primeira coisa que ela lembrava ter vivido no Brasil. A seqüência dos verbos utilizados por ela nos resume a cena: “cheguei”, “fomos”, “fui mostrada”, “estávamos”, “eu vejo”, “apreciei”, “todo mundo cumprimentando”, “recebendo”, “dizem”, “ouço”, “me chamam”, “sou eu”, “achei”, “aprendo”, “conheci”, “eu já estava aqui”, “então começamos o trabalho”. Ela chegava a um lugar novo, sozinha, mas foi notada por falar várias línguas. Ou seja, ela tinha “utilidade” por dominar vários códigos de comunicação. Por conta disso, foi convidada a ajudar no registro dos passageiros que haviam chegado no mesmo navio que ela. Ela ressaltou que, apesar de “serem” de várias línguas diferentes, os passageiros tinham uma língua comum na qual se comunicavam.

Mas o tal senhor simpático, provavelmente funcionário da alfândega brasileira, só falava português. Logo, alguém que, mesmo não falando o português, se comunicasse com os passageiros e que tivesse demonstrado facilidade para o aprendizado de línguas, seria de grande valor. Ela logo demonstrou interesse em ocupar o posto para o qual fora designada. Afinal, assim, ela poderia aprender, conhecer as pessoas, o jeito daqui. Mucha se valeu do domínio de diversas línguas para introduzir-se na nova realidade social. Sozinha, sem nada a perder, precisava se integrar ao ambiente local. Como ela mesma contou, a situação não devia ser das mais fáceis. “Porque, compreenda, chega uma quantidade de pessoas que não eram muito esperadas, porque era depois da Guerra e todos os países eram um pouco atingidos. Acabou em 1945. Acabou, mas, em todo caso, aqueles restos chegaram.” Mucha demonstrou ter vencido rapidamente as dificuldades que a situação apresentava. No fim da nossa conversa, ela me revelou que se sentira feliz em ter chegado ao Brasil. Ela disse: “eu achei, com certeza, que tinha chegado exatamente onde eu queria”. Wadih Jorge Bedran, imigrante libanês, não teve a mesma sorte. Ele contou a Suzanne Worcman: “eu, eu não, quando eu cheguei, ninguém foi me buscar”. Ele havia saído do Líbano para encontrar a mãe, que já estava no Brasil, mas seus irmãos não escreveram avisando a mãe da chegada do filho.

Wadih achava que encontraria sua mãe no porto, mas ninguém apareceu. Ele ensaiou se desesperar, mas foi incentivado por alguns “patrícios” a ir com eles a um hotel na Praça da República, em que se hospedavam libaneses recém-chegados de Beirute. Eles lhe disseram: “Venha aí! Vamos nós! Vamos tudo!”. Ele foi. “Peguei, e vim com eles.” Foi perguntando sobre sua mãe a todos os libaneses que encontrava (pessoas com quem ele dividia o mesmo código de comunicação), e após algum tempo encontrou pessoas que a conheciam e o levaram ao encontro dela. Assim, sua situação “se resolveu”. Mais uma vez, o domínio da língua foi o promotor de “finais felizes”.

O italiano Jean Marcovaldi já era esperado quando chegou ao Porto do Rio de Janeiro. “Portanto, minha vinda aqui no Brasil não foi uma aventura total, eu não me considerava um imigrante que vinha sem saber o que ia acontecer com ele, entende? A minha família, como já dito, tinha esses parentes aqui, e foi a eles que eu pedi se podiam me chamar para vir no Brasil.”

Além disso, aprendeu rapidamente a falar o português. “Naturalmente, eu tinha de começar a falar português de qualquer maneira!” Quando lhe perguntei sobre as primeiras impressões, a resposta foi: “se eu volto atrás e tento me lembrar do que eu poderia pensar do Brasil, o Brasil era um país muito longe, muito afastado, pouco conhecido pra mim, não tinha condições de imaginar. Nem que tivesse ouvido falar que o Rio de Janeiro, particularmente, era uma cidade bonita, mas era toda uma coisa abstrata, sem base nenhuma...” Mas, como Mucha, ele afirmou que sentia ter chegado onde queria. “Para mim, a chegada no Brasil foi altamente positiva!”

Simão Fraifeld não foi tão feliz: “cheguei ao Rio. Cheguei com uma roupa bem quente, quente. Na Europa era clima... Clima de Brasil mudou, mudou. Naquela época, era uma coisa louca, em dezembro... Chorei como uma criança, mas que podia fazer? Não podia voltar”. Para este judeu russo, o desconforto com o clima foi a gota d’água. Corria o ano de 1922. Por razões políticas ou econômicas, ele não podia retornar ao seu país de origem.

A judia romena Sarah Frant, ao contrário, logo se familiarizou com a vida no Rio de Janeiro. “Nós aqui chegamos, devagarinho a gente se adaptou, e gostamos. Parece que eu nasci aqui. Eu fui gostando do Rio, fui gostando do povo. E comecei a trabalhar.”

 

A cidade e os cinco sentidos

A seguir, proponho observarmos alguns depoimentos que se referem mais especificamente aos sentidos do corpo humano. Quando chegaram, os imigrantes não falavam a língua, logo tiveram a comunicação necessariamente mediada pelos sentidos e/ou por interlocutores. A maioria das respostas sobre a primeira impressão fala da visão. Em outras palavras, o sentido selecionado pelos entrevistados, a fim de dar conta da impressão, foi a visão. Assim, podemos concluir que alguns sentidos são mais privilegiados, ou seja, que há uma hierarquia nas suas propriedades, ou, pelo menos, na importância que as pessoas atribuem a essas propriedades.

Em seu texto “De la relation entre signes visuels et auditifs”, Jakobson discute as relações estruturais e perceptivas existentes entre os signos visuais e os auditivos. Ele afirma que essas formas de percepção não diferem em termos de importância, mas de função. Na nossa vida cotidiana, os signos visuais são mais reconhecíveis e utilizados que os auditivos.

 

Visão

Apesar de ter perguntado sobre as impressões da chegada, os entrevistados, em sua maioria, respondiam sobre as imagens (visuais) que retinham na memória. É desnecessário ressaltar que no fundo, quando perguntava sobre impressões, eu também pensava em imagens (que eram, na época, o meu instrumental de trabalho). A predileção pelo visual estava implícita nas minhas perguntas e no que eu desejava obter daqueles depoimentos. Com certeza, ela induzia a certo tipo de resposta. Muitas respostas começavam assim: “a primeira coisa que eu vi...”. É fundamental considerar o fato de que todos os entrevistados haviam chegado de navio. A maioria deve ter feito viagens longas, de pelo menos uma semana em mar aberto. A aproximação da costa devia ser um momento de grande euforia a bordo. Deixava-se para trás a imensidão azul, vislumbrava- se terra firme e as possibilidades de uma nova vida. Havia com certeza muita expectativa com relação ao Brasil, um país muito diferente da Europa, de Israel ou do Líbano, de onde vinha a grande maioria dos entrevistados.

Outro fator importante é que todos vinham para fixar residência, então, a expectativa devia ser redobrada. Talvez por isso as imagens que falam da felicidade e da beleza do instante de chegada tenham surgido tão freqüentemente. Ao contarem o primeiro momento de aproximação da cidade, os entrevistados estavam, de fato, tentando dar conta de responder à minha pergunta sobre a primeiríssima impressão.

“Primeira impressão que tive do barco, lá do alto: todas as cabecinhas cobertas de preto, por guarda-chuvas. Porque fazia sol, mas todo mundo estava de guarda-chuvas pretos. Todos esses guarda-chuvas pretos!”. Dona Wanda, imigrante italiana, parece ter se impressionado bastante com esses guarda-chuvas pretos. Afinal, fazia calor, as pessoas deveriam estar usando guarda-sóis claros, não guarda-chuvas escuros. A cor preta talvez a tenha feito pensar em algo fúnebre, enterros, morte, luto. Essa não era uma imagem condizente com uma cena que se passava num dia quente, à beiramar, num país tropical. Provavelmente, essa cena a impressionou mais do que outras por não se enquadrar no rol de imagens que ela contava encontrar no Brasil, por lhe parecer um paradoxo ou por lhe remeter a uma cena de luto em um momento que ela acreditava ser de esperança, a chegada em um novo país, em direção a uma nova vida, longe da guerra.

Elias Belassiano, libanês, também fala de cores e de luzes. Copacabana lhe trouxe à lembrança uma jóia, um colar de pérolas. Uma imagem de riqueza, valor. Como se as luzes lhe dissessem: “aqui você poderá encontrar a fortuna”. Ele se espanta com o verde das montanhas da cidade. Uma paisagem diferente daquelas com que ele estava familiarizado, no Líbano, seu país de origem. Belassiano acha graça de algo que é característico dessa cidade, a relação mar e montanha, cidade e natureza. “Eu achei engraçado! A Av. Atlântica era, tinha começado naquele tempo. Tinha aquelas lâmpadas todas, parecia até um cordão de pérola bonita. Todas acesas. As lâmpadas todas acesas. Aquele lugar todo aceso. Eu fiquei até pasmado com aquilo, que beleza! Tudo muito diferente do que eu estava acostumado, não sei dizer, eu devo ter reparado, assim, bastante verde, porque essa é uma das coisas do Rio, sempre se pode ver um pedacinho de morro, aqui, acolá.”

A exuberância da natureza e sua proximidade com a cidade também impressionaram Sarah Frant. Na casa da irmã, ela via o mar pela janela. “Depois as praias, a minha irmã mais velha estava morando no Flamengo e se via o mar da janela. Fiquei impressionada com essa vista e depois outras praias!” Essa judia romena, que a princípio foi morar no subúrbio, assim que encontrou uma oportunidade mudou-se para a Zona Sul. Ela queria morar perto do mar. Vendeu a farmácia que tinha comprado com o marido e passou a trabalhar como vendedora de jóias nos prédios dos ministérios, no centro da cidade.

Sidonie Feith veio da República Tcheca em 1940. Assim como a maioria dos entrevistados, ela me contou ter se sentido feliz com a chegada. “Mas quando eu vi, no navio, à primeira vista, eu fiquei tão feliz, eu vi de longe umas palmeiras e casas brancas, eu fiquei tão feliz... Achei tudo bonito. Muito bonito. Disse: ‘Deve ser... Vai ser uma vida boa, não?’ Só tinha pena dos outros que ficaram lá.”

É importante ressaltar que a Europa encontrava-se em guerra nessa época, logo as pessoas com que conversei vinham para cá fugindo de situações muito desfavoráveis. Muitas haviam perdido tudo o que tinham, a família, os bens etc. O novo país representava a esperança de uma vida em paz, de uma nova vida. Casas e palmeiras tranqüilizaram essa imigrante judia, pois lhe diziam que ela havia chegado num país que não estava em guerra. As casas eram brancas e havia palmeiras que apontavam para o céu. Talvez esse tenha sido o primeiro sinal de que o terror da guerra havia sido deixado para trás. Lina Bo Bardi, arquiteta italiana, confirma essa impressão num depoimento encontrado no livro Invenção do Brasil: “Chegada ao Rio de Janeiro de navio em outubro. Deslumbre. Para quem chegava pelo mar, o Ministério da Educação e Saúde avançava como um grande navio branco e azul contra o céu. Primeira mensagem de paz após o dilúvio da Segunda Guerra Mundial. Me senti num país inimaginável, onde tudo era possível. Me senti feliz, e o Rio não tinha ruínas”. Na visão desses imigrantes, o Brasil representava um lugar para construir algo, uma nova vida.

 

Tato

Encontrei três pontos de destaque no que se refere ao tato. Primeiramente, as dificuldades de adaptação com o clima quente e úmido, que se desenrolam para problemas de pele (mordidas de insetos, picadas, mordidas, alergias). Em seguida, noto o espanto de alguns entrevistados com a diferença do comportamento corporal – o “calor humano”. “Cheguei ao Brasil no dia 23 de dezembro. Dia quente, muito quente. Pra mim tudo era novidade. O clima diferente, as pessoas diferentes.”

Outro “paradoxo”: apesar do calor, as pessoas se vestiam com roupas quentes, à moda européia. Moszek Niskier foi repreendido pelo irmão, que já morava aqui, por desembaracar sem paletó. Ele não entendeu a obrigatoriedade do terno num dia tão quente. “No dia 08/11/1936 cheguei ao Rio. Coloquei uma calça clara, que se usava muito na Europa, e uma camisa leve e simples. Fazia um calor desgraçado! Quando desembarquei, meu irmão, que estava ma esperando, perguntou: ‘você não trouxe paletó?’. Achei tão estranho, porque fazia um calor de quarenta graus, mas tinha de usar paletó, gravata, chapéu, tudo!” Até no cinema, o terno era obrigatório. Jules Roger Sauer teve de improvisar um terno para assistir a um filme. Além disso, as salas de cinema deviam ser quentíssimas, pois, obviamente, em 1936 não havia refrigeração. “Lembro que logo no segundo dia fizeram uma vaquinha e pagaram o meu cinema, quatrocentos réis. Arranjaram gravata, paletó, que eram obrigatórios para entrar no cinema. Eu de gravata... Fazia um calor desgraçado! Era um país gozadíssimo!”

Eva Nussenbaum suou de nervoso. Ela se perdeu indo levar o almoço para o marido, no trabalho, e não falava português. “Na primeira vez que eu saí para levar o almoço, com o Samuel, meu filho, no colo e a sacola de comida, tomei o bonde errado. Eu não falava nenhuma palavra de português. Fui parar na Praça Tiradentes. Não sabia mais onde entrar. Fui ficando nervosa. Eu suava em bicas...”

Simão Fraifeld ficou tão assustado com o calor do mês de dezembro que quis voltar para a Rússia. Afinal, para quem saía de um inverno num dos países mais frios do mundo, não deve ter sido nada fácil suportar o verão brasileiro.

Os conhecidos da mãe de Wadih Bedran ficaram eufóricos quando o encontraram, num hotel para libaneses do Centro. A acolhida foi calorosa: “Quando subi, falei com eles que eu sou Wadih Bedran, o Wadih Jorge Bedran. A minha mãe está aqui no Brasil, não sei o que... Ih! Ih! Que loucura, me beijavam, me mordiam... ‘Sua mamãe está aqui.’” Ser beijado e mordido, foi uma loucura! A felicidade manifesta em contato físico impressionou o rapaz, que perambulava sozinho e assustado à procura de sua mãe, sem falar português.

O clima tropical traz inconvenientes mais sérios: doenças transmitidas por insetos que picam, coçam, incomodam, assustam. Sidonie Feith reclama dos mosquitos e de “coisas” que ela encontrou no subúrbio de Madureira: “Primeiro fomos a Madureira. E lá as duas meninas ficaram muito doentes. Uma delas pisou em cima de uma coisa, ficou toda pálida, sabe? Mas em Olaria foi ruim, que lá só tinha muitos mosquitos, enormes. Elas ficaram todas arranhadas de tanto coçar.”

Eva Nussenbaum se desesperava com percevejos e com o calor, a ponto de ter adquirido o hábito de um banho de mar noturno. “Como nós sofríamos naquele lugar, com percevejos! Sabe o que nós fazíamos? Às 3 da madrugada, nós íamos para a Praça Quinze, onde a gente ficava nas pedras tomando banho de mar. Nós íamos a pé, porque em casa a gente não agüentava!” O Centro ainda era um lugar onde as pessoas moravam. Era possível se deitar nas pedras e se banhar...

 

Paladar

Muitos dos entrevistados lembraram-se do susto inicial com o que se comia por aqui. Alguns se impressionaram com a fartura, que não conheciam em suas terras; outros não se adaptaram às comidas típicas brasileiras. Os símbolos da comida brasileira que aparecem, repetidamente, em vários depoimentos são a banana, o feijão e o café. D. Wanda, uma italiana, se espantou com mais um intrigante “paradoxo”: se o Brasil é o país do café, porque então o café tomado aqui é tão ruim? “Tomamos um café numa cafeteria, péssimo o café! Achei péssimo! Em comparação ao café italiano, já tínhamos café expresso maravilhoso! Esse café que vinha numa coisa grande, ‘chafé’, horrível!” Constantin Georgakopoulos só tomava café “à força”. Assim como D. Wanda, ele não podia entender que o café aqui fosse ‘chafé’. “Eu descia de manhã, aí eu tomava café, era obrigado a tomar café. Obrigado a tomar café, senhora!”

O feijão impressionou muitos dos entrevistados. Vários deles não entenderam o que era aquela comida preta. Alguns nunca conseguiram deixar de sentir um grande incômodo com esse prato tão comum entre os brasileiros. “Minha mulher não conhecia o que era feijão, feijão lá não era preto. Chegou à cozinha, ela viu a panela preta, chamou a cunhada dela e falou: ‘Oh, Lili, venha ver, feijão queimou!’, a outra correu. ‘Como queimou? Não deu tempo pra queimar!’, ‘Olha, aqui tá preto. Queimou!’, ‘Isso aqui não é queimou, não! É feijão preto que a gente come!’. A gente não queria comer naquela época feijão preto. Que é isso aqui? Não é bonito! O nosso feijão era diferente, era branco ou roxo. Feijão preto, não!” Samuel Rozenberg é um desses que nunca conseguiu comer um prato de feijão. “A primeira refeição não vou esquecer nunca. Eu fiquei repugnado! Puseram uma bacia de um líquido negro na mesa. Aquilo, só de olhar fiquei com náusea! Vim a saber que aquilo era feijão. Aquele alimento preto me fez torcer o nariz!”

Jean Marcovaldi estava tão feliz de poder comer à vontade que chegou a comer coisas que nem ele mesmo acredita... “Uma das primeiras impressões minhas e dos outros era da necessidade de me refazer da grande fome que nós passamos, e eu também, no último período da guerra principalmente. Eu desforrava, levantava à noite, ía à geladeira e comia mesmo. Bebia, comia coisas que hoje acho horríveis. Desde pegar um pão francês, cortar no meio, pegar uma manteiga endurecida pela geladeira e fazer uma fatia grossa, como se fosse um queijo, e colocar no pão e comer aquilo, achar aquilo a maior delícia da vida.”

O grego que tomava café obrigado comia à vontade dúzias de bananas. “Tinha uma firma de um português, que vendia bananas, e eu nunca vi! Eu vi banana na loja, mas nunca uma loja de bananas, né? Aí eu olhei, banana, banana; banana na Europa era caríssimo! Não hoje que tem transporte, frigoríficos, né? Olhei pra ele, e ele logo me deu um cacho! Me deu, assim, no mínimo, duas, três dúzias! Assim!” Impressionou a fartura, o preço, o fato de que o comerciante lhe dava bananas de graça. “Eles me ofereciam muita banana. E como eu não fiz muita festa, eles ficaram espantados: ‘Puxa, como é que um camarada rejeita banana?’ Eles ficaram espantados: ‘Que imigrante meio esquisito é esse?’”

 

Audição

Outra diferença marcada pelos depoimentos: no Brasil, as pessoas gritam, esbravejam, falam nas ruas em alto e bom som. “Na Av. Rio Branco, vi gente em grupos, conversando, gesticulando e falando alto! E os bondes eram todos abertos, o cobrador andava em volta das pessoas e gritava: ‘Faz o obséquio! Faz o obséquio!’” “E era toda a gente que fazia um barulho, uma gritaria: Oh!, Uh!, Oh!, Uh!... Cantavam!” Jean Marcovaldi vibrou com a acolhida calorosa. Quando o navio se aproximava do porto, uma turba de parentes vinha do outro lado, em pequenos barcos, gritando, aplaudindo, festejando a chegada dos familiares. “Então houve essa cena muito bonita, no sentido de que o navio vinha, na mesma hora saíam do cais todos os barcos cheios de parentes, cheios de gente rindo, chorando, aplaudindo, gritando os nomes de cada um...”

 

Olfato

Poucos depoimentos se remetem ao olfato. Esse sentido só aparece quando relacionado ao Carnaval. Nessa ocasião, as ruas cheiram a lança-perfume. “Chegamos aqui num sábado de manhã, uma semana antes do Carnaval. Eu achei gozado que disseram: ‘vocês vão ser recebidos por bandas de Carnaval e vocês vão ver que as ruas são perfumadas...’” Afinal, durante o Carnaval, toda a cidade se transforma. Chegar ao Brasil num dia de Carnaval foi o que aconteceu a Stephan Wohl. Ele parece ter se divertido, mas sua mãe não. “Acho que as primeiras pessoas que eu vi foram uns piratas, andando na rua, cantando: “Eu sou o pirata da perna de pau...”. São minhas primeiras memórias. Naquele tempo, o Carnaval começava muito antes. Jogavam lança-perfume nas pernas das pessoas. Minha mãe queria ir embora para a Palestina.”

 

Em terra firme

Em um depoimento encontrado no livro Invenção do Brasil, Lina Bo Bardi, arquiteta italiana, sintetiza um pouco das impressões retidas na memória dos imigrantes entrevistados: “Chegada ao Rio de Janeiro de navio em outubro. Deslumbre. Para quem chegava pelo mar, o Ministério da Educação e Saúde avançava como um grande navio branco e azul contra o céu. Primeira mensagem de paz após o dilúvio da Segunda Guerra Mundial. Me senti num país inimaginável, onde tudo era possível. Me senti feliz, e o Rio não tinha ruínas.” Na visão desses imigrantes, o Brasil representava um lugar para se construir algo, uma nova vida.

 

Considerações finais

Nessa comunicação, pretendi observar alguns casos de felicidade e infelicidade contados pelos imigrantes com quem tive oportunidade de conversar. A partir de uma seleção dos depoimentos, tentei demonstrar como a cidade do Rio foi experimentada pelos entrevistados a partir de seus sentidos, uma vez que, quando chegaram, eles não conheciam a língua aqui falada. A comunicação foi forçosamente mediada pelo corpo – nos casos supracitados, pelo olhar.

Em um próximo momento da pesquisa, pretendo aprofundar os questionamentos acerca da percepção de um novo ‘mundo’ a partir da perspectiva do corpo. Apoiada pela literatura ligada à antropologia do corpo e à antropologia dos rituais, pretendo operacionalizar as questões surgidas na pesquisa. O trabalho pretende revelar as marcas impressas no corpo pela cidade, criando uma espécie de cartografia das primeiras impressões sentidas por esses imigrantes. Outro eixo possível para um desdobramento deste trabalho consiste em uma investigação sobre o lugar-comum do navio na aventura antropológica. Trechos dos diários de Boas e Malinowski e o depoimento de Lévi-Strauss sobre a chegada à Baía de Guanabara, entre outros, servem de base para se pensar o que era a viagem, em si, para os primeiros antropólogos, que se deslocavam para seus campos de pesquisa obrigatoriamente por via marítima.

Esses dois eixos podem se articular ainda de outra maneira, que consiste em pensar a viagem marítima e o desejo/necessidade de “expansão” tanto da parte de quem emigra, com o objetivo de fixar residência em outro país, quanto da parte dos antropólogos, que, no início do século 20, tomaram o mesmo barco, indo viver (estudar), pelo trabalho de campo e da observação participante, a vida de seus nativos, in loco. A viagem, dos antropólogos e dos emigrantes, se relaciona a um espírito de época. Que espírito seria esse? Que motivações estariam fazendo as pessoas deslocarem-se da Europa na primeira metade do século 20? Qual era o “contexto da situação”? Podemos pensar esses fatos como decorrência das guerras que tomaram o Velho Continente e que fizeram com que as pessoas fossem buscar outros lugares para viver e pensar. Que símbolos as pessoas traziam quando aportavam? Com que gramática elas leram o “Novo mundo”? Essas são algumas das indagações que o material suscita e que pretendo problematizar em um futuro próximo.

 

Bibliografia

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WORCMAN, S. (dir. edit.). Heranças e lembranças: imigrantes judeus no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ARI/CIEC/MIS, 1991.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: zoy74@terra.com.br

Recebido em 24/06/2006
Aceito em 25/07/2006

 

 

* Designer formada pela ESDI/UERJ e mestranda em Antropologia Social no Museu Nacional – PPGAS/UFRJ
1 En castellano recién se publicó en 1985 en Cerdos & Peces, y en 1989 en la revista El porteño
2 Lamborghini (Buenos Aires, 1927) poeta y periodista. Vivió exiliado en México entre 1977 y 1990. En 1991 recibió el Premio Leopoldo Marechal y en 1996 el Boris Vian. Sus poemarios fundamentales son El saboteador arrepentido (1955), Las patas en la fuente (1965), Coplas al Che (1968), El solicitante descolocado (1971), Odiseo confinado (1992), Tragedias y parodias (1994), Comedietas (1995), Las reescrituras (1996), Carroña última forma (2001)
3 Néstor Perlongher (Avellaneda, 1949 - Brasil 1992) poeta, ensayista, antropólogo, periodista, vivió en Brasil desde 1981 hasta su muerte Fue activo miembro del Frente de Liberación Homosexual y devoto de la religión del Santo Daime donde mezclaba droga, poesía, sexo y religión. Seguidor del barroco de José Lezama Lima, se lo estima figura central del “neobarroso” rioplatense que desarrolló especialmente en sus cinco libros de poesía reunidos en Poemas Completos, Buenos Aires: Seix Barral, Biblioteca Breve, 1997
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Copi, Raúl Natalio Roque Damonte , hijo del periodista político Raúl Damonte Taborda y de China Botana, hija del conspicuo director del diario Crítica. Cuando murió su abuelo en 1941, comenzó una fuerte disputa familiar por el control del diario. La llegada de Perón al poder condujo a la familia al exilio. Así Copi se escolarizó en París. En 1955 la familia regresa a la Argentina arruinados económicamente. En 1962 regresa Copi a París. En 1968 participa del Mayo francés y en 1970, estrena Eva Perón bajo la dirección de Alfredo Arias. Recibe mala crítica, pero la pieza tuvo enorme éxito, Se gana la vida como dibujante de tiras de humor, escribe novelas en forma de folletín y también obras teatrales que dirigió José Lavelli. El 11 de diciembre de 1987 gana el premio de la Ville de Paris al mejor autor dramático y tres días después, muere de sida
5 Esta expresión, Jorge Panessi no la utiliza para Evita vive, pero nos parece aplicable a este texto. Cfr. “Detritus” en Lúmpenes peregrinaciones. Ensayos sobre Néstor Perlongher, Rosario, Beatriz Viterbo Editora, 1996, p. 48
6 La mitología peronista se caracteriza por una fuerte simbología que se denota en sus emblemas: el escudo y la marcha peronista, la figura del descamisado, las fechas de nacimiento de Perón y de Eva, la del día y la hora de “su paso a la inmortalidad” El 31 de agosto, cuando ella declina el ofrecimiento de acompañar la fórmula presidencial como vicepresidenta, se lo denomina Día del Renunciamiento. El 18 de octubre de 1952 se declara día de Santa Evita y el día ante-rior, Perón la llamó “estandarte de nuestro movimiento y una de las más grandes mujeres de la humanidad”. El 24 de enero de 1952, el Congreso en sesión extraordinaria, acuerda otorgarle el título de Jefa Espiritual de la Nación. El 26 de junio, el Congreso acuerda erigirle un monumento, con réplica en todas las capitales de provincia. En julio, en todos los templos del país, se reza por su recuperación. Cuando fallece, su cuerpo es embal-samado y luego exhibi- do en el ministerio de Trabajo y Previsión. El 1 de agosto, el féretro es llevado en una cureña tirada por 42 sindicalis- tas, primero al Congreso y de ahí, a la CGT, donde se le erigiría una pirámide de cristal, que protegería su cuerpo para la eternidad. Al cumplirse un mes de su fallecimiento, se realizó una procesión de antorchas, encabezada por el propio Perón. Y ya muerta, los pobres siguieron enviando cartas “A Evita que hace el Bien”
7 En la obra de Copi, Evita misma reemplaza las ampollas de medicamento y asesina a la enfermera, para que ésta, la sustituya en el féretro, mientras ella escapa

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