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PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.7 n.2 Itatiba dez. 2002

 

ARTIGOS

 

Aquisição de drogas: um estudo entre estudantes brasileiros

 

Drug acquisition: a study among Brazilian students

 

 

Marília Saldanha da Fonseca*, 1, 2

 

 


RESUMO

O crescente consumo de drogas no Brasil atinge uma população cada vez mais jovem, inclusive estudantes. Os levantamentos epidemiológicos realizados entre alunos brasileiros de educação básica concluíram que a grande maioria dos alunos nunca teve contato com drogas, exceto tabaco e álcool. Quanto aos usuários, é avaliado o modo como agem para que se possa adotar contramedidas. O presente estudo tem como objetivo investigar os canais que os estudantes usuários utilizam para adquirirem as drogas (forma e/ou local). Os resultados apontam em primeiro lugar os amigos, seguidos de traficantes, farmácias, outros e familiares. Conclui-se pela necessidade das escolas promoverem ações preventivas que reduzam os riscos do abuso de drogas entre os estudantes, adotando um conjunto de medidas que visem a uma educação para a saúde e para a qualidade de vida. Destaca-se a importância das contribuições do psicólogo da saúde, atuando na prevenção primária, secundária e terciária.

Palavras-chave: Consumo de drogas, Pesquisa epidemiológica, Aquisição de drogas, Ações preventivas, Psicologia da saúde.


ABSTRACT

The increase of drug consumption in Brazil is reaching young populations, including students. Epidemiological surveys carried out among basic education Brazilian students had concluded that the majority of students have never had contact with drugs (with the exception of tobacco and alcohol). The way drug users usually act has also been evaluated in order to counteract such behaviours. Accordingly, the objective of the present study is to investigate how drugs users obtain drugs. Results evinced that friends are ranked first followed by drug dealers, pharmacies and family. The study pinpoints the need that schools direct their efforts toward preventive actions to reduce the risk of drug abuse among students through the adoption of measures aimed at providing health education and the enhancement of quality of life. The important role of health psychology in all levels of prevention is acnowledged and discussed.

Keywords: Drug consumption, Epidemiological research, Drug acquisition, Preventive actions and health psychology.


 

 

Introdução

A expansão do uso e abuso de drogas, tanto as consideradas lícitas (álcool e tabaco) quanto as ilícitas, vem se evidenciando em vários países. Em escala mundial, as drogas passaram a representar uma das questões que mais aflige a sociedade contemporânea, agravando os problemas de cunho social e de saúde pública. Ocorre, também, a preocupação de que o uso e abuso de drogas estão chegando a setores mais jovens da população, sendo cada vez mais freqüentes entre adolescentes.

O abuso de drogas pode ser resultante de vários fatores. Lettieri (1985) aponta para certas características de personalidade do usuário como tendência a apresentar baixa auto-estima, ansiedade, impulsividade, rebeldia, engajamento em situações de risco, problemas na busca de identidade. Para Bento (1987), a personalidade do usuário é constituída de componentes psicopatológicos tais como: o componente obsessivo-compulsivo, o componente perverso, o componente psicótico. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde-OMS estabelece que as pessoas com maiores possibilidades de usar drogas seriam aquelas que desconhecem o efeito das drogas, com saúde deficiente, de personalidade frágil e com facilidade na obtenção das drogas (Galduróz, Noto & Carlini, 1997).

Vale ressaltar que é necessário entender não se tratar de converter o abuso de drogas em uma “doença” do usuário, isso seria reduzir a questão a um único fator. Uma visão compreensiva do abuso de drogas mostra que qualquer estudo sobre o assunto deve ser examinado à luz de uma triangulação envolvendo indivíduo-droga-contexto sociocultural. O indivíduo enquanto ser biológico e psicossocial, a droga considerando-se sua propriedade farmacológica e o contexto que define as diferentes significações e representações para o abuso da droga.

A escola se vê diante dessa realidade, porquanto é o espaço concreto onde crianças, adolescentes e jovens adultos permanecem, praticamente, a metade de suas vidas. É preciso, pois, conhecimento e compreensão das raízes do problema. Para isso, são necessários levantamentos confiáveis não só que indiquem a magnitude do consumo de drogas, como também, identifiquem os fatores de risco e os grupos afetados. Permitam, ainda, a realização de diagnósticos contribuindo para elaboração de políticas públicas que respondam à demanda gerada pelo abuso de substâncias psicotrópicas.

Assim sendo, buscando traçar o perfil do estudante usuário e não-usuário de drogas, são realizados estudos epidemiológicos na população-alvo. Segundo Breilh & Gandra (1989), “o conhecimento epidemiológico se desenvolve em torno do esforço para explicar e transformar os problemas de saúde-doença em sua dimensão social”. A epidemiologia tem como objeto de estudo a relação saúde-doença como processos que ocorrem numa população; sendo de caráter extensivo, estuda grandes grupos com o objetivo de obter conhecimentos e técnicas que, por meio de medidas de alcance coletivo, promovam a saúde individual. As pesquisas e levantamentos epidemiológicos, de modo geral, caracterizam-se pelo desenho descritivo, pelo universo de amostragem homogênea, pela observação de campo, pela utilização de instrumentos estruturados e padronizados e pela aplicação de modelos estatísticos.

No Brasil, importantes levantamentos epidemiológicos sobre consumo de drogas entre estudantes têm sido realizados como por exemplo a “Avaliação das ações de prevenção de DST/Aids e uso indevido de drogas nas escolas de ensino fundamental e médio em capitais brasileiras” pesquisada pela UNESCO, Ministério da Saúde, Grupo Temático UNAIDS, UNDCP (2001) e o “IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes do 1o e 2o graus em 10 Capitais Brasileiras-1997”, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas-CEBRID da Escola Paulista de Medicina. Ruas & Abramovay (2001) analisam a pesquisa da UNESCO/UNAIDS/UNDCP na qual os dados revelam que entre os estudantes, 11,71% fumam cigarros (tabaco), 54,57% consomem bebidas alcoólicas e 6,57% fazem uso de drogas ilícitas. Dos usuários, 1,71% usa drogas injetáveis e 39% destes compartilham seringas. Na pesquisa do CEBRID, Galduróz, Noto & Carlini (1997) estudam o comportamento dos alunos ante as drogas de modo geral, cuja abrangência possibilita visualizar a situação no país. Por esse motivo, o CEBRID é tomado como referência para o presente estudo, no que tange ao abuso de drogas entre estudantes brasileiros.

O abuso de drogas entre estudantes brasileiros

Galduróz e colaboradores (1997) revelam que vem aumentando significativamente o uso de drogas psicotrópicas entre estudantes brasileiros. Há uma tendência de iniciação cada vez mais precoce entre crianças na faixa etária de 10-12 anos.

É interessante notar que as drogas mais amplamente usadas são as legais tais como o tabaco e o álcool. O álcool aparece em primeiro lugar, com índice acima de 65% entre os alunos pesquisados. Esta droga é legalizada, de consumo aceito pela sociedade e incentivada pela propaganda. O abuso do álcool provoca mudanças de comportamento, muitas vezes perigosos, que ocasionam riscos como acidentes e atos agressivos. Traz, ainda, alterações de raciocínio, visão, fala e coordenação motora. Seu “uso pesado”, isto é, uso de pelo menos vinte vezes ou mais no mês, é caminho para dependência.

O uso do tabaco é iniciado cedo na vida do estudante; em torno dos 10-12 anos cerca de 11,6% já experimentaram dessa substância. A nicotina, uma das substâncias tóxicas encontradas no cigarro, leva à dependência. Rosemberg (2001) assinala que há três milhões e duzentos mil adolescentes tabagistas no Brasil. Fumar cigarros (de tabaco) causa doenças cardíacas, pulmonares e cancerígenas. Embora existam restrições à propaganda de cigarros nas mídias de massa, estes recebem um tratamento intenso de “marketing” associando o hábito de fumar ao sucesso, às aventuras, à beleza e às conquistas.

As seis drogas (exceto tabaco e álcool) mais utilizadas pelos estudantes das escolas da rede pública, estão na seguinte ordem: os solventes aparecem com maior uso, logo seguidos dos ansiolíticos; como terceira opção estão as anfetaminas, na quarta escolha encontra-se a maconha, em quinta a cocaína e em última os anticolinérgicos. Os solventes são drogas de grande potencial e, freqüentemente, experimentados em idade precoce, na faixa etária de 10-12 anos. A inalação dos vapores causa efeitos imediatos como náuseas, sangramento nasal, tosse, fadiga muscular e perda de apetite. A aspiração repetida pode levar a lesões irreversíveis no cérebro. Dentre os solventes, os mais usados pelos alunos são acetona, esmalte e cheirinho-da-loló. Embora longe dos olhos dos pais, os estudantes têm como local de uso as próprias residências (52,5%), pois, aparentemente, as substâncias apresentam facilidade de aquisição.

Já os ansiolíticos ou tranqüilizantes são drogas empregadas para combater a ansiedade, causando dependência e, também, tolerância, isto é, a necessidade de doses cada vez maiores para serem obtidos os mesmos efeitos anteriores. Apesar do controle existente para a comercialização, os ansiolíticos aparecem entre as três drogas mais consumidas entre estudantes em quatro levantamentos realizados pelo CEBRID nos anos de 1983, 1989, 1993 e 1997 (Galduróz e colaboradores, 1997).

Outro medicamento de uso indiscriminado no Brasil é a anfetamina, uma droga sintética, fabricada em laboratórios como moderador de apetite. Altas doses de anfetaminas causam taquicardia, aumento de pressão arterial, irritação, agressividade, delírios e alucinações. Cria dependência e o uso contínuo pode levar à degeneração das células cerebrais. A anfetamina é mais utilizada pelo sexo feminino.

A maconha (Cannabis sativa) tem como substância ativa o tetrahidrocanabitol (THC). Trata-se de uma droga perturbadora do sistema nervoso central que cria dependência. Como efeitos psíquicos podem aparecer delírios, alucinações, alteração nas noções de tempo e espaço, perda de memória de curto prazo. O uso crônico causa a síndrome da desmotivação, traz diminuição dos níveis de testosterona, podendo gerar infertilidade masculina temporária, que cessa com suspensão do uso da droga. As pesquisas mostram que o “uso freqüente” - uso de pelo menos seis ou mais vezes ao mês e o “uso pesado” - o uso de pelo menos vinte ou mais vezes no mês cresceram de maneira estatisticamente significante quando comparados os quatro levantamentos do CEBRID (Galduróz e colaboradores, 1997). Nas dez capitais pesquisadas, o sexo masculino fez um uso estatisticamente maior que o sexo feminino.

A cocaína, classificada como estimulante do sistema nervoso central, produz intensa dependência e tolerância. Seus efeitos consistem na sensação de grande força muscular, alerta, euforia, insônia, perda do apetite, emagrecimento, alucinações visuais, auditivas e táteis, bem como idéias de perseguição. A cocaína, um pó branco freqüentemente aspirado, é um alcalóide presente na folha da coca (Erytroxylon coca), extraído por reações químicas. Em forma de pedra denomina-se “crack” e em pasta chama-se “merla”, ambos fumados. De acordo com os dados do CEBRID (Galduróz e colaboradores, 1997), apresenta uso entre 1,8% estudantes e, apesar dos percentuais não serem elevados, o consumo da cocaína vem se popularizando, sendo expressiva a tendência de aumento de “uso na vida” (pelo menos uma vez na vida), “uso freqüente” (pelo menos seis ou mais vezes ao mês) e “uso pesado” (pelo menos vinte ou mais vezes no mês). São baixas as porcentagens de uso de “crack” entre os estudantes das dez capitais, possivelmente, porque os usuários perdem contato com a escola, já que a droga traz severa dependência. O uso de “merla” foi insignificante.

Os anticolinérgicos são empregados, na medicina, para tratamento da doença de Parkinson e como antiespasmódicos. As substâncias com propriedades anticolinérgicas, quando usadas em doses elevadas, trazem delírios e alucinações. Com fins não médicos, pode-se citar a planta do gênero Datura como o chá de lírio, ou trombeteira, ou zabumba. Observa-se tendência de aumento do uso de anticolinérgicos entre estudantes, principalmente, do sexo masculino, sendo os mais consumidos o medicamento Artane e o chá de lírio (Galduróz e colaboradores, 1997). Esses pesquisadores atentam para a necessidade de estudos mais regulares que caracterizem o problema e proponham medidas preventivas efetivas. Acrescentam, contudo, que a grande maioria dos alunos da pesquisa nunca entrou em contato com drogas psicotrópicas (exceto tabaco e álcool), fato considerado muito importante para estabelecer os fatores de proteção para o não-uso de drogas, isto é, fatores ou pessoas que podem fortificar a determinação para rejeitar ou evitar o abuso de drogas.

Dentro dessa perspectiva, o Centro de Estudos de Drogas da Universidade Santa Úrsula-CEDUSU, tem realizado levantamentos epidemiológicos em várias cidades brasileiras. Ao dar início às atividades de prevenção em uma comunidade (Município ou Estado), o CEDUSU estrutura uma equipe local com a finalidade de dar o apoio administrativo necessário à implementação, execução e avaliação do programa. Nesse sentido, inicialmente visando compreender e caracterizar a real situação da população escolar, o CEDUSU procede a um estudo-diagnóstico fundamentado em levantamento epidemiológico para obter dados sobre aspectos da vida dos estudantes, sobretudo a respeito do abuso de substâncias psicotrópicas. O levantamento reveste-se de importância na medida em que se obtém uma avaliação da problemática do grupo em questão, podendo-se formular estratégias preventivas tais como diminuir os comportamentos de risco, fortalecer os fatores de proteção e influir sobre as circunstâncias que favorecem a oferta e a procura das drogas.

Os resultados encontrados, em geral, permitem traçar o perfil da população estudantil, no que tange ao abuso de drogas, bem como fornecer orientações ao programa de capacitação dos professores em educação preventiva para atuarem nas escolas junto aos alunos. Têm em vista, ainda, contribuir para a formulação de políticas públicas adequadas e racionais visando a uma intervenção preventiva. Em consonância, como parte dessa pesquisa mais ampla que visa avaliar o abuso de drogas entre alunos das escolas de educação básica, o presente estudo tem o objetivo específico de investigar como se dá a aquisição das drogas pelos estudantes, qual a forma e/ou local onde são adquiridas as substâncias psicotrópicas.

 

Método

Trata-se de uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa que se utiliza também dos procedimentos da estatística descritiva.

Participantes

A população-alvo da pesquisa epidemiológica é escolhida por amostragem aleatória simples. Os alunos foram devidamente informados do sorteio de seus nomes para que participassem da pesquisa. Aos estudantes foi assegurado o caráter confidencial do estudo. Estes eram livres para participar ou não, tendo sido raro o desinteresse em fazer parte do levantamento. No caso dos estudantes que não se dispuseram a participar, foram sorteados outros indivíduos em lugar desses para a devida substituição. Assim, o levantamento foi constituído por 19.977 alunos de educação básica (ensino fundamental e ensino médio) de 161 escolas da rede municipal de ensino público, de seis municípios do Estado do Rio Grande do Sul-RS. A escolha desse Estado deu-se porque a pesquisa realizada por Galduróz e colaboradores (1997) apontou Porto Alegre como a capital de maior índice de consumo, portanto foi de interesse verificar como o fenômeno ocorre entre estudantes das cidades do interior do Estado que estão próximas à capital, como as pesquisadas.

Instrumento

A coleta de dados foi realizada mediante o uso de um questionário epidemiológico com vinte e seis questões, que procuram identificar os dados socio-demográficos dos estudantes (sexo, idade, série escolar, escala socioecomômica), a qualidade das informações que alunos têm sobre drogas, e o padrão de uso não-médico de psicotrópicos pelos alunos e familiares. Os alunos responderam ao questionário coletivamente, aplicado em sala de aula, sem identificação pessoal e sem a presença do professor. Considerando a importância de se obter informações sobre como ocorre a disseminação das drogas entre os estudantes na comunidade, o presente estudo teve como foco principal a seguinte questão: Você acha que o jovem consegue droga através de: farmácia, amigos, traficantes, familiares, outros. Quanto ao formato, a questão compõe-se de uma assertiva a ser completada e quatro opções não excludentes, isto é, o respondente pode assinalar uma ou mais alternativas.

Procedimentos

Os instrumentos foram administrados nos participantes por uma equipe local previamente treinada para esse fim. Respondidos os questionários pelos estudantes, coube aos profissionais do CEDUSU conduzirem a análise sistemática dos dados empregando metodologia própria para pesquisas epidemiológicas sobre drogas.

 

Resultados e Discussão

O levantamento epidemiológico realizou-se no período 1997/1999, em 161 escolas, de seis municípios do Rio Grande do Sul-RS. Participou uma população constituída por 19.977 estudantes, dos quais 1.495 são usuários de drogas (7,48%) e 18.482 não-usuários, representando 92,59% do grupo estudado. Os estudantes usuários apontam como a forma e/ou local de obterem drogas a seguinte seqüência: Amigos (38,73%), logo seguidos de Traficantes (36,25%), como terceira opção estão as Farmácias, com 11,64%; a quarta escolha recai em Outros, com 9,23% e, finalmente, Familiares com 3,75% das opções (Tabela 1).

Tabela 1- Forma e/ou local de aquisição de drogas segundo usuário masculino e feminino

Vale ressaltar que o estudante usuário masculino tende a se comportar de forma semelhante nas seis capitais. A primeira escolha recai sobre Amigos/ Traficantes, na segunda escolha ocorre a mesma alternância, amigos/Traficantes. A terceira opção aponta para Farmácia/Outros, enquanto na quarta situam-se, também, Farmácia/Outros, a quinta escolha relaciona-se a Familiares (Tabela 2).

Tabela 2 - Forma e/ou local de aquisição de drogas segundo usuário masculino

Em relação ao usuário feminino, observa-se a mesma tendência do usuário masculino. A primeira escolha é feita entre Amigos/Traficantes, fato que também ocorre na segunda opção. Já a terceira recai em Farmácia nas seis cidades pesquisadas; a quarta escolha é para Outros e a quinta, Familiares (Tabela 3).

Tabela 3 - Forma e/ou local de aquisição de drogas segundo usuário feminino

Tendência idêntica observa-se nos cinqüenta e um usuários que não informaram sexo. Os dados especificados nas Tabela 2 e Tabela 3 permitem concluir que os estudantes dos sexos masculino e feminino que fazem uso de drogas apresentam a mesma tendência quanto à forma e/ou local de adquirir substâncias psicotrópicas nas seis cidades estudadas.

Como pode ser visto na Tabela 4, os estudantes não-usuários respondem que as formas e/ou locais de aquisição de drogas são Traficantes (49,47%), Amigos (35,27%), Farmácias (6,10%), Outros (5,32%) e Familiares (1,78%).

Tabela 4 - Forma e/ou local de aquisição de drogas segundo não-usuário masculino e feminino

No presente estudo foi possível conhecer a forma e o local onde estudantes adquirem as drogas nas seis cidades próximas à capital do Rio Grande do Sul. É essencial ressaltar que a discussão ora apresentada fundamenta-se numa abordagem compreensiva sobre o fenômeno das drogas, examinando o alcance e as implicações do consumo entre estudantes brasileiros. Conforme já mencionado, o uso, o abuso e a dependência de drogas não são apenas determinados pela natureza biopsíquica dos indivíduos ou pela toxi-cidade das substâncias. O ato de consumir drogas é referido a uma articulação dinâmica entre o indivíduo, a droga e o contexto sociocultural, portanto, um entendimento mais completo do uso e abuso de drogas contempla necessariamente uma avaliação dos problemas biológicos e psicológicos do sujeito, da propriedade farmacológica da droga e da tensão socio-política que define a sociabilidade da mesma.

Assim sendo, sob esta perspectiva, os dados são discutidos em razão das escolhas dos estudantes: Amigos? Traficantes? Farmácias? Outros? Familiares?

Amigos

A maior porcentagem de opções para os usuários de drogas recaiu em Amigos, 38,73% do levan-tamento global, tendo sido a primeira escolha de cinco cidades, exceto a cidade E. Quanto aos alunos que se declararam não-usuários, a escolha Amigos obteve uma segunda colocação com o percentual de 35,27%.

A influência de amigos tem sido registrada pelos estudiosos que se dedicam ao assunto (Aquino, 1998; Bucher, 1988; Tiba, 1999). Entretanto, os depoimentos de alunos são mais eloqüentes quando se deseja ter clareza quanto à força do grupo, às histórias em comum e às vivências compartilhadas. Seguem-se três falas de alunos usuários que enfocam tais questões (Luz, 2000).

Eu experimentei “thinner” aos 12 anos. Só que não foi porque eu quis. Foi influência. A “galera” estava cheirando, então deixa eu cheirar também. Sozinho eu não ia cheirar, eu acho. Daí a maconha também. Só que a maconha eu quis. (p. 149)

Qualquer lugar tem grupo. Que você vai encontrar um grupo na escola, na praça, no clube. Para nós é um pouco mais fácil identificar o grupo, [...] pela cara. Ficam com a cara de “louco”, de quem não dormiu. (p. 152)

O prazer que a droga causa. Sei lá, é legal você olhar para uma pessoa e saber que ela tem o mesmo prazer que você, tanto com a droga ou com qualquer coisa. (p. 153)

Traficantes

Para o grupo usuário, a opção Traficantes aparece em segundo lugar (36,25%), com exceção da cidade E. Por outro lado, para os estudantes não-usuários a escolha Traficantes recebeu a média de 49,47%, correspondendo, praticamente, à metade dos respondentes deste grupo. Fica evidenciada uma discrepância entre os dois grupos, no que se refere à compreensão e ao entendimento das influências de amigos e traficantes no abuso de drogas. Em relação ao binômio Amigos/Traficantes algumas considerações se fazem necessárias.

Tiba (1999) relata que, de modo geral, as experiências iniciais com a maconha são feitas em grupos, ao lado de alguém que já é usuário, em clima de aventura, cumplicidade e amizade. No entanto, quando as experiências entre companheiros vão se transformando na necessidade do efeito químico da droga, o experimentador (uso de risco) agora usuário (uso prejudicial) compra a maconha num intermediário. Ao contrário da maconha, do álcool e do cigarro, a cocaína não é oferecida gratuitamente por um usuário, a não ser pelo aliciador, visando um novo freguês. O “crack” é oferecido pelo traficante ao usuário como opção mais barata à cocaína. Nesses casos, a intermediação entre o sujeito e a droga é feita pelo traficante.

Acrescenta Tiba (1999) que, nas escolas, dois tipos de tráfico podem ocorrer: o micro e o mini. O “microtraficante” surge quando, para suprir necessidades, um grupo de estudantes usuários elege um deles para comprar as drogas em quantidade maior e preço menor, diretamente do traficante. Este aluno trabalha em seu próprio benefício, pois, ao vender aos amigos retira gratuitamente a sua parte, não recebe pagamento em dinheiro para a intermediação sendo, por isso, independente de qualquer ponto de venda de drogas. O “microtraficante” goza de prestígio entre os compa-nheiros, tendo a cumplicidade do grupo que, por meio de um acordo de silêncio, o mantém no anonimato. No entanto, o “minitraficante”, também aluno, está subordinado a um narcotraficante. Compra e revende as drogas a colegas conhecidos, para um determinado ponto de venda. Sua tática difere da do outro estudante, pois tem a intenção de aliciar os companheiros, oferecendo gratuitamente as drogas nas abordagens iniciais, até conquistar o freguês para venda.

Tais observações permitem uma análise. Quando os alunos usuários apontam Amigos e Traficantes há coerência nas duas escolhas segundo o exposto anteriormente. Em relação aos estudantes não-usuários, pode-se inferir que, talvez, sejam sugestionados por notícias veiculadas na mídia ao indicarem Traficantes (perto de 50%) como a forma de adquirir drogas. A forte influência do estereótipo do narcotraficante encontrado nas “bocas de fumo” das favelas, muitas vezes, impede os estudantes não-usuários de olharem em torno de si próprios e acautelarem-se, justo, em relação aos amigos e colegas usuários, fato que os deixam vulneráveis ante o uso e abuso de drogas. A esse respeito, deve a escola investigar “quem” e “onde” é feito o tráfico de drogas dentro de suas dependências.

Farmácias

Para os estudantes usuários, a opção Farmácias aparece em terceiro lugar, com 11,64%, como o local para a droga ser adquirida. Para os não-usuários, também, é a terceira escolha, com somente 6,l0% de indicações. Cabe destacar que nas farmácias são comprados os ansiolíticos, as anfetaminas e os anticolinérgicos, três das seis drogas mais utilizadas entre estudantes brasileiros (exceto tabaco e álcool), aparecendo como segunda, terceira e sexta opção de uso. Estudos mostram que estudantes do sexo feminino experimentam anfetaminas e ansiolíticos de modo significativamente maior que os estudantes masculinos. “A mulher tem que ser magra, portanto deve tomar anfetaminas! Mulher não pode ser nervosa, tensa ou histérica, portanto deve tomar ansiolíticos!” (Carlini, Carlini-Cotrim & Silva Filho, s/d, p. 24).

Bucher (1988) chama a atenção para o crescimento do consumo de medicamentos incentivado pelos meios de comunicação e pela indústria farmaco-lógica. Substâncias legais, mas que criam intensa dependência, como barbitúricos, tranqüilizantes, soníferos, são largamente usados pelas pessoas, o que traz à discussão questões éticas de responsabilidade de médicos, de pesquisadores, de laboratórios e de autoridades. Em concordância, Lescher (1998) revela que indústrias da psicoquímica moderna arrecadam bilhões de dólares de lucro pelas dezenas de marcas diferentes de antidepressivos que “a indústria farmacêutica lançou num mercado de deprimidos e ansiosos pelo remédio mais eficaz, os de última geração” (p. 60). Os dados e fatos referentes a Farmácias apontam para um amplo diagnóstico sobre a produção e distribuição de medicamentos.

Outros

Nos resultados finais, Outros obteve a quarta opção entre os estudantes usuários e não-usuários, sendo indicado por 9,23% e 5,23%, respectivamente. Sobre esta categoria, há necessidade de ser identificado em futuros estudos o “que” ou “quem” são Outros: namorado (a)?, vizinho (a)?, médico (a)?, policial? Na pesquisa realizada por Luz (2000) entre usuários destaca-se a fala de um estudante retratando a partici-pação de Outros no abuso de drogas. Segue o relato:

Uma vez eu fumei dentro de uma viatura. Eu ia pegar o ônibus e os “caras” (policiais) me pararam e falaram que iam dar uma “geral”. Eu disse que estava sossegado e eles perguntaram se eu era “careta”. Eu disse que era. Aí eles gozaram da minha cara e eu dei risada. Daí eu entrei na viatura e eles tiraram um quilo (maconha) assim na minha frente, aí a gente fumou, eles ligaram a sirene e saíram “que nem doidos”. Quando eu cheguei no colégio eles disseram “falou cara”! (Anexo, p. 20)

Familiares

Familiares foi a última escolha entre os dois grupos, recebendo 3,75% entre os usuários e 1,78% entre os não-usuários. Os resultados, embora os mais baixos dentre as cinco alternativas, devem ser conside-rados para estudo. Galduróz e colaboradores (1997) relatam que, entre os alunos pesquisados, 28,6% deles, pela primeira vez, tomaram bebidas alcóolicas em sua residência, que foram oferecidas pelos próprios pais (21,8%). Para Salles (1998) o contato dos estudantes com drogas ilícitas, embora menos freqüente, também ocor-re por meio de parentes, tais como, primos, tios, pais.

Todavia, se por um lado crianças e adolescentes podem aprender comportamentos de abuso de psicotrópicos convivendo em famílias que apresentam histórico de problemas de drogas, por outro, quando as relações com pais foram solidamente constituídas, é pouco provável que o uso de drogas se torne um problema. É importante que desde a infância os filhos compreendam pela atitude dos pais o que é uso adequado ou uso indevido de drogas (Fórum Nacional Antidrogas, 1998). A família pode ter diferentes formas de organização, entretanto, sua função educativa está presente em todas as culturas. Assim, as relações familiares dos alunos devem ser valorizadas por meio da educação básica. Família e escola precisam ser parceiras nas ações preventivas que visem diminuir os riscos associados ao abuso de drogas.

 

Considerações finais

Sabe-se que a escola é indicada como o local para serem desenvolvidas ações preventivas voltadas à melhoria da qualidade de vida. São muitas as opções para se atuar numa abordagem preventiva de educação cujo princípio está na formação global do aluno saudável. A informação e o conhecimento científico são necessários, porém, não como o centro da educação preventiva. Há que se desenvolver nos alunos a capaci-dade de lidar com conflitos, de se comunicar, de interagir com grupos. Oferecer alternativas para que o estudante, principalmente o adolescente, possa dar vazão à necessidade de viver experiências significativas, de aceitar desafios, de explorar e se arriscar construtivamente.

Como descrito por Boruchovitch (2000), uma estratégia promissora tem sido a promoção e o desenvolvimento da competência social do estudante, com base na participação ativa na escola, no uso de discussão, nas dramatizações, nas trocas de papéis que tenham o objetivo de ajudar crianças, adolescentes e jovens adultos a aumentarem sua capacidade de tomar decisões, de negociar, de argumentar e contra-argumentar. Na opinião de Cruz (1992), a prevenção do abuso de drogas no âmbito da educação formal é uma atividade multidisciplinar. Para sua efetividade, é necessária a conjugação de esforços de diferentes áreas do conhecimento científico, de forma a permitir discussões de cunho antropológico, sociológico, psicológico, pedagógico, jurídico e, até mesmo, político e econômico. Além disso, Fonseca (2001) considera primordial que a educação preventiva no contexto escolar congregue os gestores, o corpo docente, o pessoal de apoio administrativo, os especialistas em educação e os profissionais da saúde com vistas à formação de uma equipe psicopedagógica que permita à escola vir a ser um núcleo de saúde.

Vale ressaltar aqui a importante contribuição da psicologia, sobretudo, da psicologia da saúde, visto que esta é centrada nas significações que os sujeitos têm sobre seus processos de saúde e doença e nas possibilidades de modificações desses significados de modo a promover comportamentos em favor da saúde, da prevenção às doenças e da reabilitação (Joyce-Moniz & Reis, 1991). Nas escolas, o psicólogo de saúde torna-se muito necessário para atuar no sentido de diminuir os riscos e fortalecer os fatores de proteção, conscienti-zando e sensibilizando os estudantes para o não-uso de drogas, agindo nos três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária. A prevenção primária visa promover um estilo de vida saudável nos alunos, envolvendo desde crianças bem novas até o jovem adulto, intervindo antes que o fenômeno do abuso de drogas ocorra. É importante que o psicólogo esteja sempre disponível para conversar com os estudantes, adotando uma escuta acolhedora. Somente assim, é possível estabelecer bom nível de comunicação para troca de informações e opiniões, condições consideradas imprescindíveis nas estratégias preventivas.

A prevenção secundária destina-se aos estudantes de uso leve ou moderado de drogas, que não são dependentes, mas que correm este risco. Nesse caso, o psicólogo precisa empreender aproximações de maneira a facilitar a comunicação e aprofundar o diálogo, com base na compreensão e respeito mútuo. Deve entender as dificuldades e conflitos do usuário, procurando intervir no nível das motivações associadas ao abuso de drogas. E, ainda, conhecer e divulgar, sempre que solicitado, fontes confiáveis de informação e de ajuda existentes na comunidade.

A prevenção terciária dirige-se ao usuário dependente e tem como objetivo apoiar o tratamento e reintegrar o indivíduo na sociedade. O psicólogo da saúde tem como função prestar amplo auxílio ao aluno dependente de drogas, a saber: encorajar na formulação do pedido de ajuda, incentivar a procura de terapia, indicar alternativas de tratamento e favorecer relações especiais buscando identificar pessoas de confiança do estudante que possam ser elementos motivadores para que ele procure uma ajuda especializada. Tem a respon-sabilidade, também, de estimular o aluno no tratamento terapêutico e, depois, dar o apoio necessário para sua reintegração na escola, na família, no grupo de amigos etc. Conclui-se pelo papel privilegiado do psicólogo da saúde na construção do processo de melhoria da qualidade de vida de estudantes, permitindo a estes participarem de forma responsável não só na promoção da sua saúde individual como da saúde coletiva.

 

Referências

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Recebido em 17/07/2002
Revisado em 06/11/2002
Aceito em 10/12/2002

 

 

* Marília Saldanha da Fonseca, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ. No momento, cursa o doutorado da Faculdade de Educação na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. É pesquisadora do Centro de Estudos de Drogas da Universidade Santa Úrsula - CEDUSU, professora do Centro de Educação da Universidade Santa Úrsula - USU e coordenadora de Curso de Pós- Graduação. Tem atuação como assessora e consultora em organizações educacionais e empresariais.
1 A autora agradece as valiosas sugestões e críticas da Profa. Dra. Evely Boruchovitch, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, e dos revisores anônimos dessa revista.
2 Endereço para correspondência:
Rua Boaventura do Amaral, 1.360 apto. 15
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E-mail: mariliasf@uol.com.br