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PsicoUSF

versión impresa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.8 n.1 Itatiba jun. 2003

 

EDITORIAL

 

 

O avanço da produção científica na área da psicologia tem sido retratado pela produção publicada, principalmente, em periódicos, ainda que boa parte dessa produção fique em teses e dissertações e não alcance essa via de divulgação. É notório o aumento de revistas de bom porte acadêmico, acrescentando alternativas de publicação para os pesquisadores da área, antes bastante restritos a umas poucas delas e muitas vezes com periodicidade inconstante.

Algo tem caracterizado essas novas revistas. Por um lado, trata-se da agilidade e do trato sereno e respeitoso com os autores. Por outro, refere-se a pareceres bem elaborados, acadêmicos, com pouco ou nenhum viés teórico ou pessoal e sem adjetivação, explícita ou não, de posições pessoais. Faz parte do passado, exceção a alguns casos conhecidos, o atender-se aos pareceres e depois receber-se outro ou outros solicitando novas mudanças, em um claro desrespeito ao autor, pois ou se trata de pareceres ruins, ou se trata de uma forma de desestimular a produção. Acrescente-se aos aspectos positivos a diminuição do tempo para receber os pareceres para proceder-se às adequações solicitadas e conseqüente publicação. Exceção feita a poucos e conhecidos periódicos, hoje se publica no prazo de um ano na maioria das revistas de psicologia nacionais, seguindo um padrão comum às revistas de outros países com tradição de pesquisa e publicação.

Entretanto, nesse panorama de mudanças positivas para a produção nacional da psicologia, o financiamento das revistas não tem sido democratizado. A Psico-USF teve o privilégio, mesmo sem contar com o merecido financiamento pelo seu mérito, de continuar sendo avaliada como A nacional pela Capes. Seu corpo editorial continuará envidando todos os esforços, não apenas para manter a avaliação nesse patamar, mas também para melhorá-la ainda mais.

Este primeiro número de 2003 conta com dez artigos e quatro resenhas. Tivemos, como temos tido, uma contribuição de autores de diferentes linhas teóricas e universidades, que pesquisam nas diferentes áreas da psicologia, como também estamos publicando pesquisas com modelos diferentes. Essa diversidade retrata a preocupação nacional com a produção, ao mesmo tempo que valoriza a produção de qualidade, independentemente da filiação teórica.

Assim, para a avaliar a competência social com crianças brasileiras que vivem em situação de risco, Alessandra Marques Cecconello e Sílvia Helena Koller descreveram a adaptação do Teste das Histórias Incompletas (THI) no artigo Avaliação da competência social em crianças em situação de risco. Observaram diferenças entre os sexos e entre as idades e consideraram características como confiança, auto-eficácia e iniciativa, indicadoras de atributos de competência social, as quais poderão servir para embasar o planejamento de intervenções e desenvolver a competência social.

Por sua vez, explorando evidências de validade para uma escala de estilos cognitivos em relação a traços de personalidade, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Fermino Fernandes Sisto e Rosana Maria Mohallem Martins relataram seus resultados no texto Estilos cognitivos e personalidade: um estudo exploratório de evidência de validade. Encontraram muito mais correlações do que as esperadas, metade delas confirmando suas hipóteses. Embora detectassem algumas evidências de validade para a escala de estilos cognitivos, sugeriram mais pesquisas para exploração desse construto.

Renata Valladão Theuer e Carmen E. Flores-Mendoza, no texto Avaliação da inteligência na primeira infância, relataram que a avaliação cognitiva na primeira infância tem sido pautada em critérios de desempenho psicomotor. No entanto, estudos longitudinais não têm encontrado relação desses dados com avaliações nos anos posteriores. O que há de novo na literatura são os índices de habituação visual e preferência pela novidade que têm fornecido moderada validade preditiva em termos de desenvolvimento cognitivo.

Apesar de oferecer facilidades e ser bastante usado na clínica, o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister não apresentava dados de validação para diagnóstico de quadros psicopatológicos. Anna Elisa de Villemor Amaral, Telma Claudina da Silva e Ricardo Primi compararam pessoas diagnosticadas como alcoolistas com pessoas sem histórico de ajuda psiquiátrica ou psicológica, no artigo Indicadores de alcoolismo no teste das pirâmides coloridas de Max Pfister. Seus resultados mostraram uma maior porcentagem da cor vermelha e uma constância absoluta da cor violeta no grupo clínico.

Nancy Noemí Terroni, preocupada com as redes na comunicação de pequenos grupos, estudou a resolução de uma tarefa de recuperação de memória e sua associação com a influência percebida no artigo La centralidad en las comunicaciones y la percepción de influencia en los pequeños grupos. Seus resultados, entre outros, relataram associações entre as medidas reticulares e a influência percebida para os meios de comunicação. A discussão foi feita em relação às restrições impostas aos canais de comunicação mediados.

Dentro também de uma perspectiva social, Fernanda Dias preocupou-se com as interações em dupla e o papel da percepção social. Seu estudo, relatado no texto Percepção social e cognição em situações de aprendizagem por conflito sociocognitivo, analisou as relações entre a aprendizagem por conflito sociocognitivo e a percepção da posição sociométrica no grupo, na expectativa de que uma percepção mais acurada pudesse produzir mais ganhos em relação a aprendizagem. Pôde observar essa relação em um experimento, mas não em outro.

Estudando a Psicologia da Saúde, Jorge Iacovella e Marisa Troglia analisaram criticamente a produção sobre os aspectos psicológicos relacionados à enfermidade cardíaca, por ser seu campo mais desenvolvido. No artigo La hostilidad y su relación con los trastornos cardiovasculares tratam da hostilidade e da síndrome hostilidade-ira-agressividade em uma revisão bibliográfica que atualiza e esclarece as tendências das pesquisas na área. Além dos modelos explicativos e dos instrumentos para sua avaliação, discutem as implicações de uso do constructo.

As estratégias defensivas, utilizadas pelos trabalhadores, foram o tema que Paloma Castro da Rocha Barros e Ana Magnólia Bezerra Mendes estudaram no artigo Sofrimento psíquico no trabalho e estratégias defensivas dos operários terceirizados da construção civil. Retrataram trabalhadores vulneráveis e inseguros ante o modelo de produção terceirizado. O desgaste físico e mental e a falta de reconhecimento são enfrentados com estratégias de mediação defensivas de negação e controle. Concluíram que o modelo de produção estudado potencializa o sofrimento no contexto de produção.

Preocupadas com as relações familiares, Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzer relataram sua investigação com o título A relação entre o estilo parental e o otimismo da criança. Os resultados indicaram pais autoritativos, associados a mais otimismo e a menos passividade; e pais negligentes, relacionados a menos otimismo e mais passividade. Com base nessas relações, concluíram pela relevância do papel dos pais no processo de aprendizado do otimismo da criança.

O último artigo apresentado neste número relatou o estudo de Francisco Antonio Coelho Junior sobre Gestão estratégica: um estudo de caso de percepção de mudança de cultura organizacional. Tratou das transformações percebidas pelos empregados na cultura organizacional, discutiu suas crenças e percepções compartilhadas. Seus resultados indicaram que crenças arraigadas dificultaram a implementação do planejamento estratégico, além de apontar aspectos positivos e negativos e propor iniciativas para promoção de mudanças na cultura organizacional.

Finalmente, três livros foram resenhados e apresentados aos leitores. São leituras interessantes, atuais, mostrando ângulos interessantes das problemáticas abordadas. Augusto Rodrigues Dias comentou A clínica do possível: tratando de dependentes de drogas na periferia de São Paulo; Roseli Filizatti discutiu criticamente a obra O desafio da escolha profissional; e Claudia Cobêro analisa o livro Manual de inteligência emocional.

 

Itatiba, junho de 2003.
Fermino Fernandes Sisto
Editor

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