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PsicoUSF

Print version ISSN 1413-8271

PsicoUSF vol.8 no.2 Itatiba Dec. 2003

 

EDITORIAL

 

Neste segundo semestre o Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco obteve a aprovação da proposta de seu Curso de Doutorado pela Capes. Receberá sua primeira turma no próximo ano e, dessa forma, passará a formar profissionais pesquisadores em nível de mestrado e doutorado na vertente da avaliação psicológica, núcleo temático do programa.

A responsabilidade dessa tarefa, junto aos eventos ocorridos relacionados aos testes psicológicos neste semestre, em razão das recentes deliberações do CFP, tornou-se maior ainda. A alegria e satisfação por ter conseguido essa aprovação veio acompanhada de mudanças e debates sobre a avaliação e diagnóstico psicológicos no Brasil, sua utilização, validade, limites ...

É óbvio que avaliar os instrumentos de avaliação em si mesmo é necessário e várias tentativas foram feitas anteriormente, sem conseguir frutos. A posta em prática, do avaliar e divulgar seus resultados, pareceu abalar posições e interesses arraigados e mais profundos do que se suporia em um primeiro momento. Era de se esperar uma movimentação nas pessoas e sistemas envolvidos, talvez não na intensidade observada em certos grupos. O que é curioso foi o quanto atingiu e como atingiu pessoas, nas mais diversas formas. De vários pontos do país ouvem-se vozes contra o ocorrido. A imprensa, como seria de esperar, levantou muito mais o lado negro do que o lado positivo e necessário de introduzir avaliações e revisões periódicas nos instrumentos de diagnósticos. Aparentemente, deveria ser positivo e incentivado que uma ciência teórica e prática estivesse preocupada em melhorar seus instrumentos de pesquisa e diagnóstico, pois indicativo de progresso. Aceitar que estava tudo bem e não havia problemas seria aumentar o tamanho do tapete para esconder o que não se quer que seja visto.

Ao lado disso, pessoas também estão tentando capitanear louros pessoais ao defender a não-mudança e a não-necessidade que toda ciência e toda profissão têm de se revisar e estar em constante alerta contra suas possibilidades de erro. Houve, também, propostas para se criar uma sociedade para defender os psicólogos, independentemente de seus instrumentos serem bons ou não... Mais interesses?

Há também pessoas serenas. E se espera que da serenidade venha a solução para problemas que, de fato, essa medida trouxe. O problema é quanto tempo será necessário para se chegar ao ponto de equilíbrio e qual será esse ponto. Não se pode perder de vista, nesse quadro de dúvidas e incertezas em relação aos testes psicológicos, que uma avaliação psicológica bem feita é sinônimo de um diagnóstico adequado, possibilitando um planejamento de intervenção com alta probabilidade de eficiência e eficácia, com conseqüências na qualidade de vida das pessoas.

Foi nesse contexto que obtivemos a aprovação de nosso programa, apesar de uma coisa não estar relacionada com a outra. No entanto, dúvidas, interrogações, expectativas não deixam de fazer parte de decisões que estamos tomando para implantar um programa que procurará formar profissionais e pesquisadores para atuar nesta área, contribuir para sua melhora e aumentar sua dignidade.

Também foi curioso observar a quantidade de estudos sobre construção e validade de instrumentos de avaliação psicológica que a Psico-USF está publicando neste número. Coincidência ou não, apesar de não ser sua filosofia publicar apenas artigos relacionados à problemática estudada em nosso Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia, este número acabou por conter seu maior número de textos até hoje contidos em qualquer de seus números. Esse fato facilita a interpretação que há pessoas não apenas preocupadas com esse tema em vários estados do país, mas também produzindo estudos e instrumentos para nossa realidade.

Assim, com vistas a construir um inventário das práticas de socialização de pais com filhos em fase de escolarização, Silvia Pereira da Cruz Benetti e Marcos Alencar Abaide Balbinotti, valendo-se de teorias socio-cognitivas e sistêmicas, relataram seu estudo no texto Elaboração e estudo de propriedades psicométricas do Inventário de Práticas Parentais. Apesar de indicarem a necessidade de prosseguir os estudos psicométricos com essa escala, realçaram que as análises de itens e de dimensões, as correlações e a estrutura fatorial forneceram indicadores suficientes para alicerçar as qualidades psicométricas do construto teórico.

Por sua vez, Anna Carolina Lo Bianco examinou as bases da pesquisa psicanalítica em seu texto Sobre as bases dos procedimentos investigativos em psicanálise, valendo-se dos sinais que a pesquisa psicanalítica deixou na neurologia e na neurofisiologia no século XIX e destacando o sujeito do inconsciente e suas necessidades de formas mais apropriadas de pesquisa. Defendeu que a psicanálise deveria reconhecer a especificidade de seu objeto, pois analista e analisante se imbricam na pesquisa das produções inconscientes, particularidade essa que marca a produção a partir do século XX.

Em seu texto Validade Clínica, Marcelo Tavares explora esse conceito, demarcando seus limites em relação aos instrumentos e procedimentos de avaliação psicológica. Defendeu que o processo de atribuição de significados é basicamente qualitativo e que a validade é uma propriedade do processo de associações qualitativas, baseando-se em inferências das relações observadas. Ao lado disso, mostrou que a validade clínica deveria buscar formas de estimar a validade para cada sujeito singular, com critérios em relação ao seu contexto e história pessoal.

Por fim, José Aloyseo Bzuneck e Sueli Édi Rufini Guimarães escreveram o texto Crenças de eficácia de professores: validação da escala de Woolfolk e Hoy no qual relataram seu estudo em torno das percepções para organizar e implementar as ações exigidas para obter resultados acadêmicos. Seus resultados mostraram que a análise fatorial, as correlações e índices de consistência interna sugeriram a adequação do instrumento, ao mesmo tempo em que indicaram a necessidade de futuras pesquisas, incluindo a sugestão de criação de instrumentos para esse tipo de medida. Em acréscimo, discutem o significado dos dois fatores relacionados com as subescalas e suas implicações.

Também preocupados com professores, Susana Caires e Leandro S. Almeida estudaram os aspectos significativos do início da profissão docente em seu texto Vivências e percepções dos estágios pedagógicos: estudo com alunos de licenciaturas em ensino. Com o foco nos professores-estagiários, analisaram cinco dimensões, quais sejam, socialização profissional e institucional, aspectos socioemocionais, aprendizagem e desenvolvimento profissional, apoio/recursos/supervisão e aspectos vocacionais. Relataram que os maiores níveis de satisfação e ganho percebidos pelos participantes se relacionaram à socialização profissional e institucional, aprendizagem e desenvolvimento profissional e aspectos vocacionais.

Para discutir as relações entre as dificuldades de aprendizagem na escrita, o nível intelectual e maturacional de crianças, Claudia Araújo da Cunha, Marcionila Rodrigues da Silva Brito e Scheila Maria Ferreira e Silva realizaram sua pesquisa, relatada no texto Alfabetização, operatoriedade e nível de maturidade em crianças do ensino fundamental. Depois de analisados, seus dados sugeriram a não-existência de correlações significativas entre as variáveis em estudo, o que levou as autoras a discutirem e proporem outras investigações para aprofundar as análises sobre esses construtos, de importância para a psicologia escolar.

Em outro contexto de análise, e analisando com profundidade a obra de Theodore Millon, Roberto Oscar Sánchez apresentou seu estudo sobre esse autor, que desde 1969 tem desenvolvido sua teoria. Em seu texto, Theodore Millon, una teoría de la personalidad y su patología, discute as três polaridades básicas, prazerdor, ativopassivo e eu-outros para explicar as diferenças entre os tipos de personalidade. Comenta, também, a integração dos quatro componentes básicos, quais sejam, teoria ou esquemas conceituais explicativos, a nosologia formal, ferramentas de avaliação e intervenções terapêuticas adequadas.

Com base em dados coletados longitudinalmente, Darío Martín Llull, Justo Zanier e Fernando García fizeram sua pesquisa, denominada Afrontamiento y calidad de vida. Un estudio de pacientes con cáncer. Tendo como alicerce teórico uma visão integradora da vivência dos doentes, seus resultados mostraram relações entre as estratégias usadas para enfrentar a enfermidade e a percepção da qualidade de vida dos participantes do estudo. Evidenciaram, também, fortes correlações entre estratégias de evitação e deterioração na maioria das dimensões da qualidade de vida.

Por sua vez, Maria da Penha de Lima Coutinho, Bernard Gontiès, Ludgleydson Fernandes de Araújo e Roseane Christhina da Nova Sá desenvolveram uma pesquisa intitulada Depressão, um sofrimento sem fronteira: representações sociais entre crianças e idosos. Seus resultados encontraram convergências e divergências quanto às concepções, causas e tratamentos da depressão. As representações englobaram elementos como a tristeza e a morte, produto do conjunto de problemas com os quais os participantes do estudo se defrontam no cotidiano.

Os adolescentes trabalhadores e nãotrabalhadores foram a preocupação de Adriane Xavier Arteche e Denise Ruschel Bandeira, cuja pesquisa foi relatada no texto bem-estar subjetivo: um estudo com adolescentes trabalhadores. Seus resultados facilitaram a interpretação de que o trabalho na adolescência pode ser positivo e que adolescentes com trabalho educativo se revelaram mais satisfeitos com suas vidas.

O último artigo revela a preocupacão com a sexualidade na adolescência, das pesquisadoras Maria Juracy Filgueiras Toneli, Daniela Mendes, Mariana Vavassori e Thais Guedes, cujo estudo está relatado no texto Concepções e práticas de adolescentes do sexo masculino sobre sexualidade. A pesquisa sobre as significações atribuídas à vida sexual e reprodutiva com base nos eixos temáticos relacionamento familiar, representações de gênero, sexualidade, prevenção DSTS/AIDS/ gravidez indicou posições conservadoras quanto às representações de gênero, homossexualidade, gravidez na adolescência e valores familiares.

Finalizam este número três resenhas, indicando leituras. Primeiramente, Rosana Maria Mohallem Martins comenta com propriedade o livro Família em cena: trama, dramas e transformações, que aborda questões interessantes e atuais; depois, Adauto Garcia de Jesus Junior indica o livro Psicologia social do racismo, por se tratar de um problema não apenas brasileiro, mas arraigado em nossa realidade e cotidiano. Finalmente, a leitura de Otávia Regina Souza Costa sugeriu o livro Diagnóstico psiquiátrico: um guia, como uma alternativa para estudo de estudantes e profissionais.

Fermino Fernandes Sisto
Editor