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PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.13 n.1 Itatiba jun. 2008

 

RESENHA

 

Avaliação e leitura do livro de Peter Afferbach

 

 

Geraldina Porto Witter *

Universidade Camilo Castelo Branco

 

 

Afferbach, P. (2007). Understanding and using reading assessment (K12). Newark: IRA. ix+206 p.

Independentemente da área de conhecimento, a avaliação é básica para o desenvolvimento da ciência e para a prática profissional. Peter Afferbach é docente da University of Mariland e doutor pela University at Albany State University of New York, tendo como produção científica vários trabalhos sobre avaliação, compreensão da leitura e metodologia de ensino da leitura. A obra aqui resenhada enfoca justamente a avaliação da leitura e o faz de forma didática, consistente e abrindo novas perspectivas. É texto muito enriquecedor para os que se ocupam com a leitura.

O livro foi composto por nove capítulos e inclui um índice prático de autores e conteúdo. O primeiro capítulo situa algumas questões e conceitos importantes na avaliação da leitura. Nesse, como nos demais capítulos, há no final uma síntese do exposto e questões para o leitor checar sua compreensão a respeito dele. Após explicitar as necessidades de avaliação, quem deve avaliar e a quem se aplica a avaliação, trata do que medir, em que focar a avaliação, de como, quando e onde cumprir a atividade avaliativa. Naturalmente, torna-se central a própria definição de leitura, sintetizada pelo autor como "um processo ativo e complexo que envolve: compreensão de texto escrito, desenvolvimento e interpretação de significado e o uso de significado apropriado ao tipo de texto, propósito e situação" (p. 12). Segue o definido pelo National Assessment of Educational Progress (NAEP) e o American Institute for Research (AIR).

O segundo capítulo enfoca um tipo de instrumento de avaliação raramente usado no Brasil, ou seja, os inventários de avaliação de leitura, que contam com uma longa história, incluindo entre seus componentes: lista de palavras, passagens de texto para leitura oral, silenciosa, bem como para testar o assimilado ao ouvir a leitura. Analisa os procedimentos de avaliação associados a esses aspectos. Trata também dos registros correntes feito pelos docentes sobre as competências dos alunos, que se aproximam dos inventários e com os quais podem ser associados. Descreve estudos com o uso e validação de inventários. Considera necessária a pesquisa, o aperfeiçoamento e a atualização constante dos instrumen-tos. Fechando este, como os demais capítulos, o autor inseriu, em papel colorido, um texto que complementa a leitura. Aqui a inserção diz respeito às avaliações formativa e somativa.

O uso de perguntas feitas pelo professor como forma de avaliação é apresentado no capítulo seguinte, que começa por lembrar que essa é uma forma muito antiga de avaliação, mas que tem se atualizado e assumido formas específicas em decorrência de novas propostas e conhecimentos que inovam a maneira de agir do docente em termos de comportamento; uso de questões mais efetivas, planejamento como o de perguntas espontâneas, divergentes; do uso de procedimentos modernos de discussão e recontagem de textos, sem ignorar a necessidade de garantir a validade do questionar. O texto de fechamento trata da avaliação como processo e produto.

O capítulo 4 trata do portfolio como forma de avaliação da leitura, o que conta com décadas de uso no exterior, mas é carente de uso em países menos desenvolvidos educacionalmente. Após a descrição de características desse tipo de avaliação, lembra algumas conseqüências de seu uso com exemplos de caso. O uso do portfolio para avaliar leitura também implica o assumir papéis e responsabilidades pelo professor e pelos alunos, bem como medidas de fidedignidade e validade. A matéria é fechada com o conceito de avaliação autêntica, isto é, que tem pelo menos uma das seguintes características: (1) estar imbutido nas rotinas de sala de aula usadas para aprendizagem cotidiana e (2) enfocar as relações com a leitura no mundo real.

O desempenho como foco da avaliação é o tema do capítulo 5, e é tão velho quanto a própria leitura, mas também foi renovado em decorrência de pesquisas. Há dois grandes tipos de avaliação de desempenho: identificação de pistas para determinar o status do texto e uso de fontes dos textos para avaliá-los. São incluídos exemplos do uso e efeito da avaliação de desempenho em face de discursos diversos (história, literatura), com destaque para as marcas lingüísticas que apresentam. Novamente retoma as responsabilidades do avaliador e a necessidade de contar com fidedignidade e validade. Conclui com um breve texto defendendo a avaliação da leitura.

O sexto capítulo apresenta um estudo comparativo de dois instrumentos de avaliação: Observation Survey of Early Literacy Achievement (OSELA) e o Dynamic Indicators of Basic Early Literacy Skills (DIBELS). Os instrumentos são adequadamente descritos quanto ao que avaliam e quanto as suas características psicométricas. O texto complementar refere-se à relação entre tecnologia e avaliação, mostrando que a primeira muda a experiência do aluno no aprender, mas também é um recurso para avaliar sua competência como leitor.

No capítulo seguinte, Afferbach focaliza os denominados testes de leitura de altas habilidades, ou seja, aqueles cujos resultados podem ser usados para importantes tomadas de decisões educacionais e de vida, e que focalizam as habilidades e estratégias cognitivas, consideradas como componentes importantes para o êxito do estudante. Os testes desse tipo surgiram há cerca de 100 anos e estão em amplo e profundo desenvolvimento, sendo muito populares tanto na prática profissional como na pesquisa. O autor presenta as características e aspectos psicométricos comuns a esses instrumentos. Alerta para o uso indevido e suas possíveis conseqüências, fechando o capítulo com um texto sobre a consistência da avaliação nas escolas, o que pode trazer benefícios para o ensino-aprendizagem e melhor atendimento ao aluno.

O tema de avaliação de aspectos importantes da leitura, mas de caráter não-cognitivo, é tratado no capítulo 8, que mostra que também começaram a se desenvolver no começo do século passado e que recentemente tiveram impulso com o reconhecimento de que é preciso avaliar mais do que o desenvolvimento de estratégias e habilidades, ou seja, a proposta é de uma hiperavaliação. O problema é decidir sobre quais são os outros aspectos a avaliar. Os mais freqüentes são: motivação, autoconceito, atitudes, interesses e auto-atribuição de razões para sucesso e fracasso. Apresenta exemplos ilustrativos sobre as características do leitor enfocadas nos instrumentos, considerando inclusive o leitor relutante. As características psicométricas e a responsabilidade dos avaliadores são também destacadas pelo autor quando se usam materiais e procedimentos de avaliação do que chamou outros aspectos da leitura. Conclui com um texto sobre a colaboração e a cooperação do aluno no processo de avaliação e uso de seus resultados.

No último capítulo, Afferbach discute a acomodação e a avaliação da leitura. A medida de acomodação busca verificar a manutenção de melhor desempenho de realização do aluno (normal ou especial). Há vários tipos disponíveis, considerando os diversos tipos de alunos e contextos. Retoma a conceituação do Board on Testing and Assessment of the National Research Concil (USA) para conceituar acomodação como "um termo geral para qualquer ação realizada em resposta a uma determinação que um indivíduo com limitações ou que o nível de desenvolvimento da língua inglesa requer a partir de um protocolo de teste" (p. 171). Considera insuficiente esse conceito em face do que se tem feito, na realidade, para acomodar alunos com amplas diferenças no processo de ensino-aprendizagem visando à inclusão de todos. Apresenta várias propostas, suas conseqüências e exemplos. Também é importante considerar as características psicométricas dos instrumentos usados na acomodação. Fecha o capítulo com considerações gerais envolvendo a avaliação da leitura, como as relativas ao uso do resultado da avaliação com inferências errôneas, que podem prejudicar os alunos; o privilegiar de textos específicos na avaliação, exigência de um tipo padrão específico de resposta; a amplitude de componentes a serem avaliados etc.

As referências incluem textos históricos, mas são particularmente presentes textos de 2000 em diante, destacando-se periódicos importantes.

Embora o livro trate da avaliação da leitura, as partes conceituais, psicométricas, de responsabilidade e de tipos de avaliação são de interesse para uma população mais abrangente do que os que trabalham especificamente com leitura.

 

 

Sobre a autora:

* Geraldina Porto Witter é doutora e livre-docente em Psicologia Escolar pela USP, professora emérita pela Universidade Federal da Paraíba e pelo UNIPÊ - Centro Universitário de João Pessoa, membro da Academia Paulista de Psicologia e atua como coordenadora geral da Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Camilo Castelo Branco. witter@uol.com.br.