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PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.14 n.2 Itatiba ago. 2009

 

RESENHA

 

Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias

 

 

Luana Luz Bartholomeu *

Faculdade Anhanguera de Jundiaí, Jundiaí, Brasil

 

 

Brooke, N. & Soares, J. F. (Orgs.) (2008). Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias. Belo Horizonte: Editora UFMG.

 

A obra é dividida em cinco seções. A primeira seção com o tema "A escola não faz a diferença" é dividida em sete leituras. A primeira leitura, "Carta de entrega do relatório sobre igualdade de oportunidades educacionais", de Harold Howe II, é iniciada pela história da pesquisa em eficácia escolar descrevendo o Relatório Coleman, que tentava entender as relações entre as características das escolas e o resultado do desempenho dos diferentes grupos de alunos.

Em meio ao entendimento dessas relações, na segunda leitura, com o tema "Desempenho nas escolas públicas", James S. Coleman procura explicitar o debate sobre o papel da escola perante uma sociedade mais igualitária, demonstrando que as diferenças socioeconômicas são as responsáveis pelas diferenças entre o desempenho dos alunos. Dessa forma, uma polêmica foi instituída, a de que as condições do funcionamento da escola determinavam os seus resultados.

A terceira leitura, "Um relatório inovador", é escrita por Frederick Mosteller e Daniel P. Moynihan. Nessa, são apresentados resumidamente os estudos de Coleman e os detalhes dos métodos empregados. Mosteller e Moynihan sugerem que os avanços ou os defeitos dos métodos empregados por Coleman não chamaram a atenção em seus estudos e, sim, que as diferenças da aprendizagem não dependiam do tipo ou da localização da escola, concluindo que a escola não faz a diferença.

"Desigualdade no aproveitamento educacional" é o tema da quarta leitura. Estudos realizados por Christopher Jencks demonstram que o sucesso escolar poderia acontecer por meio de alterações no tamanho da turma, número de horas letivas, organização da escola e qualificação dos professores.

O Relatório Plowden, um relatório contemporâneo ao de Coleman, exigido também por ordem do governo britânico, foi cerne da quinta leitura, "o lar, a escola e a vizinhança", com a intenção de revisar o estado-da-arte da escola primária, procurando identificar tendências e sugerir mudanças. O estudo demonstrou que a escola tem uma pequena influência no desempenho dos alunos.

Na sexta leitura, "Estudos empíricos", George F. Madaus, Peter W. Airasian e Thomas Kellaghan retomam as idéias do Relatório Coleman com detalhes do estudo de Coleman e suas origens. Alguns estudos avaliativos de programas educacionais não encontraram evidências de que as melhorias nos ambientes escolares das crianças produzissem melhoria na aprendizagem.

A importância da sétima leitura, "Promessas quebradas", dos autores Samuel Bowles e Hebert Gintis, se dá ao analisar a funcionalidade da escola capitalista em promover divisão do trabalho hierárquico. Além disso, aponta a incompatibilidade dos objetivos democráticos num sistema que é completamente antidemocrático.

A segunda seção "A reação" é divida em cinco leituras em que se argumenta que as escolas não podiam ser tratadas todas iguais, já que havia diferenças na qualidade entre elas que influenciavam os resultados acadêmicos dos alunos. A primeira leitura, dos autores George F. Madaus, Peter W. Airasian e Thomas Kellaghan e intitulada "Insumos escolares, processos e recursos", apresenta uma parte da metodologia de Coleman, demonstrando o funcionamento do modelo de pesquisa quantitativa da época e procurando entender as escolhas dos pesquisadores.

Na seguinte leitura, "Introdução: estudos anteriores", Michael Rutter, Barbara Maughan, Peter Mortimore, Janet Ouston e Alan Smith revelam que novas metodologias devem ser adotadas para introduzir novas variáveis no processo de funcionamento da escola e na diversificação das medidas de resultados. Essa metodologia deve levar em consideração a escolha das medidas de desempenho que refletem os reais aspectos do trabalho da escola.

Os autores Peter Mortimore, Pamela Sammons, Louise Stoll, David Lewis e Russell Ecob, da terceira e quinta leitura, com os títulos "A busca pela eficácia: por que fazer um estudo das escolas primárias?" e "A importância da escola: a necessidade de se considerar as características do alunado", respectivamente, apresentam a pesquisa Projeto de Escola Primária, com um estudo longitudinal em que as características anteriores dos alunos foram controladas para evitar a contaminação dos resultados ante a realidade do impacto escolar. Além disso, os autores dedicam-se em mostrar quais os efeitos de frequentar uma determinada escola nas diferentes medidas de aprendizagem do aluno. Concluiu-se, portanto, que há a necessidade de as escolas serem tratadas diferencialmente e que faz muita diferença a escola que o aluno vai.

A quarta leitura, com o título "Resultados escolares: frequência, comportamento e desempenho dos alunos", da autoria de Michael Rutter, Barbara Maughan, Peter Mortimore, Janet Ouston e Alan Smith, apresenta os detalhes da pesquisa de Rutter. Essa pesquisa foi nomeada "15 mil horas" e visou coletar informações sobre frequência, comportamento e resultados dos alunos, e ao controlar essas características, verificou-se que há diferenças entre as escolas referentes ao progresso dos alunos.

A seção seguinte O que faz a diferença? Os métodos e evidências da pesquisa sobre o efeito da escola, também com cinco leituras, apresenta na primeira leitura "Conclusões: especulações e conclusões", escrita por Michel Rutter, Barbara Maughan, Peter Mortimore, Janet Ouston e Alan Smith, a discussão das diferenças institucionais como uma tentativa de entender as causas e as características da escola eficaz. Dentre as conclusões, destaca-se a importância de alguns aspectos para o funcionamento da escola como instituição social, a liderança, e envolvimento de professores nas decisões da escola, e outros.

A décima quarta leitura, "Desenvolvendo métodos de valor agregado para a avaliação da escola", discute o conceito "o valor agregado". Este permite que a eficácia escolar seja definida, identificando a aprendizagem do aluno de acordo com as suas características de origem.

"A estimação do efeito da escola" é o tema da próxima leitura, tendo como foco o cálculo do efeito escola em que se usa apenas o resultado do desempenho dos alunos. A décima sexta leitura, o estudo de Valerie Lee, apresenta a metodologia dos modelos hierárquicos e mostra como utilizá-los em pesquisa educacional. Esses modelos permitem a separação entre o desempenho e o nível socioeconômico associado ao aluno e à escola.

Na última leitura dessa seção, "Os processos da eficácia escolar", os autores David Reynolds e Charles Teddlie resumem os resultados das pesquisas mais relevantes dos processos escolares relacionados à eficácia escolar.

A quarta seção Os usos e abusos da eficácia escolar é dividida em quatro leituras. A autora da décima oitava leitura As características-chave das escolas eficazes, comenta o interesse do governo britânico nos resumos das pesquisas em eficácia escolar, até então realizadas.

Na décima nona leitura, "Estratégia nacional de alfabetização", é apresentado o resumo dos parâmetros da pesquisa em eficácia escolar e das características escolares, já que esses parâmetros explicam as diferenças entre as escolas.

A leitura seguinte, "Pesquisa sobre eficácia escolar e políticas educacionais", foi escrita por Roger Beard e trata-se de um estudo em que a pesquisa pode tornar-se base para a formulação de diretrizes da política educacional. A próxima leitura apresenta que as escolas, por um lado, têm capacidade para fazer seu próprio diagnóstico, mas, por outro, o avanço para a proposta de melhoria é prejudicado pela falta de autonomia.

A última seção Pesquisa em eficácia escolar na América Latina, é dividida em duas leituras. A vigésima segunda leitura Um panorama da pesquisa ibero-americana sobre a eficácia escolar, de Francisco Javier Murillo Torrecilla, é iniciada com a discussão de que a maioria dos pesquisadores educacionais da América Latina têm dificuldades em aceitar a legitimidade da eficácia escolar. Esse debate refere-se à qualidade da educação e à identificação de políticas que induzem a uma educação de qualidade.

Na última leitura, apresenta-se uma síntese das pesquisas sobre eficácia escolar realizadas no Brasil. Nessa, destaca-se o papel do pesquisador, que seria identificar as características dos alunos que entram nas escolas, a fim de demonstrar que os resultados diferentes entre uma escola e outra se dão pela diferença entre os alunos e pelas diferenças entre as escolas.

Sumariamente, a obra apresenta um panorama geral das pesquisas realizadas ao longo dos anos em eficácia escolar, incluindo textos que são referências fundamentais nessa área, situando o leitor sobre as principais diretrizes que a pesquisa nessa área tem tomado. Essas características fazem dessa uma leitura indispensável para pesquisadores e interessados no assunto.

 

 

Endereço para correspondência
Rua João Carbonari Júnior, 214 - Bloco 28 - Apto 41, Vila Nova Jundiainópolis, 13.210-705 - Jundiaí-SP, Brasil
E-mail: luanasilvaluz@gmail.com

Recebido em abril de 2009
Reformulado em abril de 2009
Aprovado em maio de 2009

 

 

Sobre a autora:

* Luana Luz Bartholomeu é graduanda em Psicologia da Faculdade Anhanguera de Jundiaí.

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