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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.1 n.1 Campinas  1996

 

Resenhas

 

Avaliação da pesquisa psicopedagógica

 

Geraldina Porto Witter

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

 

Femández Cano A, (1995). Métodos para evaluar Ia investigación en Psicopedagogia. Madrid: Sintesis, 299p.

A pesquisa deve ser objeto de avaliação constante quer formal quer informalmente. A importância da produção científica, especialmente da pesquisa, passou a ser mais sentida com a exploração da produção, com o crescente número de publicações. Da conscientização desta relevância, a partir dos anos cinqüenta começaram a surgir instrumentos diversos para avaliação, trabalhos de meta-ciência que passaram a ser progressivamente conduzidos com delineamentos mais sofisticados e com análises estatísticas condizentes ao anseio de avaliações conduzidas em consonância com os princípios da própria Ciência.

Se é difícil avaliar a pesquisa em uma área específica é ainda mais complexa a tarefa quando se trata de trabalho realizado em área interdisciplinar como é o caso da pesquisa psicopedagógica. Neste sentido, a obra de Fernandéz Cano pode ser considerada como de grande utilidade para quem se deparar com a tarefa de avaliar pesquisas psicopedagógicas. Pode-se mesmo dizer que é obra útil inclusive para avaliadores de outras áreas de produção. Realmente, o texto pode ser de grande valia para quantos se ocupam com a pesquisa em qualquer área, bem como, para os que estão envolvidos com a rica experiência de formar pesquisadores. Aliás, esta é uma assertiva que se depreende do prólogo (prefácio) escrito pelo matemático Rico Romero.

A obra de Fernández Cano compreende uma introdução e dez capítulos, bem estruturados, com discurso claro e didático, com exemplos bem apresentados e quadros de síntese. A bibliografia utilizada pelo autor é rica, predominantemente apoiada em artigos de periódicos científicos e dos anos noventa, mas incluindo os clássicos.

Na introdução explicita sua opção por trabalhar usando a metodologia científica e a cientometria, como forma de se buscar pesquisar mais e melhor. Enfoca a concepção de avaliação, lembrando que com a quantidade acaba também emergindo a qualidade como vários trabalhos na área vem demonstram. Propõe um modelo matricial de avaliação incluindo duas dimensões, uma relativa ao tempo (passado, presente, futuro) e outra à concepção do trabalho (formal ou informal). Este é o modelo que desenvolve ao longo dos capítulos que integram o livro.

O primeiro capítulo trata da avaliação anterior (passada) informal da pesquisa, tendo por base os critérios da filosofia da ciência. Neste quadro, um primeiro passo para avaliar a qualidade é estabelecer uma análise do que, do porquê e do como foi conduzi da a pesquisa. Implica em levantamento nas bases bibliográficas, na análise das relações teoria método - problema / tópicométodo - teoria.

O capítulo seguinte descreve a avaliação formal-anterior que pede uma seqüência mais abrangente e complexa de atividades, com ênfase na análise crítica do produzido anteriormente, enfocando aspectos qualitativos e quantitativos, formais e informais.

A avaliação passada formal estipula um grande rol de variáveis a serem consideradas. É particularmente interessante o quadro de hierarquização de estudos que apresenta, bem como, os indicadores para a definição de centros de excelência e de líderes de produção. A avaliação formal imediata da pesquisa pelos pares é tratada no 3° capítulo, o qual começa por lembrar que esta avaliação é o meio de avaliação mais freqüentemente empregado para análise qualitativa da produção, mas embora não se tenha dúvida quanto à relevância deste processo há problemas sérios de validade e confiabilidade por resolver. A tomada de cuidados especiais com algumas variáveis pode melhorar o processo. Entre elas estão: definição de critérios prévios; definição de escalas de avaliação, número de revisões e revisores, definição dos papéis dos editores e revisores, avaliação às cegas, pontuação e estatísticas de acompanhamento. O autor arrola 17 funções que a avaliação por pares deve cumprir, as fases que o processo deve incluir (segue normas da AP A) e a interação entre os componentes do sistema ao longo do processo. Os diagramas apresentados facilitam muito a compreensão do texto. Além disso, pesquisas ilustram as proposições feitas. Para a melhoria do processo apresenta 37 sugestões tomando por base o estabelecido na literatura como por exemplo: os revisores (membros de corpo editorial) usarem escalas bipolares de avaliação; treinamento dos revisores; maior rigor nos critérios; usar critérios cientométricos; os editores/revisores/avaliadores devem ser pessoas que publiquem freqüentemente; preferir artigos concisos, reduzindo ao máximo a extensão do trabalho etc. Discute aspectos éticos relacionados com a avaliação pelos pares.

O capítulo 4 trata da avaliação da pesquisa quantitativa apresentando vários tipos de escalas para a avaliação das mesmas incluindo uma ante-escala para checagem. Apresenta dados quantitativos sobre várias delas bem como fórmulas matemáticas para a avaliação. Apresenta um quadro sintetizando várias pesquisas, de grande utilidade para os que se preocupam com a matéria.

O capítulo seguinte enfoca a avaliação da pesquisa qualitativa começando por discutir a problemática de definição dos padrões metodológicos, muitas vezes ignorados por pessoas que conduzem ou avaliam pesquisas deste tipo. Discute a cultura do qualitativo lembrando que ao abandonar o paradigma epistemológico instrumentalista, se está aceitando que a pesquisa científica será orientada pela teoria e será eminentemente interpretativa e humanística e como tal se deveria proceder. Entretanto, na educação abraçou-se "outra cultura, a literária... Poderíamos dizer, aceitando uma das teses fundamentais de Nietzsche (1872/1932), mas muito criticada pelos doutos desde seu surgimento, por falta de solidez científica, que o paradigma qualitativo incorpora e recupera a alma dionisíaca ...frente a alma apolínea" (p.I50). Fica patente a necessidade de novos parâmetros e paradigmas que estabeleçam bases mais confiáveis e aceitáveis para pesquisas qualitativas. Apresenta sugestões feitas por alguns autores, inclusive com tabelas de avaliação que chegam a permitir análises quantitativas da produção, posto que, os vários aspectos das pesquisas são avaliados quantitativamente.

Muitos pesquisadores ocupam-se com pesquisas que procuram sintetizar o conhecimento ou fazer o balanço das pesquisas realizadas em uma área. Estas pesquisas também precisam ser avaliadas. Este é o tema do Capítulo 6, em que o autor contrasta os estudos de revisão de literatura com os de meta-análise e as dificuldades de avaliação. Também apresenta instrumentos para avaliação de pesquisas deste tipo. Lembra que começa a se fazer notar a preocupação com a elaboração de procedimentos metodológicos que permitam a síntese de pesquisas qualitativas com o rigor que a ciência exige.

A avaliação informal-imediata feita pelos pares é objeto de análise no Capítulo 7, que faz uso de qualificativos. Começa por discutir seu conceito e as funções dos comentários dos colegas, bem como suas limitações metodológicas, a ausência de significado, os erros mais comuns e as limitações relevantes que os pares precisam considerar.

Apresenta também as limitações da meta-análise. Fecha o capítulo com um trabalho de metaanálise de trabalhos sobre avaliação de pesquisas, cujos resultados são um excelente alarme para que pesquisadores fiquem atentos às falhas no fazer ciência.

O capítulo seguinte trata da avaliação externa na pesquisa educativa que caracteriza como uma modalidade de avaliação que está se generalizando nos países mais avançados. Apresenta um modelo de avaliação. O capítulo é muito breve para a abrangência dos tópicos enfocados: pesquisa e qualidade da informação; pesquisa de prática; uso da pesquisa e tomada de decisão. Os temas são tratados muito superficialmente.

Estudo do impacto da pesquisa implica em avaliar o produto científico, em geral feito através de análise bibliométrica e produto tecnológico, que implica na análise de patentes (Cap.9). Apresenta a análise de citação como uma forma de medir o impacto bibliográfico de um autor, usando-se freqüentemente de bases como: Resource Index, Citation Index, Educational Index, Current Index to Journal in Education, Resources in Education e Psychological Abstracts. São apresentadas várias fórmulas para cálculo de impacto de periódicos, de líderes de citação (pesquisadores, instituições, periódicos, países). Trata ainda a auto citação. Apresenta também as limitações existentes nos estudos de citação quer quanto à validade quer quanto à fidedignidade.

O último capítulo também é demasiado breve para poder tratar de um tema relevante - a avaliação informal - mediata do prisma da história da ciência. Apresenta apenas algumas informações genéricas e poucos exemplos.

Faltam ao livro índices de assunto, de autores, bem como de quadros e tabelas que facilitariam a consulta e a reconsulta ao texto. Há um glossário de siglas e abreviaturas que facilitam a leitura.

Como bem pode-se inferir das palavras do prefaciador da obra, Fernádez Cano produziu um texto muito importante para os que assumem a tarefa árdua e complexa de pesquisar e de avaliar a pesquisa, compreender e valorizar seus resultados para o aproveitamento ótimo dos recursos disponíveis e emprego criativo dos esforços realizados em benefício da coletividade.

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