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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.2 n.3 Campinas  1998

 

RESENHAS

 

A universidade na comunidade

 

 

Geraldina Porto Witter

Pontifícia Universidade Católica de-Campinas

 

Universidade de São Paulo. Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais. Muito além da sala de aula: projetos comunitários de estudantes da USP. São Paulo: CECAEIUSP, 1998. 80p.p.

 

Nunca se escreveu tanto sobre a universidade, enfocando seus múltiplos aspectos, entretanto nem sempre são considerados alguns aspectos relevantes para que possa cumprir seus múltiplos papéis. Um deles diz respeito à integração da Universidade com a Comunidade. Isto pode ocorrer de muitas formas, uma delas é enfocada em obra, lançada pela USP, na qual são apresentadas algumas informações relevantes sobre o esforço de cooperação da Universidade com a Comunidade.

O Reitor Marcovitch apresenta o trabalho lembrando que reiteradamente tem dito "que a extensão é a face mais generosa da Universidade, porque serve quase sempre aos que a ela não têm acesso formal" (p.3) e apresenta o trabalho dos jovens universitários na comunidade como exemplo.

Informa que a obra apresenta depoimentos de alunos e ex-alunos quanto a 47 iniciativas de integração promovidas com a ação de graduandos. Também apresenta outros trabalhos nesta direção que resultaram em dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Guilherme A. Plonski informa que se trata de um "pequeno retrato dos nove anos de atividades do Projeto Bolsas de Extensão. São 47 iniciativas, viabilizadas pela Cecae/USP, com a participação ativa de 178 estudantes e 36 docentes, de 22 unidades e órgãos distintos da USP" (p.4).

A obra resultou de um debate promovido pela Cecae/USP em setembro de 1997, tendo por objetivo avaliar o referido projeto.

No texto de abertura, Guarnieri retoma o início do projeto lembrando o pioneirismo do Centro Acadêmico XI de Agosto (Direito) com a oferta de assessoria jurídica aos sem-teto. Outras idéias emergiram em outras unidades como principais resultados, além de produtos como dissertações e teses, lembra a inserção de alunos no mercado de trabalho, a criação de ONGs e o atendimento de demandas sociais. Lembra as dificuldades de continuidade por problemas financeiros e que haveria muito mais a cumprir. Aponta a ESALQ como a campeã de realizações na área e o papel dos docentes na orientação e avaliação dos trabalhos.

Segue-se o Debate, mais narrativa do que propriamente debate, envolvendo inicialmente Marcos Sorrentino, Silvio Caccia Bava, Maria Cristina Bruno e Lígia Assumpção Amaral os quais tecem considerações sobre a fertilidade do Projeto. Outros vão se agregando à discussão.

Em seguida, o tópico enfocado é o próprio espaço da extensão, muitas vezes vista de forma pejorativa. Lembram a necessidade de melhor divulgação do que é feito e de não se olhar a atividade com preconceito.

O tópico seguinte é a formação do estudante ensejada pelo Projeto, integrando-o com os problemas sociais, com a formação da cidadania. São lembradas as vantagens de fazer parceria com as ONGs, a necessidade de conscientização dos alunos desde o ingresso na Universidade. Para a realização de propostas alternativas é necessário buscar o reconhecimento da área de extensão o que, segundo os palestrantes, não vem ocorrendo, não havendo apoio de organismos como a FAPESP.

No encerramento do evento, Plonski fala da necessidade de avaliar e que é chegada a hora de fazê-lo e destaca" Uma Universidade com as características da USP é uma instituição. E o que é uma instituição? É uma organização que adquiriu relevância social, tendo atingido, portanto o estágio superior das organizações. Nesse sentido, o Projeto que hoje debatemos é uma contribuição - pequenina mas concreta para a nossa sobrevivência" (p.34). Para a expansão é necessário contar com mais apoio, mais recursos.

Do exposto pelos integrantes da discussão há alguns aspectos a destacar. Há, sem dúvida, entusiasmo e valorização do trabalho desenvolvido como meio de dar algum retomo à comunidade e vivência para o aluno. São apresentadas as impressões pessoais, subjetivas, afetivas dos envolvidos. Não são apresentados dados e informações que possibilitam a um observador externo avaliar ou ter base mais segura que o sentimento de uma vivência produtiva manifestado pelos debatedores.

Há também uma denúncia de falta de valorização institucional e das agências por Programas desta natureza. Há mágoa e frustração. Certamente, há muito de vivências negativas por traz das falas. A comunidade científica brasileira parece não valorizar adequadamente esta modalidade de trabalho. Mas dados da eficiência do mesmo, dados de pesquisa associadas a estas atividades também podem contribuir para mudança de atitudes e redução da discriminação. Isto não foi lembrado nos discursos nem dados foram apresentados. Ficou assinalada a ausência do apoio, a obrigatoriedade e o que devem fazer os poderes e agências, mas o Programa, ficou alheio. Certamente, se a extensão fosse, como pode e deve ser, um excelente campo de pesquisa, se o docente responsável for um docente-pesquisador no estágio, se o aluno for um estagiáriopesquisador, se o projeto de extensão for também um pacote de pesquisas coordenadas e não atividade ocasional, certamente haverá maior probabilidade de aceitação, de valorização de investimento e de apoio a estes programas.

A leitura do texto não permite considerar que se fez realmente um encontro de avaliação, foi mais um breve balanço das impressões pessoais das pessoas envolvidas. Certamente há muito trabalho e mérito no concretizado ao longo dos nove anos, mas tudo ficou submerso. Nas entrelinhas se adivinha um trabalho intenso, mas que não se expõe a auto ou a hetero avaliações.

A segunda parte da obra é constituída por Depoimentos de alunos, ex-alunos e mesmo docentes envolvidos com o Projeto. Não é explicitado o critério de escolha das pessoas para coleta destas impressões pessoais. Há na maioria, um roteiro subjacente: impressão pessoal, desdobramentos e o trabalho de extensão. Todos reputam como importante a vivência, especialmente para conhecerem a realidade, por intervirem nela e pelos ganhos pessoais como alunos, professores e profissionais. São quatro depoimentos, com títulos distintos mas que sintetizam a mesma valorização positiva do Projeto.

A parte seguinte é denominada Iniciativa e traz um breve resumo dos vários esforços realizados indicando: título, caracterização, metas, bolsistas envolvidos e unidade da Universidade responsável. Elas enfocaram a cidadania (N= 4); a deficiência (N= 7); educação (N= 3); geração de emprego e renda (N= 8); meio ambiente (N= 18); memória (N= 2) e saúde (N= 5). A preocupação de levar assistência à comunidade, de suprir necessidades da mesma é patente. Da mesma forma, é evidente o empenho em dar vivência ao aluno. Falta a filosofia de formar um profissionalpesquisador, de fazer da extensão um campo de formação-atuação-pesquisa que contribua para ampliar o conhecimento científico e, conseqüentemente, melhorar a própria extensão.

Complementa o livro um índice das iniciativas e outro das unidades envolvidas.

Pode-se dizer que é relevante o esforço que a USP vem fazendo, mas há muito mais por se fazer. Espera-se que não apenas haja ampliação das áreas e problemas enfocados, do envolvimento das unidades, de maior participação da comunidade e de agências. É de se cumprimentar pelo já realizado mas, espera-se que com o empenho de todos, haja melhoria substancial e que a pesquisa de mérito esteja presente como rotina e não ocasionalmente para gerar uma dissertação, uma tese ou um trabalho para evento. Desta forma, o Programa poderá ter mais respaldo a crescer em respeito e valorização quer na comunidade científica universitária quer nas agências.

A diagramação é bonita e a impressão qualidade.

 

 

Recebido em novembro 1998
Encaminhado para revisores em dezembro 1998
Aprovado em janeiro 1999

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