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Psicologia Escolar e Educacional

versión impresa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.5 n.1 Campinas jun. 2001

 

RESENHAS

Psicologia para a (Trans)formação docente

 

Sisto, F.F.; Oliveira, G. De C.; Fini, L.D.T. (Orgs.) Leituras de Psicologia para Formação de Professores. Petrópolis: Vozes, Bragança Paulista: Universidade São Francisco, 2000.

 

Como a Psicologia pode auxiliar o processo de ensino-aprendizagem? Quais os aspectos presentes no cotidiano escolar que não são contemplados pelos currículos formais? A que aspectos o professor deve estar atento na relação com seus alunos?

O cotidiano escolar é constantemente permeado por situações que levam o professor a deparar-se com estas questões. Tendo isto em vista, os autores da obra aqui resenhada tiveram como preocupação fundamental apresentar conteúdos relativos ao campo da Psicologia pertinentes e interessantes, de modo a contribuir com a formação docente. Com isso não se pretende solucionar tais problemas, mas abrir horizontes como ponto de partida ou de complementação para outras leituras e discussões.

A leitura do livro vai desvelando aspectos da atual realidade educacional, abrindo um panorama das questões já detectadas e das soluções construídas historicamente, desafiando o leitor a buscar novos caminhos, inspirados nas alternativas e contribuições traçadas pelos autores.

Além da apresentação, a cargo dos organizadores do livro, fazem parte de sua composição outros 15 capítulos, escritos por diferentes autores que, de forma geral, vêm investindo na carreira acadêmica, atuando em diversas Universidades.

Na apresentação consta a proposta do livro, que consiste em oferecer leituras que contribuam para a análise e compreensão da realidade escolar e dos diversos fatores envolvidos, sem pretender esgotar o assunto que deve ser compreendido em toda sua amplitude. A breve exposição dos capítulos, também presente nesta apresentação, permite ao leitor ter uma visão geral da obra que, por não se tratar de um conjunto que exija uma continuidade de leitura, pode ser lida de acordo com a necessidade e interesse do leitor.

Sebastián Urquijo e Fermino F. Sisto respondem pelo primeiro capítulo, que busca relacionar a problemática da afetividade com a aprendizagem, baseando- se na abordagem psicanalítica para fundamentar sua análise. Para isso, são revistos conceitos básicos desta teoria, descrevendo o desenvolvimento da personalidade e seus mecanismos de defesa. Em seguida, buscam traçar um paralelo entre estes aspectos e o desempenho escolar, com base em uma série de estudos já realizados.

No segundo capítulo, Maria Tereza C. C. Souza descreve, segundo diferentes autores, mas com base em uma abordagem psicanalítica comum, as características da adolescência e o contexto no qual ocorrem as transformações típicas desta etapa. Aponta para o fato de que não deve-se encarar este processo como algo homogêneo e universal, mas como algo individual, atentando para o contexto sociocultural em que o adolescente está inserido.

Em seguida, Acácia Aparecida A. Santos, Isabel Cristina D. Bariani e Tereza Cristina S. Cerqueira percorrem a literatura atualizada a respeito dos conceitos de Estilos Cognitivos e Estilos de Aprendizagem, definindo- os e diferenciando-os. As autoras acenam para a importância destes dois aspectos, trazendo importantes contribuições que o estudo do tema pode trazer no sentido de viabilizar práticas educacionais mais eficazes.

Diferentes constructos que caracterizam aspectos do desenvolvimento humano e a forma como o indivíduo se percebe e se relaciona, são descritos no quarto capítulo por Gisele C. Oliveira. A influência da família e da escola também é destacada como parte deste processo de formação e desenvolvimento, servindo como um alerta para os professores da importância de seu papel e da conseqüência de suas ações.

O capítulo 5, escrito por Fermino F. Sisto, caracteriza o desenvolvimento mental da criança, segundo a teoria J. Piaget, explicando os principais conceitos e etapas propostas por esta teoria. Apresenta os três primeiros estágios do desenvolvimento, fornecendo subsídios para que o professor reconheça aquele em que seus alunos se encontram, podendo então contribuir com o processo de desenvolvimento e aprendizagem.

O mesmo autor prossegue, no capítulo seguinte, atendo-se ao quarto estágio do desenvolvimento descrito por Piaget. Caracteriza este período de forma detalhada e justifica sua importância ao apontar que as operações formais são a estrutura mais elaborada atingida pelo homem e permite explicar as formas de raciocínio abstrato.

A teoria piagetiana continua a ser discutida por Rosely P. Brenelli, que analisa a afetividade dentro desse sistema teórico. Enfatiza que o desenvolvimento humano é resultante das contínuas interações do indivíduo com o meio e traz à tona a importância da dimensão afetiva, explicando seu desenvolvimento e traçando um paralelo com o aspecto intelectual, esclarecendo que ambos são indissociados, irredutíveis e complementares, resultantes de uma construção ativa.

José A. Bzuneck, no capítulo seguinte, descreve as crenças de auto eficácia dos professores, baseando-se na teoria de Bandura. Preocupa-se em destacar os fatores que influenciam a elaboração dessas crenças, com base em diversos estudos a respeito do tema e ressalta a importância de trabalhos conjuntos entre universidade e escola, para que essas concepções possam ser discutidas, de modo a viabilizar a tomada de consciência por parte dos professores para que suas ações possam ser revistas.

Roberta G. Azzi e Sylvia Helena S. Silva, por sua vez, propõem um novo olhar sobre o professor, enfocando a prática pedagógica a partir da relação professor- aluno. Atentam para a necessidade de formar professores pesquisadores que se reconheçam como sujeitos ativos e capazes de transformar a realidade em que estão inseridos.

A seguir, o leitor é convidado por Luzia Maria S. Lima a pensar exemplos práticos da realidade da sala de aula tendo como pano de fundo a temática da motivação, considerada pela autora a mola propulsora do processo de ensino-aprendizagem. Para isso, três diferentes teorias são consultadas, analisando-se assim as possíveis variáveis que interferem na motivação, como forma de auxiliar o professor a incentivar seus alunos.

Partindo de uma indagação central - Que fatores contribuem para que a adolescência seja vivenciada de forma mais tranqüila ou mais conturbada? - Lucila D. T. Fini enumera uma série de aspectos envolvidos, destacando as relações interpessoais estabelecidas, as expectativas sociais e as experiências de vida. As relações entre pais e filhos e a estrutura familiar são analisadas a partir de estudos já realizados, por serem estes aspectos de grande importância nesta fase e por trazerem indiscutíveis conseqüências para o desempenho escolar.

Evely Burochovich, no 12º capítulo, faz algumas considerações acerca do desenvolvimento e aceitação da sexualidade em diferentes estruturas sociais e enfoca as atitudes de auto-risco relacionadas à sexualidade, muito comuns na adolescência. A autora chama a atenção do leitor para o papel e responsabilidade da escola, que deve trabalhar estas questões de modo a ajudar seus alunos a aceitar e compreender esta nova fase da vida, desenvolvendo o sentimento de responsabilidade.

A mesma autora faz, no capítulo seguinte, uma revisão da literatura para oferecer ao leitor uma compreensão maior dos fatores associados ao uso de drogas na adolescência, destacando o papel da escola na prevenção desses problemas. Neste contexto, busca identificar as questões sociais e os padrões motivacionais que levam o adolescente à drogadiccção. Descreve também os diferentes tipos de drogas e seus efeitos como um meio de instrumentalizar o professor para lidar com esta realidade.

O 14º capítulo trata do abuso psicológico de crianças e adolescentes e para isso, Maria Aparecida B. Marques inicialmente descreve e conceitua este termo de acordo com diversos pesquisadores. A autora caracteriza as ações típicas de uma situação de abuso e suas conseqüências no desenvolvimento psicológico destas crianças e adolescentes, oferecendo um material rico para que se conheça e se analise melhor esta situação.

Por fim, no último capítulo do livro, Sérgio Goldenberg apresenta a Análise Funcional do Comportamento, técnica baseada na teoria comportamental, indicando suas particularidades e fundamentos como uma forma de trabalho pedagógico para lidar com os chamados “distúrbios de aprendizagem”.

A obra propõem, portanto, um diálogo entre Psicologia e Educação, destinado a professores e estudiosos e todos aqueles cujas preocupações estiverem voltadas para a realidade escolar. Fala de forma acessível de questões atuais, contribuindo consideravelmente para que se repense os caminhos que a formação docente em geral vem percorrendo.

Os diferentes olhares debruçam-se sobre um objeto comum – as contribuições da psicologia na formação docente – auxiliando de forma significativa a construção e desenvolvimento das competências para ensinar.

 

Mariana Wisnivesky
Pontifícia Universidade Católica de Campinas