SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 issue2Textos informativos: auxílio eficaz no jardim 3Entrevista com o professor Lino de Macedo author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Psicologia Escolar e Educacional

Print version ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. vol.8 no.2 Campinas Dec. 2004

 

RESENHAS

 

Cultura escolar

 

 

Lazar, A.M. (2004). Learning to be Literacy Teachers in Urban Schools: stories of growth and change. Newark: IRA, xii + 189 p.

Althier M. Lazar leciona na Saint Joseph’s University, da Philadelphia, (EUA), sendo pesquisador voltado para a formação de professores de leitura. Trata-se de uma área de pesquisa que se constitui em setor especial que merece destaque por seu impacto em outras áreas.

O Prefácio foi escrito por Patrícia A. Edwards, da Michigan State University, que relembra trabalho anterior de Lazar em que discutiu a formação do professor para atuar com estudantes da zona urbana, destacando a originalidade como o tema é tratado no presente livro.

A estrutura da obra é constituída por Introdução, oito capítulos, um apêndice, referências e fontes recomendadas. Na Introdução reafirma a necessidade de os professores e de seus formadores aprenderem tudo o que for possível sobre as crianças para poderem ajudálas na aquisição da leitura, retoma sua própria história de pesquisador na área e justifica o próprio livro que espera seja útil para professores em exercício, em processo de atualização ou de formação para o exercício profissional. Define como urbanas as escolas que se situam em cidades grandes; atendendo população numerosa e altamente diversificada; caracterizada por decisões centralizadas, com decisões cronicamente inadequadas afetando as decisões sobre ensino e aprendizagem; com concentração em grupos lingüísticos minoritários voluntários (migrantes) ou não e que seguem currículos uniformizados medindo o desempenho dos alunos por testes padronizados. Muitos dos problemas são comuns à realidade brasileira, mas em situação bem pior, e sem o mínimo preparo do professor para resolvê-los.

É o professor que vai trabalhar neste contexto que é enfocado preferencialmente nos capítulos subseqüentes, mas, independentemente deste fato, o assunto é útil e de interesse para quantos estejam interessados em educação, em qualquer país, nos mais variados meios culturais.

O primeiro capítulo apresenta uma retrospectiva histórica e social, de fatores culturais que influíram na formação de leitores, com destaque para os negros que logo perceberam as vantagens do saber ler e de ir além, até mesmo como forma de superação da segregação, que ainda persiste nas escolas. Neste, como nos demais capítulos, na parte final há um tópico com itens para análise e consideração por parte do leitor. Esta última parte pode ser muito útil quando a matéria é objeto de estudo e seminários em sala de aula, além disto serve de estímulo à pesquisa.

O capítulo seguinte foi dedicado à necessidade de os professores conhecerem a cultura em que vivem. Discute o longo tempo de domínio da cultura européia dominando a escola (refere-se aos EEUU, mas se aplica também ao Brasil) e que só nos 20 últimos anos se tem tomado maior ciência disto e pesquisado mais sistematicamente e tratado cientificamente mudanças mais compatíveis com a diversidade cultural de sala de aula. O professor atualmente precisa ser mais responsável socialmente sabendo usar métodos diferentes compatíveis com as diversidades de seus alunos. Neste, como nos demais capítulos, exemplos de vivência educacional de professores enriquecem a obra. Também há cuidado em indicar perspectivas e necessidades de pesquisa.

O preparo de professores para atuar de forma sensível culturalmente é enfocado no capítulo 3 lembrando a necessidade de contar com professores e escolas que façam a diferença. Isto implica em priorizar a aprendizagem do aluno; liderança forte na escola, forte colaboração dos professores, ensino baseado na avaliação, desenvolvimento profissional e experimentação, colaboração e comunicação com os que são responsáveis pelas crianças. Os programas de formação de professores precisam incluir estudos sobre a diversidade cultural, cabendo ao professor a responsabilidade de se manter atualizado em relação a este aspecto.

Os preconceitos dos docentes em sala de aula são objeto de análise no Capítulo 4. São indicados os caminhos do preconceito – de seu surgimento à implantação – sendo consideradas as rotas diversas que usa para tanto. Exemplos do impacto do preconceito sobre as pessoas são apresentados. O capítulo 5 trata da compreensão sobre raça, cultura e domínio da leitura. Para que haja crescimento há necessidade de haver uma estrutura, mas que não privilegie apenas a cultura branca, que define o racismo como inadequado às escolas, e estratégias diversas sejam usadas para atender à diversidade cultural existente em sala de aula.

Neste contexto, a comunicação com os responsáveis pelas crianças é fundamental e é necessária, já na formação do futuro professor, cuidar para que desenvolva competências nesta área, dominando vários modelos de ensino-aprendizagem para isto. Destaca que o professor precisa ser um entrevistador, saber ouvir e responder, direcionar sua ação com base no conhecimento, conseguir o envolvimento dos responsáveis pelos alunos. Isto implica em mudanças de atitudes de todos. Estes são os aspectos tratados no sexto capítulo.

O capítulo seguinte trata do estabelecimento das relações culturais no ensino da leitura. Retoma e apresenta estratégias úteis tais como: o ensino tutorial, o uso de textos multiculturais, a validação da linguagem do lar e o ensino da linguagem do poder e a administração da sala de aula.

O último capítulo (8º) é um alerta em favor da educação continuada para que os professores continuem a crescer como alfabetizadores culturalmente sensíveis. Implícito neste crescimento está o acompanhamento das mudanças contínuas nas necessidades culturais dos alunos; conhecer sempre mais sobre as crianças e seus responsáveis; saber sobre aquisição da alfabetização; acompanhar as mudanças culturais e da comunidade; dominar como ensinar e assumir efetivamente a responsabilidade de ensinar.

Para continuar a se desenvolver o professor tem de ser um eterno estudante da educação. Precisa saber selecionar cursos, buscar continuar a estudar após concluir a pós-graduação, ou seja, continuar a se desenvolver como professor e educador.

Como Apêndice apresenta a metodologia do estudo do qual, em parte, resultou o próprio livro e os muitos exemplos de vivências nele descritos.

As Referências são relativamente recentes e predominam os periódicos. Além disso, há uma bibliografia recomendada complementar útil a professores e pesquisadores.

Finaliza o trabalho um índice de conteúdo e autores o que facilita consultas específicas a itens de interesse do leitor.

Geraldina Porto Witter
UMC/PUC-Campinas