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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.9 n.2 Campinas dez. 2005

 

RESENHAS

Literatura, leitura e aprendizagem da escrita

 

Olness, R. (2005). Using literature to encharge writing instruction: A guide for K5 teachers. Newark: IRA, xii + 204p.

  

A literatura é uma das dimensões culturais que mais oferece condições para o desenvolvimento do ser e que, por esta razão, pode ser instrumento e meio de ensino de muitas áreas do conhecimento além dela própria. Vale lembrar seu uso no ensino da leitura, da escrita, da história, da filosofia, da geografia, da matemática. Na obra aqui resenhada é enfocado seu uso no desenvolvimento da competência na escrita por escolares.

Rebecca Olness é uma professora aposentada, especialista na área, com mais de 30 anos de experiência e que oferece aos leitores, embora enfoque principalmente os alunos do 5ª série do ensino fundamental, por vezes, considera também séries precedentes e posteriores. Além disso, muitos dos procedimentos e técnicas podem ser úteis no nível médio e mesmo adaptadas para o nível superior. Assim sendo, o livro tem o potencial de poder ser útil a muitos docentes.

A obra compreende prefácio, escrito pela própria autora, 10 capítulos, referências e índice de autores e conteúdo. As referências são predominantemente recentes, incluindo literatura cinza e artigos de periódicos. Em cada capítulo, em relação específica, são apresentadas muitas obras literárias citadas ao longo do trabalho. O texto segue basicamente o modelo de escrita denominado Modelo dos Seis Traços Analíticos da Escrita, de Spandel e Stiggs, infelizmente pouco conhecido Brasil. Os seis traços ou elementos são: 1) idéias, 2) organização, 3) voz, 4) escolha da palavra, 5) fluência oracional (sentença) e 6)convenções. Cada elemento é avaliado, analisado e trabalhado independentemente de modo a se produzir uma boa escrita. A meta da autora é auxiliar o professor como ensinar seus alunos a reconhecerem estes traços em bons textos, em obras literárias, para que possam incluílos em sua própria escrita. O livro tem potencial para que o professor possa realmente transformar sua prática. É rico em exemplos e sugestões , bem sustentados em pesquisa e inspira muitas outras investigações.

O primeiro capítulo é uma rápida revisão da relação leitura-escrita em que lembra os autores como mentores ou modelos, a preocupação com a audiência, o gênero dos autores, a questão do vocabulário, do estilo e da ilustração. Parte do pressuposto que um bom leitor eventualmente é também um escritor.

No capítulo seguinte começa por lembrar que tanto crianças como adultos aprenderam melhor em um ambiente que os apoie, em uma situação positivamente reforçadora. Passa a considerar os gêneros literários e suas possibilidades de uso no ensino da escrita desde os livros de figura até textos mais complexos. Indica rapidamente as possibilidades as quais são retomadas e aprofundadas nos capítulos següintes.

“Escrever é mais do que viver...... é estar consciente do viver” (p.35) é com esta formulação de Lindbergh que a autora começa o capitulo 3 no qual enfoca a relação experiência-escrita, tendo por base: o tópico (escolher e aprofundar), fornecimento de pistas, introdução de regras ou parâmetros e aprender a escrever com os outros. Muitos escrevem sobre o que sabem, suas experiências, memórias, observações e registros. Os alunos podem aprender a fazer o mesmo como básico para o desenvolvimento de sua escrita.

É a partir do 4º capitulo que a Autora começa a melhor especificar cada elemento do modelo. Nesse capítulo trata do encontrar boas idéias e detalhes. As idéias são a própria razão do escrever do autor, o que transmitir. É preciso relacionar as características, enfocar a quantidade dos detalhes ir além do óbvio. É comum começar com um tema muito amplo, é preciso afunilálo, restringí-lo e escolher os detalhes mais importantes pode ser muito útil. Mas há a contrapartida – escolher sobre o que não falar. A seguir trata de como usar livros como exemplo de idéias, verificando como os autores trabalham. Uma lista de checagem para o aluno pode ser de grande valia (Meu tema está suficientemente restrito?, Falei o suficiente sobre o assunto? Apresentei os detalhes importantes? Demonstrei mais do que falei? Minha mensagem está clara?) Para auxiliar o professor, apresenta alguns planos de aula, como o fazer relação aos elementos enfocados no capítulos posteriores.

O traço seguinte é a elaboração do esquema ou primeira redação, o que requer técnicas específicas. Apresenta rapidamente poucas técnicas das muitas presentes na produção científica. Vale lembrar que desde o inicio deve-se organizar a produção do começo ao fim.

No capítulo 6 trata de expressão dos sentimento por meio das vozes dos personagens dos textos literários. Trata também do tipo de discurso que pretende persuadir o outro, indicando tecnologias auxiliares para êxito nesta tarefa.

A escolha da palavra correta é essencial na escrita, aprender a fazer esta seleção amplia o vocabulário e permite ganhos em precisão no uso das várias categorias gramaticais. Aprender a usar tesouras, enciclopédias dicionários e glossários é fundamental. Paralelamente é preciso desencorajar o uso de jargões e frases feitas. Novamente há o cuidado da autora de ensinar ao professor o uso de algumas tecnologias. No presente caso optou pelo Procedimento ou técnica de Cloze. Neste, como em todos os capítulos, o uso de livros como exemplo de escolha e uso de palavras é parte importante do processo de ensino-aprendizagem.

Dominar a fluência e o ritmo (especialmente no texto literário) é fundamental na escrita (capítulo 8). A análise de obras literárias pode ser muito útil para o domínio de começar uma sentença, da extensão da mesma, da combinação de sentenças, do uso de elementos gramaticais no estabelecimento da coesão. Vale lembrar a importância da revisão.

A apresentação de qualquer escrita segue convenções (capitulo 9) específicas para cada tipo de texto. A partir de textos literários, usando tecnologias especiais de ensino, são trabalhadas: a soletração, a pontuação, as maiúsculas, as habilidades de editoração; o acesso às convenções e o respeito às mesmas.

No último capitulo, a autora acrescenta algumas considerações finais sobre o aprender a escrever tendo a literatura como referencial. Lembra que precisam ler muito não só literatura mas também sobre como escrever e como fazê-lo efetivamente. Os professores também precisam ser escritores, serem modelo para seus alunos. Lembra ainda que escrever requer tempo e que é preciso que seja previsto pelo mesmo de 25 a 40 minutos diários para escrita, desde a primeira série. Espera-se que 33% do tempo passado em sala de aula seja dedicado à aprendizagem da escrita e ela deve ser transversal a todo o currículo. O professor também precisa cuidar de desenvolver suas habilidades pessoais escritas (15 a 20 minutos de treino diariamente pelo menos).

Vale concluir esta resenha com o último parágrafo do livro:

Assim, leia para seus estudantes. Envolva-os em todas as formas de escrita, gênero e literatura. Partilhe com ele seus textos e livros favoritos. Demonstre o processo de escrita, indique e discuta com eles os traços da escrita. Seja criativo e encontre meios para oferece tempo contínuo para escrita em sua sala de aula. E, acima de tudo, divirta-se. Seu entusiasmo e amor pela literatura e leitura será contagioso. (p. 188)

 

Geraldina Porto Witter
UMC/ PUC-Campinas