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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.10 n.1 Campinas jun. 2006

 

ARTIGOS

 

Estudo de validade de uma escala de desempenho em tecnologias para estudantes

 

Validity study of technology performance scale for students

 

Estudio de validez de una escala de desempeño en tecnología para estudiantes

 

 

Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly1; Ronei Ximenes Martins2

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo buscou evidências de validade para a Escala de Desempenho em Tecnologias (EDETEC) para estudantes. Participaram 463 alunos com idade variando entre 15 e 60 anos (M=22; DP=6,9), sendo 53,1% do sexo feminino. A maioria freqüentava escolas públicas (84,9%), sendo 47,1% matriculados no ensino médio e 52.9% universitários ingressantes. A EDETEC com 95 itens foi respondida individualmente em aplicação coletiva. A análise das características psicométricas revelou boa consistência interna (±=0,96) e a precisão interna, verificada pelo método das metades, foi de 0,87 com homogeneidade dos itens. A análise fatorial indicou a presença de 3 fatores que explicam 47,25% da variância. Foram eliminados 39 itens, com comunalidade menor que 0,40, para a constituição da primeira versão.

Palavras-chave: Construção de testes, Psicometria, Desempenho teste.


ABSTRACT

This study aims to evaluate the psychometric characteristics of the Escala de Desempenho em Tecnologias (EDETEC). 463 students with age between 15 and 60 years (M=22; DP=6,9) have participated, 53,1% female, 84.9% from public schools. EDETEC, which has 95 Likert items with a fouranswer choice each, was answered individually. The results showed a good internal consistency (±=0,97). The internal reliability, verified by the splithalf method, was 0,87 and it showed that the items were homogenous. The factor analysis found three factors that explained 47,25% of the variations. So 39 items (with communalities < 0,40) were eliminated to the first version.

Keyword: Test construction, Psychometrics, Performance test.


RESUMEN

Este estudio ha buscado evidencias de validez para la Escala de Desempenho em Tecnologías (EDETEC) para estudiantes. Han participado 463 alumnos con edades variando de entre 15 y 60 años (m=22, dp=6,9), siendo 53,1% del sexo femenino. La mayor parte frecuentaba escuelas públicas (84,9%) siendo 47,1% matriculados en la enseñanza secundaria y 52,9% universitarios iniciantes. La EDETEC, con 95 ítems, ha sido respondida de forma individual y en aplicación colectiva. El análisis de las características psicométricas ha mostrado una buena consistencia interna (±=0,96) y la precisión interna, verificada por el método de las mitades ha sido de 0,87 con homogeneidad de los ítems. El análisis factorial ha indicado la presencia de 3 factores que explican 47,25% de la variancia. Para la construcción de la primera versión han sido eliminados 39 ítems con comunalidad menor a 0,40.

Palabras clave: Construcción de tests, Psicometría, Desempeño test.


 

 

Introdução

As constantes mudanças nos tipos e mídias que produzem e distribuem a informação para a sociedade definem o uso de habilidades específicas para acessar, selecionar e avaliar a informação em multimídia (visual, eletrônica e digital, principalmente) bem como sua utilização (Hobbs, 2006). A inserção de tais mídias, tanto como estratégia de ensino quanto como recurso de acesso à informação, determina a necessidade de que os estudantes apresentem habilidades para se apropriarem das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), especialmente no ambiente escolar (Howard, 2002; Moran, Masetto & Behrens, 2003; Joly & Silveira, 2003; Meade & Dugger, 2004; Leu, Mallette, Karchmer, & Kara- Soteriou, 2005; entre outros).

Destacam-se também a adaptabilidade frente às inovações tecnológicas, criatividade para desenvolver soluções e produtos novos, flexibilidade para atuar em equipe, solucionar problemas e respeitar as diferenças no relacionamento interpessoal. Ao lado disso, planejar ações de modo estratégico, lógico, organizado e racional sendo capaz de comunicar-se por meio da linguagem oral, escrita, plástica e multimídia com criticidade e ética são alguns outros comportamentos básicos para que haja a adaptação às novas tecnologias (Tyler-Wood, Cerego & Holcomb, 2001).

Nesse sentido, por um lado, questões de pesquisa referentes a aspectos psicológicos ligados à percepção, avaliação e atitudes frente às novas TIC têm sido investigadas (Duvel & Pate, 2003). Escalas que buscam mensurar variáveis psicológicas tais como ansiedade (e.g., Computer Anxiety Scale, Igbaria & Chakrabarti 1990), atitude (e.g., Computer Attitude Scales, Nickell & Pinto, 1986) ou auto-eficácia (e.g. Computer Self-efficacy (CUSE) Scale, Cassidy & Eachus, 2002) foram utilizadas para tal fim. A análise crítica de como os recursos tecnológicos são incorporados à prática pedagógica da escola e à pesquisa de variáveis psicológicas relacionadas ao uso das tecnologias têm estimulado psicólogos educacionais e professores a realizarem estudos nessa área (Dillon & Gabbart, 1998; Waxman, Lin, & Michko, 2003; Bebell, O’Dwyer, Russell, & Seeley, 2004; Vavasseur & MacGregor, 2006 ).

Por outro lado, um dos focos de pesquisa atualmente explorados no âmbito internacional é o desempenho de estudantes em TIC. Existem vertentes diferenciadas, centrando-se em aspectos relacionados a atitudes, ansiedade e aversão (Burkett, Compton & Burkett, 2001) ou em auto-eficácia (Cassidy & Eachus, 2002), cuja abordagem é bastante adotada no que se refere à mensuração do desempenho pela auto-avaliação.

Penuel, Korbak e Cole (2002) consideram que o uso educacional da TIC requer habilidades cognitivas de alto nível para, por exemplo, o desenvolvimento de projetos multimídia, simulações e comunicação por diferentes mídias. Os estudiosos denominam technology literacy ou alfabetização tecnológica a competência técnica e funcional para desenvolver e aplicar recursos tecnológicos de informação e comunicação (Joly, 2004; Leu, Kinzer, Cairo & Cammack, 2004).

Sob o aspecto técnico, Jones (1995) definiu o desempenho em tecnologia baseando-se no tipo de uso do computador – instrução baseada no computador, simulação ou pesquisa e solução de problemas. Atualmente esse desempenho está relacionado ao envolvimento do estudante e sua própria competência em usar recursos tecnológicos para aprender, buscar informação e se comunicar, adaptando-se sempre às inovações presentes na TIC ( Leu, Kinzer, Coiro & Cammack, 2004).

No tocante à funcionalidade, as habilidades básicas de leitura, de escrita e lógica matemática devem ser adaptadas às mídias digitais (Leu & cols., 2005). Hobbs (2006) focaliza como habilidades requisitadas para essa adaptação as relacionadas à análise, compreensão e utilização crítica de imagens (visual literacy), de informação apropriada à necessidade ( information literacy) e de multimídias (medias literacy).

No Brasil, os estudos relacionados à mensuração do desempenho em TIC são bastante restritos (Joly & Silveira, 2003; Joly, 2004; Joly & Martins, 2005a). Existe escassez de dados quantitativos e resultados relacionados à alfabetização tecnológica no sistema educacional brasileiro. De acordo com o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP (2006), no censo escolar de 2005, 91% das escolas de ensino médio brasileiras contavam com computadores, sendo que 58% delas possuíam laboratórios de informática. Se considerada a dependência administrativa, 77% da rede particular oferecia laboratórios de informática contra 51% da rede pública. Pelo levantamento, 49% dos matriculados no ensino médio público em 2005 tiveram acesso a recursos de TIC. Nas instituições particulares este número eleva-se para 78%. Entretanto, os dados não explicitam o número de alunos que efetivamente receberam qualificação no uso de tecnologias em suas atividades na escola e qual seu nível de habilidade nas ferramentas básicas. Também não há relato de utilização de instrumento para mensurar o desempenho.

Segundo busca concentrada em publicações entre 2000 e 2005, nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde - BVS, Base de dados de artigos de periódicos nacionais em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - EDUBASE, Educational Resources Information Center - ERIC, PsycINFO e Scientific Electronic Library Online – SCIELO, não estão disponíveis, no Brasil, estudos específicos quanto ao desempenho de estudantes em TIC. Também não existem trabalhos publicados sobre o desenvolvimento e/ou evidencias de validade de instrumentos que visem mensurar o desempenho de alunos frente ao uso de tecnologias em situações de ensino-aprendizagem.

Considerando as perspectivas de Bandura (1989), Eastin e LaRose (2000) e de Duvel e Pate (2004) uma sondagem sobre do desempenho de alunos em TIC não necessita incorporar testes de habilidade técnica em utilizar este e aquele dispositivo ou software. Essa pode buscar padrões relacionados ao domínio de tais recursos por meio de escalas auto-avaliação. Para construir escalas que obtenham desempenho em TIC é necessário definir que habilidades são esperadas em determinado domínio. Sem um padrão de ações é difícil estabelecer parâmetros quanto ao que avaliar.

Considerando esta necessidade, alguns organismos internacionais desenvolveram padrões quanto às habilidades em tecnologia esperadas das pessoas para cada etapa de formação na escola. Um dos padrões, utilizado pela United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization – UNESCO (2004), criado pela International Society for Technology in Education – ISTE (2000), vem sendo adotado nos EUA e em outros paises. A Europa também possui recomendações oficiais quanto às habilidades em TIC. A Rede de Informação sobre Educação da Europa – EURYDICE, publica anualmente o Basic Indicators on the Incorporation of ICT into European Education Systems (UNESCO, 2004). O padrão ISTE, assim como outros, pode ser tomado como base para obtenção de dados quanto ao desempenho do professor e do aluno em tecnologias de informação e comunicação.

Ao determinar os padrões para estudantes, o ISTE definiu seis categorias, criando um modelo que conecta indicadores de desempenho com perfis desejados de alfabetização tecnológica. Os indicadores estão organizados de acordo com o nível de escolaridade dos alunos da educação básica. O quadro 1 apresenta o desempenho esperado para um aluno que concluiu a educação básica.

 

 

Verificando a necessidade de instrumentos específicos que permitissem obtenção do desempenho de estudantes em tecnologias de informação e comunicação, na perspectiva da autoavaliação, o presente estudo objetivou buscar evidências de validade de construto para a Escala de Desempenho em Tecnologia (EDETEC). Analisou relações entre o desempenho dos participantes e a idade e o gênero e o tipo de escola que freqüentavam.

 

Método

Participantes

Participaram da presente pesquisa 463 alunos, 74,7% de Minas Gerais e 25,3% de São Paulo. Dentre eles, 53,1% eram do sexo feminino e 46,9% do sexo masculino, com idade variando entre 15 e 60 anos (M=22; DP=6,9). A maioria (84,9%) estudava em escolas particulares, 47,1% no ensino médio e 52,9% no primeiro ano do ensino superior.

Instrumento

Escala de Desempenho em Tecnologia – EDETEC –Anexo 1 (Joly & Martins, 2005).

Visa identificar características de desempenho, relacionadas ao domínio técnico e, também, ao uso eficaz e ético dos recursos tecnológicos como ferramentas, no que se refere à adequação de sua aplicação no cotidiano e como item de aprendizagem, na perspectiva da alfabetização tecnológica. É composta por 95 itens do tipo Likert com quatro pontos (0= nunca, 1= algumas vezes, 2= muitas vezes, 3=sempre), podendo ser aplicada em formato impresso ou eletrônico A pontuação máxima é de 285 pontos. Trata-se de instrumento de aplicação individual ou coletiva com tempo médio de 20 minutos.

Os itens da EDETEC foram elaborados considerando-se as categorias e indicadores de desempenho em tecnologias de comunicação e informação para alunos concluintes do ensino básico organizada pelo ISTE (2000). Todas as categorias foram contempladas com 15 itens em média. Cada item expressa um único comportamento característico e com afirmativas positivas. A linguagem e o conteúdo dos itens foram analisados por cinco especialistas em psicometria, sendo quatro psicólogos e um profissional que atua com sistemas de informação, e 10 estudantes ( cinco concluintes do ensino médio e cinco universitários ingressantes). Houve concordância de 95% entre o grupo de especialistas e 97% no de estudantes. As modificações sugeridas foram acrescentar uma explicação como aposto ( e.g. itens 5, 6, 17) e usar termos comuns e próprios a TIC como e- mail, download, acessar, palm, online, deletar e MSN, as quais foram acatadas.

Procedimento

O estudo foi executado com autorização dos respectivos responsáveis pelas instituições educacionais nas quais os alunos estavam matriculados. Realizou-se reunião prévia com os aplicadores, que foram orientados quanto aos procedimentos de aplicação. No momento da aplicação os alunos foram esclarecidos quanto ao objetivo da pesquisa, destacando-se que suas identidades seriam mantidas em sigilo. Em seguida, foi pedido que eles lessem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os que consentiram receberam a EDETEC no formato impresso e responderam individualmente, sem o auxilio do aplicador, por 20 minutos em média.

 

Resultados e Discussão

Verificada a fidedignidade por meio do teste Alfa de Cronbach, constatou-se que a escala apresentou ótima consistência interna (±=0,96). A precisão interna foi verificada pelo método das metades, e revelou homogeneidade dos itens (0,87). O teste de esfericidade de Bartlett indicou que a matriz de correlação não é uma matriz identidade, portanto existe correlação entre os itens avaliados (x2 [4465, N=643] = 25656,292; p>0,000). A medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,96) indicou que é muito adequada, pelo grau de variância apresentado, para avaliar o desempenho do estudante na utilização de recursos tecnológicos na educação, conferindo validade aos resultados.

A análise fatorial dos resultados obtidos foi executada utilizando-se o método Varimax de extração por fatores, considerando o critério da raiz latente para a constituição de fatores com os autovalores maiores que um. A primeira análise indicou a presença de seis fatores (Tabela 1) explicando 43,8% da variância. O fator 1 era o que tinha maior índice de variância (29,24%), ou seja, era o que melhor explicava a relação entre os itens da escala. A distribuição dos itens se deu de maneira que 80 representavam o Fator 1, com carga fatorial variando de 0,98 a 0,23. O fator 2 recebeu 7 itens de carga fatorial entre 0,51 e 0,32. Os fatores 3 a 6 agruparam 2 itens cada, com cargas entre 0,80 e 0,27.

 

Foram então eliminados 21 itens com cargas inferiores a 0,40 (2, 3, 5, 10, 13, 14, 20, 22, 24, 25, 28, 32, 42, 46, 63, 76, 79, 81, 82, 91, 94) e executada nova análise para a escala com 74 itens. O resultado apresentou distribuição em 3 fatores explicando 39,48% da variância, sendo 16,52% no fator 1, 15,00% no fator 2 e 7,96% no fator 3.

Avaliadas as cargas fatoriais recalculadas, observouse nova incidência de valores inferiores a 0,40, o que permitiu a exclusão de mais 15 itens (1, 4, 27, 31, 36, 40, 43, 47, 51, 54, 64, 65, 83, 88, 95). Observou-se, também, que os itens 39, 59 e 78, pertencentes ao fator 2, apresentavam carga inferior a 0,45 e destoavam em termos de conteúdo dos demais. Optou-se, então, por eliminar também estes e executar a terceira análise fatorial, com os mesmos parâmetros da anterior, agora com 56 itens. A distribuição em 3 fatores manteve-se, como se observa pela análise do gráfico de Scree Plot (Figura 1), porém com maior homogeneidade da variância entre eles.

 

A medida de adequação da amostra de Kaiser- Meyer-Olkin foi mantida em 0,96 e o resultado do teste Bartlett para esta análise manteve a indicação que a matriz de correlação não é uma matriz identidade (x2 [1540, N=643] = 15145,536; p>0,000).

Após a exclusão dos 39 itens, houve aumento de todos os indicadores de variância da escala e a distribuição em três fatores que passaram a explicar 47,25% da variância. Esse índice é melhor que o observado com a presença de seis fatores, indicando que a retirada de itens implicou em uma melhor adequação da dimensionalidade da escala (Tabela 2).

 

 

Os itens distribuídos nos três fatores apresentaram carga significativa (0,44 a 0,78). O Fator 1 concentrou os 17 itens relativos às ferramentas básicas e de comunicação, relacionadas às habilidades no uso de tecnologias para tarefas elementares de obtenção de informação, interação em rede e aprendizagem cooperativa e foi denominado ferramentas básicas e de comunicação. No que se refere ao fator 2, denominado conceitos e ferramentas de produtividade, este agrupou 20 itens que descrevem atitudes de uso produtivo do instrumental visando aprimoramento da aprendizagem de conteúdos, desenvolvimento criativo de tarefas e exposição de idéias. No fator 3 concentraram-se os 19 itens que descrevem atitudes relacionadas com a utilização avançada de recursos tecnológicos para solucionar problemas do dia-a-dia e para tomada de decisões, nomeado como ferramentas de solução de problemas. A Tabela 3 apresenta o agrupamento dos itens por fatores e suas cargas. A concentração dos itens nos três fatores corresponde ao critério estabelecido pela ISTE (2000).

 

 

Verificou-se que os três fatores se correlacionaram positiva e significativamente. Os índices obtidos para as correlações foram, para fatores 1 com 2, r=0,76 (p>0,000) e para 1 com 3 e 2 com 3, r=0,75 (p>0,000). A correlação dos fatores com o escore total apresentou índices superiores a 0,90 (p>0,000). Também a consistência interna para cada fator apresentou índices ±=0,90 (fator 1) e ±=0,91 (fatores 2 e 3), confirmando os bons indicadores de precisão após a exclusão dos itens. A EDETEC ficou com 56 itens os quais foram seqüenciados na escala por sorteio aleatório. A pontuação máxima passou a ser de 168 pontos, sendo 51, 60 e 57, respectivamente para os fatores 1, 2 e 3.

Quanto à relação entre gênero dos participantes e dependência administrativa de matrícula do aluno no que se refere ao desempenho em TIC, a análise inferencial por meio do teste t Sudent revelou que existe diferença em relação ao escore total, considerado o tipo de escola (t[461]=2,57; p < 0,01). Os alunos de escolas particulares (M=87,38; DP=35,72) apresentaram desempenho superior aos de escolas públicas (M=75,74; DP=34,47). Também revelou diferença quando considerado o gênero (t[461]=-4,44; p = 0,00). Os participantes do sexo masculino apresentaram desempenho superior (M=93,49; DP=35,34) ao do feminino (M=78,67; DP=36,34). As diferenças sugerem que os alunos do sexo masculino que estudam na rede particular demonstram estarem mais preparados para o uso de TIC.

Tal observação foi corroborada isolando-se um subgrupo (N=118) com escore total pertencente ao quartil 75 (valores entre 113 e 164 pontos no escore total). Destes, 94% são de escolas particulares e 60% são do sexo masculino. A diferença quanto à dependência administrativa pode ter relação com fatos descritos nos indicadores do INEP (2006) visto que dos matriculados no ensino médio em 2005, 78% dos alunos das instituições particulares tiveram acesso a recursos de TIC enquanto o índice foi de 49% nas escolas públicas. Especificamente sobre a diferença em relação ao sexo, o resultado está de acordo com o que foi obtido por Cassidy e Eachus (2002) que verificaram melhor desempenho dos participantes do sexo masculino em uma escala de auto-eficácia para usuários da Internet.

 

Considerações Finais

A avaliação das qualidades psicométricas da Escala de Desempenho em Tecnologias indicou que essa apresenta evidências de validade de construto e bom indicador de precisão. Isso a coloca como instrumento a ser utilizado para avaliar os estudantes que tanto utilizam tecnologias de informação e comunicação em suas estratégias educacionais para o aprendizado, quanto ao desempenho daqueles que realizam cursos de capacitação na área.

Cabe destacar a importância da realização de outros estudos que possam ampliar as evidências de validade do instrumento. Para tal, sugere-se que seja analisado o desempenho de estudantes que usam regularmente as tecnologias como estratégia educacional comparado ao dos que usam pouco frequentemente. Verificar, também, a opinião de psicólogos escolares, coordenadores ou tutores que orientam atividades que utilizam as TIC em atividades educacionais sobre o desempenho dos alunos, comparada aos resultados obtidos por meio da aplicação da EDETEC.

É relevante, ainda, investigar as possíveis relações entre o desempenho com outras variáveis como personalidade, inteligência, criatividade, por exemplo. Além disso, estudos devem ser realizados com maior homogeneidade de participantes quanto à idade para se verificar o efeito deste aspecto em relação ao desempenho no uso de tecnologias em atividades de aprendizagem.

 

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Endereço para correspondência
Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45
13251-900- Itatiba/SP

Recebido em:14/12/2005
Revisado em: 24/04/2006
Aprovado em: 18/05/2006

 

 

Sobre os autores:

1 Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly (cristina.joly@saofrancisco.edu.br). Docente do curso de Psicologia e Pedagogia e do Programa de Pósgraduação stricto-sensu da Universidade São Francisco.
2 Ronei Ximenes Martins (ronei.ximenes@saofrancisco.edu.br ). Doutorando do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.