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Psicologia Escolar e Educacional

versión impresa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.10 n.2 Campinas dic. 2006

 

SUGESTÕES PRÁTICAS

 

Como prevenir o abuso de drogas nas escolas?

 

 

Marília Saldanha da Fonseca1

Centro Universitário de Barra Mansa, SOBEU / RJ

Endereço para correspondência

 

O consumo de drogas vem se expandindo mundialmente e constitui, hoje, uma ameaça à estabilidade das estruturas e valores econômicos, políticos, sociais e culturais das nações. O abuso de drogas entre jovens tem sido uma das questões que mais afligem a sociedade contemporânea.

Em 2004, o levantamento epidemiológico realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), em estudantes de educação básica, comprova a presença de psicotrópicos nas escolas, a existência do abuso entre alunos e uma tendência de iniciação precoce, na faixa etária de 10- 12 anos mais de 12% das crianças já usaram algum tipo de droga na vida. (Galduróz et al., 2004)

A escola encontra-se diante de um novo desafio e, nesta circunstância, educar para prevenção apresentase como a melhor alternativa para o enfrentamento do consumo de drogas entre estudantes. Prevenção significa dispor com antecipação, impedir ou pelo menos reduzir o consumo.

O ato de prevenir o abuso de drogas admite três níveis de intervenção: primária, secundária e terciária. Na prevenção primária o objetivo é intervir antes que o consumo de drogas ocorra. Cabe à instituição escolar promover um estilo de vida saudável nos alunos, desde crianças bem novas até o jovem adulto A prevenção secundária destina-se aos estudantes que apresentam uso leve ou moderado de drogas, que não são dependentes, mas que correm este risco. A prevenção terciária dirige-se ao usuário dependente. No caso dos estudantes que já consomem drogas, a função da escola é prestar auxílio ao aluno na procura de terapia, apoiar a recuperação e reintegrá-lo na escola, no grupo de amigos, na família. Vale advertir que não compete à escola o tratamento, mas sim, encaminhar adequadamente o caso.

Segundo Fonseca (2006), faz-se urgente estruturar uma dinâmica de implantação em prevenção ao abuso de drogas nas escolas. E, “a melhor forma de se chegar com a Mensagem Antidrogas ao jovem é municipalizando as ações de prevenção contra as drogas” (BRASIL, 2000, não paginado). As estratégias de municipalização possibilitam incrementar medidas estruturadas em plano, programa e projeto que tornam a prevenção mais próxima às instituições escolares. Fonseca sugere que o caminho a ser percorrido deve incluir, necessariamente, as seguintes instâncias:

Município. Com a municipalização, viabiliza-se o Plano de Ação relacionado à redução da demanda de droga. A função do Plano é elaborar políticas, objetivos e metas, traçar as diretrizes e estratégias de caráter geral.

Secretaria de Educação. Tem sob sua responsabilidade a elaboração e gestão de um Programa Preventivo que decorra do Plano. Deve buscar parcerias com entidades e instituições que se disponham a essa finalidade.

Escola. É o lugar privilegiado para intervenções educacionais. Deve elaborar projetos que assegurem ações preventivas intensivas e duradouras, tendo como guia o Plano de Ação e o Programa Preventivo. Na prática escolar, a prevenção ao abuso de drogas torna-se viável por intervenções nas condições de ensino e, principalmente, são direcionadas ao projeto político pedagógico, à gestão escolar e à abordagem educacional, como apresentados na sequência.

Projeto Político Pedagógico. Inserida num quadro mais amplo de uma educação para a saúde, a prevenção prioriza a adesão aos princípios da vida, a formação de valores e o conhecimento da natureza e do efeito das substâncias psicoativas. Em relação aos psicotrópicos, deve ser levado em conta que a experimentação está iniciando muito precocemente, portanto, a prevenção primária deve começar em crianças de menor idade, em atividades criativas e prazerosas. É necessário que as drogas de abuso estudadas realmente estejam presentes entre estudantes brasileiros, evitando-se erros de enfocar drogas de uso em outros países. A estratégia é enfatizar as drogas lícitas e de fácil acesso, isto é, álcool, tabaco, solvente e medicamento, pela elevada porcentagem de uso entre os alunos, mostrando que todas são substâncias psicotrópicas. Não se pode deixar de discutir o caráter atrativo das drogas: prazer aos sentidos, ter “imagem transgressora”, ser símbolo de “estar na moda”. Igualmente, precisa ser discutida a trajetória do envolvimento com psicotrópicos, evitando-se autoritarismos didáticos, ou mesmo despertar a curiosidade inadvertidamente.

Gestão da Escola. O modelo de gerenciamento deve favorecer a participação coletiva e responsável na definição de princípios, objetivos e decisões a serem tomadas. Sugerimos, a seguir, algumas medidas gerenciais que incrementam a educação preventiva. A escola deve oferecer serviços de saúde gratuitos, por equipe multifuncional, aos alunos que apresentem transtornos decorrentes do uso indevido de drogas. É importante acolher e envolver as famílias com a educação dos filhos, promovendo encontros para discutir questões relativas ao consumo de drogas e os modos de prevenção. Para os educadores, instituir cursos, seminários, debates e reciclagem sobre o tema. Ainda, criar entre as escolas uma rede de informações e intercâmbio de conhecimentos no campo da prevenção contra o uso indevido de drogas.

Abordagem Educativa propõe a Educação Afetiva cuja ênfase está na personalidade do aluno. A educação afetiva defende a modificação de fatores pessoais que são vistos como riscos ao uso de drogas, explorando situações-limite. Primeiramente, deve-se priorizar o autoconhecimento, a auto-estima, a auto-afirmação, as relações interpessoais, a capacidade de lidar com ansiedade, a habilidade de decidir, a habilidade de lidar com grupos, a capacidade de resistir às pressões grupais, a comunicação verbal. É igualmente importante fortalecer a resiliência, o saber dizer não, a solidariedade, o pertencimento, o saber ouvir, a autonomia, a criatividade, o respeito às diferenças, o respeito aos valores. E, quando necessário, enfraquecer a ansiedade, o desamparo, a vulnerabilidade, a insegurança, os estigmas e preconceitos.

Professor-Aluno. A atuação dos professores é fundamental na educação preventiva, ajudando os alunos a constituírem um sistema de valores pessoal que lhes animem a adotar um estilo de vida, em que o abuso de drogas não encontre ressonância. Acreditamos que o trabalho docente tem mais probabilidade de sucesso com a inserção, no currículo, de conteúdos significativos de prevenção. Também contribui a adoção métodos ativos que incluem oficina, simulação, debate, discussão, diálogo, dinâmica de grupo, psicodrama, jogo dramático, dramatização. Deste modo, é possível proporcionar aos alunos a aquisição de habilidades e experiências que tenham efeito protetor, como mostra o Quadro 1.

 

Por fim, considera-se premente um trabalho que se contraponha ao consumo de drogas entre crianças, adolescentes e jovens adultos. A educação formal é um dos meios através da qual fazemos a conscientização, a educação e a prevenção e a escola a via natural para os esforços de prevenir o abuso de drogas entre alunos.

 

Referências

Brasil. Secretaria Nacional Antidrogas (2000). Conselho Nacional Antidrogas, não paginado. Disponível em: http:// www.senad.gov.br/comad. Acesso em: 28 set. 2005.

Fonseca, M. S. (2006). Prevenção ao abuso de drogas na prática pedagógica dos professores do Ensino Fundamental. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP.

Galduróz, J. C. F. et al. (2004). V Levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes do ensino fundamental e médio 27 capitais brasileiras. São Paulo: Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID

 

 

Endereço para correspondência
Rua Antônio Cesarino, 1003 apto. 123
13.015-291 - Campinas, SP

 

1 Marília Saldanha da Fonseca (mariliasf@uol.com.br) é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP e docente do Centro Universitário de Barra Mansa, SOBEU / RJ