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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.12 n.2 Campinas dez. 2008

 

RESENHA

 

Aspectos teóricos sobre a Teoria Social Cognitiva

 

Theoretical on Social Cognitive Theory

 

 

Fernanda Andrade de Freitas*

 

 

Bandura, A.; Azzi, R. G.; Polydoro, S. Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: ArtMed, 2008. 176 pgs.

 

Este livro foi organizado por duas pesquisadoras brasileiras, Roberta Azzi e Soely Polydoro da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, e um estrangeiro, Albert Bandura da Universidade de Stanford, responsável pelo desenvolvimento de uma teoria intitulada de Teoria Social Cognitiva, foco central desse livro. Vale ressaltar que antes de 1988, ele a denominava de Aprendizagem Social. Eles organizaram o livro, tendo como proposta a difusão de conceitos básicos da teoria, os quais se encontram em larga expansão em diferentes contextos como clínica, esportes, educacional, entre outras.

Os três capítulos iniciais do livro são escritos pelo pesquisador Bandura. Esses capítulos foram publicados em outros meios impressos como livro e periódicos. O primeiro capítulo, publicado em 2005, aborda a "A evolução da teoria social cognitiva" localizando o leitor em sua idéia central na perspectiva da agência, ou seja, na possibilidade do sujeito "influenciar o próprio funcionamento e as circunstâncias de vida de modo intencional" (Bandura, 2008, p. 15). Ele elenca limitações de algumas teorias vigentes a época em que começou a desenvolver a sua teoria. Descreve a função da modelação social, desmistificando algumas das suas concepções errôneas, e o exercício da agência por meio da capacidade de auto-regulação. Na seqüência, o pesquisador cita conceitos chave de sua teoria denominados de auto-eficácia e o modelo triádico da agência humana.

No segundo capítulo, cuja versão original foi publicada em 1978, Bandura localiza "O sistema do self no determinismo recíproco". Inicialmente, o autor descreve como o determinismo tem sido compreendido por diferentes teorias, e define-o segundo a perspectiva da aprendizagem social. O self é composto por "estruturas cognitivas que proporcionam mecanismos de referência e um conjunto de subfunções para percepção, avaliação e regulação do comportamento" (Bandura, 2008, p. 50). Para melhor compreender a influência do determinismo no self, ele sintetiza o construto da auto-regulação, seus processos e funções, assumindo que é a partir da auto-regulação que o sujeito exerce algum controle sobre seu comportamento.

"A teoria social cognitiva na perspectiva da agência" é o título do terceiro capítulo do livro, publicado originalmente em 2001. No texto, ele critica a teoria do processamento de informação, por não considerar o sujeito como agente de sua vida. Na seqüência, ele detalha o que seria agência descrevendo as suas características, a saber: a intencionalidade, a antecipação, a auto-reatividade e a auto-reflexão. Essas características estão presentes em diferentes modos de agência, ou seja, pessoal, delegada e a coletiva. Para finalizar, o autor comenta a respeito dos facilitadores e dificultadores dos diferentes modos de agências, relacionando-os com a eficácia pessoal e a coletiva, tendo como pano de fundo a sociedade emergente.

Frank Pajares e Fabián Olaz são responsáveis pelo quarto capítulo. Eles escrevem de forma esclarecedora e sucinta a respeito da "Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral". Introduzem termos chave da teoria, para posteriormente, detalharem sobre as crenças de auto-eficácia, ou seja, como elas são originadas, como influenciam o funcionamento humano e como avaliá-las. Além disso, descrevem resultados de pesquisas, os quais elucidam a relação de diferentes construtos com a auto-eficácia.

No capítulo 5, Bandura aborda a respeito do "Exercício da agência humana pela eficácia coletiva", publicado em 2000. Aborda as diferentes formas de agência humana, detalhando a agência coletiva, sua relação com as crenças de eficácia e como medi-la. Sequencialmente, o autor aponta alguns dualismos que a teoria social cognitiva rejeita posicionando-se, para então, mencionar o impacto da percepção da eficácia coletiva sobre o funcionamento grupal.

Anna Edith Bellico da Costa, no capítulo 6, aborda a respeito do conceito de "Modelação". Nele, a autora detalha o conceito fazendo uma breve introdução da teoria, denominada anteriormente por Bandura, de Aprendizagem Social. Na seqüência, ela se dedica a falar a respeito da imitação na aprendizagem e no desenvolvimento, bem como na função do modelo na imitação. Em seguida, evidencia pesquisas que demonstram a eficácia dos modelos na transmissão de padrões de conduta, principalmente no contexto terapêutico, para tratamento do comportamento agressivo.

No capítulo 7, Soely Aparecida Jorge Polydoro e Roberta Gurgel Azzi contextualizam e definem o construto "Auto-regulação". Posteriormente, descrevem resultados de pesquisas apontando diversos construtos a influenciar bem como a ser influenciado pela auto-regulação. Como último tópico abordado, elas citam alguns domínios de investigação nos quais a auto-regulação tem sido explorada.

Fabio Iglesias é responsável pelo último capítulo, sob o título "Desengajamento moral". De forma clara e sucinta, o autor descreve os oito mecanismos para explicar o desengajamento moral, exemplificando-os como avaliá-los. Para finalizar, ele aponta algumas implicações sobre o conceito, de forma a direcionar outras pesquisas, assim como fomentar o interesse do leitor pelo assunto.

O leitor observará que a organização dos capítulos não apresenta uma seqüência cronológica dos conceitos, pois há quatro capítulos publicados por Bandura em diferentes momentos. Por isso, é possível realizar as leituras independentemente. Todos os capítulos são descritos tendo como pano de fundo a Teoria Social Cognitiva, denominada anteriormente de Aprendizagem Social. Nesse sentido, as leituras são complementares, pois em determinados capítulos, a definição da teoria é sucinta, e em outros, há um maior detalhamento.

Esse livro atende ao seu objetivo que é o de introduzir conceitos básicos sobre a Teoria Social Cognitiva, possibilitando a sua propagação e a melhor compreensão das definições segundo a teoria. Por isso, recomendo a leitura para aqueles que têm interesse em conhecer um pouco mais e até mesmo aqueles que já possuem uma noção da Teoria Social Cognitiva.

 

 

Sobre a autora:

* Fernanda Andrade de Freitas é Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação pela Unicamp. Mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco. Docente da Universidade São Francisco. E-mail: ferfreitas@ig.com.br