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Psicologia Escolar e Educacional

Print version ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. vol.13 no.1 Campinas June 2009

 

SUGESTÕES PRÁTICAS

 

Grupos operativos na formação de professores em escola de tempo integral

 

Teacher's development education with operative groups in a full time school

 

 

Eulália Henriques Maimone; Vânia Maria de Oliveira Vieira

Universidade de Uberaba

 

 

Grupo operativo não é um termo utilizado só para se referir a uma técnica específica de coordenação de grupos, ou como “grupo terapêutico”, “grupo de aprendizagem” ou “grupo de discussão”, mas sobretudo se refere a uma forma de pensar e operar em grupos que pode se aplicar a vários tipos de grupo, com uma ampla gama de situações em que podem ser utilizados. Existem, portanto, grupos operativos terapêuticos, familiares, de aprendizagem, de reflexão e outros (OSÓRIO, 1989).

No presente trabalho, apresenta-se, resumidamente, o desenvolvimento de um projeto de formação de professores, de pessoal e de alunos de uma escola de tempo integral municipal do interior de Minas Gerais, por meio dos grupos operativos, coordenados por uma psicóloga escolar.

Embora os chamados grupos operativos tenham surgido em 1957, introduzidos por Enrique Pichón-Rivière, o presente trabalho tem características mais semelhantes ao que propôs o educador marxista Anton Semionovitch Makarenko, que, durante 30 anos de sua vida, dedicou-se à atividade pedagógica, cuidando de crianças e jovens tidos como delinquentes, em escolas parecidas com as de tempo integral (colônias).

Makarenko, citado por Capriles (1989, p. 176), afirmava que todo trabalho coletivo, necessariamente, tem que ter um líder, um “diretor” e todas as regras devem ser discutidas e resolvidas em comissões que, uma vez assim determinadas, não poderiam deixar de ser cumpridas por nenhum membro da comunidade. Educar, para ele, seria socializar-se pelo trabalho coletivo em função da vida comunitária. Uma verdadeira coletividade não despersonaliza o homem, mas cria novas condições para o desenvolvimento da personalidade de cada membro na vida em comum. Para Luedemann (2002, p.19),

a escola makarenkiana é organizada de acordo com os princípios da instrução geral e do trabalho produtivo, retirando a centralidade da sala de aula.” A autora continua, recomendando que “a pedagogia deveria tomar como objeto o processo de constituição dialética da coletividade em seus diferentes aspectos- educação, instrução e trabalho produtivo (p.19).

A nossa estratégia de trabalho consistiu em diagnosticar as dificuldades no âmbito relacional entre os alunos, professores, funcionários e administração, lidando com as mesmas por meio dos grupos operativos.

Para essa tarefa de caráter coletivo, no decorrer do ano letivo, por meio de eleições, foram criadas comissões mistas, compostas de alunos, professores e funcionários, que atuavam como equipe, procurando resolver problemas internos e externos da escola.

As comissões tiveram as seguintes atribuições:

a) Comissão de Limpeza: ajuda e supervisiona os trabalhos de limpeza em geral da escola (participantes: cinco alunos, um serviçal e um professor).

b) Comissão de Alimentação: atua como avaliadora e como auxiliar na área de alimentação, cuida da conservação dos alimentos, elabora cardápio, adaptando-o às reais condições da escola, lista as falhas e ocorrências e encaminha relatórios à Comissão Central (participantes: cinco alunos, uma cozinheira e um professor).

c) Comissão de Relacionamento: observa o comportamento dos alunos e encaminha aqueles que sentem dificuldades nos relacionamentos (participantes: cinco alunos, um professor e uma psicóloga escolar).

d) Comissão Pedagógica e Recreativa: cria, organiza, supervisiona e avalia a parte pedagógica e recreativa dos cursos executados (participantes: cinco alunos, um professor e um pedagogo). A escola oferece as disciplinas comuns a cada série em um período e, no outro, são oferecidas oficinas pedagógicas ou cursos sugeridos pelos próprios alunos (Arte, Culinária, Artesanato, Capoeira, Expressão Corporal, Futsal, Informática, Judô, Música, Orientação Sexual, Corte e Costura, Estudos e Tarefas, Recreação, Serigrafia, Técnicas Agrícolas e Vôlei.)

e) Comissão Central: filtra as sugestões e reorienta os trabalhos de cada comissão (participantes: cinco alunos, o diretor e uma psicóloga escolar).

Essas comissões tinham como meta preparar o aluno para viver em sociedade, de forma participativa, valorizando desde as funções consideradas simples, como as de limpeza, até aquelas de ensino e supervisão, no contato direto com aqueles que, na instituição, desenvolviam essas tarefas.

As reuniões dos Grupos Operativos ocorriam sempre que se faziam necessárias. E essa necessidade era detectada não só pelos alunos representantes de cada grupo, os que formam as comissões, como também por professores, inspetores, direção, pais ou qualquer outro funcionário da escola.

Foi possível observar que, dentro do processo de grupos operativos, professores, funcionários e alunos ensinam e aprendem numa interação social, na qual o indivíduo possa se conhecer e ser capaz de compreender a importância e as reações do outro, tornando o espaço escolar um espaço significativo para cada um e para o coletivo das pessoas. Segundo Vieira (2003), isso se reflete no desempenho escolar dos alunos em regime de tempo integral, quando comparados aos seus colegas que, na mesma escola, não passaram por todo esse processo formativo.

 

Referências

Capriles, R. (1989). Makarenko. O Nascimento da Pedagogia Socialista. São Paulo: Scipione.        [ Links ]

Leudemann, C. da S. (2002). Anton Makarenko. Vida e obra - A pedagogia da revolução. São Paulo: Expresso Popular.        [ Links ]

Osorio, L. C., e cols. (1989). Grupo terapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas.        [ Links ]

Vieira, V. M. O. (2003). Escola de Tempo Integral: buscando evidências de um ensino de qualidade. Dissertação de mestrado, Universidade de Uberaba, Uberaba, Minas Gerais.        [ Links ]

 

 

Eulália Henriques Maimone
Doutora em Psicologia
Universidade de Uberaba
Vânia Maria de Oliveira Vieira
Doutora em Psicologia da Educação
Universidade de Uberaba