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Psicologia Escolar e Educacional

Print version ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. vol.13 no.2 Campinas Dec. 2009

 

RESENHAS

 

Flávia Pansini

Universidade Federal de Rondônia- Campus Rolim de Moura

Endereço para correspondência

 

 

Souza, A. M. de L. (Org.). (2009) Psicologia, Saúde e Educação: Desafios na Realidade Amazônica. São Paulo: Pedro e João Editores/Porto Velho: Edufro, 298 p.

O palco dos textos escritos no livro Psicologia, saúde e educação: desafios da realidade Amazônica são as pesquisas resultantes do Doutorado em Psicologia Educacional e do Desenvolvimento Humano, todas realizadas no Estado de Rondônia a partir de uma parceria interinstitucional entre a Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e a Universidade de São Paulo (USP) possibilitando a formação de novos doutores e pesquisadores na área. O livro foi organizado por vários autores e está subdividido em duas partes, cada uma contendo uma breve apresentação. A primeira parte denominada “Psicologia Escolar e Processos Educativos” é composta por oito textos e a segunda que tem por temática “Saúde e Processos Psicossociais” encontram-se três textos.

No primeiro capítulo, Ana Maria de Lima e Souza a partir de uma pesquisa qualitativa em que utiliza vozes (fragmentos) de estudantes do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondônia, nos coloca diante de uma reflexão sobre o processo de avaliação no ensino superior. O texto releva que, na maioria das vezes, os procedimentos utilizados para avaliar não são claros para as alunas/os constituindo-se em uma avaliação desarticulada dos objetivos de ensino e do processo de aprendizagem. Assim, o texto converte-se em questionamento para os professores e professoras universitários ao mostrar que as práticas utilizadas não diferem das vivenciadas pelas alunas em suas trajetória de escolarização.

No segundo capítulo, Elizabeth L. M. Martines, destaca as contribuições da psicologia cultural para o estudo de processos educacionais. O foco central são as idéias do psicólogo americano Jerome Bruner que deram margem ao surgimento da Psicologia Cultural. A autora analisa obras importantes do psicólogo capazes de ampliar os conhecimentos dos leitores sobre os conceitos explorados por ele como “agência e colaboração” e “intersubjetividade”. Também nos remete a proposta metodológica a ser utilizada como ideal para a prática da psicologia cultural, na qual se destaca a autobiografia. No fim são relatados alguns resultados de sua pesquisa sobre formação de professoras no curso de Biologia em que essa metodologia foi utiliza e aponta para a grande contribuição que as idéias de Bruner podem trazer para o currículo.

Iracema Neno Cecílio Tada no terceiro capítulo escreve um texto cativante para ser lido não apenas por psicólogos educacionais, mas principalmente por professores/as que atendem direta e indiretamente estudantes com necessidades educativas especiais. No primeiro momento analisa os paradigmas da psicologia escolar, da institucionalização, o paradigma de serviços e o paradigma de suportes. O texto segue refletindo sobre a atuação do psicólogo escolar com enfoque na formação inicial e continuada. Como resultado de sua pesquisa, considera-se que o currículo do curso de Psicologia não contempla aspectos necessários para uma visão totalitária da questão da inclusão escolar e destaca algumas experiências de estágio curricular em psicologia escolar que tem permitido um novo olhar do psicólogo escolar e sua atuação.

No capítulo seguinte, “A cultura tradicional Kawahib e o diálogo com as visões mestiças americanas nas práticas domínio de consciência” o autor descreve as práticas de domínio de consciência utilizadas pelos povos indígenas colhidas a partir dos depoimentos de seus líderes. São descritas ações xamanísticas como a tocaia, prática que pode ser interpretada como marcador cultural histórico e que proporciona o isolamento necessário para se chegar a um estado de silêncio mental do indivíduo. Após explicadas com detalhes, tais práticas são comparadas com as de outras duas culturas mestiças: o Nagualismo na América do Norte e o Vegetal na América do Sul, que possuem em seus rituais alguns marcadores comuns. Dessa forma, mostra que existem possíveis aproximações das práticas destas tradições mestiças com a cultura Kawahib.

Trabalho docente: a caminho da proletarização escrito por Luís Alberto Lourenço de Matos e Paulo Albertini discute a situação docente na atual sociedade capitalista.

São apresentadas as diferentes hipóteses que defendem a proletarização do trabalho do professor, bem como os argumentos de crítica a essa tese. O texto também enfoca a proletarização docente no ensino superior privado, bem como no ensino superior público, destacando que nos dois casos, há uma perda da autonomia profissional ocasionada pelo controle do estado, bem como pelas condições materiais precárias de trabalho, fatores que levam os autores a conclusão de que a ocupação docente está em processo de proletarização.

No sexto capítulo sobre políticas públicas e formação docente: um estudo em Porto Velho, Ivonete Barbosa Tamboril a partir de uma pesquisa qualitativa realizada com a Secretaria Municipal de Educação do município de Porto Velho – SEMED faz uma análise dos programas desenvolvidos no período compreendido entre 1998 e 2003, tanto os de formação inicial quanto continuada. A formação docente é discutida a partir do olhar sobre as ações da SEMED que tiveram como principal objetivo a certificação de seus profissionais, sem a preocupação com a qualidade dessa formação. Tais ações, desencadeadas principalmente com o objetivo de atender as exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9694/96) com a formação docente se deram de maneira desorganizada, com ausência de acompanhamento e avaliação e pouco contribuíram para a melhoria da qualidade do ensino.

No texto “Apropriação e expropriação de saberes na prática pedagógica: contribuições para a formação de professores” Marli L. T. Zibetti e Marilene Proença R. de Souza apontam para o saber docente a luz da teoria do cotidiano. Após fazer uma breve incursão pelos diferentes enfoques e tipologias que fragmentam o saber docente, as autoras vão além ao buscar entender o processo de apropriação desses saberes e sua utilização no exercício da docência. A partir de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico demonstram a presença de fatores como historicidade e dialogicidade em cenas do cotidiano da sala de aula e defendem que tais saberes são validados na relação com os alunos e alunas aprendizes, construídos pelo diálogo com diferentes vozes, a partir de um processo histórico, mostrando que há uma circulação de saberes nos diferentes contextos da formação.

No capítulo “A formação da personalidade moral ecológica” Vanessa A. A. de Lima descreve as contribuições da psicologia ambiental e da ecopsicologia para a formação de uma consciência ecológica. Para a autora, moral e ecologia estão interligadas, sendo que a proposta da ecopsicologia é a busca de um self permeável, interligado com todos os seres vivos. Ao postular que a personalidade moral está ligada a valores que são relacionados com a identidade que é formada a partir também da cultura, o texto defende que é necessário proporcionar uma convivência mais próxima, mais emocional com a natureza. A partir destas discussões, finaliza com sugestões de premissas que devem ser levadas em conta pelos programas de Educação Ambiental.

O estudo de Adailde Carvalho da S. Miranda que abre a segunda parte do livro discute sobre sexualidade e orientação sexual na formação de profissionais da área de saúde. A partir de pesquisa desenvolvida com estudantes do curso de enfermagem da Universidade Federal de Rondônia a autora analisa que o currículo do curso possui um forte caráter tecnicista que enfatiza a dualidade corpo/mente, a partir de um modelo biomédico de tratamento do corpo da pessoa doente que se torna, tanto quanto o corpo das próprias profissionais, desprovido de sexualidade. Também são destacados alguns efeitos que a ausência da temática sobre como lidar com o corpo nu do doente produz nas relações entre profissional e paciente, como a constituição de uma visão limitada do corpo humano concebido apenas como objeto/carne de estudos técnico científicos e a formação de sintomas de sofrimento somático do profissional de saúde.

No penúltimo capítulo do livro, José Juliano Cedaro e Ana Maria Loffredo tratam da perversão a partir da análise de um caso clínico em que a paciente, uma mulher de aproximadamente 30 anos, vive uma relação de gozo e sofrimento com seu parceiro, ambos com AIDS. Ao mesmo tempo em que descrevem a relação entre os dois personagens principais da narrativa como uma montagem perversa, os autores discutem as principais questões relativas ao tema tendo como pano de fundo a teoria psicanalítica.

O ultimo capítulo “Trabalhando com os conceitos de Carl Rogers com pessoas encarceradas” discute um trabalho desenvolvido com detentos do Presídio Urso Branco de Porto Velho em que se utilizou a técnica do Teatro de Oprimido como forma de desencadear um processo terapêutico libertador. Trabalhando com as idéias mestras da concepção terapêutica de Rogers, principalmente com a noção de self, na qual surgem as percepções que o nosso eu tem de si mesmo e a noção de aprendizagem significativa, a autora postula que, muitas vezes, o ato destrutivo cometido pelos detentos é conseqüência de um ambiente em que as condições para que haja auto regulação não são propícias.

De modo geral, o livro representa uma grande contribuição para o avanço da pesquisa na Amazônia e permite um encontro de diversos leitores, estudantes de Psicologia e Pedagogia, professores/as e pesquisadores entre outros/as com questões polêmicas da área da saúde, da psicologia escolar e da aprendizagem, muitas delas tão ausentes, e ao mesmo tempo tão importantes para o processo educacional atual.

 

 

Endereço para correspondência
Linha 208, km 6,5, Lado Norte.
Distrito de Nova Estrela
Município: Rolim de Moura – Rondônia
CEP: 76940-000
E-mail: flaviapansini3@yahoo.com.br

Recebido em: 27/11/2009
Aprovado em: 21/12/2009