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Psicologia da Educação

Print version ISSN 1414-6975On-line version ISSN 2175-3520

Psicol. educ.  no.26 São Paulo June 2008

 

Lourenço Filho: um pioneiro da relação entre psicologia e educação no Brasil

 

Lourenço Filho: a pioneer of the relation between psychology and education in Brazil

 

Lourenço Filho: un pionero de la relación entre la psicología y la educación en Brasil

 

 

Ana Paola SganderlaI; Diana Carvalho de CarvalhoII

IPsicóloga, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina Endereço para contato: Rua 3000, n.369,ap 201 Balneário Camboriu- SC.CEP 88330-334 Email: anapaolas@gmail.com
IIDoutora em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Metodologia do Ensino, e do Programa de Pós-Graduação em Educação, linhas de pesquisa Educação e Infância e Ensino e Formação de Educadores. Endereço para contato: Rua Pádova, 74 ap. 204, Bairro Córrego Grande, Florianópolis - SC. CEP 88037-640. E-mail: dianacc@terra.com.br

 

 


RESUMO

O presente artigo tem por objetivo mapear a atuação de Lourenço Filho como um intelectual pioneiro na introdução e disseminação dos conhecimentos psicológicos no campo educacional brasileiro. Para tanto, discute aspectos de sua formação profissional, de sua atuação na formação de professores e como psicólogo experimental, bem como sua contribuição na constituição de uma psicologia científica em âmbito nacional e internacional.

Palavras-chave: Lourenço Filho; campo educacional brasileiro; Psicologia.


ABSTRACT

The present article has for objective to map Lourenço Filho's performance as a pioneering intellectual in the introduction and spread of the psychological knowledge in the Brazilian education field. For so much, it discusses aspects of her professional formation, of her performance in the teachers' formation and as experimental psychologist, as well as her contribution in the constitution of a psychology informs in national and international extent.

Keywords: Lourenço Filho; Brazilian education field; Psychology.


RESUMEN

El artículo presente tiene para el objetivo para trazar la actuación de Lourenço Filho como un intelectual iniciador en la introducción y cobertor del conocimiento psicológico en el campo de educación brasileño. Para tanto, discute aspectos de su formación profesional, de su actuación en la formación de los maestros y como el psicólogo experimental, así como su contribución en la constitución de una psicología informa en el nacional y la magnitud internacional.

Palabra-importante: Lourenço Filho; el campo de educación brasileño; la Psicología.


 

 

Lourenço Filho foi um dos mais eminentes educadores brasileiros do início do século XX, participou efetivamente da constituição do campo educacional,1 bem como do movimento de instituição da Psicologia como campo científico no país. Atuou nas diversas instâncias do campo educacional, em especial nas que se dedicavam à produção e à propagação dos conhecimentos da ciência psicológica aplicada à educação. Era constante sua preocupação em minimizar os problemas pedagógicos e consolidar a formação de professores, discutindo assuntos em sintonia com o que acontecia mundialmente na época em que viveu.

Na constituição do campo educacional brasileiro e para distinção deste dos demais campos sociais, a participação de intelectuais influentes nas discussões nacionais foi de suma importância, pois estes trataram a causa da educação como decisiva para o Brasil e buscaram construir uma educação popular brasileira, até então não organizada no país (Xavier, 1999; Brandão, 1999).

Autores como Miceli (1979), Pecaut (1990) e Pagni (2000), com base nas idéias de Pierre Bourdieu, assinalam a participação da intelectualidade dos anos 1920 em posições políticas e ideológicas no governo. Afirmam que a participação desses intelectuais se legitimava no saber cientifico que possuíam sobre os fenômenos políticos e educacionais, diferenciando-se das elites do período imperial e do início da República, que tinham o poder aliado ao status quo e que se legitimavam principalmente via poder econômico.

Esses intelectuais estavam empenhados na consolidação do Brasil como nação, seja através de sua participação direta na vida política, de suas produções culturais ou da educação. Segundo Xavier (1999), a mobilização dos intelectuais daquele período para se inserirem na esfera estatal teve como consenso a crença no poder da ciência e a ambição de estabelecer uma administração cientifica da esfera pública, entendendo-se a política como competência técnica fundada em uma ciência social.

Pecaut evidencia que houve reciprocidade entre os intelectuais e o Estado no que diz respeito a esse movimento, ou seja:

Se os intelectuais aderiram a uma "ideologia de Estado", o Estado aderiu a uma ideologia da cultura, que era também a ideologia de um governo "intelectual". Além disso, o Estado não conhecia outra expressão da opinião pública exceto a representada pelos intelectuais. (1990, p. 73)

Essa intelectualidade viu na educação a possibilidade de incorporar a população brasileira ao processo de construção da nação (como novos cidadãos) e também como uma forma de criar condições de alargamento do mercado cultural (Brandão, 1999).

Lourenço Filho foi um dos desses intelectuais que, durante muitas décadas, no transcorrer de vários governos, assumiu posições de destaque administrativo e docente, sendo que sua participação no campo educacional deu-se em diversos setores: nas reformas que realizou na educação nos estados do Ceará (1922) e São Paulo (1930); na docência em cursos de formação de professores que foram referência no Brasil, como os da Escola Normal de São Paulo e de Piracicaba; na publicação de diversos livros, inclusive infantis, além de ser prefaciador e tradutor de obras amplamente utilizadas na formação de professores. Também assumiu diferentes posições administrativas como as de Diretor Geral de Instrução Pública do Ceará e de São Paulo; do Instituto de Educação do Distrito Federal (1932); dos Arquivos do Instituto de Educação, também do Distrito Federal (1933); presidente da Associação Brasileira de Educação-Nacional (1934); diretor e organizador do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (1938).

Um dos focos centrais dessas diversas atuações foi a organização e a difusão de conhecimentos psicológicos no campo educacional, em atividades tais como o ensino de Psicologia em diferentes cursos de formação de professores e a construção de instrumentos psicológicos de avaliação (Oliveira, 1999).

 

Formação profissional

Lourenço Filho nasceu em Porto Ferreira, interior do estado de São Paulo, no ano de 1897. Sua mãe teve sete filhos e seu pai era comerciante na pequena cidade. O comércio familiar tinha como característica a diversificação e o trabalho com bens culturais, basicamente venda de livros e materiais para fotografia. A família possuía também uma tipografia, um jornal semanal intitulado A Folha e um cinema.

Na história de vida de Lourenço Filho, as conquistas no campo educacional foram decorrentes de sua formação escolar no ensino público, aliada ao seu autodidatismo. Distingue-se de outros intelectuais da época que, por herança familiar, assumiram posições de destaque no campo educacional. Esse não é o seu caso, sua origem humilde exigiu esforço pessoal. Contudo, contou com a sorte de encontrar apoio na família que valorizava a cultura em suas mais diversas expressões.

A importância dos intelectuais na constituição do campo educacional brasileiro serve de referência balizadora para compreendermos a trajetória profissional desse educador. Segundo Miceli:

A trajetória profissional de Lourenço Filho é o exemplo cabal de um agente especializado que deve quase tudo à escola e que por isso mesmo tende a concentrar seus investimentos na aquisição de títulos escolares. O trabalho que desenvolve e a carreira à qual se devota resultam da coincidência entre a boa vontade cultural que permeia suas disposições e os interesses do poder público em contar com um corpo de especialistas voltado para a gestão do sistema de ensino. (1979, p. 171)

Cabe retomarmos as considerações de Bourdieu para entendermos o papel dos agentes sociais de um determinado um campo. Diz o autor:

Os agentes sociais estão inseridos na estrutura e em posições que dependem do seu capital e desenvolvem estratégias que dependem, elas próprias, em grande parte, dessas posições, nos limites de suas disposições. Essas estratégias orientam-se seja para a conservação da estrutura seja para a sua transformação. (2004, p. 29)

Lourenço Filho foi um intelectual que esteve empenhado na renovação e implantação de mudanças no campo educacional. Bourdieu explica a oportunidade que alguns agentes possuem de permanecer no campo e influenciá-lo com suas idéias, relacionando tais fatos ao capital científico desse agente:

As oportunidades que um agente singular tem de submeter as forças do campo aos seus desejos são proporcionais a sua força sobre o campo, isto é, ao seu capital de crédito científico ou, mais precisamente, a sua posição na estrutura da distribuição deste capital. (2004, p. 25)

Refazendo sucintamente a trajetória formativa e profissional de Lourenço Filho, teremos que, aos seis anos, iniciou seus estudos primários na cidade natal, continuando-os na cidade vizinha de Santa Rita do Passa Quatro. Em 1911 matriculou-se na Escola Normal Primária de Pirassununga, onde teve como grande mestre de francês e pedagogia Antonio de Almeida Júnior.2 Após formar-se, no ano de 1916, decidiu mudar-se para São Paulo para cursar os dois últimos anos na Escola Normal da Praça da República, recebendo novo diploma de professor. Essa foi a primeira escola-modelo de São Paulo cujo objetivo era a formação de professores, tornando-se uma referência em educação no estado e no país.

Ser diplomado pela Escola Normal da Praça significava a possibilidade de o futuro professor desfrutar prestígio intelectual e institucional, sendo o diploma um título decisivo na carreira profissional e na ocupação de postos importantes no aparelho escolar. Na época em que Lourenço Filho ingressou nessa escola, estavam em plena efervescência as idéias de Oscar Thompson (diretor), Clemente Quaglio (professor) e Ugo Pizzoli.

Oscar Thompson fazia parte de uma elite de intelectuais que vinha, desde o final do século XIX, postulando a conversão das idéias e métodos da ciência em princípios de organização de um sistema público de ensino. Thompson imprime na educação o método analítico para o ensino da leitura,3 que se torna, gradativamente, o método para o ensino de todas as matérias e também de organização dos programas escolares e base do ensino racional (Warde, 2000; Monarcha, 1999).

Clemente Quaglio, também professor da Escola Normal da Praça e produtor de uma obra psicológica extensa e significativa, defendia a adoção de métodos psicofísicos em ambiente de laboratório, como base da educação científica em que acreditava. Para esse professor, a observação direta dos alunos deveria ser realizada mediante exames somatológicos e psicológicos, realizados com a experimentação instrumental. Acreditava ele que, por intermédio da aplicação de diferentes procedimentos analíticos (testes de memória, inteligência; análise antropométrica: peso, altura, circunferência torácica entre outros), se reconheceriam as características extrínsecas e as qualidades intrínsecas dos alunos, pela decomposição das partes constituintes de cada ser e reordenação artificial, comparando o individuo com o todo (Monarcha,1999).

Ugo Pizzoli instalou, em 1914, o Gabinete de Psicologia e Antropologia Pedagógica da Escola Normal da Praça. Os estudos ali realizados centravam-se na observação positiva e na mensuração das conexões entre o mundo físico e psíquico. Para tanto, eram utilizados procedimentos e técnicas da antropologia física e dos testes mentais. Os dados levantados com esses procedimentos levavam à identificação das disposições físicas, intelectuais, morais e a conseqüente classificação hierárquica do tipo de aluno. Esse gabinete, por estar locado em uma instituição de ensino renomada, gerou um movimento expressivo em torno da pedagogia cientifica que vinha como resposta às demandas sociais práticas que se fazia da ciência (ibid.).

Entre as elaborações desse professor no Gabinete de Psicologia e Antropologia Pedagógica da Escola Normal da Praça consta a Carteira Biográfica Escolar, que era composta por registros de interrogatórios extensos e exames precisos para a realização de um inventário completo e minucioso dos alunos dos grupos escolares. Os alunos são convertidos em objetos oferecidos à observação direta para o estudo das características físicas e mentais. Institucionalizada em 1915, essa Carteira ficava sob custódia do diretor do grupo escolar, devendo acompanhar o aluno durante toda sua escolarização. No momento da diplomação desse aluno era remetida ao governo (ibid.).

Cabe salientar que Lourenço Filho, embora tenha sido formado sob as idéias dos professores supracitados, questionou as práticas psicofísicas voltadas à classificação de escolares que tinham como fonte predominante os pressupostos da escola de antropologia italiana de Cesare Lombroso, caso dos dois últimos desses professores. Questionando o método analítico que fragmentava a vida psíquica e não conseguia medir a capacidade geral do sujeito, Lourenço e outros educadores da época demonstram com tais críticas as disputas existentes entre diferentes escolas psicológicas (Monarcha, 2001).

Segundo Monarcha (ibid., p.13), Lourenço Filho defendia que: "a medida psicológica devia ser efetuada rapidamente e em condições simples, por meio de testes que permitissem a verificação do valor individual, para posterior classificação dos escolares". Assim, Lourenço empreende a reforma dos laboratórios escolares, libertando a psicologia experimental dos moldes restritos da psicofísica, que exigia uma aparelhagem complexa para medir a capacidade do sujeito.

Essas discussões entre diferentes visões psicológicas da educação possibilitaram maior destaque ao movimento de organização cientifica e institucionalização acadêmica da Psicologia, que ocorreu entre os anos 1920-1930 no Brasil, gerando maior densidade teórica e expressão pública. (ibid.).

Em São Paulo, foi Sampaio Doria quem o influenciou mais profundamente em relação à visão de ciência psicológica que irá alicerçar toda sua produção.

Através desse mestre, Lourenço iniciou suas leituras teóricas mais complexas e familiarizou-se com as novas tendências da pedagogia e da psicologia, tendo por vetor científico o pragmatismo de William James e as primeiras psicologias educacionais, quer as funcionalistas, como a de Ed. Claparède, quer as de base experimental, tais como:o behaviorismo de J. B. Watson,o conexionismo de E. L. Thorndike e R. S. Woodworth, com as quais dialogou até compor o seu próprio modelo. (Warde, 2003, pp.146-147)

Em 1918, ingressa na Faculdade de Medicina de São Paulo, interrompendo o curso no mesmo ano. Lourenço Filho declara que o fato de haver realizado os primeiros anos do curso de medicina talvez houvesse influído não só no seu interesse pelos livros de Psicologia Educacional (redobrado pelas exigências da docência), mas também na realização de diversas experiências no emprego dos testes (Lourenço Filho, 1955; Nunes, 1998)

A década de 1920, época em que Lourenço Filho conclui seu curso e começa a atuar como formador de professores, representou um momento de reflexão em torno da cultura brasileira, pois a República, já em seu terceiro decênio, deixava a desejar nos planos político, social, econômico e educacional. Mas não podemos deixar de destacar que essa foi a época em que estava em plena produção intelectual a geração de intelectuais nascida com a República, ao mesmo tempo em que o mundo vivenciava o drama da Primeira Guerra Mundial (Venâncio Filho,1999).

 

Atuação de Lourenço Filho na formação de professores e como psicólogo experimental

Lourenço Filho foi professor de Pedagogia e Psicologia na Escola Normal de Piracicaba em 1920, onde iniciou sua carreira. Na mesma época, também lecionou em um colégio particular mantido por uma fundação norte-americana, tomando contato com livros de psicologia educacional procedentes dos Estados Unidos. Passa a realizar uma série de pesquisas com o emprego de testes, cujos primeiros resultados publica, em 1921, na Revista de Educação da Escola Normal de Piracicaba (SP), em artigo intitulado "Estudo da atenção escolar" (Campos; Assis e Lourenço, 2002).

Em 1922, foi nomeado Diretor de Instrução Pública do Ceará, para reorganizar o ensino daquele estado. Foi justamente essa incumbência que o levou a percorrer os sertões a fim de instalar escolas e, conseqüentemente, examinar as condições da vida regional e da mentalidade do sertanejo. Isso lhe forneceu material para escrever a obra Juazeiro do Padre Cícero (1926) que lhe conferiu uma cadeira na Academia Paulista de Letras. No entanto, a fama de suas obras como psicólogo escolar e sua presença marcante nas reformas de instrução pública do primeiro quartel do século XX encobriram o sucesso de sua obra de estréia nas letras brasileiras (Nunes,1998).

Durante seu trabalho de reformar o ensino no Ceará, prossegue em Fortaleza os estudos que já vinha realizando sobre psicologia experimental, montando um pequeno laboratório na Escola Normal dessa capital para o estudo biológico e psicológico dos escolares.

Volta a São Paulo em 1925, para assumir a cátedra de Psicologia e Pedagogia ocupada até então por Sampaio Dória na Escola Normal da Praça. Mesmo na regência das aulas, Lourenço Filho reativou o Laboratório de Psicologia Experimental dessa escola, que fora abandonado no decênio anterior. Sob sua supervisão, utilizam-se ali testes de desenvolvimento mental; realizam-se inquéritos sobre jogos, influência de leituras e do cinema; pesquisas sobre aprendizagem e, seguindo o trabalho já realizado em Piracicaba sobre testes, investiga-se mais profundamente a maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita que irá culminar na publicação dos Testes ABC (Lourenço Filho, 1994).

A reativação do Laboratório de Psicologia Experimental vinha dar ênfase aos testes coletivos e não mais à utilização de aparelhagem complexa para o conhecimento das características dos alunos. Os testes, agora mais práticos e econômicos, instrumentavam professores à testagem psicológica de seus alunos, facultando-lhes a prática da psicometria (Centofanti, 2006)

Lourenço Filho organizou e implementou, a partir de 1927, a coleção pedagógica Bibliotheca de Educação, que publicou títulos estrangeiros traduzidos e originais de autores nacionais que explicitavam as idéias ascendentes da Escola Nova, sendo considerada a primeira série de textos de divulgação pedagógica no Brasil. Essa série traduz o esforço da educação em tornar-se uma atividade social especializada sob o amparo da ciência e em apresentar os conhecimentos mais inovadores da época em matéria de educação acessível ao público leitor interessado e, ao mesmo tempo, recrutar um público leitor mais amplo (Monarcha, 1997).

Nessa coleção, encontram-se publicadas duas obras fundamentais do pensamento de Lourenço Filho que exerceram influência duradoura sobre diferentes gerações de aluno e professores: Introdução ao Estudo da Escola Nova (1930) e os Testes ABC (1933). Na Bibliotheca de Educação,4 Lourenço foi autor de três livros, tradutor de quatro e prefaciador de 27.

A vasta produção intelectual de Lourenço Filho pode ser notada na sua produção entre os anos 1920-1930 e também depois dessa década. Entre 19201930, ele já havia escrito sobre temas de psicologia, alfabetização, formação de professores. Entre as obras de referência, no período, insere-se o livro Introdução ao Estudo da Escola Nova (1930) que traz idéias atualizadas sobre o movimento da Escola Nova e sobre as ciências que o fundamentavam: Biologia, Psicologia e Ciências Sociais. Esse livro, assim como outros de Lourenço Filho, serviram à formação de professores e como referência do movimento de renovação educacional que se buscava no Brasil, naquele momento.

A Cartilha do Povo (1928), a primeira entre as obras didáticas de Lourenço Filho, ensinava a ler rapidamente, visando ampliar a educação popular de crianças e adultos, como seu nome muito bem indicava. Decorridos 30 anos dessa publicação, o autor publica a cartilha Upa, cavalinho! destinada ao ensino da leitura e da escrita de crianças das escolas brasileiras na fase inicial de alfabetização. Essa publicação veio encerrar a Série de Leitura Graduada Pedrinho, que era composta de seis títulos, cinco livros de leitura e uma cartilha.

Ambas as produções acima citadas sintetizam "grande parte dos anseios e esforços de uma época em relação à aprendizagem da leitura e da escrita, ao mesmo tempo em que são representativas da produção didática de seu autor, visando contemplar esses anseios" (Bertoletti, 1997, p.116).

Ainda em torno do eixo de discussão do ensino da leitura e da escrita e concretizando os estudos de Lourenço Filho sobre testagem psicológica, no ano de 1934, foi lançado na coleção Bibliotheca da Educação o livro Testes ABC, que tinha por objetivo a verificação da maturidade necessária ao aprendizado da leitura e da escrita. Obra de grande notoriedade e ampla utilização, tanto no Brasil quanto em outros países, pretendia oferecer condições de classificar as aptidões necessárias à aquisição da leitura e da escrita, articulando as idéias de diferença individual e rendimento, bem como orientar a organização das classes escolares.

Antes da utilização dos Testes ABC, as escolas brasileiras lidavam com as diferenças de aprendizagem das crianças separando-as por idade, depois por critério de desempenho, ou seja, classes de aprendizagem lenta eram organizadas para as crianças com dificuldades em acompanhar o primeiro ano do programa de estudos. Esses procedimentos, no entanto, não permitiam que a caracterização dos problemas de aprendizagem das crianças fosse realizada antes do início do processo de instrução. Já tais testes buscavam diagnosticar e prever os problemas de aprendizagem antes que o fracasso escolar se desencadeasse (Campos; Assis e Lourenço, 2002).

Cabe destacar que os Testes ABC, mesmo antes de sua publicação, serviram de base teórica para a Cartilha do Povo, pois as pesquisas para formulação daqueles vinham ocorrendo antes da primeira edição da cartilha. Lourenço Filho não foi o primeiro nem o único a apresentar os testes como instrumento de trabalho do educador, mas consagrou a sua utilização por realizar, nos grupos escolares da capital de São Paulo, a maior organização psicológica de classes até então tentada na América Latina. Em 1931, enquanto era diretor da Instrução Pública de São Paulo, Lourenço Filho atribuiu ao Serviço de Psicologia Aplicada a tarefa de aplicar os testes ABC a 15.605 estudantes de 54 escolas públicas. Os resultados foram usados como base para a organização de 453 classes seletivas e para a padronização do teste (Nunes, 1998)Tanto nas cartilhas de autoria de Lourenço Filho quanto nos Testes ABC está explícito o seu projeto de alfabetização, em que ocupam lugar de destaque a questão da maturidade da criança para o ensino da leitura e da escrita e a utilização dos conhecimentos psicológicos como base teórica.

 

Psicologia e Educação: a defesa de uma base científica para a organização escolar

Para entendermos a Psicologia e seus constructos na área educacional, em especial os ligados à prática da testagem, precisamos nos reportar a sua construção como campo científico que se constituiu historicamente. Influenciada por temas da filosofia clássica e pelos métodos das ciências naturais, a ciência psicológica emerge de diversas fontes filosóficas, epistemológicas e desdobra-se em métodos, perspectivas, teorias e sistemas psicológicos (Sass, 1992).

O desenvolvimento da Psicologia de caráter objetivo dá-se na segunda metade do século XIX, na Europa, e vem suprir as demandas das sociedades industriais capitalistas de selecionar, orientar, adaptar e racionalizar a produtividade visando, em última instância, a um aumento desta. Constata-se que as tendências experimentalistas e psicometristas não se opõem aos ditames das sociedades urbano-industriais capitalistas da época, mas que, ao contrário, as sacramentam cientificamente (Cunha,1995; Patto, 1984), ao mesmo tempo em que esse contexto histórico contribuiu para a consolidação da Psicologia como campo científico.

Dessa forma, a Psicologia apresentava-se como possibilidade de suprir a demanda por conceitos e instrumentos científicos de medidas que garantissem a adaptação do individuo à nova ordem social. A grande difusão do uso de medidas psicológicas em âmbito internacional teve como ponto de partida a necessidade de seleção de indivíduos para ocupação de postos adequados a suas capacidades na Primeira Guerra Mundial (Patto, 1984).

Com relação à educação, o uso da testagem psicológica, em termos nacionais, tem como instrumento exemplar os Testes ABC de Lourenço Filho. Esses testes visavam à classificação dos alunos que ingressavam na escola ou eram repetentes quanto a sua maturidade para a aprendizagem da leitura e escrita, propiciando um perfil individual e um perfil da classe. Dessa forma, permitia alcançar o objetivo de homogeneização das classes quanto ao nível de maturidade dos estudantes, separando-os em classes seletivas para a alfabetização, a fim de que fossem consideradas as diferenças individuais e se alcançasse maior eficácia nos resultados escolares.

Cabe afirmar que, para Lourenço Filho, os Testes ABC não tinham o intuito de classificar para impedir o ingresso das crianças na escola ou excluí-las, mas sim de propiciar à educação um instrumento de medida da maturidade das crianças para aprendizagem da leitura e escrita que fosse capaz de selecionar/diagnosticar e redirecionar na própria instituição os alunos mais ou menos maduros para a alfabetização.

Segundo Lourenço Filho (1969), os Testes ABC indicavam a probabilidade de as crianças aprenderem a ler e escrever mais ou menos rapidamente, aumentando a eficiência no ensino e a possibilidade de organizá-lo pela construção de classes homogêneas, de forma a contemplar as diferenças individuais de aprendizagem.

Para ele, o recurso da testagem psicológica tornava a educação uma prática científica, isto é, previsível e livre das flutuações de personalidade. A criança, antes um "enigma" a ser resolvido "pelo critério de cada mestre ou de cada pai, por avaliação inteiramente subjetiva", começa a ser desvelada "de modo muito mais preciso e impessoal" (Lourenço Filho, 1931, p. 254 apud Cunha, 1995, p. 85).

Pode-se compreender melhor as idéias de Lourenço Filho ao considerar que a defesa de uma pedagogia científica foi uma das características do movimento educacional da década de 30. No campo político, foi um período de definições em torno do encaminhamento do desenvolvimento capitalista no país, cujo marco era a acentuada tendência à industrialização. Essa nova ordem fez-se acompanhar de preocupações com o desenvolvimento econômico, de reorientações na política comercial e da disseminação de uma ideologia democrática, ao mesmo tempo em que era efetivada a passagem gradual de uma sociedade agrária oligárquica para uma sociedade urbano-industrial. Ainda, essa década protagonizou movimentos políticos tais como a Revolução de Outubro de 1930, a Revolução Constitucionalista de 32 e o Estado Novo, em 1937 (Patto, 1984).

Os conhecimentos da psicologia objetiva no Brasil foram amplamente utilizados a partir do momento em que se necessitava de uma educação de massas e que o trabalho especializado passava a ser utilizado na indústria ascendente. A Psicologia responde à necessidade da utilização de conceitos e instrumentos científicos de medida que garantissem a adaptação dos indivíduos a essa nova ordem capitalista de organização do trabalho, o que se manifesta tanto na indústria quanto na escola (ibid.).

Cabe destacar que a Psicologia contribuiu para a constituição do campo educacional brasileiro como uma das ciências que balizou a formação de professores e as discussões educacionais, a partir do inicio do século XX, ao mesmo tempo em que, nesse período, o campo educacional forneceu elementos fundamentais para a Psicologia que serviram de base a sua constituição como campo científico reconhecido no país.

Foi também a partir de 1930 que diversos educadores brasileiros passaram a fazer cursos de especialização em universidades norte-americanas. Lourenço Filho foi um desses intelectuais que, entre o final de 1934 e o inicio de 1935, visitou os Estados Unidos.5

A universidade americana que se formava no final do século XIX e início do século XX serviu de referência aos conhecimentos da nova ciência que emergia naquele momento, a organização dessa universidade acompanhava a separação entre o Estado e a Igreja, a transformação de uma estrutura social agrária e rural em uma estrutura urbana e industrial, a ascensão do nacionalismo e a emergência da ciência em contraponto aos dogmas religiosos. A secularização do ensino também é ponto de extrema importância na constituição de uma educação laica e a separação entre Estado e Igreja, sendo as doações financeiras de industriais e homens de negócio para o ensino superior grandes responsáveis pela independência cada vez maior das determinações religiosas na administração de recursos, nos planos de estudo, nos temas tratados e nos conteúdos de ensino (Sass, 1992).

O pragmatismo situa-se nesse cenário como visão de mundo que, fundada na lógica do desenvolvimento do capitalismo, exige a expansão do Estado, a reordenação da divisão social do trabalho e, conseqüentemente, exige a diversificação profissional, a supremacia da cidade sobre o campo e da indústria sobre a agricultura, bem como a superação de técnicas arcaicas e sua substituição por técnicas modernas. Conforme indica Sass (ibid.), essa visão denota a importância dos esforços para o estabelecimento de novos parâmetros de racionalidade fundados na ciência que seria, por conseqüência, produzida no meio acadêmico. O pragmatismo6 destaca-se como uma visão que alia a ciência à filosofia para combater pensamentos que dificultam a nova ordem capitalista.

Os estudos de Lourenço Filho nos Estados Unidos e as discussões que se faziam sobre educação naquele país não era algo novo para ele, tendo em vista que já possuía leituras e muitas experiências práticas na educação de diversos estados brasileiros. Suas leituras foram se desenvolvendo apoiadas em mestres como Sampaio Dória, que legou a Lourenço Filho a leitura, por exemplo, de William James, pensador norte-americano que há muito Dória havia se dedicado a estudar. Além dos ensinamentos passados por seus mestres, Lourenço Filho teve acesso a diversas obras norte-americanas por haver lecionado em uma escola particular mantida por uma fundação daquele país. Lourenço Filho também possuía riquíssimas experiências de observações do que se passava no cotidiano de escolas, nos padrões de formação e de prática dos professores primários. Nesse sentido, não se revelou encantado com as práticas que encontrou nos Estados Unidos, diferentemente de outros educadores brasileiros (Warde,2003)

As leituras teóricas de Lourenço Filho e suas experiências práticas propiciaram-lhe a familiaridade com as escolas norte-americanas que visitou, conforme indica Warde:

Ter manejado tendências contemporâneas da psicologia e da psicologia educacional, pelo crivo do pragmatismo de William James e da experimentação, para compor suas próprias ferramentas pedagógicas, facultou a Lourenço Filho um enfrentamento dos modelos pedagógicos adotados pelas escolas norte-americanas com a familiaridade com que um peixe mergulha na água. (2003, p.148)

O conhecimento de Lourenço Filho sobre a educação americana vem demonstrar que as discussões teóricas na educação brasileira da década de 1930 tinham como referência os debates educacionais presentes em nações econômica e tecnologicamente mais avançadas, entre elas os Estados Unidos, que mantinham a hegemonia econômico-cultural mundial.

Quase ultrapassando a década de 1930, o advento do Estado Novo (19371945) foi marco de outra etapa da história política brasileira. Entre os objetivos explicitados por essa nova configuração jurídica e administrativa (Estado Novo), estavam as perspectivas de ordenamento da educação, a definição de competências entre as diferentes esferas do governo (municípios, estados e união), a articulação entre os diferentes ramos de ensino e a implantação de uma rede nacional de educação.

No ano de 1938, foi criado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP, vinculado ao Ministério da Educação, para cuja direção foi nomeado Lourenço Filho, que permaneceu no cargo até 1946. O INEP possuía uma seção de orientação e seleção de profissionais que se destinava à seleção do pessoal para cargos públicos em todo o país, bem como uma seção de psicologia aplicada para se efetuarem pesquisas de âmbito pedagógico. A ação do INEP estendeu-se por meio de estágios e cursos de aperfeiçoamento para professores de Psicologia e coordenadores de serviços educacionais. Estabeleceram-se com isso serviços de Psicologia Aplicada e medidas educacionais em diferentes estados e paises da América Latina.

Lourenço Filho foi também diretor do Departamento Nacional de Educação entre os anos de 1947-1951, período em que presidiu a comissão designada para preparar o projeto de Lei de Diretrizes e Bases - transformado posteriormente na Lei 4.024/61, primeira LDB DO Brasil - cujo relator foi o professor Almeida Júnior. Segundo o censo de 1950, cerca de 52% da população com mais de dez anos de idade era analfabeta no Brasil, o que denota que os movimentos em prol da educação estavam longe de atingir seus ideais e mais da metade da população ainda não havia sido absorvida pelo ensino primário. Até o ano de 1961, existia uma grande indefinição da política educacional. Para ilustrar tal fato, podemos mencionar que o primeiro projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional data de 1948, cuja aprovação, com muitos conflitos, só ocorreu em 1961 (Patto,1984).

Importa ainda destacar que a trajetória de Lourenço Filho como professor de Psicologia iniciou-se nos anos de 20 e se estendeu até 1957, quando se aposentou na cátedra de Psicologia Educacional da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.

 

Considerações finais

Utilizaremos a citação de Warde (2003) para finalizar este artigo, pois sintetiza primorosamente a trajetória de Lourenço Filho dentro do campo educacional brasileiro.

Quer na formação como normalista, quer na docência primária e normal, desde a segunda parte dos anos de 1910, Lourenço Filho constituíra o seu arsenal intelectual em ambientes escolares tangidos pelos vetores mais diversos. Na sua formação, instrumentou-se para pensar e conduzir suas práticas na direção da renovação; mas as escolas nas quais Lourenço Filho trabalhou eram amálgamas de práticas antigas e novas; de intervenções renovadoras e de resistências. O seu arsenal pedagógico, portanto, não fora constituído desde fora da escola, nem em idílicas condições. A perspectiva que sedimentou sobre o que e como fazer para formar professores habilitados para as lidas do ensino foi composta de uma parte nodal de suas experiências docentes diretas; uma outra parte foi fornecida pelos experimentos psicopedagógicos que controlou, dos quais extraiu uma série de diagnósticos de processos de ensino-aprendizagem tanto em ambientes de práticas consagradas como em ambientes de práticas renovadas. (2003, p.142)

A importância de investigar a constituição do campo educacional na relação com as ciências que fundamentaram a busca de uma pedagogia científica justifica-se pela necessidade imperiosa de compreender o pensamento educacional brasileiro que se instituiu naquele momento histórico e que teve repercussões na formação de professores ao longo do século XX. Muitas das idéias que embasam a ação pedagógica dos professores até hoje encontram sua origem nas teorias produzidas e disseminadas naquele momento, independentemente das elaborações teóricas mais recentes que, na maioria das vezes, problematizam e superam uma visão biologicista do desenvolvimento e aprendizagem.

Carvalho (2003), ao pesquisar como professoras alfabetizadoras operam com as teorias psicológicas que fundamentam sua ação pedagógica, identifica que termos como "imaturidade" e "prontidão para alfabetização" são recorrentes no discurso das professoras para explicar o insucesso escolar das crianças, ainda no início dos anos 2000. Vimos que essas foram expressões largamente difundidas por Lourenço Filho.

Assim, conhecer esse autor e a importância da Psicologia científica na constituição do campo educacional, em um momento em que a Educação era vista como o meio por excelência para levar a cabo um projeto nacionalista de desenvolvimento, significa ter melhores condições de compreender o imaginário que perdura até hoje no pensamento dos professores, com vistas a uma ação mais efetiva, seja na formação docente seja na formação de psicólogos que irão atuar nas instituições educacionais.

 

Referências

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1 Para discutirmos a constituição do campo educacional, tomamos como referência o conceito de campo social de Pierre Bourdieu. Esse conceito é central na obra desse autor, pois vê o campo como um microcosmo no macrocosmo que é a sociedade, entendendo que o social é constituído por diferentes campos. São suas palavras: "A noção de campo está aí para designar esse espaço relativamente autônomo, esse microcosmo dotado de suas leis próprias. Se, como o macrocosmo, ele é submetido a leis sociais, essas não são as mesmas. Se jamais escapa às imposições do macrocosmo, ele dispõe, com relação a este, de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada" (Bourdieu, 2004, pp. 20-21).
2 Antonio Ferreira de Almeida Júnior, um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, lecionou em diversos cursos de formação de professores e formou-se em medicina (1921) pela Faculdade de São Paulo. Uniu os conhecimentos oriundos da medicina aos da educação, trabalhando com temas como biologia e higiene educacional.
3 Thompson assim descreve o método analítico no ensino da leitura: "Se o método analítico sob o ponto de vista geral e filosófico é método por excelência, por isso que parte da idéia geral do conjunto - para suas partes, do concreto para o abstrato, do todo - que impressiona claramente a imaginação - para o abstrato, do indivisível, que é monótono, árido, insignificativo; não é de estranhar que ele tenha a sua primeira aplicação pedagógica no ensino de leitura, a qual é inquestionavelmente uma operação essencialmente analítica do espírito (Thompson, 1910, p. 9 apud Monarcha, 1999, p. 246). O método analítico está ligado aos conhecimentos das ciências naturais transpostos à educação, cujos princípios preconizavam que a marcha natural do desenvolvimento do homem deve ser obedecida, ou seja, os programas de ensino devem seguir a natureza da criança.
4 Para informação detalhada dos tradutores, prefaciadores e do número de edições de cada uma das obras da Bibliotheca de Educação, ver Monarcha (1997).
5 Sobre os relatórios que escreveu durante sua estada nos EUA para Anísio Teixeira, então Diretor de Instrução Pública do Distrito Federal, ler Warde (2003).
6 William James (1842-1910) foi um dos principais representantes da filosofia norte-americana e um autor expressivo do Pragmatismo, sobre o qual proferiu uma série de conferências e publicou ensaios. Segundo James (1989), o pragmatismo deveria ser entendido não apenas como um método de determinação de significados, mas também como uma nova teoria de verdade, segundo a qual se deve ter a atitude de olhar para além das primeiras coisas, dos princípios, das categorias, das supostas necessidades, e de procurar nas coisas últimas frutos, conseqüências, fatos. O pragmatista agarra-se aos fatos e às coisas concretas, observa como a verdade opera em casos particulares e generaliza, sendo que a verdade, para ele, torna-se uma classificação para todos os tipos de valores definitivos de trabalho em experiência.

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