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Psicologia da Educação

versão impressa ISSN 1414-6975

Psicol. educ.  no.31 São Paulo ago. 2010

 

40 anos do PED. Evidência de uma missão (bem) comprida/cumprida

 

40 years at PED. Evidence of a (well-)accomplished mission

 

40 años del PED. Evidencia de una misión (bien) larga/hecha

 

 

Sergio Vasconcelos de Luna

Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: svluna@uol.com.br

 

 


RESUMO

O artigo relata brevemente o contexto histórico-político da criação do Programa de Psicologia da Educação - PED, da PUC-SP e evidencia o papel preponderante assumido, nesse contexto, por um grupo de pesquisadores e gestores da instituição, na época. Entre estes, destaca-se o nome do Prof. Joel Martins que criou o PED e foi responsável, durante anos por toda uma articulação interna não apenas do PED, mas de todo o setor de Pós-Graduação da PUC/SP. Elecam-se elementos indicativos do impacto do PED no cenário educacional e psicológico neste 40 anos de sua existência. Por fim, resgatam-se questões de fundo que convidam o corpo docente do PED a considerar seus objetivos, tradição e as possibilidades de atendimento de uma demanda pela formação em nosso Programa.

Palavras-chave: Psicologia da Educação; pós-graduação; Educação.


ABSTRACT

The article briefly relates the historical-political creation context of the Program of Psychology of Education - PED, from PUC-SP and enhances the role played in this context by a group of researchers and institution managers at the time. Amongs them, it can be outlined the name of Professor Joel Martins that created PED and was responsible - during years - for an internal articulation not only at PED, but through all the Post-Graduation section. Here are presented elements that indicate the impact of PED on the educational and psychological scenario during its 40 years of existence. At last, issues regarding PED's professoriate are recalled, in a way to invite them to consider their objectives, tradition and possibilities for answering a demand for formation in our program.

Keywords: Educational Psychology; graduate studies; Education.


RESUMEN

El artículo relata sucintamente el contexto histórico-político de la creación del Programa de Psicología de la Educación - PED, de la PUC-SP y evidencia el papel preponderante asumido, en ese contexto, por un grupo de investigadores y gestores de la institución, en la época. Entre estos, se destaca el nombre del profesor Joel Martins que creó el PED y fue responsable, durante años por toda una articulación interna, no solo del PED, sino que de todo el sector de Posgrado de la PUC-SP. Son incluidos elementos indicativos del impacto del PED en el escenario educacional y psicológico en estos 40 años de su existencia. Al final, se rescataron cuestiones importantes que invitan el cuerpo docente del PED a considerar sus objetivos, tradiciones y las posibilidades de atención de una demanda por la formación en nuestro Programa.

Palabras clave: Psicología de la Educación; posgrado; Educación.


 

 

A criação do PED ocorreu em um momento de inúmeras transformações pelas quais passava a política educacional no Brasil e a estrutura da Universidade Brasileira como um todo. Como não poderia deixar de ser, ambos os movimentos envolveram a PUC-SP e afetaram seu desenvolvimento futuro. Por um lado, criado oficialmente em 1969, o PED entrou na esteira da implantação oficial da Pós-Graduação no Brasil, com o Parecer 977, de 1965 (BRASIL, 1965). Por outro lado, e para entender o momento de criação do PED, é necessário inseri-lo no contexto da Reforma Universitária de 1968, que, na PUC-SP, acabou se concretizando em 1971.

Para os interessados em maiores detalhes sobre esse contexto, há uma análise dele em textos como o de Nagamine (1997) e o de Saviani (2005). Para meus objetivos, aqui, importa destacar que, na segunda metade dos anos 1960 e início dos anos 1970, havia sido articulado, dentro da PUC-SP, um verdadeiro complô - no melhor sentido do termo - que antecipava a reforma universitária eminente e a criação da Pós-Graduação nesta Universidade. O objetivo dessa articulação era a formação de quadros de profissionais voltados para o ensino e para a produção de conhecimento dentro da PUC-SP. Havia, ainda, a expectativa de que a formação desses quadros se revertesse em pessoal para assumir funções acadêmico-administrativas, o que se mostrou uma iniciativa efetiva, eficaz e eficiente. Qualquer análise da criação da Pós-Graduação na PUC e, portanto, do PED, que desconsidere estes antecedentes constituirá apenas uma sequência de fatos.

Para se ter uma noção adequada desse contexto, considerem-se os objetivos da PG declarados pelo MEC no Parecer 977/65 (Brasil, 1965) e que foram adotados pelos diferentes Programas de Pós-Graduação criados naquela época, no Brasil:

1. formar professorado competente que possa atender à expansão quantitativa de nosso ensino superior, garantindo, ao mesmo tempo, a elevação dos atuais níveis de qualidade;

2. estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por meio da preparação adequada de pesquisadores;

3. assegurar o treinamento eficaz de técnicos e trabalhadores intelectuais do mais alto padrão para fazer face às necessidades do desenvolvimento nacional em todos os setores (p.130).

Pelo menos os dois primeiros objetivos presidiram à implantação da PG stricto sensu na PUC. Professores pesquisadores como Joel Martins, Enzo Azzi e Casemiro dos Reis Filho, o Pe. Enzo dos Campos Guzzo, figura carismática e de forte penetração entre jovens, e José M. Nagamine - um dos funcionários administrativos envolvidos na preparação da implantação da reforma - compunham parte da equipe que se articulou na tarefa de recrutar, de um lado, professores fortemente vinculados à Universidade, para acelerar sua titulação e prepará-los para a tarefa de criar novos titulados comprometidos com o ensino e a pesquisa na PUC-SP; de outro, alunos que, segundo seus critérios, apresentavam-se como "promessas de investimento". Grupos de alunos foram tornados monitores e, tão rapidamente quanto possível, assistentes; foram envolvidos em pesquisas e estimulados a concorrer a bolsas de estudo no exterior. Na verdade, muitos grupos foram levados a viagens curtas ao exterior como forma de criar futuros vínculos com instituições de lá.

Não me parece ser o caso de historiar a Reforma Universitária na PUC, nem a implantação da Pós-Graduação na instituição. Ambos os eventos já foram analisados e contados em livros e em teses. Mas, parece-me um excelente momento para ressaltar que o complô a que me referi foi uma das mais bem-sucedidas articulações em prol do desenvolvimento de uma instituição. O pioneirismo da criação do PED inspirou a criação de muitos outros programas. Os professores arregimentados pelo grupo que planejava o desenvolvimento institucional da PUC tornaram-se verdadeiros líderes acadêmicos que marcaram muito profundamente o desenvolvimento da Psicologia e da Educação - para me restringir às nossas áreas mais próximas. Muitos deles criaram outros programas de Pós-Graduação dentro da própria PUC e/ou foram figuras marcantes durante a implantação da reforma universitária e cuidaram posteriormente (e continuam cuidando), para que ideais que nortearam as transformações não fossem perdidos, ainda que necessitassem sempre de novas transformações.

Não seria justo citar nomes porque certamente eu teria de limitar a lista e não encontraria justificativas para as inevitáveis omissões. Mas, posso começar dizendo, por exemplo, que o PED atual ainda conta com remanescentes daquele período. Posso também dizer que o impacto do PED revela-se em uma enorme quantidade de figuras públicas tituladas por ele. Entre estas contam-se secretários estaduais e municipais de Educação, grande número de pesquisadores da Fundação Carlos Chagas, altos administradores de instituições de ensino superior, representantes em grandes comissões nacionais e dirigentes de entidades científicas e de classe.

Independentemente dos trabalhos realizados individualmente por professores/pesquisadores que integram nosso corpo docente, o PED como unidade institucional vem desenvolvendo importante trabalho de cooperação com outras instituições. A importância desse trabalho pode ser ilustrada, por exemplo, com a extensão do nosso campus a outras instituições e o acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para a capacitação de professores da sua rede de ensino, com o qual o PED tem tido relação expressiva.

Esta foi uma excelente oportunidade para o resgate de dados históricos do PED, mas a verdade é que a tarefa é quase inglória em virtude de nossa instituição não ter o hábito, nem a cultura de registrar sua história, nem mesmo em números. As tentativas que sei terem sido iniciadas - algumas das quais participei - foram descontinuadas. No entanto, dados puderam ser recuperados como forma de demonstrar o impacto do PED na formação de quadros titulados e de capacitação de docentes/pesquisadores. As quatro figuras a seguir mostram a evolução das defesas de teses e de dissertações desde a fundação do PED, no mestrado e no doutorado.

As irregularidades - isto é os picos e quedas - no gráfico, de um modo geral, são de difícil explicação, mas o mais provável é que eles signifiquem "compensações", ou seja, um grande volume de defesas em um ano/semestre provoca uma redução nas defesas do ano/semestre seguinte. A Figura 2, a seguir, foi elaborada com o número acumulado de defesas, que evidencia de forma mais suave a regularidade das titulações.

 

 

 

 

A Figura 3 tem a mesma estrutura da Figura 1, agora em relação às teses de doutoramento defendidas. A Figura 4 reorganiza esta figura, agora com o número acumulado de defesas.

 

 

 

 

Eu me referi à oportunidade que este evento criou para que resgatássemos a história do PED e do seu impacto no cenário psicológico e educacional nacional. No que me diz respeito, o saldo é muito positivo, e quero deixar registrado de público o meu reconhecimento de que isso é produto das muitas coordenações que o PED teve, a começar, é claro, pelo professor Joel Martins. Especialmente aos nossos alunos - para quem o PED acaba se configurando como um momento de passagem em uma entidade pronta, - eu preciso dizer que cada uma das gestões passadas - das quais já fizeram parte as gestoras atuais - levou adiante propostas e projetos que vinham se desenvolvendo e enfrentou desafios com resultados que tornaram o PED o que ele é hoje.

Ao mesmo tempo - e coerentemente com os movimentos por que o PED já passou - o evento é também uma oportunidade para uma retrospectiva do momento atual tendo em vista uma visão prospectiva dos caminhos futuros do PED.

Um dos aspectos sobre o qual tive oportunidade de refletir diz respeito à vocação do PED - bem como de outros programas de Pós-Graduação em Educação. Se me permitem, quero retomar uma questão com a qual iniciei minha fala: os objetivos da PG stricto sensu. Os dois principais objetivos desta modalidade de PG - conforme o Parecer 977/65 - eram:

1. formar professorado competente que pudesse atender à expansão quantitativa de nosso ensino superior, garantindo, ao mesmo tempo, a elevação dos atuais níveis de qualidade;

2. estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por meio da preparação adequada de pesquisadores.

Nada sugere que estes objetivos tenham deixado de distinguir a PG stricto sensu da PG lato sensu. No entanto, é possível que os Programas de Pós-Graduação na área de Humanas, e certamente o PED dentro deles, no jogo de influências recíprocas entre oferta e demanda, tenham alterado seus objetivos e propostas em relação aos iniciais. Ou seja, possivelmente a nossa oferta foi procurando se adaptar às características de demandas crescentemente diferentes a ponto de ser necessária a formulação de novos modelos de PG, novas propostas pedagógicas, novos objetivos de formação.

É importante lembrar que este jogo entre oferta e demanda sempre esteve por trás das políticas nacionais para a PG. Por exemplo, desde o I Plano Nacional de Pós-Graduação (e nos vários planos subsequentes) as instituições proponentes de cursos de PG eram alertadas para o fato de que não poderiam contar com a formação graduada dos candidatos especialmente no que se referia à pesquisa. Eram, assim, prevenidas de que não deveriam contar com repertório de entrada dos alunos, sendo necessário prover condições para que uma formação em pesquisa começasse do início. À sua maneira, e segundo a concepção de pesquisa da época, o PED elaborou um currículo que podia ser qualificado como "pesado" em disciplinas básicas para a pesquisa.

Por exemplo, considerem-se as seguintes disciplinas que compunham o elenco de cursos denominados de básicos e, portanto, obrigatórios:

1. Estatística aplicada à Educação,

2. Lógica do conhecimento científico I,

3. Lógica do conhecimento científico II,

4. Metodologia da pesquisa em Educação I,

5. Metodologia da pesquisa em Educação II.

Entre os cursos obrigatórios, havia ainda Língua Estrangeira e Conceitos Básicos em Psicologia.

O segundo movimento do PED na direção de atendimento às especificações da PG stricto sensu dizia respeito à atenção especial que era dada ao fato de esta modalidade de PG estar voltada para a formação o docente do ensino superior. Permitam-me ilustrar este último ponto com alguns dados que pude coletar para efeitos de comparação.

Na Figura 5, está plotada a distribuição dos candidatos aprovados na seleção ao mestrado do PED, de 2005 a 2010, segundo sua condição de docentes e não docentes do ensino superior. As informações foram coletadas da lista de aprovados na seleção de cada final de ano. Conforme se evidencia, essa relação se distancia, ano a ano, em favor dos não docentes do ES.

 

 

Na Figura 6, essas mesmas informações foram plotadas acrescentado-se, agora, a distribuição existente em 1982.

 

 

Há inúmeros fatores que precisam ser considerados na análise dos dados da Figura 6, e eu nem mesmo tentarei fazer isso agora. Mas, não se pode deixar de considerar que hoje o PED tem uma população muito diferente da que tinha em seus primórdios. É bem verdade, também, que seu currículo é diferente daquele que ilustrei acima. No entanto, os resultados sugerem que seja realizada uma análise detalhada que indique as características da população que nos procura e daquela que queremos/podemos aceitar, uma vez que tais resultados permitirão que mantenhamos clareza nos nossos objetivos e nos recursos e meios de que deveremos lançar mão para continuarmos cumprindo nossa missão.

 

Referências

Brasil. Ministério da educação e Cultura. SESu (1965) Parecer no 977/65: Definição dos Cursos de Pós-Graduação. Brasília: Documenta, n.44, pp.244-269.         [ Links ]

Nagamine, José Massafumi. (1997). Universidade e compromisso social: a experiência da reforma da PUC de São Paulo. São Paulo/Campinas, Educ/Autores Associados.         [ Links ]

Saviani, J. D. (2005). O protagonismo do professor Joel Martins na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, n.30, Rio de Janeiro, Sept./Dec.         [ Links ] 

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