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Psicologia da Educação

versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520

Psicol. educ.  no.40 São Paulo jun. 2015

 

ARTIGOS

 

Ambiente familiar e desempenho escolar: uma revisão sistemática

 

Family environment and school performance: a systematic review

 

Entorno familiar y el rendimiento escolar: una revisión sistemática

 

 

Fénita MahendraI; Angela Helena MarinII

IUniversidade do Vale do Rio dos Sinos. fenita.mahendra@gmail.com
IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos. Bolsistas do Programa Estudantes-Convênio de Pós-Graduação – PEC-PG, da CAPES/CNPq – Brasil

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura, considerando artigos publicados entre 2010 a 2014, que abordaram a relação entre ambiente familiar e desempenho escolar de alunos do ensino fundamental e médio. Foram analisados país de origem, os fatores e os instrumentos utilizados para avaliar o ambiente familiar e o desempenho escolar, assim como seus aspectos metodológicos. O levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados MEDLINE, SCIELO, ASP (EBSCO), Science direct, PsycINFO e Web of Science. Setenta artigos foram considerados para análise, de acordo com os critérios de elegibilidade.Constatou-se que os estudos foram desenvolvidos em 20 países diferentes e avaliaram fatores diversificados do ambiente familiar que foram agrupados em sete dimensões diferentes. O desempenho escolar também foi avaliado de maneira diversificada, com destaque para notas escolares e escores de testes padronizados. Todos os estudos revisados utilizaram uma abordagem de pesquisa quantitativa, priorizando o uso de instrumentos padronizados. Verificou-se, especialmente, a necessidade de maior investimento em estudos de caráter qualitativo ou misto, da expansão do conceito de desempenho escolar e da triangulação dos dados entre diferentes participantes e fontes de informação. Esta revisão permitiu conhecer como esta temática tem sido abordada no contexto nacional e internacional, constituindo-se em uma importante fonte de consulta para profissionais interessados no assunto.

Palavras-chave: ambiente familiar; desempenho escolar; ensino fundamental; ensino médio.


ABSTRACT

This study aimed to conduct a systematic review of the literature, considering articles published between 2010 to 2014, which addressed the relationship between family environment and school performance among elementary and high school students. It were analyzed the country of origin, the factors of family environment investigated and the way school performance has been evaluated and methodological aspects. The the articles were selected in the MEDLINE, SciELO, ASP (EBSCO), Science Direct, PsycINFO and Web of Science data bases. 70 articles were considered for analysis, according to the eligibility criteria. The studies were carried out in 20 different countries; the family environment factors were organized in seven dimensions. School performance was evaluated in diversified manners, with emphasis on school grades and standardized test scores. All studies used a quantitative research approach, prioritizing the use of standardized instruments. The need for greater investment in qualitative or mixed character studies was found, as well as the need to expand the concept of school performance and triangulation of data between different participants and sources of information. This review helped to understand how this issue has been addressed in national and international contexts, thus representing a valuable source of information for professionals interested in it.

Keywords: family environment; school performance; elementary school; high school.


RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo realizar una revisión sistemática de la literatura, teniendo en cuenta los artículos publicados entre 2010 a 2014, que abordó la relación entre el entorno familiar y el rendimiento académico de los estudiantes de primaria y secundaria. El país de origen, los factores e instrumentos utilizado para evaluar el entorno familiar y el rendimiento escolar, así como los aspectos metodológicos fueron analizados. La revisión de la literatura se realizó en la bases de datos MEDLINE, SciELO, ASP (EBSCO), ScienceDirect, PsycINFO y Web of Science. Setenta artículos se consideraron para el análisis, de acuerdo con los criterios de elegibilidad. Se encontró que los estudios se realizaron en 20 países diferentes y estos estudios evaluaron diversos factores de entorno familiar que han sido agrupados en siete dimensiones diferentes. El rendimiento escolar también se evaluó de manera diversificada, con énfasis en los grados escolares y resultados de las pruebas estandarizadas. Todos los estudios revisados utilizaron un enfoque cuantitativo de investigación, dando prioridad a la utilización de instrumentos estandarizados. Se encontró, en particular, la necesidad de una mayor inversión en estudios de carácter cualitativo o mixto, la necesidad de ampliar el concepto de rendimiento escolar y la triangulación de datos entre los diferentes participantes y fuentes de información. Esta revisión permitió saber cómo este tema se ha abordado en el contexto nacional e internacional, convirtiéndose así en una importante fuente de información para los profesionales interesados en el tema.

Palabras clave: entorno familiar; rendimiento escolar; escuela primaria; escuela secundaria.


 

 

O desempenho escolar, classificado muitas vezes em fracasso e sucesso escolar, ou ainda em baixo e alto rendimento escolar, tem sido estudado sob diferentes enfoques. Ele é mensurado de diferentes maneiras, podendo ser representado por notas (Eng, 2012; Wang, Chan, & Lin, 2012), número de reprovações (Chiu & Chow, 2010), número de anos de estudo completos até uma determinada idade (Gordon & Cui, 2012), escores obtidos em testes padronizados (Noble & Morton, 2013; Sy, Gottfried, & Gottfried, 2013), entre outros. Além disso, existem outras concepções sobre o desempenho escolar que refutam a classificação em fracasso e sucesso baseada em padrões uniformizados, partindo de posicionamentos que priorizam aspectos distintos da prática pedagógica que valorizam o desenvolvimento ou a evolução individual do aluno em aspectos como o raciocínio, a imaginação, a autonomia, a solidariedade, a cidadania e as habilidades artísticas/musicais (Perrenoud, 2002; Virgolim, 2007).

Além de ser um termo complexo que contém facetas diversificadas, o desempenho escolar também é resultado de um sistema que reúne fatores intra e extra-escolares de diversas ordens, como já destacava Patto (2000). Dentre esses, o ambiente familiar é um dos mais importantes, como apontado desde os anos 60, pelo Relatório de Coleman (1966). A interferência do ambiente familiar sobre o desempenho escolar tem sido estudada de diferentes maneiras, destacando-se a relação família-escola (Chechia & Andrade, 2005), os aspectos relativos ao nível socioeconómico (Pires, Silva & Assis, 2013; Santos & Graminha, 2005; Seleghim & Oliveira, 2013) e educacional dos pais (D'Avila-Bacarji, Marturano, & Elias, 2005), as relações interpessoais na família (Santos, Crespo, Silva, & Canavarro, 2012), entre outros.

Uma vez que os conceitos ambiente familiar e desempenho escolar, assim como a relação entre eles, apresentam um caráter complexo e multifacetado, vislumbrou-se como uma necessidade, a sistematização do que as pesquisas atuais (últimos cinco anos) têm considerado ao trabalhar a relação do ambiente familiar com o desempenho escolar. Este tipo de revisão poderá contribuir para elucidar se existem fatores familiares cuja associação com o desempenho escolar tem sido mais investigada e quais deles podem estar sendo subestimados, apesar de também serem importantes. Da mesma forma, permitirá conhecer a maneira pela qual o desempenho escolar tem sido entendido e avaliado mais frequentemente.

Nesse sentido, o presente estudo apresenta uma revisão sistemática da literatura, considerando artigos, publicados no período de 2010 a 2014, que tenham abordado a relação entre o ambiente familiar e o desempenho escolar de alunos do ensino fundamental e médio.

 

MÉTODO

No presente estudo, justifica-se a restrição aos últimos cinco anos pelo grande número de publicações localizadas com essa temática. O objetivo foi analisar estudos localizados quanto ao país de origem, os fatores e os instrumentos utilizados para avaliar o ambiente familiar e o desempenho escolar, além de outros aspectos metodológicos como a abordagem, o delineamento e os participantes.

A revisão sistemática da literatura foi desenvolvida de acordo com as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses - PRISMA (Moher, Liberati, Tetzlaff, Altman, & The PRISMA Group, 2009)1. A seguir as informações em relação a seleção dos estudos para a revisão são detalhadas.

Fontes de Informação e Estratégia de Pesquisa. O levantamento bibliográfico realizado para este estudo foi obtido no mês de dezembro de 2014 e contemplou as seguintes bases de dados: MEDLINE, SCIELO, ASP (EBSCO), Science direct, PsycINFO e Web of Science. A busca foi realizada por meio dos seguintes descritores e operadores booleanos: "family" AND "school performance", "family" AND "school achievement", "family" AND "academic performance", "family" AND "academic achievement".

Critérios de Inclusão e Exclusão. Foram incluídos na revisão sistemática todos os artigos empíricos publicados em periódicos científicos que tivessem como objetivo avaliar a relação existente entre o ambiente familiar e o desempenho escolar, publicados no intervalo dos últimos cinco anos (2010 a 2014) em língua portuguesa ou inglesa e que estivessem disponíveis online na íntegra gratuitamente. Foram excluídos os artigos de revisão teórica ou sistemática, teses, dissertações, livros ou outros documentos, artigos que abordassem o período pré-escolar ou universitário, que não tinham como foco principal examinar a relação do ambiente familiar com o desempenho escolar ou que a avaliaram somente eventos ou contextos familiares particulares, como, por exemplo, famílias homoafetivas, adoção, transmissão intergeracional de sexismo benevolente, entre outros. Detalhes em relação à seleção dos estudos, tendo em consideração estes critérios de elegibilidade, podem ser observados na Figura 1.

Seleção dos Estudos. Após a eliminação das duplicadas e das publicações em outros idiomas que não o Português ou o Inglês, foram avaliados os títulos e resumos dos artigos quanto aos critérios de elegibilidade. Todos os artigos que pelo título e resumo permitiam avaliar aspectos do ambiente familiar e características relacionadas à aprendizagem do aluno foram incluídos nesta primeira fase. Após este passo, a avaliação da elegibilidade foi realizada através da análise do texto completo.

A partir da pesquisa nas bases de dados, foram recuperados 1765 artigos.Após a eliminação das duplicadas e de outros idiomas, a relevância de 1367 artigos foi avaliada. Durante a triagem inicial através dos títulos e dos resumos 1012 artigos foram excluídos por não contemplarem a temática que constitui o objetivo desta revisão. Nove artigos foram excluídos por não estarem disponíveis online na íntegra, restando 346 artigos a serem avaliados através do texto completo. Por fim, 70 artigos foram selecionados. As razões para a exclusão dos artigos após o acesso ao texto completo, assim como o processo de seleção dos estudos são ilustrados na Figura 1.

A seguir, apresenta-se a lista dos artigos que foram alvo do procedimento analítico.

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RESULTADOS

País de origem dos estudos

Os estudos selecionados foram realizados em 20 países diferentes, tendo os Estados Unidos se destacado com 35 artigos. A Figura 2 ilustra os países de origem dos estudos com o número de produções correspondente.

Fatores do ambiente familiar examinados

Para a análise dos fatores do ambiente familiar, realizou-se uma análise de conteúdo (Laville & Dionne, 1999), a partir da qual foram derivadas sete dimensões para a classificação dos estudos. Esta classificação foi realizada por dois juízes independentes, tendo obtido um percentual de concordância de 80%. Os estudos revisados avaliaram fatores diversificados do ambiente familiar, a saber: 1)aspectos individuais dos pais (dois artigos), que avaliaram as condições de saúde/doença dos pais e demandas e dificuldades familiares relativas a doenças (Chen, 2013), morte parental, problemas psicossociais e de saúde mental, abuso de substância e criminalidade parental (Berg, Rostila, Saarela, & Hjern, 2014); 2) aspectos conjugais dos pais (um artigo), que examinou a violência psicológica e/ou física contra a mulher (Preto & Moreira, 2011); 3) aspectos do relacionamento pais-filhos (31 artigos), que investigaram o estilo parental (Hsu, Zhang, Kwok, Li, & Ju, 2011;Prata, Barbosa-Ducharne, Gonçalves, & Cruz, 2013; Rivers, Mullis, Fortner, & Mullis, 2012; Rothon, Goodwin, & Stansfeld, 2012; Sánchez, Montesinos, & Rodríguez, 2013; Sargent, Kong, & Zhang, 2014; Tazouti, Malarde, & Michea, 2010; Wang et al. 2012), a qualidade da relação dos filhos com os pais - proximidade, coesão, comunicação, padrão de apego, entre outros (Alves, Nogueira, Nogueira, & Resende, 2013; Bacro, 2012; Bowen, Hopson, Rose, & Glennie, 2012; Gordon & Cui, 2012; Lopez Turley, Desmond, & Bruch, 2010; Newland, Chen, & Coyl-Shepherd, 2013; Rothon et al. 2012), o abuso e a negligência (Huang &Mossige, 2012; Manly, Lynch, Oshri, Herzog, & Wortel, 2013), o envolvimento dos pais na vida académica dos filhos e a existência de materiais educacionais e ambiente físico para os estudos em casa (Alves et al. 2013; Cheung & Pomerantz, 2012; Chowa, Masa, & Tucker, 2013; Cia, Barham, & Fontaine, 2012; Dumont, Trautwein, Lüdtke, Neumann, Niggli, & Schnyder, 2012; Froiland, Peterson, & Davison, 2013; Gordon & Cui, 2012; Hampden-Thompson, Guzman, & Lippman, 2013; Hayes, 2012; Noble & Morton, 2013; Rothon et al. 2012;Sargent et al. 2014; Sy et al. 2013; Tsai & Liu, 2013; Vukovic, Roberts, & Wright, 2013), o envolvimento dos pais em atividades realizadas na escola (Alvarez-Valdivia, Chavez, Schneider, Roberts, Becalli-Puerta, Pérez-Luján, & Sanz-Martínez, 2013; Cheung & Pomerantz, 2012; Chowa et al. 2013; Hayes, 2012; Hsu et al. 2011; Newland et al. 2013; Rothon et al. 2012), as crenças e aspirações académicas dos pais em relação aos filhos (Alvarez-Valdivia et al. 2013; Alves et al. 2013; Bowen et al. 2012; Froiland et al.2013; Froiland & Davison, 2014; Gordon & Cui, 2012; Hayes, 2012; Hsu et al. 2011; Newland et al. 2013; Sánchez et al. 2013; Sargent et al. 2014; Suizzo, Jackson, Pahlke, Marroquin, Blondeau, & Martinez, 2012; Sy et al. 2013),a discussão sobre planos de carreira e de vida dos filhos (Hsu et al. 2011),os sentimentos de eficácia e motivação para ajudar os filhose a confiança e satisfação dos pais com os professores e funcionários da escola (Froiland & Davison, 2014; Newland et al. 2013), a importância de os filhos serem auto-confiantes e independentes para os pais (Tazouti et al. 2010; Wang et al. 2012), as crenças parentais relacionadas ao desenvolvimento (concepção genética e ambientalista e desenvolvimento efetivo da criança) e a educação (regras do dia-a-dia, punições e reforços; Tazouti et al. 2010); 4) aspectos do funcionamento geral da família (quatro artigos), que pesquisaram eventos estressores como a prisão de um membro da família (Nichols & Loper, 2012), o sentimento de competitividade em diferentes atividades (Schneider, Wallsworth, & Gutin, 2014),a aglomeração de pessoas na casa (Solari & Mare, 2012), as rotinas familiares como conversas regulares, jogos, refeições, entre outros (Roche & Ghazarian, 2011); 5) aspectos estruturais da família (quatro artigos), que consideraram transições como divórcios e re-casamentos (Hatos &Bălțătescu, 2013; Potter, 2010; Sigle-Rushton, Lyngstad, Andersen, & Kravdal, 2014; Sun & Li, 2011); 6) aspectos culturais da família (três artigos), que examinaram a possessão de bens culturais, realização de atividades intelectuais, como visita a museus e ir ao teatro (Chiu & Chow, 2010; Marteleto & Andrade, 2013; Tramonte & Willms, 2010), conversas entre pais e filhos sobre cultura, política, assuntos sociais, atividades escolares e livros (Chiu & Chow, 2010; Tramonte & Willms, 2010); e 7) aspectos socioeconómicos da família (um artigo), em que se avaliou o nível socioeconómico da família, tendo como variável mediadora o suporte parental (Serbin, Stack, & Kingdon, 2013). Os artigos restantes contemplaram duas a quatro dimensões conjuntamente.

Os aspectos avaliados podem ser visualizados nas Figuras 3, 4 e 5.

Aspectos metodológicos dos estudos

Quanto aos aspectos metodológicos, todos os artigos (n=70) utilizaram uma abordagem de pesquisa quantitativa, sendo que 38 se caracterizaram como transversais e 32 como longitudinais. Uma vez que os artigos analisados não apresentaram outras informações sobre o delineamento utilizado, optou-se por avaliar o delineamento apenas quanto ao tempo ou momento do estudo.

Avaliação do ambiente familiar

Dentre os participantes que avaliaram o ambiente familiar, em 24 estudos a amostra foi composta por crianças ou adolescentes; em 30, por pais; em dez, por pais e crianças/adolescentes, sendo que eles responderam a instrumentos diferentes; em cinco,utilizaram-se dados existentes em bases de projetos nacionais ou comunitários e um utilizou dados existentes nestas bases juntamente com informações fornecidas pelos pais. Assim, dos 70 estudos analisados, apenas 11 usaram a estratégia de triangulação dos dados para a avaliação do ambiente familiar (10 cotejaram os dados entre pais e filhos e um entre pais e dados existentes em bases de dados de projetos nacionais).

Quanto ao tipo de instrumentos utilizados para avaliar o ambiente familiar, 62 estudos se basearam em questionários, entrevistas estruturadas e instrumentos padronizados e apenas três utilizaram a observação associada a algum destes instrumentos. Os demais cinco coletaram dados a partir de bases de dados de projetos nacionais ou comunitários que continham as informações necessárias para os estudos2.

Avaliação do desempenho escolar

A Figura 6 resume os diferentes modos pelos quais o desempenho escolar foi avaliado nos estudos revisados. Como se pode verificar, para a avaliação do desempenho escolar, onze estudos utilizaram a estratégia de triangulação dos dados, sendo que os outros 59utilizaram notas escolares (n=26), testes padronizados (n=25), entrevista com professores (n=5) e entrevista e questionárioscom os alunos (n=3).

Métodos de análise de dados

Em 66 estudos, análises de regressão em diferentes níveis foram utilizadas. Apenas quatro estudos utilizaram outros tipos de análise, como correlação (Ciaet al.2012; Pressman et al. 2014), teste de Mann-Whitney (Preto & Moreira, 2011), e critérios da razão de falsas descobertas - FDR (Noble & Morton, 2013).

 

DISCUSSÃO

A partir da revisão da literatura realizada pode-se observar que 50% dos estudos que relacionaram o ambiente familiar com o desempenho académico de crianças e adolescentes se concentra nos Estados Unidos e apenas quatro estudos brasileiros foram selecionados para esta revisão. Este dado indica que atualmente esta temática tem sido pouco investigada no Brasil, o que pode ser um indicativo de que a questão do desempenho escolar no país esteja sendo pesquisada com o foco em fatores individuais do aluno ou na relação aluno-professor-escola, prestando-se menos atenção aos fatores extra-escolares, como a família. Este dado, por outro lado, também pode indicar uma dificuldade de investigar este tema devido ao difícil acesso a informações relativas ao ambiente familiar. Nos Estados Unidos e em alguns países europeus estas informações são acessadas com maior facilidade, pois existem cadastros nacionais individuais e familiares em que várias informações úteis para as pesquisas ficam registradas e acessíveis aos pesquisadores (Sigle-Rushton et al. 2014; Solari & Mare, 2012). Além disso, em vários países são realizadas avaliações académicas periódicas levadas a cabo, em caráter nacional e internacional, por projetos de grande porte (como, por exemplo, o Program for International Student Assessment - PISA), nas quais são incluídas avaliações sobre o ambiente familiar, cujos dados também estão acessíveis para fins de pesquisa, resultando em estudos com amostras numerosas, de caráter quantitativo e longitudinal.

Cabe salientar que dois dos quatro estudos brasileiros analisados faziam parte de estudos internacionais do PISA e contaram com uma amostra de 4.893 estudantes (Bonamino et al. 2010) e 9.295 estudantes (Marteleto & Andrade, 2013). O terceiro estudo brasileiro também fazia parte de um projeto maior, mas nacional (Projeto Geres - estudo longitudinal que acompanhou, de 2005 a 2008, alunos do ensino fundamental de cinco cidades brasileiras) e contou com uma amostra de 299 estudantes (Alves et al. 2013). Por fim, o quarto estudo, que não fazia parte de nenhum outro projeto, avaliou uma amostra de 97 estudantes (Cia et al. 2012).

Pode-se verificar as vantagens da filiação a essas propostas de investigação nacionais e internacionais, uma vez que facilitam a obtenção de maiores amostras assim como o acesso a informações sobre a família. Porém, optar por esse tipo de estudo dificulta a avaliação detalhada de processos familiares através de estudos qualitativos que exigem maior envolvimento dos pesquisadores e amostras menores. Exemplos desse tipo de avaliações incluem observação da interação entre os membros da família, exploração dos sentimentos manifestos ao se abordar determinados assuntos relativos a vida familiar, entre outros.

Neste sentido, também pode-se pensar no motivo pelo qual todos os estudos selecionados nesta revisão utilizaram uma abordagem quantitativa, priorizando o uso de instrumentos padronizados. Dos 70 estudos analisados, apenas três utilizaram a observação procurando avaliar a interação entre o casal e entre os pais e filhos (Buehler &Gerard, 2013; Oxford & Lee, 2011; Sy et al. 2013), conjugando esta informação aos dados obtidos através dos outros instrumentos padronizados. Porém, mesmo nestes estudos estas observações foram analisadas através de técnicas quantitativas.

Outra característica encontrada em grande parte dos estudos (n=66) facilitada pelas grandes amostras (Filho, Nunes, Rocha, Santos, Batista,& Silva Júnior,2011) é a utilização de análises de regressão, permitindo no caso dos modelos de regressão hierárquica, a inclusão de várias variáveis independentes e mediadoras. Em muitos estudos, fatores escolares, sociais e individuais foram analisados através desta metodologia, permitindo tirar conclusões sobre a forma como eles medeiam à relação dos fatores do ambiente familiar com o desempenho escolar. Esta característica vai ao encontro das ideias de Vasconcellos (2009), mostrando a importância de um olhar sistémico ao se investigar esta temática, uma vez que fatores de diversas ordens se inter-relacionam, de maneira que os estudos oferecem resultados mais esclarecedores quando, em vez de estudar um fator isolado deste sistema, procuram compreender o todo que se constitui a partir desta rede de influências.

Além da importância deste tipo de análise, vários dos estudos longitudinais revisados elucidaram as vantagens da avaliação realizada em mais de um momento. Isso porque tanto o ambiente familiar como o desempenho escolar são fenómenos que se encontram em constante transformação e considerá-los como estanques, realizando avaliação em um único momento, limita a informação disponível para inferir sobre a relação entre os dois.

A partir da análise dos fatores familiares avaliados nos estudos, um dado que se destaca é que a dimensão dos aspectos do relacionamento pais-filhos foi a que reuniu o maior número de artigos, sendo que o aspecto mais investigado foi o envolvimento parental no processo de aprendizagem dos filhos. Este dado mostra a tendência de os estudos investigarem os aspectos familiares ligados diretamente à educação dos filhos, enquanto outros fatores familiares, como características individuais dos pais e aspectos do relacionamento conjugal, por exemplo, são mais relacionados ao bem-estar psicológico, problemas emocionais e de comportamentodos filhos (Belsky, Van IJzendoorn, Fosco,& Feinberg, 2015; Gryczkowski, Jordan, & Mercer, 2010), muito embora tenham sido encontrados estudos que demonstraram que eles também podem ser importantes preditores do desempenho escolar.

Pode-se verificar que alguns fatores relacionados às situações extra-familiares, cuja investigação é considerada importante por autores como Moos e Moos (2009), têm sido pouco explorados nos estudos. Quanto ao envolvimento na religiosidade, por exemplo, apenas dois estudos avaliaram o lugar e a frequência que a família rezava como parte da avaliação do envolvimento na comunidade (Hines & Holcomb-McCoy, 2013) e a participação da família em serviços religiosos como parte da avaliação do tempo compartilhado em família (Pressman et al. 2014).

Outro aspecto importante a ser analisado é a extensão em que os estudos utilizaram a estratégia de triangulação dos dados. Apenas 10, dos 70 estudos analisados, avaliaram o ambiente familiar através da participação dos pais e dos filhos, considerando que eles analisaram aspectos diferentes do ambiente familiar. Assim, em nenhum dos estudos revisados a triangulação de dados foi feita de forma a permitir uma comparação direta entre a percepção do ambiente familiar dos pais e dos filhos em relação aos mesmos fatores familiares. Pesquisas anteriores (Crow & Seybold, 2013; Leung & Shek, 2014; Xiao, Li, & Stanton, 2011) destacaram que as convergências ou discrepâncias entre a percepção que os pais e os filhos têm em relação ao ambiente familiar constituem dados importantes sobre a qualidade do ambiente familiar, podendo estar relacionados a diversos aspectos do funcionamento individual dos filhos, incluindo o desempenho escolar.

Na avaliação do desempenho escolar, verificou-se que a estratégia de triangulação dos dados também não tem sido muito utilizada, sendo que a maior parte dos estudos focou exclusivamente as notas escolares e/ ou os resultados em testes padronizados, o que limita a informação que se obtém sobre os alunos, uma vez que as notas de um determinado ano não fornecem informações sobre como tinha sido o percurso escolar do aluno e como viria a ser na continuidade. Da mesma forma, as circunstâncias em que um teste padronizado é aplicado podem afetar o desempenho do aluno, sendo que este resultado poderá não corresponder ao seu desempenho real. Daí a importância de triangular os dados de notas e escores em testes padronizados com outras informações sobre o desempenho escolar obtidaspor meio de diferentes fontes e instrumentos.

Ainda em relação ao desempenho escolar, a maior parte dos estudos analisados se preocupou apenas em avaliar aptidões ou conhecimentos específicos em leitura, matemática e ciências. Porém, alguns deles aproximaram-se da afirmação de Perrenoud (2002) e Virgolim (2007), avaliando outros aspectos, como, por exemplo, a persistência nas tarefas, a vontade de aprender, a atenção, a independência para aprender, a flexibilidade e organização (Bodovski & Youn, 2010), a auto-regulação da aprendizagem, como planificação, execução e avaliação (Preto & Moreira, 2011), as habilidades adaptativas, como habilidades para aprender novas coisas, fazer planos e cuidar de si próprios (Chen, 2013), e a cooperação, assertividade e autocontrole (Alvarez-Valdiviaet al. 2013). Contudo, nenhum dos estudos considerou o desempenho dos alunos em atividades artísticas ou musicais, que também são ensinadas na escola e por isso deveriam constituir um aspecto do desempenho escolar tão valorizado quanto habilidades académicas específicas de leitura, matemática ou ciências, como é salientado por Virgolim (2007). Assim, embora se note uma evolução quanto ao entendimento do conceito de desempenho escolar, ainda é necessário avaliá-lo considerando potencialidades e fraquezas do aluno em todas as atividades escolares.

Por fim, a maior parte dos estudos analisados investigou a influência do ambiente familiar no desempenho escolar dos filhos. A influência inversa é raramente investigada e se apresentou em apenas dois dos estudos analisados (Sargent et al. 2014; Wang et al. 2012), que também mostraram influência significativa. Este dado indica que o desempenho escolar também pode influenciar a maneira como se configuram as relações familiares e constitui uma questão importante que precisa continuar sendo investigadae aprofundada em estudos futuros.

Finalmente, deve-se considerar as limitações do presente trabalho. Estudos que investigaram o ambiente familiar, mas que não o tiveram como foco principal, foram excluídos desta revisão, assim como estudos que abordaram os níveis pré-escolar e universitário. Assim, não foi possível contemplar as diversas formas através das quais o ambiente familiar tem sido relacionado ao desempenho escolar. Da mesma forma, vários estudos que investigaram outros aspectos académicos, que não o desempenho, como motivação, comprometimento ou apego com a escola e auto-conceito académico também não foram contemplados, limitando a sistematização e o conhecimento sobre os resultados académicos que têm sido considerados nos estudos. Outra limitação é que o presente estudo pode apresentar uma propensão a vieses relativos à publicação, aos idiomas e ao período de publicação escolhidos e aos critérios adotados para a seleção dos estudos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta revisão foi analisar a literatura sobre relação entre o ambiente familiar e o desempenho escolar nas pesquisas nacionais e internacionais nos últimos cinco anos. A análise mostrou uma grande diversidade e heterogeneidade quanto aos aspectos teóricos e metodológicos considerados pelos estudos, sendo possível refletir sobre as vantagens e desvantagens de alguns deles. Verificou-se, especialmente, a necessidade de maior investimento em estudos de caráter qualitativo ou misto, da expansão do conceito de desempenho escolar e da triangulação dos dados entre diferentes participantes e fontes de informação.

Os estudos analisados mostraram a importância que o ambiente familiar pode ter para que as crianças e os adolescentes tenham um bom desempenho na escola. Acredita-se que o estudo cuidadoso sobre esta relação contribuiu e continuará contribuindo para a construção de conhecimentos que poderão fundamentar ações de prevenção e intervenção mais eficazes neste âmbito.

 

REFERÊNCIAS

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1 Os protocolos do PRISMA podem ser acessados pelo http://www.prisma-statement.org/.
2 Trata-se de países em que existem registros nacionais sobre dados sociodemográficos como nascimentos, mortes, divórcios, re-casamentos, número de internações hospitalares e seus motivos, registros criminais, número de encarceramentos na família, entre outros, e é concedida autorização especial para consulta e uso destes dados para fins de pesquisa.

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