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Psicologia da Educação

versión impresa ISSN 1414-6975versión On-line ISSN 2175-3520

Psicol. educ.  no.48 São Paulo enero/jun. 2019

http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20190005 

ARTIGOS

 

Sentidos de relações de gênero produzidos por adolescentes de uma escola pública

 

Meaning of gender relations produced by adolescents of a public school

 

Sentidos de las relaciones de género producidos por los adolescentes de una escuela pública

 

 

Kelly Pereira Uchoa; Fabiane Aguiar Silva; André Luiz Machado das Neves; Iolete Ribeiro da Silva

Universidade Federal do Amazonas, Amazonas/AM - Brasil

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi compreender os sentidos de relações de gênero produzidos por adolescentes de uma escola pública de Manaus-AM. A pesquisa fundamentou-se na abordagem da Psicologia Sócio-Histórica visando contribuir com a discussão de gênero pautada na relação construída socialmente entre as performances de gêneros. A pesquisa adotou a abordagem qualitativa de caráter exploratório e os instrumentos para a construção de dados foram a observação participante e o grupo focal. A análise dos dados foi fundamentada na proposta dos Núcleos de Significação. Como resultados da pesquisa, observou-se que os sentidos de relações de gênero produzidos pelos adolescentes revelaram um processo dialético de significados de performances de gênero pautados em concepções heteronormativas, bem como, mais desconstruídas sobre os papeis masculinos e femininos. Ou seja, significados que estruturam concepções mais normativas de gênero vêm interagindo com discursos emancipatórios sobre as performances e produzem sentidos estruturados em anseios de relações contemporâneas mais satisfatórias. As discussões sobre relações contribuem com a produção de sentidos de relações mais alternativas, libertárias e criativas a partir da reflexão social, histórica e cultural das performances de gênero.

Palavras-chave: gênero; adolescência; escola; psicologia social.


ABSTRACT

The present study aimed to understand the meanings of gender relations produced by adolescents of a public school in Manaus-AM. The research was grounded on the approach of Socio-Historical Psychology in order to contribute to the discussion of gender based on the socially constructed relationship between the gender performances. The research adopted a qualitative exploratory approach and the instruments for data construction were participant observation and the focus group. The data analysis was grounded on the Meaning Core proposal. As research results, it was observed that the meanings of gender relations produced by the adolescents revealed a dialectical process of gender performances meanings based on heteronormative conceptions, as well as, more deconstructed on the masculine and feminine roles. That is, meanings that structure more normative conceptions of gender have been interacting with emancipatory discourses about the performances and produce structured meanings in the longings of more satisfactory contemporary relations. The discussions about relationships contribute to the production of meanings of more alternative, libertarian and creative relationships from the social, historical and cultural reflection of gender performances.

Keywords: gender; adolescence; school; social psychology.


RESUMEN

El objetivo del presente estudio fue comprender los sentidos de relaciones de género producidos por adolescentes de una escuela pública de Manaus-AM (Manaus és la capital de la Comunidade Autônoma de Amazonas -AM , situada en la region norte de Brasil). La investigación se basó en el abordaje de la Psicología Sócio-Histórica para contribuir con la discusión de género pautada en la relación construida socialmente entre las performances de géneros. La investigación adoptó el enfoque cualitativo de carácter exploratorio y los instrumentos para la construcción de datos fueron la observación participante y el grupo focal. El análisis de los datos fue fundamentado en la propuesta de los Núcleos de Significación. Como resultados de la investigación, se observó que los sentidos de relaciones de género producidos por los adolescentes revelaron un proceso dialéctico de significados de performances de género pautados en concepciones heteronormativas, así como, más deconstruidas sobre los papeles masculinos y femeninos. Es decir, significados que estructuran concepciones más normativas de género vienen interactuando con discursos emancipatorios sobre las performances y producen sentidos estructurados en anhelos de relaciones contemporáneas más satisfactorias. Las discusiones sobre relaciones contribuyen con la producción de sentidos de relaciones más alternativas, libertarias y creativas a partir de la reflexión social, histórica y cultural de las performances de género.

Palabras clave: género; adolescência; escuela; psicología social.


 

 

Os estudos de gênero passaram a ser sistematizados com o avanço dos movimentos feministas no século XIX, décadas de 1960 e 1970, período em que as mulheres reivindicavam relações igualitárias entre os gêneros. Com a efervescência dos estudos feministas e o desenvolvimento dos estudos sobre as mulheres, surgiram, em paralelo, aos movimentos acadêmicos de estudos sobre as masculinidades no final da década de 1980. Atualmente, os estudos de masculinidades e feminilidades conferem à perspectiva de gênero dimensões que ressaltam análises cada vez mais relacionais no que tange ao processo de construção social das performances de gênero.

Nesse âmbito, destaca-se a mudança na nomenclatura de estudos feministas para estudos de gênero, processo que suscitou transformações de caráter epistemológico. Segundo Bento (2012, p. 50), "a mudança na abordagem possivelmente se constituirá quando novos instrumentos analíticos de percepção das relações sociais de gênero forem estruturados". A utilização de gênero como uma categoria de análise vem como proposta que requer novas abordagens metodológicas. Para romper com estudos puramente descritivos sobre as relações entre os sexos, que não questionam os conceitos que estruturam a própria percepção do que está sendo descrito, talvez seja necessário que se encare os estudos de gênero, primeiramente, como um desafio teórico.

Nesse desafio, se faz importante colocar as questões: como gênero funciona nas relações sociais? De que maneira gênero dá sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico? Quais as representações simbólicas em torno das diferenças percebidas entre os sexos? Como e por que estas diferenças contribuem para a criação e manutenção de poderes? Tudo isso implica ter um modelo analítico claro, que funcione como uma bússola, na nebulosa e emaranhada rede de relações de gênero. E este modelo é o que está sendo gestado nos últimos anos (Bento, 2012, p. 52).

Quando se pensa em estudar a construção da categoria social "gênero", devem-se abandonar paradigmas que estabelecem posições fixas, universalizantes. Significa reverter à posição binária, deslocando as construções hierárquicas, buscando compreender a construção e reprodução das relações de gênero nos contextos que as geram. A forma como se processará tal desconstrução dependerá do modelo analítico que o pesquisador adotará (Bento, 2012).

Diante desse desafio teórico de estudos sobre gênero, este artigo visa compreender os sentidos de relações de gênero construídos por adolescentes, tomando como espaço de pesquisa o âmbito escolar. Tal necessidade destaca-se pela tentativa de compreensão sobre como as relações de gênero vão se construindo. E passando na adolescência, o sentido de relações de gênero recebe atribuições pontuais como momento notável do processo de desenvolvimento humano.

A vivência da adolescência e sua experimentação social no contexto escolar foram destacadas nesta pesquisa, visto que durante esta condição peculiar de desenvolvimento surgem vivências e exigências institucionais de relações até então não experimentadas no advento da infância. Além disso, a própria construção da adolescência é pautada em processos de constituição de identidades externos ao contexto familiar, como a rua e a escola. Com isso, discute-se a adolescência como uma construção psicossocial e refletem-se os sentidos de relações de gênero produzidos pelos adolescentes como formulações do desenvolvimento de identidades de gênero mediadas pelos mecanismos sociais inclusos no contexto escolar.

 

MÉTODO

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Amazonas - com o nº CAEE: 34415714.4.0000.5020, com protocolo: 804.189.

Participantes

Participaram 11 adolescentes de uma Escola Pública Estadual de Ensino Fundamental e Médio, da zona sul da cidade de Manaus. Esses estudantes tinham idades de 11 a 19 anos, sendo que sete se autodefiniram do sexo feminino e quatro do sexo masculino. Sete dos participantes eram do ensino fundamental e quatro eram do ensino médio.

Instrumentos

Utilizou-se da observação participante e grupos focais. Foi realizada observação participante por um período de três meses para compreender as relações cotidianas entre os alunos na escola. Os momentos das observações foram especificamente nas aulas de Educação Física, nos intervalos entre as aulas, nos eventos de datas comemorativas e nas salas durante as aulas.

Quanto aos grupos focais, foram realizados em dois momentos, já no final do fechamento do campo, no local denominado "sala multimídia" da própria escola. A dinâmica do grupo se deu por uma técnica quebra gelo e apresentação de um panorama da perspectiva dos adolescentes sobre masculinidade e feminilidade. Nesse momento, seguiu-se com o roteiro-guia, no qual eram realizadas perguntas referentes ao conceito de gênero, performances de gênero e relação entre as performances de gênero.

Procedimentos de coleta e análise dos dados

Os procedimentos se desenvolveram através das seguintes etapas: a) formalização do estudo junto à escola e submissão ao Comitê de Ética; b) construção de dados: apresentação para o corpo técnico da escola os objetivos da pesquisa; c) observação participante e d) planejamento e execução dos grupos focais.

Os participantes dos grupos focais foram selecionados durante a observação participante. A presença dos pesquisadores causou curiosidade entre os alunos e a maioria se dirigiu até os pesquisadores com o desejo de participar da pesquisa, já em menor proporção os pesquisadores realizaram o convite. A seleção aconteceu durante os intervalos entre aulas, durante o horário de recreação e no final das aulas. Para a realização dos grupos focais, os alunos que se dispuseram a participar e os que foram convidados foram liberados pelos professores para participar do grupo, que aconteceu na sala multimídia da escola. Os grupos focais tiveram duração aproximadamente de uma hora.

Todos os participantes assinaram duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o menores de 18 anos de idade apresentaram o Termo de Assentimento Informado Livre e Esclarecido (TAILE), que foi assinado pelos pais ou responsáveis e entregue para a coordenação pedagógica da referida escola.

Os pesquisadores realizaram os registros das situações observadas e/ou experimentadas durante o desenvolvimento da atividade de pesquisa, as percepções de entrevistados, reações comportamentais, afetivas e valorais dos participantes, bem como as análises realizadas durante o grupo. O grupo focal teve o áudio gravado e transcrito. Os dados transcritos apresentaram o discurso dos participantes na íntegra, sem correções ou alterações. Para preservar o sigilo quanto à identidade dos participantes, foram suprimidos o local de realização da pesquisa, bem como os nomes participantes, substituídos por nomes fictícios.

Os dados foram analisados sob a proposta dos Núcleos de Significação para apreensão de sentidos (Aguiar & Ozella, 2006, p. 310). O processo para a construção dos Núcleos de Significação: a) leitura exaustiva das transcrições e dos diários de campo b) articulação de conteúdos semelhantes, complementares e/ou contraditórios; nesse processo é possível verificar as transformações e contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e dos significados, o que possibilita uma análise mais consistente que nos permitirá ir além do aparente e considerar tanto as condições subjetivas quanto as contextuais e históricas.

 

RESULTADOS

Ao se eleger a escola como campo de pesquisa, destaca-se o contexto escolar como local de experimentação social para o adolescente, pois nela surgem exigências e institucionais e relacionais que diferem das vivências do contexto familiar. Logo, faz-se mister destacar a instituição escolar não apenas como um lugar de construção e transmissão de conhecimento, mas também seu papel disciplinador e normalizador no que se refere a padrões sociais que são reforçados e legitimados a partir de relações sócio-políticas inscritas (Neves, Sadala, Silva, Teixeira, Ferreira & Silva, 2015).

Nessa acepção, emergiram seis Núcleos de Significação para apreensão dos sentidos. A saber: "Gênero como termo relativo ao discurso feminista e à diversidade sexual"; "Desconstrução de performances de gênero como possibilidade de respeito à subjetividade"; "Regimes de verdades sobre masculinidade e feminilidade"; Interpretações do feminismo/machismo e os entraves na discussão das relações de gênero"; "Identidade de gênero como construção subjetiva" e "O processo de diversificação das performances de gênero e a transformação das relações entre tais performances".

Gênero como termo relativo ao discurso feminista e à diversidade sexual

Esse núcleo revelou que os adolescentes apresentavam em seus discursos muitas alusões aos direitos obtidos pelas mulheres e pessoas homossexuais, bem como novas representações sobre as masculinidades. Tais conteúdos nos discursos dos estudantes se remetem à história e à evolução das discussões de gênero não só mediante os movimentos de luta política, mas também como uma categoria de análise que considera a processualidade das relações na produção das identidades de gênero, construídas socialmente (Ver Tabela 1).

Ainda que tenha se apresentado a evolução dos estudos de gênero como um dos indicadores desse núcleo, muito se tem a avançar visto que gênero também foi bastante expressado pelos estudantes como sinônimo "de sexo biológico" e "Machos e fêmeas" (Cínara, 18 anos), sendo um caráter exclusivamente biológico (Ver Tabela 1).

Desconstrução de performances de gênero como possibilidade de respeito à subjetividade

No referido núcleo, destaca-se o processo de construção do humano mediante a sua relação com seu contexto e sua realidade. A abordagem utilizada neste estudo compreende o ser humano como um ser ativo, histórico e social, que se constitui pela sua relação com a cultura, sua história e sua realidade. Com isso, não se constituindo de forma passiva, mas por um processo de subjetivação, fazendo-se singular.

A singularidade construída nas relações sociais constitui-se por subjetivações do mundo objetivo, o que revela a complexidade do sujeito em seu processo de construção psicossocial. Entre os indicadores apresentados neste núcleo, dois chamam atenção pela sua dialética: "oposição entre os sexos: necessidade de diferenciação" e "característicasfísicas não definem gênero ou orientação sexual". São produções dialéticas, visto que ao mesmo tempo em que um falam da necessidade de diferenciação, no sentido seguinte observa-se uma fala "que características (diferenças) físicas não definem o gênero ou orientação sexual". Com isso, mesmo havendo necessidade de se diferenciar, não serão as características físicas que irão anunciar essa diferenciação. Dessa forma, as contradições e complementaridades surgem para fundamentar a posição de que a construção de gênero se dá nas relações entre as performances (Ver Tabela 1).

Quanto à identificação da identidade de gênero e a orientação sexual, estas vêm transgredindo discursos biomédicos que afirmam as características sexuais como determinantes de gênero. Como retratado pelo adolescente a seguir:

[...]Bem acho que... Na minha opinião ... esse tipo de coisa não tem nada a ver porque, as vezes existem aquelas pessoas ao qual tem a voz extremamente fina e são héteros e têm aquelas outras que tem a voz extremamente grossa e na verdade são homossexuais, né? então eu acho que não é pela voz que você vai definir o que a pessoa é..."(Apólo, 15 anos).

Ainda nesse núcleo, observou-se também o indicador "incômodo com os julgamentos, que desrespeitam a individualidade e não consideram a subjetividade". A subjetividade seria uma forma particular de agir. Esse indicador apresentou-se em diversos momentos durante a observação participantes e nos grupos focais. No grupo focal 1, apresentou-se de forma mais explícita na seguinte fala:

Às vezes, as pessoas vêm criticar a outra sem saber se aquilo é realmente verdade ou não... mais vêm a pessoa, 'aí o pessoal é isso', mas na verdade ela NÃO É/ela só ouviu a pessoa e já tá falando uma coisa que ela não SABE... da pessoa (Dora,19 anos).

Compreende-se, ainda, mediante os discursos dos alunos, mudanças quanto à representação do masculino, uma representação em que a possibilidade de demonstração de afetos entre performances masculinas esteja presente:

Tem que ser sem vergonha, sem medo... com atitude... (...)e a gente nunca tem vergonha de ser o que é um com o outro, eu falo... mano eu te amo na frente de todo mundo... eu já beijei ele na bochecha, ele me beija na bochecha, que tem muito homem machista que não gosta de fazer isso por medo... eu não tenho medo porque eu sou o que eu sou e não me importo com que os outros pensam de mim com o que vão dizer... (Ian, 16 anos).

Outro indicador deste núcleo foi "novas práticas femininas que permitem uma releitura do início de relacionamentos". O sentido apresentado pelo participante afirma que em alguns casos, quando o processo da conquista começa pela mulher, é possível o surgimento de um relacionamento duradouro e saudável.

Regimes de verdades sobre masculinidades e feminilidades

Neste núcleo, a maioria dos indicadores surge a partir das respostas referentes a perguntas voltadas às performances de gênero nas relações; entre os indicadores encontrados neste núcleo é interessante começar a discutir a importância das relações no sentido atribuído de que "relações fazem o homem civilizado". Este indicador aponta o que o materialismo histórico-dialético afirma ao considerar o homem como ser psicossocial e,portanto, ativo, histórico e social (Ver Tabela 1).

Outro indicador apresentado foi o de que a "relação é constituída a partir da troca de afetos", o que é interessante já que, segundo na perspectiva da Psicologia Sócio-histórica, a troca de afeto necessita da mediação da linguagem que emerge das relações. Com isso, observa-se que não só a relação é constituída a partir de afetos, mas também os afetos são constituídos a partir de relações tendo a linguagem como mediador.

No estabelecimento de relações de gênero, destacam-se três indicadores: 1) Atitude para o início de relações partindo de ambas as performances; 2) Emancipação como exigência para ambos os gêneros e 3) Emancipação como possibilidade de viver relações mais duradouras. Partindo desses indicadores, é possível verificar modos contemporâneos de se pensar em relações de gênero, tanto nos relacionamentos afetivos em que a performances femininas não são apenas passivas, mas também ativas na conquista e no modo de conduzir a relação; emerge a necessidade de posicionamentos, partindo das duas identidades. Logo, as decisões e o modo de conduzir as relações vão precisar ser acordados entre as performances (Ver Tabela 1).

Os indicadores "feminismo e a exigência de fusão entre as performances contemporâneas e as tradicionais do gênero" e "mulher sob os entraves da exigência social e cultural das performances contemporâneas e as tradicionais de gênero" expressam as contradições que surgem, na medida em que, paralelamente à emergência e a força das novas práticas sociais, formas hegemônicas continuam atuantes, não sendo completamente superadas ou apagadas.

Interpretações do feminismo/machismo e os entraves na discussão das relações de gênero

A história dos estudos de gênero começa no movimento feminista, mediante os estudos feministas que se ampliaram e mais atualmente vêm sendo discutidos de forma mais relacional, abarcando masculinidades e diversidade sexual.

Apesar dos avanços e ganhos advindos pela luta do movimento feminista, este tem sido alvo de críticas expressas nos indicadores apontados neste núcleo. Um indicador manifestado foi "entendimento de feministas como mulheres que querem ser iguais aos homens", um discurso desagregado da compreensão de que a luta do feminismo é por igualdade de direitos políticos e econômicos e relações mais harmônicas. Como um movimento diverso, é muitas vezes silenciado pela mídia e por governos.

Com pouco espaço nas discussões externas ao movimento, suas manifestações como a marcha das vadias acabam sendo o único espaço na mídia para as lutas, o que por muitas vezes é retratado de forma pejorativa por jornais e programas em canais abertos. A maioria das críticas é feita por setores tradicionais, tanto pela irreverência como pela exposição do corpo, como citado pela aluna:

"No caso dessa menina que ela citou ai é uma feminista e ela... e as feministas são um movimento que querem realmente ter/ser igual ao homem mas isso (...) não vai existir nunca... elas têm que colocar isso na cabeça, elas vão para uma manifestação sem blusa com o sovaco todo... Cheio de pelo... é muito... elas são muito criticadas por isso..." (Cínara, 18 anos).

Logo, a liberdade do movimento com forma de manifestação ainda choca, e muitas vezes acaba tendo seus objetivos distorcidos, pois as discussões acabam se prendendo às formas de manifestações, não sendo contemplados os reais objetivos, que são a contraposição de valores e representações cristalizadas.

Identidade de gênero como construção subjetiva

O referido núcleo trouxe os indicadores "crianças imitam comportamento dos adultos até certo ponto", "deve-se destacar a subjetividade da criança", "as identidades de gênero são construídas de forma subjetiva nem sempre seguindo modelos repassados" e "performances de gênero como componentes da identidade". A partir destes, é possível observar que os adolescentes vêm significando a identidade como uma construção subjetiva e dinâmica que recebe influência em diversas relações, não só a familiar.

Nos indicadores a seguir, observa-se a importância dada à instituição familiar pelos adolescentes: "há uma culpabilização da família pela identidade de gênero", "a importância da família como primeiras relações" e "performance masculina é atitude nas relações: assumir e dar assistências aos filhos e tratar bem a mulher". De fato, a família como primeira relação com o mundo vai possibilitar grandes identificações, mas que a construção da identidade como forma dinâmica e construída por diversas relações já demonstra que não é determinante (Ver Tabela 1).

O processo de diversificação das performances de gênero e a transformação das relações entre tais performances.

Ao se considerar que a construção do gênero é histórica e se faz incessantemente, entende-se que as relações entre homens e mulheres, os discursos e as representações dessas relações estão em constante mudança. Isso supõe que as identidades de gênero estão continuamente se transformando. Sendo assim, é indispensável admitir que até mesmo as teorias e as práticas feministas - com suas críticas aos discursos sobre gênero e suas propostas de desconstrução - estão construindo gênero.

Entre os indicadores (Tabela 1) encontrados nesse núcleo surgem questões atribuídas às performances femininas, como: "o feminino ainda como de vítima de rotulações em diversos âmbitos" e "Forma de se vestir, companhias e horários ainda como condições que levam rotulações de performances femininas". Que também foi contra-argumentado por uma das participantes:

"[...]Não! Tipo assim... eles saíram falando do horário da forma de se vestir... a gente se veste da forma que gosta... tem menina que só porque ela se veste assim, ela faz aquilo... não é assim... se veste porque gosta... aquela vestiu uma saia pequena é puta... só porque ela veste... não significa que ela seja... e horário também a gente pode estar chegando tarde em casa por estar fazendo outra coisa, né, até mesmo mais importante; aí, 'ah, tá fazendo outra coisa'... 'tava aprontando'... mas nem sabe..." (Vera, 15 anos).

Outro indicador encontrado foi "forma de se vestir, companhias e horários não são indicadores da emancipação feminina". Isso demonstra que novas formas de expressão da feminilidade vem acontecendo, o que possibilita novas performances femininas que se chocam com performances cristalizadas.

 

DISCUSSÃO

O presente estudo buscou compreender os sentidos de relações de gênero produzidos por adolescentes de uma escola pública. Nesse aspecto, o primeiro núcleo de significados para apreensão de sentidos se constituiu mediante a conformação de que gênero é um termo relativo ao discurso feminista e à diversidade sexual. A sistematização dos estudos de gênero, o desenvolvimento das lutas dos movimentos pela diversidade sexual e de gênero e o surgimento de movimentos acadêmicos de estudos das performances masculinas produziram transformações sociais, políticas e culturais que se manifestaram nos hábitos das pessoas, seus cotidianos, suas expressões psicossociais e produziram reconfigurações de conceitos e representações (Brito, 2006; Monteiro, Tolentino, Prado, 2013; Neves, Sadala, Silva, Teixeira, Ferreira & Silva, 2015).

Tal transformação social, histórica e cultural ressaltou-se nos discursos dos estudantes, o que produziu o primeiro núcleo de significação "gênero como termo relativo ao discurso feminista e à diversidade sexual"; não se atendo somente às particularidades ou caracterizações distintas e/ou dicotômicas entre as performances de gênero. As conquistas obtidas por movimentos sociais podem alterar sentidos das pessoas. Vygostky (1991), nesse sentido, enfatizou a origem social da linguagem e do pensamento colocando a cultura como parte do desenvolvimento e as funções psicológicas como produto da atividade cerebral. A transformação social, histórica e cultural acerca dos sentidos das relações de gênero dos adolescentes pesquisados pode ser compreendida como processos psicológicos em movimento, pois os sujeitos, numa perspectiva Sócio-histórica da Psicologia, são entendidos como seres que atuam sobre a realidade por intermédio de instrumentos, transformando-a e a si próprio; o conhecimento deve apreender, a partir do aparente, as determinações constitutivas do objeto; a origem e a base do movimento individual estão nas condições sociais de vida historicamente formadas (Vigotsky, 1991).

Outro aspecto sobre a produção de sentidos sobre relações de gênero apontado pelos adolescentes é a desconstrução de performances de gênero como possibilidade de respeito à subjetividade. No processo de subjetividade, o mundo visto de forma objetiva passa a ser convertido para o subjetivo, produzindo no plano interno incorporações do externo, configurando algo novo. Dessa forma, passa a construir a realidade através de sua forma de atuar sobre ela; o homem objetiva seu mundo singular, ou seja, cria sua subjetividade. Portanto, o social e o individual integram um ao outro sem se diluírem, implicando dizer que há relação de identidade entre o indivíduo e a sociedade e vice-versa (Rosa & Andriani, 2002, p.7).

Ainda a respeito da desconstrução de performances de gênero, apontou-se que a identificação da identidade de gênero e a orientação sexual subvertem discursos biomédicos que afirmam as características sexuais como determinantes de gênero. Louro (1997), nesse aspecto, faz uma crítica a isso afirmando que a escola exerce um papel de perpetuadora de relações desiguais e historicamente constituída, o que inclui as relações de gênero. Chama atenção para a delimitação das múltiplas formas de distinção da escola, que neste caso foi expressa através de julgamentos e críticas.

Nos discursos dos participantes, observou-se também uma busca por autonomia, na medida em que eles já enxergam a necessidade de se interpretar as demonstrações públicas de afeto de forma menos preconceituosa, logo se desconstruindo mais a ideia tradicional de papéis de gênero, em que homens não demonstram sentimento, apenas as mulheres. Quanto a isso, Louro (2003) afirma a necessidade de contraposição a valores que justificam a desigualdade e determinam papeis determinados secularmente.

É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico (Louro, 2003, p. 21).

Em relação ao indicador que constitui o núcleo desconstrução de performances de gênero como possibilidade de respeito à subjetividade, sugere-se uma desconstrução das performances femininas cristalizadas: a exemplo da mulher obediente e passiva, que precisa ser conquistada, pois agora passam a ser vistas como atuantes no jogo de sedução. Logo se destaca uma emancipação feminina. Quanto a isso, Louro (2003) destaca a necessidade da produção de uma nova linguagem, na qual gênero seja uma categoria fundamental e não exatamente os sexos. Essa nova linguagem proporciona novas possibilidades de representação em relações de gênero.

No que tange ao núcleo regimes de verdades sobre masculinidades e feminilidades, foi possível identificar no referido núcleo que orientações de performances heteronormativas convivem hoje com performances desconstruídas de gênero.

Isso porque as atuais manifestações de gênero evidenciam a possibilidade de desconstrução para a libertação das performances de gênero, bem como defendem a assunção de condutas mais cristalizadas. Contribuições como de Connell (1995, p. 189) destacam que na contramão de orientações mais tradicionais, gênero passou a ser visto como uma construção social, ou seja, tem a ver com a dimensão relacional, pois "no gênero, a prática social se dirige aos corpos".

Na Psicologia Sócio-histórica, o ser psicossocial e a sociedade contêm um ao outro sem se diluírem. O externo e o interno são mediados pela linguagem e pelos símbolos que emergem nas relações (Rosa, 2002). Logo, destaca-se a importância das relações, pois é a partir delas que emerge a linguagem como mediador simbólico, que possibilita práticas (afetos, valores, comportamentos) e fenômenos que constroem o sujeito.

Nesse aspecto, práticas e representações conflitantes e contraditórias coexistem, hoje e sempre, e provocam divisões e impasses (Louro 2003). Dessa forma, novas formas de representações femininas sofrem os entraves de práticas tradicionais, que não são totalmente apagadas, mas podem ser discutidas e analisadas de forma crítica para que práticas hegemônicas não sejam vistas de forma naturalizada.

Esses fatos evidenciam a necessidade de mais espaços e liberdade para discussões sobre gênero, tanto nas escolas quanto em outros setores. Para que lutas feministas sejam evidenciadas e representações cristalizadas sejam repensadas. E dessa forma, recuperando-se a atuação da mulher como sujeitos ativos, de modo que as imagens de passividade, ociosidade e confinamento ao lar sejam questionadas, descortinadas (Matos, 2013).

No que se refere ao núcleo identidade de gênero como construção subjetiva, destaca-se que antes de discutir esse núcleo, é importante salientar o conceito de identidade de gênero que, segundo Louro (2003), é um termo que, assim como o gênero, nos Estudos Feministas e nos estudos Culturais, está sempre sendo construída, não é dada ou acabada em determinado momento. O conceito adotado aqui compreende os sujeitos como tendo identidades múltiplas, identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias (Louro, 1997, p. 24).

Segundo Louro (2003), os sujeitos na escola estão continuamente se construindo e se transformando no âmbito das relações sociais, atravessados por diferentes discursos, símbolos, representações e práticas e, a partir delas, masculinidades e feminilidades estão se arranjando e desarranjando, encontrando seus lugares sociais, disposições e formas de ser e estar no mundo.

Identifica-se o caráter dialético da identidade de gênero. O caráter individual da construção da identidade é evidenciado pelas redes de significações, ou seja, a rede de relações que o indivíduo estabelece possibilita a construção de diferentes significados percebidos de maneira subjetiva sobre a realidade objetiva.

Stearns (2007) destaca uma grande variedade de definições de feminilidade e masculinidade e como elas se relacionam com o funcionamento das sociedades, não apenas na vida familiar, mas também de instituições políticas e econômicas. Logo, a construção de performances de gênero e as relações vão passar também pela influência de várias instituições, daí também o seu caráter múltiplo e descentralizado.

Por fim, a evolução dos estudos sobre gênero e o desenvolvimento do movimento feminista possibilitaram grandes transformações sociais e políticas que aconteceram no mundo ocidental e vêm se ampliando no Brasil. A aquisição de direitos políticos, entrada da mulher no mercado de trabalho e maior participação política e financeira feminina trouxeram muitas transformações nas vivências das performances de gênero.

Anos de movimento e lutas proporcionaram o surgimento de leis como a Lei Maria da Penha - Lei 11304 de 2006, a ampliação da licença maternidade, o direito à amamentação para trabalhadoras, dentre outros, que provocaram desconstruções e reconstruções nos sentidos de ser mulher e de ser homem. Essas transformações possibilitam a construção de sentidos de gênero e performances de gênero mais emancipatórias, que dividem espaços com valores tradicionais, mais cristalizados, sobre os papéis de gênero. Logo, a construção de gênero se faz por meio da desconstrução (de Lauretis, apud Louro, 2003).

Atividades de pesquisa são importantes mecanismos para o fomento de discussões sobre relações de gênero na escola. Os sentidos produzidos por adolescentes, neste estudo, possibilitaram inúmeras reflexões e, a partir destas, foi possível identificar contradições presentes em nossa linguagem, resultante de valores construídos por processos de subjetivação, possibilitados pelas diversas relações que estabelecemos e pelos vários discursos que compartilhamos na história, no contexto social e na cultura.

Os sentidos de "ser homem" e "ser mulher" foram discutidos e compartilhados a partir de vivências reais. E, ainda, a discordância possibilitou transformações de sentidos e possibilidade de novas formas de pensar em relações de gênero.

Os resultados mostram, ainda, sentidos de relação de gênero que revelam que nas relações contemporâneas buscam-se vivências satisfatórias em meio à necessidade de reflexão, que os fazem sincronizar performances tanto tradicionais quanto desconstruídas de gênero à procura de um sentido de relação que definam seus relacionamentos.

Considera-se, nesse aspecto, que em suas relações os adolescentes buscam por emancipação de ambas as performances, que são destacadas nos aspectos: profissionais, emocionais e individuais. Nas performances tradicionais manifestadas, observa-se a cobrança de performances femininas em contradição, visto que se exige emancipação feminina, com posições e pontos de vistas próprios, mas também enquadramento em estereótipos de gênero como: ser delicada e passiva na conquista, enquanto nas performances masculinas, observou-se a emancipação como aspecto fundamental no campo afetivo e profissional. Os adolescentes destacaram também a importância das relações familiares tanto na orientação sexual como na identidade de gênero.

Dessa forma, observa-se a necessidade de enfrentamento frente à "onda" conservadora e política que difamam às políticas de gênero e sexualidade na escola, lutar pelo fortalecimento das políticas já conquistadas e fomentar discussões sobre o assunto, possibilitando o estabelecimento de relações mais reflexivas, harmônicas e libertárias sobre relações de gênero.

 

REFERÊNCIAS

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Kelly Pereira Uchoa é graduanda de Psicologia na Universidade Federal do Amazonas, pesquisadora do grupo de pesquisa Subjetividades, povos amazônicos e processos de desenvolvimento humano, da Universidade Federal do Amazonas, Amazonas, AM, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4826-8255 E-mail kellyp.uchoa@gmail.com
Fabiane Aguiar Silva é Psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Desenvolvimento Humano. Pesquisadora do grupo de pesquisa Subjetividades, povos amazônicos e processos de desenvolvimento humano, da Universidade Federal do Amazonas, Amazonas, AM, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2858-5330
E-mail: fabianeaguiarpsi@hotmail.com
André Luiz Machado das Neves é doutorando em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas. Universidade Federal do Amazonas, Amazonas, AM, Brasil. Professor da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas, Pesquisador do Núcleo de Estudos Psicossociais sobre Direitos Humanos e Saúde.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7400-7596
E-mail: andre_machadostm@hotmail.com
Iolete Ribeiro da Silva é doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é Professora Associada da Universidade Federal do Amazonas, Diretora da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas. Universidade Federal do Amazonas, Faculdade de Psicologia, Amazonas, AM, Brasil. Atua no programa de pós-graduação em Psicologia e programa de pós-graduação em Educação da UFAM. É coordenadora do grupo de pesquisa Subjetividades, povos amazônicos e processos de desenvolvimento humano, da Universidade Federal do Amazonas.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9416-6866
E-mail: iolete.silva@gmail.com.

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