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Revista da ABOP

versão impressa ISSN 1414-8889

Rev. ABOP v.2 n.1 Porto Alegre  1998

 

 

Perspectiva experiencial da indecisão vocacional em adolescentes

 

Experiential Perspective of Vocational Indecision in Adolescents

 

 

Mauro de Oliveira MagalhãesI 3; Maria Célia P. LassanceII 4; William B. GomesII 5

I Universidade Luterana do Brasil
II Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Instituto de Psicologia

 

 


RESUMO

Entrevistou-se seis homens e seis mulheres, com idades entre 17 e 20 anos, clientes do Serviço de Orientação Vocacional da UFRGS, sobre a experiência de escolha profissional. As entrevistas semi-estruturadas abordaram autoconceito, estilos de tomada de decisão e comportamento exploratório vocacional. Os relatos obtidos foram pontuados através das três etapas do método fenomenológico: descrição, redução e interpretação. A descrição apresenta a experiência de escolha profissional em forma de categorias: exploração de autoconceito, perspectivas de projeto de vida, modos de envolvimento no processo de decisão, e influências familiares. A redução contrasta a experiência de decisão com a experiência de indecisão vocacional. A interpretação define a indecisão como uma indisponibilidade atitudinal para o comportamento de exploração vocacional, em um contexto marcado por dificuldades afetivo-emocional (problemas nas relações familiares e interpessoais). Em contraste, define a decisão como um envolvimento ativo em tarefas exploratórias, no qual destaca-se uma autonomia para tomada de decisões, efetivada em um planejamento de carreira.

Palavras-chave: Indecisão vocacional, Adolescência, Fenomenologia.


ABSTRACT

This study interviewed six males and six females, ranging in age from 17 to 20, about their experience of vocational decision-making. All of them were clients of UFRGS Vocational Counseling Service. The interview topics included themes such as self-concepts, decision-making styles, and vocational exploratory behavior. The reports obtained were punctuated by the three steps of the semiotic phenomenological method: description, reduction, and interpretation. The description presents the experience of decision-making in categories such as self-concept exploration, commitment to the decision-making task, life projects, and the labor market. The reduction contrasts the experience of vocational decision and indecision. The interpretation defines indecision as an attitudinal indisposition for exploratory behavior in a personal context of affective difficulties. In contrast, it defines the vocational decision as active exploratory behavior guided by an autonomy for decision-making that becomes effective career planning.

Keywords: Vocational Indecision, Adolescent, Phenomenology.


 

 

A pesquisa e a teoria em psicologia vocacional fundamentam-se, predominantemente, em modelos de desenvolvimento de carreira e em abordagens sócio-cognitivas. Os modelos de desenvolvimento de carreira entendem que as decisões envolvidas na seleção de uma ocupação constituem um processo contínuo que começa na infância e termina nos primeiros anos da vida adulta (Crites, 1974). As abordagens sócio-cognitivas preocupam-se com as habilidades e atitudes envolvidas no processo de tomada de decisão (Osipow, 1990).

O modelo de desenvolvimento vocacional que alcançou maior proeminência foi proposto por Super (1942, 1957). Neste modelo, ao escolher uma ocupação, o indivíduo busca implementar seu conceito de si mesmo, e ao estabelecer-se ocupacionalmente alcança a realização do seu auto-conceito. Em contraste, os modelos sócios-cognitivos procuram descrever como indivíduos ao tomarem uma decisão processam as informações e chegam a conclusões.

Harren (1979) propôs o aproveitamento integrado dos modelos de desenvolvimento e dos modelos sócio-cognitivos para uma melhor compreensão e aconselhamento vocacional. O autor argumentou que os modelos de desenvolvimento focalizam as características do indivíduo que decide e as tarefas que confronta em cada estágio ou período da vida. Embora abrangentes, estes modelos negligenciam a mediação psicológica envolvida no desempenho das tarefas de desenvolvimento. Já os sócio-cognitivos falham em especificar como este processo varia dependendo do tipo de decisão, do estilo de personalidade e do nível de maturidade do sujeito. Harren (1979) sugeriu, então, que a tomada de decisão de carreira deva ser considerada no contexto do desenvolvi­mento vocacional.

Nesta mesma linha de argumentação, Philips e Strohmer (1983) mostraram que a tomada de decisão e o desenvolvimento de carreira são processos que produzem variações recíprocas em seus fatores componentes. Neste sentido, Blustein (1987) utilizou constructos sócio-cognitivos na pesquisa sobre o autoconceito no desenvolvimento de carreira. As dimensões de autoconceito denominadas estabilidade, auto-conhecimento e consistência (Super, 1963) foram operacionalizadas através dos constructos auto-monitoração (Snyder, 1974) e locação de identidade (Sampson, 1978). Os achados indicaram que uma auto-monitoração baixa e uma locação de identidade interna estão relacionadas a progressos no desenvolvimento vocacional.

O desenvolvimento vocacional caracteriza-se por comportamentos exploratórios, ou seja, pela busca de informações ocupacionais sobre o próprio sujeito ou o ambiente. As pesquisas sobre comportamento exploratório vocacional identificaram um conjunto de fatores intrapessoais que estão presentes na exploração de carreira (Blustein, 1989). São eles: orientação motivacional intrínseca (Blustein & Philips, 1988), saliência do papel do trabalho (Sugalski & Greenhaus, 1986), e coerente identidade de ego (Blustein, Devenis & Kidney, 1989). Ademais, os achados de Blustein e Philips (1988) mostraram que estilos de tomada de decisão orientados para o pensamento sistemático produzem maior quantidade de comportamento exploratório.

A relação entre desenvolvimento da personalidade e decisão vocacional também recebeu atenção dos pesquisadores. A referência teórica para estas pesquisas foi a psicologia do "self" de Kohut (1988). A teoria diz que o desenvolvimento de metas e valores coerentes é pré-requisito para a formação de um "self" integrado e coesivo. Na verdade, as pesquisas confirmaram que indivíduos possuidores de metas definidas e estáveis demonstram maior iniciativa e capacidade de engajar-se em comportamentos exploratórios vocacionais (Robbins & Tucker, 1986). Confirmaram, também, que crenças de auto-eficiência sobre tomada de decisão de carreira e, em menor intensidade, a direcionalidade de meta dos sujeitos, estão associadas à exploração do ambiente e de si mesmos (Blustein, 1989).

Em contraste, os indivíduos indecisos foram descritos como ansiosos (Kimes & Troth, 1974; Walsh & Lewis, 1972), dependentes (Ashby, Wall & Osipow, 1966), com baixa auto-estima (Barrett & Tinsley, 1977; Marr, 1965; Resnick, Fauble & Osipow, 1970), mais dogmáticos (Maier & Herman, 1974) e com menores médias de pontos nas avaliações escolares (Lunneborg, 1976). O estudo de Taylor (1982) alertou para a heterogeneidade de contextos de indecisão. Neste sentido, pesquisas recentes concentraram-se na diferenciação de estilos de indecisão vocacional (Lucas & Epperson, 1990; McAuliffe, 1991). Outros estudos indicaram que estratégias racionais e sistemáticas para tomar decisões estavam associadas ao progresso na decisão vocacional (Harren, Kass, Tinsley & Moreland, 1978; Lunneborg, 1978; Osipow & Reed, 1985).

Estes achados influenciaram fortemente a prática do aconselhamento vocacional. Por exemplo, um roteiro típico do processo de aconselhamento propõe conduzir os sujeitos a uma formulação lógica do problema de escolha, à coleta e seleção das informações e, por fim, à decisão e ação racional (e.g.,Olson, McWhirter & Hora, 1989). No entanto, Arroba (1977) alertou que estilos de decisão intuitivos possuem uma lógica própria, distinta dos métodos racionais de tomada de decisão. Por sua vez, Super (1985) insistiu na necessidade de empregarem-se métodos de pesquisa compreensivos em desenvolvimento vocacional. Para Super (1985) a nova fronteira da pesquisa sobre o comportamento vocacional estaria em métodos que valorizassem a perspectiva experiencial.

Todavia, observa-se, no panorama geral da literatura sobre comportamento vocacional, a flagrante hegemonia de abordagens que enfatizam os processos cognitivos responsáveis pelo encaminhamento das questões vocacionais dos indivíduos. Existe, portanto, uma carência de atenção sobre os componentes afetivos que permeiam tais processos (Super, 1985). A influência destes aspectos em estilos de tomada de decisão é restrita a sua inclusão dentro de polaridades estilísticas do tipo pensamento-sentimento (Blustein & Philips, 1988). Mesmo consideradas dentro de um contínuo, não se pode negar o caráter dicotômico deste tipo de formulação, que não considera a infinidade de combinações possíveis entre estas duas dimensões interdependentes. É claro que a restrição de variações sutis é uma limitação inerente a qualquer tipologia. Porém, são escassos os estudos que persigam um entendimento mais detalhado destas possibilidades. Talvez isto se deva ao fato de que os modelos de tomada de decisão e seus respectivos instrumentos de acesso sejam teoricamente derivados a priori, utilizando critérios de validade estatística. Observa-se, portanto, a falta de trabalhos que explorem o processo de tomada de decisão vocacional desde sua base empírica fundamental, que é a experiência vivida dos sujeitos.

O presente trabalho concentra-se na exploração da perspectiva experiencial do processo de decisão vocacional, particularmente o fenômeno conhecido como indecisão vocacional. Por indecisão vocacional entende-se a dificuldade com que o jovem se defronta na escolha de um curso universitário, após completado o Segundo Grau. Por perspectiva experiencial entende-se a descrição que o jovem oferece de sua situação, do modo como a vivência naquele momento. A pesquisa propõe-se identificar e descrever: 1) núcleos contextuais e pessoais enquanto fatores virtuais de indecisão; e 2) variação de estilos de decisão vocacional.

 

Método

Delineamento

A proposta metodológica é trazer a percepção da experiência de decisão e de indecisão vocacional. Para tanto, foi utilizado o método fenomenológico, seguindo-se a tradição representada por Giorgi (1975), Gomes (1987) e Lanigan (1972). O método fenomenológico caracteriza-se por um movimento progressivo, sistêmico e sistemático de passos reflexivos. Este movimento investigativo parte da experiência vivida dos sujeitos, tomada como uma experiência pré-científica do mundo. A experiência passa por um processo de análise e síntese de acordo com o critério de suspensão da pressuposições dos pesquisadores. A seguir, é transformada, cientificamente, numa interpretação sustentada pelo diálogo entre ciência pré-estabelecida (hipóteses e referências teóricas) e pré-ciência (mundo vivido pelos sujeitos). Na prática, os passos reflexivos são conhecidos como descrição, redução e interpretação. Note-se, contudo, que cada uma das etapas reflexivas subentende a totalidade das três reflexões. Estes passos são definidos e exemplificados no decorrer da exposição da pesquisa.

Sujeitos

Participaram do estudo 12 indivíduos, seis do sexo masculino e seis do sexo feminino, com idade entre 17 e 20 anos, que estavam sendo atendidos pelo Serviço de Orientação Profissional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Instrumento/Procedimento

O instrumento constitui-se de um roteiro tópico para entrevistas individuais. A construção deste instrumento foi precedida e fundamen­tada nos seguintes aspectos: literatura; observação das atividades desenvolvidas no Serviço de Orientação Profissional da UFRGS (o pesquisador acompanhou como observador o atendimento de um grupo de adolescentes pré-vestibulandos); entrevista com profissionais e membros da equipe do Serviço de Orientação Profissional da UFRGS; e entrevistas piloto com adolescentes pré-vestibulandos. O protocolo formal da entrevista constituiu-se de perguntas-chave que abordavam os temas de experiência vocacional focalizados pela pesquisa (Anexo A). As perguntas foram enumeradas em uma ordem ideal. A aplicação do roteiro de entrevista teve uma duração média de 75 minutos. As entrevistas foram gravadas em audioteipe.

Na prática, as primeiras perguntas da entrevista iniciavam uma conversa informal que propiciava uma narrativa espontânea por parte do entrevistado. As intervenções do pesquisador respeitavam o encadeamento do discurso dos sujeitos e ocorreram de modo específico em cada caso. As temáticas emergentes conduziram, naturalmente, aos itens do roteiro. O pesquisador intervinha através da solicitação de esclarecimentos adicionais e através da pontuação de contrastes entre aspectos da narrativa. Este procedimento permitiu a manifestação de conteúdos experienciais não previstos a priori, mas que se mostraram relevantes na experiência consciente dos sujeitos. E deste modo, conferiu um caráter clínico à entrevista. Sendo assim, o diálogo de entrevista não foi restrito ao roteiro pré-estabelecido, mas expandiu-se conforme o fluxo do discurso dos sujeitos.

 

Resultados

A série de depoimentos obtidos através das entrevistas foram transcritas literalmente em sua linguagem original para um editor de textos. Os depoimentos foram numerados e os sujeitos identificados por códigos SM e SF, de acordo com o sexo. Por exemplo, a terceira entrevista, realizada com um indivíduo do sexo feminino, recebeu o código SF3. Os depoimentos foram organizados com o auxílio de um software que possibilitou a numeração das linhas do texto, reservando um espaço longitudinal à direita da página para as anotações de análise.

Os procedimentos de análise foram orientados pelos três passos que constituem a reflexividade fenomenológica: descrição, redução e interpretação. Desta forma, as transcrições literais das entrevistas constituíram a descrição da experiência de escolha vocacional. O roteiro tópico facilitou a recorrência de âmbitos experienciais similares nos depoimentos coletados. Porém, o aparecimento desta convergência temática ocorreu em diversos momentos do discurso, alheios a qualquer referência aos estímulos diretivos do pesquisador. Sendo assim, os tópicos do roteiro apenas focalizaram a atenção dos sujeitos para aspectos já emergentes de suas narrativas, visando explorá-los mais detalhadamente. O excerto a seguir é um recorte dos momentos iniciais de um depoimento:

Pesq.: "Tu disseste jornalismo, como era isto?"
SF3: "Eu era apaixonada, é que eu gosto muito de escrever e de ler, e também de aparecer em televisão, estas coisas assim. Então é assim, tem um monte de coisa, eu fiz um curso de manequim, já, que tem este contato com o público né?!, gostei, adorei um monte; aí eu fiz um curso de dicção e oratória que também é de falar em público, adorei um montão também; pessoalmente eu sou uma pessoa que falo, me solto bem, não tenho vergonha; sou super extrovertida, e eu acho isto bom e acho que o jornalismo fecha com isto. Eu só desisti do jornalismo por causa do dinheiro". (120-35)

Tomando-se este excerto como uma descrição, pode-se identificar temas tais como: manifestações espontâneas de autoconceito e a tradução destas auto-descrições em termos de uma opção vocacional; um envolvimento ativo do sujeito na exploração de suas características pessoais, através de comportamentos conseqüentes à necessidade de coletar dados relevantes vocacionalmente; e por fim, a interferência da rentabilidade profissional como fator crítico na definição de carreira a seguir. Note-se que estas categorias temáticas estavam previstas no roteiro de entrevista, embora ainda não abordadas por intervenções do entrevistador. Deste modo, pode-se evidenciar a autenticidade destas unidades de significado pois são recorrentes durante esta entrevista específica e nas demais entrevistas, independentes das proposições definidas pelo roteiro pré-estabelecido pelo pesquisador. Esta recorrência facilitou o processo de redução fenomenológica do conjunto de narrativas a seus componentes essenciais. Neste processo, os relatos são reduzidos as suas partes essenciais e transformados numa descrição mais precisa do fenômeno. A redução especificou as seguintes categorias analíticas: 1) alteridade, 2) autoconceito, 3) família, 4) grupo de pares, 5) projeto de vida, 6) a tarefa de decisão, 7) mercado de trabalho, 8) auto-estima, 9) decisão e insight motivacional. Estas categorias não são excludentes, mas inter-relacionadas. O entendimento de uma categoria pode ser facilitado e enriquecido pela exposição de sua interdependência com outras categorias.

Antes de iniciar a descrição das categorias indicadas acima, um esclarecimento metodológico se faz necessário. As definições das categorias constituem o plano descritivo da pesquisa. No entanto, esclareça-se, é uma descrição para o leitor, que neste momento encontra-se pela primeira vez com este conjunto de informações. Para os pesquisadores, trata-se, no entanto, de uma interpretação. Explica-se. É uma descrição para quem lê, por tratar-se de uma apresentação abrangente da experiência de quem está vivendo a situação de escolher uma profissão. É o primeiro contato do leitor com um conjunto enorme de relatos que em sua totalidade pertence unicamente ao pesquisador. No entanto, o pesquisador procurou entendê-los na perspectiva de quem os disse, esforçando-se para minimizar o seu viés interpretativo. Mesmo assim, esta descrição é uma construção do pesquisador que demarcou os temas e os apresenta em forma de narrativa sustentada por exemplos por ele selecionados. Portanto, houve um procedimento de redução (escolhas) e encadeamento (interpretação). A veracidade do texto descritivo é a questão emergente. Pergunta-se: como posso afirmar que esta síntese é representativa? Esta pergunta é válida para qualquer pesquisa desde que o sentido, em toda investigação, é constituido de ausências e presenças. A tarefa do leitor é verificar a consistência da descrição e confrontá-la, posteriormente, com a redução e interpretação. Este cuidado dará legitimidade ao que está presente. Com relação às ausências, nesta e em qualquer pesquisa, resolve-se com a replicação.

 

Descrição Fenomenológica

Alteridade

O tema alteridade apareceu espontaneamente no discurso daqueles indivíduos mais próximos de uma definição vocacional. Os indivíduos que se intitulavam completamente indecisos ou demonstravam recursos pobres para decidir, reagiam com dificuldade à pergunta: "Como você se diferencia das outras pessoas?"

Sujeitos mais "decididos" faziam referências ao grupo de pares ou de familiares como um recurso para a orientação na realidade. As mesmas referências serviam para a construção expectativas de adequação pessoal às exigências de papéis profissionais. Estes indivíduos percebiam diferenças interpessoais enquanto expressões de diferentes potencialidades vocacionais. Por exemplo:

SF6: "Até pelas minhas amigas eu ia me guiando, pelas coisas que elas iam fazer. (...) Ela tem, ela argumenta, ela gosta de organizar, tem liderança ..., tem um jeito especial para isto, eu acho que eu já não sou muito." (83-90; 686-91)

No outro extremo, ocorreu a neutralização de diferenças interpessoais enquanto recurso para autodefinição vocacional. Isto aparece em expressões do tipo: "Engraçado, nunca pensei nisto, não me acho diferente dos outros" (SM4, 180-81).

Em um caso específico (SM9), o sujeito refere a necessidade de buscar sua individualidade, o seu espaço próprio nas relações interpessoais que estabelece. Porém, embora declare vivenciar sua singularidade, relata sua extrema dificuldade em assumir uma posição personalizada e coerente com os seus sentimentos. Em conseqüência, nega seus sentimentos para corresponder às expectativas externas.

SM9: "Eu tenho sentimento do que eu sou. Muitas vezes eu sou..., quer dizer, poucas vezes eu sou eu. E muitas vezes não; a maioria das vezes não. Justamente aí é que surge a dificuldade de eu me centralizar né?!, identificar alguma coisa. Analisando este ponto de vista o que eu vou poder fazer..., eu estou dizendo 'B', a pessoa diz 'A' e eu vou começar a dizer 'A', aí ela diz 'C', aí eu acho 'C', como eu vou me centralizar em alguma coisa, se estou querendo fazer tudo que as pessoas querem." (752-60)

Este excerto evidencia uma característica de dependência nas relações interpessoais e uma dificuldade de estabelecer os limites necessários a uma percepção integral da alteridade. Diante da pergunta: "Você se sente diferente das outras pessoas?", responde com a seguinte argumentação que, ao final, ratifica seu sentimento de inautenticidade pessoal:

SM9: "Sim, eu me sinto um ser acima... não é que eu busque me colocar acima, é que é mais adequado me colocar acima. Sabe como é...? rebaixando os outros... eu não aceito o sucesso de ninguém. Por isto que eu acho que eu sou diferente; não é que eu penso que eu sou diferente. ... Eu não dou espaço para pegar e ser alguém."(820-40)

A última frase deste excerto expõe o bloqueio à exploração de autoconceito, que é examinado na próxima categoria temática.

Autoconceito

O discurso de sujeitos mais "decididos" trazia auto-descrições espontâneas que avaliavam alternativas profissionais como adequadas ou inadequadas para si mesmos. Por exemplo:"...sou uma pessoa que falo, me solto bem, não tenho vergonha; sou super extrovertida ... e acho que o jornalismo fecha com isto"(SF3, 130-33). Estes indivíduos, diante da pergunta: "Que tipo de pessoa você é?", imediatamente respondem com um relato descritivo de suas particularidades pessoais: "Assim tipo responsável, sincera, não gosto de prejudicar as pessoas,..., mas também sou meio egoísta, meio fresca, ...insegura com algumas coisas, sou tímida..."(SF6, 758-769).

Por outro lado, o discurso de sujeitos com maior grau de indecisão mostrava-se em aspectos de recusa, retraimento ou dificuldade para a exploração de autoconceito. A recusa aparece em declarações como: "Este é o tipo de pergunta que eu não respondo, ... eu não me defino"(SM11, 591-592). Um aspecto de retraimento, ou mesmo de indiferença, aparece em declarações como a seguinte: "Não sei, nunca parei para pensar quem eu sou"(SF2, 134-35). E finalmente, a dificuldade para explorar autoconceito é expressa nos excertos seguintes:

SM9: "Existe o R., eu sei disso..., e eu admiro este R., só que ele está difícil de surgir, de eu pegar e me ter - ser o R". (719-23)
SF12: "Prá ti ver como eu sou. Eu nem sei decidir quem eu sou". (726-34)

Os relacionamentos no grupo familiar servem de referência à percepção de alteridade e exploração de autoconceito. Note os exemplos seguintes.

SF1: "Porque ela(mãe) sempre acompanha a nossa vida escolar, então ela sempre diz, e realmente vejo que gosto bastante de matemática, ela diz que pelo meu jeito assim..., que a gente fala bastante que a minha outra irmã, ... a mãe disse que ela tinha bastante jeito para a área das humanas né, para tratar com as pessoas, daí ela disse que eu era mais para o lado das exatas, ela me diz assim pelo meu jeito de ser, pelo que ela me conhece".(315-30)
SF12:"Eu pergunto para ela(mãe) se eu tenho jeito para Arquitetura, ela diz 'não sei, tu não é muito detalhista, és tão diferente da tua irmã'. Minha irmã adora se arrumar, adora as coisas bonitinhas, no lugarzinho, ... ela é organizada. Eu sou uma pessoa meio..., eu adoro tênis, uso calça de brim suja, roupas bem velhas, gosto de me arrumar, mas para o colégio vou bem chinelona, minha irmã é toda arrumadinha. Ela tem mais jeito para arquitetura do que eu. ... Eu acho que minha mãe tem razão, não gosto muito dessas coisas". (738-61)

Em ambos os casos, são sujeitos do sexo feminino que elaboram autoconceitos vocacionais sob supervisão da mãe e, por contraponto, às opções e tendências vocacionais percebidas nas irmãs mais velhas. No entanto, em ambos os casos, a preferência vocacional comumente almejada pela dupla de irmãs, é abandonada pelo sujeito, que "perde o interesse" e busca outras opções.

SF12: "Desde pequeninha eu quero Medicina Veterinária, quero cuidar de bichos. Oitava série eu começava a ver, minha irmã também quer Veterinária, começei a ver que não era bem o que eu queria. Não sei. (...) Perdi o interesse de tanto ela falar em Veterinária, começei a pensar em outras coisas". (78-86, 140-50)

Neste último excerto, a formulação do autoconceito apresenta oscilações, isto é, elaborações contraditórias em diferentes momentos da narrativa. O sujeito (SF12) em dado momento (745-49, 239-241) refere ser uma pessoa "largada, atirada, que usa roupas velhas e sujas", ao contrário do comportamento considerado típico da irmã, que é "toda arrumadinha". Em outro segmento diz: "Não sou tão largada, só a minha irmã que se arruma toda. Não sou aquela pessoa que anda rasgada, grunge assim..."(968-76). Após outras oscilações no seu discurso, a partir de uma intervenção do entrevistador, o sujeito diz: "Prá ti ver como eu sou. Eu nem sei decidir como é que eu sou. Sempre quando penso outra coisa diferente eu pergunto: Mãe, será que eu tenho jeito para Medicina? A mãe diz que tenho, ela me conhece mais do que eu mesmo. Aí não consigo me definir"(726-34).

Família

O tema das relações familiares é freqüente no decorrer dos depoimentos coletados. Todos os sujeitos fizeram referências à família como fonte de informações, valores, exemplos de vida profissional, influências na construção de projetos de vida, opiniões formadoras de autoconceito, aspectos de identificação para exploração de autoconceito; e, raramente, enquanto relações de intromissão improdutiva para a solução de questões vocacionais. As influências familiares evidenciam-se de maneira desigual entre os sujeitos.

SF1: "Eu não sei, eu acho que isso é até influência da mãe que sempre me disse que eu era mais pra área das exatas, então eu não sei se isto é influência dela". (271-5)
SF6: "Mas assim, sei lá, as opiniões que eles me davam meio que me induziram para esta parte assim". (546-8)
SF3: "O que eu gosto é que ninguém fica dizendo tu tem que fazer isto ou aquilo, tem que fazer Direito, tem que fazer Odonto, ...desde que eu faça o que eu goste. Eu que decido". (532-6)
Pesq.: Em geral tu não conversas muito sobre isto?
SF7: É. Só uma profissão, nem a minha mãe diz nada, não me ajuda assim... Ela diz: 'Faz o que tu quiser'". (160-3)

A presença ou ausência da fala dos familiares tem uma ressonância evidente nas auto descrições. Exemplo:

Pesq.: Que tipo de pessoa você se considera?
SF2: Ah!, minha mãe fala um monte!" (119-21).

No depoimento de SF12, um aspecto de autoconceito é inicialmente apresentado como uma autopercepção do sujeito. Em segmento posterior, surge como uma opinião da mãe.

SF12: "É que a minha prima é diferente, toda cheia de detalhes... eu não sou assim, pra mim tudo é muito atirado".(234-40)
SF12: "Quando eu disse que ia tirar Arquitetura ela(a mãe) disse: Tu!, com esse teu jeito atirado!".(352-4)

É importante salientar que o compartilhar de questões vocacionais ocorrem, primordialmente, no grupo familiar.

SF12: "'Mãe!, eu quero fazer Medicina; o que tu acha?', me dá o maior apoio, vamos começar a estudar por que Medicina é dose. A mãe dá o maior apoio, ela queria tirar Medicina, mas acabou não tirando por que ela viajou, ela me dá o maior apoio, tenho tia dermatologista. Ela fala... quando eu disse que ia fazer Arquitetura, ela disse: 'tu com esse teu jeito atirado!' - 'Será mãe que eu não tenho jeito para Arquitetura'. Ela disse que achava que não. Sou super influenciável, as pessoas ficam falando, eu penso:'Será que que elas têm razão?', e eu acabei desistindo. É isso".(345-60)
SF6: "Meu pai sempre teve um sonho de ter uma filha médica..., acho que meio me induziram para esta parte".(540-8)

Em contraste, ocorreram também narrativas nas quais o contexto familiar ocasionou conflitos e frustrações.

SM5: "Quando sento para estudar mesmo, tem este monte de negócio da família, meu pai tem problema de saúde, é meio psicológico também, pelo que o médico conversou com a gente ele tem velhice precoce. ... Ele sempre trabalhou muito... e hoje a gente sabe que ele vai para onde o vento mandar. ... Acho que isto tem muito a parte sentimental. Eu sempre tento, queria ficar por lá, dar uma força. Mas eu fico todo esculhambado lá, acabo até discutindo muitas vezes".(275-98)
SF1: "Quando dá estes conflitos em casa e eu fico louca para sair de casa por que não quero mais morar aqui".(795-8)
SM10: "Tinha necessidade que eles me dessem mais... tipo assim: em primeiro lugar - sinto muita falta do meu pai, mesmo sem tê-lo conhecido bastante, acho que ele, mesmo assim, é um espelho. Ele é forte para mim. Minha mãe e meu irmão têm sua importância, mas sinto muito forte ... o meu pai, mesmo sem que... tipo assim com cinco anos, hoje tenho dezessete. Muito pouco lembro do meu pai. O pouco é bastante grande".(447-59)

Também ocorrem recusas para discutir questões vocacionais com familiares e outras pessoas. Em relação à familia, SM9 refere: "Eu não dou margem, se eles falarem eu começo a deslanchar coisas, pra mostrar que eu sei o que estou fazendo. Eu acho que eles têm experiência, mas eu não dou valor para a experiência deles"(446-66). E em relação aos seus relacionamentos cotidianos disse que: "entra o nível de orgulho, eu não posso mostrar que eu não estou definido e que não sei que vou fazer; não posso ser vulnerável... eu tenho que mostrar que sei o que estou fazendo"(415-23). Este último excerto introduz a categoria temática a seguir.

Grupo de pares e decisão vocacional

O relacionamento no grupo de pares é objeto de algumas considerações por parte dos entrevistados. O grupo de pares constitui-se de indivíduos da mesma faixa etária, sobre a qual recai a expectativa sócio-cultural de definir uma opção de curso universitário às vésperas do vestibular. É de especial interesse o fato de que indivíduos mais "decididos" referem conversar com amigos sobre questões vocacionais e obterem subsídios na forma de opiniões, do compartilhar de experiências pessoais e de informações.

SF6: "A C. veio outro dia: 'L. tu tem que ser psicóloga,... tu entende muito bem as pessoas e esta dando sempre o conselho certo’".(448-51)
SM11: "Tu pega a experiência do outro, troca experiência. Tu vai com aquilo que cabe dentro da tua vida, dentro das tuas coisas, vai acumulando".(606-10)

Por outro lado, sujeitos mais "indecisos" referem não obter qualquer proveito concreto destas relações, seja por aspectos de competitividade(SF2), rechaço(SM9), sentirem-se mais confusos(SF12, 382-5; SF2), ou pelo fato do grupo não oferecer recursos para reflexões vocacionais(SF1).

SF2: "É mais competitividade né! ... Tu diz: 'Vou fazer Arquitetura' - Ah, vai fazer porque eu vou fazer...'".(266-72)
SF1: "Eles também estão na indecisão, ... ninguém sabe o que quer".(341-55)
SF2: "Acho que nada me influenciou, só me fizeram perder o rumo".(282-6)

Ocorreu também a necessidade de encontrar o interlocutor certo: "Sinto necessidade de encontrar as pessoas certas para conversar. Aí sim, conversar a fundo"(SM10, 416-21).

 

Projeto de vida

Os sujeitos que se aproximaram de uma maior definição de escolha profissional, apresentaram um projeto de vida baseado em aspirações de status elevado. Mostram-se preocupados com um padrão de vida que possibilite conforto e satisfações de necessidades de lazer e consumo. A preferência profissional, em si mesma, parece situar-se no fundo desta perspectiva, não emergindo como figura principal. Exemplo:

SF12 "Eu quero ser uma daquelas mulheres bem vistosas, daquelas que entram num lugar e todo mundo olha, com aquelas saias social assim, ter um carro, minha casa, viajar bastante". (145-56)

No outro extremo, os sujeitos que referiam estar muito indecisos, quando confrontados com a pergunta: "Como você se imagina daqui a dez anos, ou cinco anos?", respondiam: "Não consigo" (SF1:653; SF2:184; SM4:214).

A carência de objetivos na vida e a necessidade de formulá-los é expressa no discurso do indeciso do seguinte modo:

SM9: "Quando a gente realmente tem um objetivo, um desejo, é só agir que a gente consegue, e eu estou inerte, não tenho um objetivo". (316-23)
SM5: "Acho que ia ser mais fácil para eu me concentrar se eu tivesse um ideal, eu considero isto aí super importante, ter um ideal, acontece que eu não tenho". (959-68)

Nestes excertos, os sujeitos referem necessidades de aprovação, estando seus projetos de vida atrelados às expectativas reais ou imaginárias de seus pares ou familiares. A necessidade de uma profissão que "dê status" está associada com as demandas percebidas externamente, e não a uma motivação de realização pessoal.

SM9: "Fico delirando... assim: um mundo como se eu tivesse aqui para viver para os outros, não consigo fazer nada para mim." (...) " ... por ver as pessoas falarem que dá um pouco de status - coisa da mãe &– Psicologia e Odontologia". (418-434; 67-71)
SM5: "Gostaria de ter uma família, ter filhos,...já pensei, bobagem ou não, que os filhos não tivessem vergonha do que eu vou fazer, eles têm que se orgulhar: Ah!, meu pai é um engenheiro, meu pai é um dentista ...". (971-980)

A constituição de uma família aparece no projeto de vida de muitos sujeitos(SF2, SM5, SF6, SF7, SM11), em alguns momentos, como a única certeza com relação ao futuro mais remoto: "Sei que daqui a dez anos vou ter um filho, só isso"(SF2, 190-91).
Outros referem o desejo de não serem "empregados", desejam ser autônomos em suas atividades profissionais.

SM9: "Eu queria me dedicar a uma coisa minha né" (1118-20).
SF7: "O que eu não queria é ser uma empregada. Eu queria ter o meu negócio" (597-9).
SF6: "trabalhar numa empresa e ter que se sujeitar a algumas coisas... no Brasil de hoje é melhor ser um profissional liberal". (SF6, 582-603)

Em alguns destes casos (SF12, SM11), o curso de Administração de Empresas surge como uma opção paralela à profissão preferida, pois será um recurso para a administração do projeto profissional ("escritório de arquitetura", "... fazenda, ...consultório"). Exemplo: "Porque se eu tiver o meu consultório vai ajudar, se eu tiver a fazenda vai ajudar". (SF12, 317-23)

O projeto de vida de alguns sujeitos (SM5, SF7, SF12) aparece com uma qualidade algo "flexível", pois não sentem, ou percebem, que as alternativas profissionais ofereçam diferenças vocacionais suficien­temente contrastantes para justificar uma preferência nítida e específica.

SM5: "E hoje ele (o irmão) diz que não consegue se ver fazendo outra coisa a não ser fazendo o que ele faz, eu imagino que eu seja diferente, se não der para fazer alguma coisa, eu faço outra, sei lá... eu sempre me achei muito aberto assim; por isto que eu te falei, se tiver que fazer, tiver que enfrentar". (1738-46)
SF12: "É por isso que eu sou super indecisa, porque eu acho que vou ser feliz na Medicina, vou ser feliz na Biologia. Eu quero achar alguma coisa que me faça feliz mesmo, não que me faça mais ou menos feliz porque eu vou me adaptar à rotina". (882-93)
SF7: "Não sei, a minha vontade é de ajudar as pessoas, de ver o melhor, não sei... (...) E lidar com as pessoas é uma coisa fundamental, mas não sei o que mais". (608-9, 719-20)

Observa-se, nestes sujeitos, uma necessidade de buscar informações mais específicas sobre as profissões, para fazer opções também mais específicas. Esta necessidade é repetidamente expressa no depoimento de SF12, pois manifesta sua insatisfação com a inespecificidade de seu projeto. Este sentimento não é explicitado por SM5, pois refere ser uma pessoa que gosta de trabalhar, porém não especifica o conteúdo deste trabalho, oscilando entre muitas possibilidades vocacionais. Para SF7, aspectos afetivo-emocionais parecem ascender sobre qualquer avaliação cognitiva dos aspectos específicos das diferentes profissões, como fica evidente no excerto a seguir.

SF7: "Não sei por quê tenho muita pena das pessoas; não é pena, não posso ver uma criança chorando, não sei se é pena mas sempre me dá uma coisa no coração. Sempre que eu vejo alguém na rua, as mulheres com nenê no colo, me dá um negócio, tem gente que passa e nem repara. Eu tenho uma pena, me dá um negócio". (569-77)

Um dos sujeitos, quando questionado sobre seus interesses, mostrou-se interessado em várias áreas da cultura, tais como: teatro, cinema, literatura, concertos, e assuntos científicos. No entanto, considera esta variedade de interesses um obstáculo para sua definição vocacional e conseqüente construção de um projeto de vida. Nas suas palavras:

SM10: "E tu não achas isto perigoso? Eu vejo no meu caso que tem... Procuro, 'Bah! te liga', essa peça, imagina se eu fosse este artista; e depois leio algo sobre genética, ‘Que legal fazer pesquisa!', e fico bombardeado por todos os lados. O que eu escolho? Não tenho uma experiência tal que me diga: acho que isto aqui futuramente vai ser melhor. Não tenho como fazer esta previsão". (158-170)
Pesq.: "Sim".
SM10: "Vou continuar devagar".

Neste caso, observa-se uma postura de espera, uma condescendência pessoal que se propõe a dar livre curso aos acontecimentos, na expectativa que uma definição se processe naturalmente no seu ciclo de vida. Por outro lado, esta indefinição assumida conscientemente enquanto opção deliberada, convive no sujeito, junto a uma preocupação e ansiedade resultante de um "bombardeio" de informações. Esta atitude ambígüa é manifesta no excerto seguinte:

Pesq: "Você já fez a opção de curso universitário?"
SM10: "Não. Exatamente isto que estou procurando. Até me preocupa bastante mas, não pode se desgastar".
Pesq.:"Preocupa bastante mas não pode se desgastar, como é isto?"
SM10: "Aí é que tá!"
Pesq.: "O que tu estás fazendo atualmente para decidir?"
SM10: "Viver por aí. Sempre em movimento, me mexendo. Isto, às vezes, é perigoso e até me atrapalha. Acabo tendo interesse em várias áreas".(6-29)

Em segmentos posteriores:

(a)SM10: "... é uma coisa meio inconstante. Me preocupa até por que vou... , te contar de uma maneira meio "grossa". Quero várias coisas e poder escolher só uma".(63-67)
(b)SM10: "Eu me preocupo com esta definição 'já'. Sinto que poderia me desenvolver mais para depois tomar uma definição mais madura".(499-502)
(c)Pesq.: "Você se considera uma pessoa indecisa?"
SM10: "Não e sim. Indecisão em que sentido? Indeciso em questão da impulsionalidade. Me proponho a fazer aquilo e naquilo eu sou bem decidido. Bastante claro nas minhas metas, mas estes são impulsos que não vão me gerar maiores conseqüências. Vou definir boa parte da minha vida. É uma decisão difícil que não pode me classificar como pessoa indecisa ou decidida".
Pesq.: "Você estaria mais perto da definição ou estas num período de explorando mais?"
SM10: "Em nenhum dos dois". (519-535)

Este último excerto introduz a categoria seguinte.

 

A tarefa de decisão

Esta categoria é expressa quase de modo onipresente no decorrer da narrativa. Refere-se ao comprometimento do indivíduo com a sua decisão profissional, expresso em comportamentos efetivos de exploração do mundo do trabalho e de suas possibilidades vocacionais. De um lado, havia relatos de comportamentos empreendidos com o propósito explícito de coletar informações relevantes vocacionalmente, seja através de conversas com profissionais, visitas a universidades, ou da verificação de características pessoais através de testes de realidade. Do outro, relatos de que expectativa de que fatores externos, indefinidos e imprevistos, trouxessem a resposta para suas dúvidas. Exemplos:

SF2: "Não é que não me atrai, é que não me puxa e eu digo:'tá é isso!'". (261-62)
SF1: "Queria uma coisa que eu lesse e que eu visse: 'bah!, isto aqui eu gostaria de fazer!'". (417-19).

Em SM4 e SM10 não ocorre uma expectativa de definição vocacional, é presente uma característica de não comprometimento efetivo com o processo de decisão. Um segmento da entrevista com SM4 exemplifica sua postura passiva, indiferente à tarefa de escolha profissional:

Pesq.: "Você se considera importante neste momento da sua vida fazer um curso universitário?"
SM4: "Agora... não sei. Todos os meus amigos estão fazendo uma faculdade, seria uma decisão natural, acabar o colégio e começar uma universidade. Seria o caminho natural".
Pesq.: "E lhe agrada este caminho natural?"
SM4: "Não me desagrada". (235-51)

Já o depoimento de SM10 caracteriza-se por uma recusa ao envolvimento na tarefa de decisão e possui uma singularidade que o diferencia dos demais. Este sujeito elabora uma compreensão de seu momento de vida de modo a justificar esta posição, recusando-se a assumir atividades conseqüentes para uma definição de carreira. A sua atitude explicita-se e se reduz no segmento seguinte:

Pesq.: "Tu dirias que este é o ponto fundamental da tua indecisão?"
SM10: "Esperar". (510-12)

Alguns sujeitos mostraram uma atitude de planejamento de carreira profissional. Sobre este aspecto, a antecipação de decisões futuras e o relacionamento entre meios e fins, na consecução de objetivos, são evidenciados nos excertos a seguir:

SM8: "Vou fazer primeiro estágios durante a faculdade, para aprender, e pelo próprio currículo; e depois eu vou me especializar em informática. E depois vou procurar área de trabalho em computação, criar uma microempresa para montar computador. Ou então ser engenheiro de uma grande empresa para desenvolver algo de novo, mas penso em fazer uma microempresa para desenvolver do meu jeito". (635-665)
SM11: "Eu vou terminar a faculdade e tem muitas opções né!?, eu não sei se vale a pena fazer pós-graduação direto, ou fazer alguma coisa antes para ganhar dinheiro. Mas o que fazer para começar?, e para ganhar dinheiro?, ter um certo ... né; porque Arquitetura não vou ter clientes logo no começo. Eu quero ter um escritório de arquitetura". (679-683, 734-747)
SF3: "Não quero trabalhar em empresa particular, privada, porque qualquer hora tu está na rua, não tem estabilidade nenhuma, e isto eu não quero. Então eu quero fazer qualquer concurso, que seja bom também né!, para trabalhar para o Estado. E o curso de Direito é o que tem mais, pode fazer qualquer tipo de concurso; outras faculdades já não podem. Eu não tiro também a possibilidade de ser advogada num tribunal, talvez depois eu possa me interessar". (401-17)

Em contraste, sujeitos que referiam maior grau de indecisão não se mostravam preocupados com planejamentos de carreira.

SM4: "Queria saber como se estruturavam as leis na história da humanidade".
Pesq.: "Acho isto importante, mas tu te imaginas exercendo esta profissão (Direito) ?"
SM4: "Não".
Pesq.: "E Jornalismo?"
SM4: "Não me imagino por que talvez não saiba bem o que é o Jornalismo. Se o senhor me perguntar se eu fui saber detalhes da profissão, currículos, eu não fui saber." (201-210, 84-87)
SF4: "Por eu não ter certeza, não achar nada, não consigo imaginar nada. Só indo ver o curso". (196-98)
SF1: "No futuro eu não sei, quase nunca penso e quando penso não consigo me ver. Daqui a um ano talvez eu esteja fazendo uma faculdade, talvez esteja trabalhando, não sei". (663-671)

Aspectos qualitativos do envolvimento no processo de decisão vocacional podem ser observados no tipo de recursos que os sujeitos referem ser necessários para realizar uma decisão mais apropriada.

SM8: "Eu acho que seria bom eu ir na Engenharia ver... descobrir o meio, ... ver as cadeiras, ver o tipo de coisa que eu vou usar na faculdade". (1204-7)
SF1: "O que eu preciso fazer eu não sei, mas eu acho que eu tenho que me informar um pouco mais e ver o que eu acho que talvez dê, e talvez começar uma faculdade e ver como vai ser, porque eu também não posso ficar esperando muito né?!".(694-700)
SM9: "O que eu preciso primeiro é me equilibrar emocional­mente, ter lucidez. É que aí eu poderia usar a minha cabeça".(968-75)
SF2: "Só indo ver o curso". (301)

 

O mercado de trabalho

A perspectiva de um mercado de trabalho mais ou menos promissor condiciona a opção dos sujeitos a ponto de determinar a renúncia de uma alternativa que supostamente não ofereça oportunidades seguras de inserção profissional. O "mercado de trabalho" está sempre associado com a rentabilidade e a estabilidade financeira, sendo estes os fatores especificados como determinantes.

SF12: "Morro de medo do mercado de trabalho... começei a ver e começei a desistir". (89-103)
SF3: "Eu era apaixonada... eu só desisti do Jornalismo por causa do dinheiro". (120-35)
SF6: "Foi por isso que eu procurei estas carreiras de maior... status assim...". (127-42; 633-51)
SF1: "Numa profissão tu vai ter que ter uma boa renda,... daí que eu já não gostei,... não que eu não tenha gostado".(783-803)

A família desempenha um papel central nas avaliações que os sujeitos fazem do mercado de trabalho; tanto em termos de informa­ções e valores verbalmente transmitidos, quanto através dos exemplos concretos que as vidas profissionais dos familiares oferecem à observação dos adolescentes.

SF6: "Aí pensei em engenharia, e o meu pai disse assim: ‘Olha, se tu quiser seguir como eu esta vida...', porque engenheiro é mais provável que tu vai trabalhar numa empresa, ele:'te mira no meu exemplo'. Foi uma coisa que me desestimulou e...". (571-77)
SF3: "Eu acho que a mãe se desgastou muito para chegar onde ela está. Muito demais, foi muito, muito chorado. A pessoa demora para se estabelecer". (778-82)

Há referências, no decorrer das entrevistas, da necessidade de "gostar da profissão". São depoimentos de sujeitos mais direcionados para uma opção baseada em critérios de status e rentabilidade profissional, e que referem alto grau de certeza sobre sua escolha atual (SF2, SF3, SF6).

SF3:"Importa que tu goste daquilo que tu faz, porque se tu não gosta, tu não trabalha direito. Eu não sou tão ambiciosa que só penso em dinheiro". (799-807)
SF6:"Tem que escolher em primeiro lugar uma coisa que eu goste e eu escolhi entre as coisas que eu gosto uma que me dê maior status". (1013-27)
SF2: "É, eu te disse que ia trabalhar de graça para isto, o meu campo é este, então não vejo porque trabalhar de graça se eu gosto disso, ... unir o útil ao agradável".
Pesq.: "Estás pensando em ganhar dinheiro então ?"
SF2: "Queria ganhar bastante dinheiro, se não der..."
Pesq.: "Se não der...?"
SF2: "Aí eu faço de graça mesmo".
Pesq.: "Tanto faz para ti?"
SF2: "Não é tanto faz, eu quero ganhar dinheiro, bastante dinheiro". (505-532)

A necessidade de "ganhar dinheiro"(SF1, SF2, SF3) pode estar presente na percepção da necessidade de escolha profissional.

SF3: "Desde os cinco anos eu fazia ballet, queria ser bailarina; depois fiz ginástica rítmica, queria ser atleta; tudo o que eu fazia, eu queria ...., fiz violão, fiz coral, um monte de coisa, sempre o que eu fazia eu queria ser no futuro. E aí foi no primeiro ano do segundo grau, em 1992, que eu começei a pensar que tinha que ser um negócio que ganhe dinheiro". (12-24)

O fator rentabilidade profissional é um fator crítico na medida em que viabiliza a independência do grupo familiar e a realização de projetos pessoais.

SF3: "Desde os 13, 14 anos, o meu sonho é ser uma mulher independente, não depender de papai, de marido, de ninguém". (SF3, 39-42)
SF1: "Quando dá estes conflitos em casa, e fico louca para sair de casa, porque não quero mais morar aqui, tu vê que não é bem assim, numa profissão tu vai ter que ter uma boa renda para poder sobreviver". (796-802)

 

Auto-estima

É evidente, em alguns depoimentos, o sentimento de desvalia ou baixa auto-estima.

SF12: "Acho que até me diminuo muito, quando as pessoas falam, começam a dar argumento, esqueço os meus argumentos, começo a pensar: 'acho que ela tá certa'; acabo esquecendo e vou atrás dela. Acho que tenho muito mal isto. Eu me diminuo muito em relação às outras pessoas". (848-57)
SM9: "É aquela história, o R. finge que é maior porque é menor. Mas só é menor porque finge que é maior (...) Então eu não dou bola para o meu lado, dou bola prô lado da pessoa, da aceitação que ela vai ter de mim". (840-3, 740-3)
SM5: "Então pô!, se os caras são tão inteligentes, bem mais inteligentes que eu, estão fazendo cursos bem mais fácil de passar, que que eu vou querer uma coisa assim que é um absurdo passar!?" (856-61)

Os sujeitos (SM5, SF7, SM9, SF12) relataram suas dificuldades para tomar uma decisão autônoma. Referiram não valorizar suas próprias percepções e ficar dependentes das opiniões alheias. Em seus depoimentos, este sentimento de desvalia é um obstáculo para uma escolha profissional satisfatória e auto-centrada.

 

Decisão e insight motivacional

Alguns sujeitos manifestam espontaneamente uma consciência das motivações subjacentes às suas opções vocacionais, isto é relacionam aspectos de sua história pessoal com a escolha de determinada profissão.

SF3: "E Direito talvez seja por esta rejeição que eu tenho do meu pai, de querer fazer justiça sabe?...; pô qual é?, tu é obrigado a ver tua filha né?, tu é obrigado a dar dinheiro, a participar do dia a dia, assim da vida, do desenvolvimento. E tem aquele negócio de defender uma causa e ir até o fim, ser teimosa". (644-54)
SM9: "Olhando este momento que eu estou agora, eu associo a Psicologia, pra mim, a nível de... pra me encontrar". (33-7)
SF7: "Eu me imagino que cuidando uma criança eu seria muito feliz talvez por que eu tive uma infância infeliz, sem pai; quando estou com os meus primos, gosto de resolver os problemas, tenho paciência. Eu me explodo tri fácil, mas com criança não. Não posso ver sofrendo um animal. Se eu fosse rica eu ia ... Quando eu era pequena, eu queria ser médica, para salvar meu pai - câncer - eu quero ser médica para salvar as pessoas". (749-60)

 

Redução Fenomenológica

A descrição dos depoimentos dos sujeitos em forma de categorias temáticas destacaram tipologias experienciais do processo de indecisão/decisão vocacional. As categorias iniciais (alteridade, autoconceito, projeto de vida e tarefa de decisão) definiram uma estrutura de referência abrangente para a descrição dos comportamentos relativos à decisão vocacional. A redução radical destas categorias em seus constituintes essenciais, ou seja, o que está sempre presente e interrelaciona todas elas, aponta para uma dicotomia entre as experiências de indivíduos "decididos" e "indecisos".

Indivíduos indecisos expressam abertamente uma qualidade de dependência em seus relacionamentos interpessoais, dentro e fora do grupo familiar. As opiniões alheias, na família ou grupo de pares, exercem uma influência que confunde ou direciona suas percepções, sentimentos e comportamentos, numa relação dependente. Caracterizam-se por uma atitude conformista de adaptabilidade às expectativas externas (SM9, SF12, SF7, SM4 e SM5). É também acompanhada por um sentimento de baixa auto-estima verbali­zado (SM5, SM9, SF12) ou subjacente (SF7 e SM4). Observa-se a falta de uma orientação autoperceptiva independente, que produz dificuldades para expressar autoconceito. Esta dificuldade manifes­ta-se sob diferentes aspectos: recusa (SM10), não pensar no assunto (SF1, SM4), vulnerabilidade frente a opiniões alheias e comportamento camaleônico (SM9, SF12). As tentativas para formular autoconceitos resultam em descrições frágeis e unidimensionais (SM5, SF7, SF1). Predomina a ausência da percepção de características pessoais, de um modo reflexivo e interiorizado. Deste modo, a vulnerabilidade destes sujeitos às injunções do ambiente social associa-se à concomitante falta de um claro senso de singularidade pessoal, que dificulta decisões auto-centradas e com maior nível de reflexão e elaboração de conclusões individuais. A atividade exploratória é desmotivada, fortuita, assistemática, e influenciada por outros de seu ambiente sócio-familiar.

As estruturas familiares de sujeitos indecisos ocasionam perturbações afetivas que dificultam um envolvimento produtivo na tarefa de decisão vocacional. Em dois casos (SM10, SF7), o falecimento do pai na primeira infância é um acontecimento traumático que parece associado a indecisão vocacional. Em outro caso (SM5), o pai é uma pessoa doente e que inspira cuidados. As necessidades de independência deste sujeito geram sentimentos de culpa, pois estaria "abandonando" a família. Os depoimentos de SM9 e SF1 revelaram a presença de ansiedade e conflito em suas relações com a família.

Indivíduos "decididos" também conversam com os pais a respeito de sua decisão de carreira, recebendo orientações e sugestões. Contudo, mesmo levando em consideração as opiniões dos pais, não se mostram confusos e influenciáveis. Mantêm uma postura autônoma na percepção e avaliação dos fatores que consideram relevantes à escolha vocacional. As histó­rias de vida de pais e familiares são exemplos de trajetó­rias pro­fissionais que podem ou não se adequar às suas próprias ex­pectati­vas. O relacionamento no grupo de pares é rico em termos de diálogo e troca de idéias, experiências e informações. Neste sentido, diferenciam suas particularidades e idiossincrasias pessoais de aspectos observados nos outros, com os quais convivem em seu ambiente social. A percepção desta alteridade, em termos de uma auto-avaliação comparativa, constitui recurso para definição vocacional. Deste modo, indivíduos "decididos" mostram facilidade para expressar autoconceitos. As auto-descrições aparecem espontaneamente em seus depoimentos. Da mesma forma, relacionam estas características pessoais com suas preferências vocacionais, justificando suas opções de carreira. Elaboram argumentos e critérios de escolha, tais como: condições do mercado de trabalho, tendências de personalidade, e aptidões condizentes ao exercício da profissão. Estes sujeitos demonstram iniciativa para explorar o mundo do trabalho. Empreendem inúmeras atividades exploratórias, a saber: visitas a universidades, cursos extra-escolares, observação de atividades profissionais, e busca de informações através de leituras e conversas. Fazem planos para o futuro, antecipando etapas em seu desenvolvimento vocacional.

 

Interpretação Fenomenológica

A redução fenomenológica definiu indecisão vocacional em dois empecilhos à atividade exploratória vocacional: 1) indisponibilidade atitudinal para o comportamento exploratório vocacional; e 2) dificuldades afetivo-emocionais relacionadas ao contexto de vida. No caso de decisão, a redução mostrou que as atitudes e comportamentos de indivíduos decididos compreendem um conjunto de fatores interligados, a saber: 1) envolvimento ativo em atividades exploratórias; 2) autonomia para tomada de decisões; e 3) planejamento de carreira. Neste ponto, é bom lembrar que a interpretação fenomenológica especifica a relação valorativa que unifica no sujeito a experiência consciente do fenômeno (descrição como narrativa) e a consciência desta experiência (redução como estrutura essencial da narrativa). A redução é orientada por uma direcionalidade implícita que é agora tornada explícita pela interpretação (Lanigan, 1988).

Na indecisão vocacional ocorre uma indisposição para explorar autoconceito e alternativas ocupacionais. Estes aspectos são identificados na formulação pobre ou inexistente de perspectivas de futuro relevantes vocacionalmente. E também na ausência de uma atitude antecipatória e planificada, a qual seria resultante de uma consciência autônoma da necessidade de decidir. Esta autonomia é prejudicada por interferência de aspectos afetivos. As características camaleônicas de personalidade e as perturbações afetivas no contexto familiar confundem ou substituem capacidades de observação e avaliação de aspectos pessoais e ambientais. Deste modo, embora sujeitos indecisos tenham a consciência da necessidade de cumprir a tarefa de decisão ocupacional, fatores de personalidade, interpessoais e afetivos boicotam comportamentos independentes e racionais para a solução do problema.

Na decisão vocacional, as atividades exploratórias focalizam o si-mesmo e o ambiente, na busca de informações vocacionalmente relevantes. Deste modo possibilitam a elaboração de autoconceitos vocacionais, o conhecimento do mundo do trabalho e a tradução de um autoconceito vocacional em uma preferência vocacional. A autonomia para tomar decisões não exclui a aceitação de orientações e conselhos de familiares. A atitude de planejamento de carreira define metas de realização profissional e elabora estratégias para consecução de objetivos. Isto é, o sujeito delimita os fatores a considerar em sua decisão (critérios de escolha). Depois explora as alternativas existentes e antecipa as conseqüências em cada possibilidade. E após fazer sua escolha profissional, relaciona meios e fins para transpor etapas em seu desenvolvimento de carreira.

 

Discussão

A especificação e interpretação de comportamentos relacionados à indecisão vocacional, por esta pesquisa, confirma um volume significativo de pesquisas sobre diferenças estilísticas na tomada de decisão e de suas relações com a escolha profissional (Lunneborg, 1978; Osipow & Reed, 1985; Lucas & Epperson, 1990). De acordo com estes estudos, sujeitos indecisos caracterizam um estilo de decisão intuitivo ou dependente (Harren, 1979), orientado por sentimentos, numa postura passiva ou impulsiva.

Pesquisas recentes sugeriram que a ausência de um modelo paterno contribui para o aparecimento de dificuldades na consecução de tarefas desenvolvimentais no âmbito vocacional (Young, Friesen & Pearson, 1988). Lassance, Gocks, Heringer e Francisco (1995) constataram a ubiqüidade da influência paterna nas escolhas vocacionais de sujeitos de ambos os sexos. O pai é comumente referido como um modelo, enquanto a mãe freqüentemente aparece como conselheira. Em outro estudo (Charchat & Gomes, 1994), a presença de um modelo profissional masculino é referida por sujeitos do sexo feminino como a fonte motivacional mais importante para o desenvolvimento de carreira.

Em contraste, alguns estudos indicaram a supremacia da família como grupo de referência em questões vocacionais, comparadamente ao grupo de pares (Montemayor, 1982; Sebald, 1986). No presente estudo, o conjunto dos depoimentos confirmou esta tendência. Young, Friesen e Pearson (1988) investigaram comportamentos parentais emitidos no intuito de auxiliar e promover o desenvolvimento vocacional dos filhos. Seus achados indicaram diferenças no comportamento dos pais de acordo com o sexo dos filhos. Estas diferenças favoreceram aos meninos. A estrutura interpessoal das relações familiares no âmbito vocacional é mais freqüentemente descrita como afirmativa e compreensiva com meninos. Pais e mães relatam informar mais aos meninos, questionar suas idéias e comportamentos, e mostrar interesse em suas atividades mais freqüentemente do que em relação às meninas. Também estavam mais preocupados com o desenvolvimento do caráter dos meninos. Além disto, a mesma pesquisa informou que pais preocupam-se em dar informações e colocar limites mais freqüentemente que mães.

Como sugerido pela literatura, os sujeitos que apresentam um elevado grau de certeza em sua opção vocacional evidenciam utilizar estratégias racionais e deliberadas a partir de uma atitude sistemática(Osipow & Reed, 1985), planificada, responsável e envolvida com a tarefa de decisão. Deste modo, os depoimentos destes sujeitos configuram um estilo de decisão planificado e racional (Harren, 1979), referido pela literatura como relacionado a progressos no desenvolvimento de carreira (Lunneborg, 1978; Osipow & Reed, 1985). A postura autônoma e racional de sujeitos decididos não exclui a valorização das opiniões dos familiares. Neste sentido, interpreta-se que não ocorre uma total independência de injunções familiares na consecução da escolha de carreira. Mas sim, uma modalidade de atitude de independência que convive com aspectos de dependência do apoio e da orientação de familiares. Novas perspectivas sobre a adolescência consideram que um nível adaptativo de apego entre adolescentes e seus pais pode facilitar os comportamentos exploratórios necessários à consecução das tarefas evolutivas desta faixa etária - aquisição de identidade pessoal e vocacional (Grotevant & Cooper, 1985). O apoio afetivo e instrumental dos pais promove a maturidade vocacional de seus filhos em idade de escolha profissional (Blustein, Walbridge, Friedlander & Palladino, 1991; Palmer & Cochran, 1988). A influência positiva do apego parental no desenvolvimento vocacional de adolescentes acentua-se em conjunção com um fator de separação psicológica denominado independência de conflito (ausência de culpa, ansiedade, ressentimento e rancor na relação pais-filhos) (Blustein et al., 1991).

 

Conclusão

Este estudo chama atenção para novas perspectivas na integração de modelos de desenvolvimento e modelos de tomada de decisão vocacional. Super (1985) mostrou-se preocupado com a excessiva ênfase dos programas de aconselhamento vocacional em aspectos cognitivos. Nestes programas é subjacente a crença na capacidade lógica que têm os sujeitos na resolução de problemas, independente de condicionamentos contextuais ou de ordem afetiva. E neste sentido, há uma dissociação entre aspectos de desenvolvimento e competências para tomada de decisão. Esta pesquisa revelou novas dimensões da interdependência entre estes dois aspectos. Nos sujeitos indecisos, o exercício de habilidades e atitudes pertinentes à decisão vocacional sofre a interferência de fatores de ordem afetiva. Estes fatores decorrem de contextos de história de vida. A pesquisa mostrou que a decisão vocacional é uma tarefa evolutiva que possui intersecções com outras tarefas do desenvolvimento da pessoa, tais como a aquisição de um senso de identidade e o estabelecimento de um projeto de vida.

Várias tradições teóricas enfatizaram a importância de um sistema de valores na estruturação e desenvolvimento da personalidade (Allport, 1937; Erikson, 1968; Kohut, 1988). A integração da personalidade e o seu desenvolvimento são orientados por valores assumidos na história de vida do sujeito. As habilidades cognitivas que o adolescente adquire neste estágio final do desenvolvimento cognitivo são apenas pré-requisitos para a elaboração de projetos de vida (Piaget & Inhelder, 1982; Erikson, 1968). Quer dizer, o direcionamento e a ordenação para o futuro dependem da sedimentação de um sistema de valores e ideais de auto-aperfeiçoamento. Os sujeitos indecisos, embora tenham recursos cognitivos para explorar o mundo do trabalho e avaliar suas potencialidades pessoais, sentem-se confusos diante da expectativa de decisão vocacional, ou retraem-se numa atitude passiva ou indiferente. Esta confusão reflete a carência de um sistema de ideais e valores. Este sistema cumpriria três funções: a) motivar os esforços de exploração vocacional; b) diferenciar as experiências e informações relevantes vocacionalmente; e por fim, c) integrar e definir prioridades de inserção em contextos profissionais.

Este estudo sugere que a indecisão vocacional envolve a subutilização de capacidades cognitivas. Esta limitação está relacionada a perturbações no desenvolvi­mento de um senso de identidade pessoal orientado por valores e ideais de realização. A questão emergente contrapõe a adequabilidade de métodos de aconselhamento orientados para a utilização de capacidades lógicas, ou orientados para mudanças na dinâmica afetiva da personalidade. Ora, parece óbvio que uma decisão jamais será puramente lógica. Por outro lado, interrupções no desenvolvimento não podem ser contornadas com a racionalidade. Uma possibilidade seria argumentar a favor da necessidade de conciliar demandas afetivas de histórias de vida e demandas instrumentais de adaptação a um ethos tecnológico, o mundo do trabalho. Porém, este horizonte continuaria estreito. Esta proposição não faria mais do que reduzir a escolha de carreira a um exercício compensatório e reativo do sujeito às contingências individuais e sociais do momento.

O presente estudo, no entanto, considera o ato da escolha vocacional como um esforço de integração de sentimentos, auto-cognições e informações ocupacionais. Este esforço contaria com recursos intuitivos e racionais que buscam dar forma à expressão mais refinada do que é individual. Os princípios generalistas e "neutros" da lógica racional não podem dar conta de uma decisão que envolve o todo da personalidade. A expressão intuitiva pode ser considerada como a sonda de uma individualidade nascente. Neste sentido, a história de vida torna-se o substrato referencial de uma nova direção para o desenvolvimento do indivíduo. Este substrato, que é único e inalienável em cada pessoa, deve ser respeitado e preservado como o contexto necessário das escolhas que orientam o seu desenvolvimento.

Neste sentido, o orientador vocacional/profissional concentrará seu trabalho na clarificação dos valores e ideais que porventura o sujeito traga ao processo de escolha. Estes valores constituem os pressupostos interpretativos do sujeito sobre o contexto de decisão que, na verdade, também configuram tal contexto. Afinal, estes valores subsidiarão suas prospecções ideais do futuro. A clarificação possível destes aspectos deve se apoiar nas capacidades cognitivas que o sujeito possa desenvolver e utilizar no momento. Deste modo, o orientador vocacional irá preservar a unicidade de uma decisão, integrando-a ao todo de um indivíduo que é sujeito e agente do seu desenvolvimento.

 

Referências Bibliográficas

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1 Instituto de Psicologia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos 2600. 90035-003 Porto Alegre - RS Tel. (051) 3165115; Fax (051) 3304797 E-mail: gomesw@vortex.ufrgs.br.
3 Mauro de Oliveira Magalhães - Profr. da ULBRA.
4 Maria Célia P. Lassance - Profa. do Instituto de Psicologia da UFRGS.
5 William B. Gomes - Profr. do Instituto de Psicologia da UFRGS.

 

 

Anexo A

PROTOCOLO DE ENTREVISTA

Apresentação da pesquisa: "Esta é uma pesquisa sobre o processo de decisão vocacional. Nós vamos conversar sobre como tu estás vivendo este momento de escolha de carreira profissional às vésperas do vestibular. A entrevista será gravada em fita cassete. Será mantido sigilo absoluto sobre o teu depoimento. Você gostaria de perguntar alguma coisa?"

ROTEIRO

A) DEFINIÇÃO [decisão vs indecisão]
1. Você já fez opção por um curso universitário ?

B) IDENTIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DE DECIDIR [retrospectiva da condição situacional]
2. Desde quando começou a pensar na sua escolha de carreira profissional?

C) EXPLORAÇÃO DE ALTERNATIVAS [informação profissional]
3. Já conseguiu definir algumas alternativas possíveis como opções de carreira profissional? (No caso de resposta negativa, perguntar se algumas alternativas estão eliminadas: Você sabe o que não quer?)
4. Poderia me dizer o que estas alternativas têm em comum e também quais as diferenças, na sua visão pessoal das mesmas?

D) PREFERÊNCIAS PROFISSIONAIS [expressão do autoconceito vocacional]
5. Você saberia dizer o que torna estas profissões atraentes para você? E o que não lhe agrada? (Examinar cada alternativa apresentada).

E) HISTÓRIA DE VIDA COMO CONTEXTO PARA ALTERNATIVAS PROFISSIONAIS [relação entre experiência e escolha]
6. Por que você pensou nestas profissões como possibilidades de opção de carreira profissional? Como surgiram na sua vida? (Examinar o histórico de cada possibilidade de escolha).

F) DO PRESENTE PARA O FUTURO [projeto de vida]
7. Como você se imagina no futuro? Por exemplo, como você estaria daqui a dez anos? Qual seria um estilo de vida para você? Suas expectativas, planos?! Você se imagina trabalhando em alguma coisa? Que tipo de ambiente de trabalho?

G) O COMPARTILHAR DE QUESTÕES E ANSEIOS VOCACIONAIS [o que fala?, com quem fala?, o que ajuda?, o que confunde?, o que preocupa?]
8. Você costuma conversar com outras pessoas sobre este assunto? Quem? Quando?

9. Como são estas conversas? O que vocês conversam? Quais as idéias, opiniões e preocupações que surgem?
10. Estas conversas já mudaram sua visão do problema? O que mudou?

H) EXPLORAÇÃO DE AUTOCONCEITO [autoconceito vocacional]
11. Que tipo de pessoa você se considera?

12. Quais destas características pessoais você considera relevantes para escolher uma profissão?

I) PERCEPÇÃO DE SI E DO OUTRO COMO DETERMINANTE VIRTUAL DE ESCOLHA [similaridade vs alteridade profissional]
12. Como você se distingue das outras pessoas?

13. Qual profissão você não escolheria? Como alguém poderia optar por este tipo de trabalho?

I) SALIÊNCIA DO PAPEL PROFISSIONAL [nível profissional: técnico, universitário, outro]
14. Você considera importante cursar uma faculdade? Por que?

J) SONDAGEM DE ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO NO PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL [prontidão para a tomada de decisão; definição realista de oportunidade; disposição para definir]
15. Você se considera preparado, ou em condições de se preparar e estar apto, para tomar esta decisão adequadamente no prazo que lhe resta, antes de inscrever-se para o exame vestibular? Se não, quanto tempo seria necessário? O que você poderia fazer para optar com mais convicção, mais certeza?

16. Você gostaria de acrescentar alguma coisa ao que já conversamos?

Fechamento: A entrevista prossegue conforme a disponibilidade do sujeito em continuar seu depoimento sobre o tema da pesquisa. Por fim, o pesquisador agradece a colaboração e encerra a entrevista.

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