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Revista da ABOP

versão impressa ISSN 1414-8889

Rev. ABOP v.2 n.1 Porto Alegre  1998

 

 

A re-escolha profissional dos vestibulandos da UFSC de 1997

 

Career rechoice of the candidates to undergraduation programs at UFSC in 1997

 

 

Maria Aparecida Silveira HotzaI 12; Dulce Helena Penna Soares LucchiariII 13

I Universidade Federal de Santa Catarina
II Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Psicologia &– Laboratório de Informação e Orientação Profissional

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi o de estudar a questão da re-escolha profissional na Universidade Federal de Santa Catarina. A população pesquisada foram os candidatos inscritos no vestibular 97 da UFSC, que declararam já ter iniciado algum curso superior anteriormente, num total de 4424 candidatos. Num segundo momento, selecionamos deste grupo, apenas os alunos aprovados. A grande maioria da população pesquisada (91,6%) abandonou ou ainda está cursando um outro curso superior, o que retrata uma insatisfação com a primeira escolha de curso. Os dados levantados serviram para caracterizar melhor a população e analisar a possível relação com o fenômeno da evasão dos cursos universitários.

Palavras-chave: Re-escolha profissional, Curso superior, Evasão em cursos universitários.


ABSTRACT

The aim of this work was to evaluate the problem of the career rechoice in the Federal University of Santa Catarina (UFSC). The researched population corresponded to the 4424 candidates who applied to the UFSC selection test (vestibular) in 1997, which declared to have already initiated any other undergraduation programs. The most part of the investigated population (91,6%) either abandoned or is still attending another college program, what reflects an unsatisfaction with the first career choice. The data were useful to better characterize this population and to analyze the possible relationship with the phenomenon of drop out in college programs.

Keywords: Career rechoice, Undergraduation program, College drop out.


 

 

Introdução e Objetivos

Para o ingresso no ano letivo de 1997, segundo o Relatório do Vestibular 97 (COPERVE14/UFSC, 1997), a Universidade Federal de Santa Catarina ofereceu 3.203 vagas, para as quais 25.208 candidatos fizeram inscrição, o que representou o contingente máximo de vestibulandos na história da UFSC. Estes números demonstram que é grande a procura pelo ensino superior e que só uma minoria dos candidatos inscritos (12,7%) é selecionada. Os jovens têm buscado cada vez mais, através da universidade, uma possibilidade de crescimento pessoal e profissional.

Após o esforço de vencer o desafio seletivo do concurso vestibular, porém, tem ocorrido que uma parcela significativa dos alunos não conclui os cursos iniciados. Ainda de acordo com o Relatório acima citado, de cada quatro alunos aprovados no Vestibular 97, um já havia iniciado algum curso superior sem tê-lo concluído (no total 807 candidatos, ou cerca de 25,2% dos aprovados). Esse é um dado preocupante, que merece estudos mais aprofundados.

Segundo Lucchiari (1993: 95), "entre os jovens que buscam o Serviço de Orientação Profissional da UFSC, 40% são alunos da própria universidade que estão insatisfeitos em seus cursos e procuram uma confirmação da escolha ou uma nova opção". A insatisfação com o curso inicialmente escolhido pode estar relacionada às deficiências do processo de ensino, aos aspectos sócio-econômicos dos alunos ou ainda ao momento da escolha da carreira universitária.

A escolha (ou a re-escolha) profissional nunca é feita pelos estudantes de forma totalmente livre. Fatores políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos, entre outros, são determinantes na escolha dos indivíduos (Soares, 1987). O conhecimento mais realista dos cursos superiores pode não só levar a melhores escolhas de carreira ou de faculdade, mas também fazer com que muitas pessoas desistam de prosseguir com seus estudos universitários e busquem outras opções educativas e profissionais, o que em si já seria um resultado bastante significativo. (Schwartzman, 1988: 27)

Segundo Alves Júnior (1983:16), "o trabalho ocupa dois terços da vida humana, isto é, o homem gasta em média de 30 a 40 anos de sua vida, trabalhando. Uma escolha mal feita irá prejudicar não só o próprio indivíduo como também a sociedade pois, além de constituir uma forma de realização pessoal, o trabalho representa uma função social". Normalmente o jovem faz a escolha e pensa que o problema já está resolvido. Quando começa o curso, no entanto, podem surgir dúvidas. É importante que o jovem tenha coragem de rever a escolha quando não se sente seguro e nem feliz com ela.

O objetivo deste trabalho é, a partir de dados sobre o vestibular 97 na UFSC, estudar a questão da re-escolha profissional. Definimos re-escolha como um nova opção no vestibular. Gostaríamos de averiguar se houve necessáriamente uma “escolha” diferente da anterior ou se o jovem estaria apenas trocando de universidade.

Desta forma, alguns subsídios poderão ser obtidos para fundamentar estudos mais aprofundados, que apontem os motivos da insatisfação dos vestibulandos com o seu curso universitário e sugiram meios para a solução do problema.

 

Metodologia

A população da pesquisa corresponde, num primeiro momento, aos candidatos inscritos no vestibular 97 da UFSC, que declararam já ter iniciado algum curso superior anteriormente, num total de 4424 candidatos (cerca de 18% dos 25208 inscritos). Tal informação se baseou nas respostas dadas à pergunta 29 do questionário sócio-econômico-cultural, elaborado pela COPERVE, por parte dos candidatos no momento da inscrição. Num segundo momento selecionamos, deste grupo, apenas os candidatos aprovados.

A principal fonte de informação deste trabalho, no entanto, foram os dados complementares ao referido questionário, solicitada à COPERVE, relativas aos aprovados no Vestibular 97 que já tinham iniciado algum curso universitário anteriormente, compreendendo os alunos aprovados em 1ª e 2ª opção.

As 38 questões originais versavam sobre dados pessoais, familiares, escolares, interesses, lazer, trabalho, orientação profissional e motivação para a escolha. Neste trabalho, foram destacadas as questões relativas a dados considerados importantes sobre o processo de escolha e re-escolha profissional dos candidatos que já passaram pela universidade. Os dados escolhidos foram agrupados em tabelas, que apresentam as respostas dos candidatos inscritos e dos aprovados. Foram ainda destacados em negrito nas tabelas os dados considerados relevantes, que receberam comentários.

 

Resultados e Discussão

A seguir analisaremos respostas dadas às perguntas selecionadas em função de responderem à algumas das questões deste estudo.

Os candidatos que iniciaram um curso superior anteriormente correspondem a 807, ou 25,2 % dos aprovados no vestibular, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 Respostas à questão 29: "Você já iniciou algum curso superior?

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

Aprovados/Inscritos %

0- Não informado

894

3,5

82

2,6

9,2

1- Não

19890

78,9

2314

72,2

11,6

2 - Sim

4424

17,5

807

25,2

18,2

Total

25208

100,0

3203

100,0

12,7

 

Neste caso, a relação aprovados/inscritos (18,2%) foi maior que a respectiva relação dos candidatos que não iniciaram outra faculdade (11,6%). Esses dados dão a entender que quem começa um curso superior tem uma chance maior de passar no vestibular ou uma motivação maior para ser aprovado. A Tabela 2 é um detalhamento da Tabela 1, destacando a situação dos candidatos em relação ao curso escolhido anteriormente.

Tabela 2 Respostas à questão 29: "Você já iniciou algum curso superior?"

 

Resposta

Inscritos

Aprovados

 

Total - %

1ª Opção - %

2ª Opção - %

2- Sim, mas abandonei

1789

40,4

361

48,3

23

38,98

3- Sim, estou cursando

2142

48,4

322

43,0

30

50,85

4- Sim, já o concluí

368

8,3

49

6,6

4

6,78

5- Sim, concluí um, estou cursando outro

49

1,1

3

0,4

1

1,69

6- Sim, concluí um, abandonei outro

76

1,7

13

1,7

1

1,69

Total

4424

100,0

748

100,0

59

100,0

 

Constata-se aqui um fato preocupante: 91,6% dos candidatos inscritos que já iniciaram um curso superior, afirmam que abandonaram ou ainda estão cursando. Destes, para os alunos que foram aprovados em 1ª opção, o percentual aumenta para 93,4% (que não concluíram o curso superior anterior). Isso possivelmente pode estar relacionado com algum tipo de insatisfação com a escolha anterior, mas cujas razões nos são desconhecidas até o momento.

Ainda segundo a Tabela 2, dos 807 classificados no vestibular que haviam iniciado um curso superior, 748 (92,7%) passaram em 1ª opção e os demais 59 (7,3%) passaram em 2ª opção. A partir desses dados não se pode avaliar, entretanto, se os classificados para o curso de 2ª opção tentarão novamente o vestibular ou se acomodarão, permanecendo num curso não tão desejado e provavelmente não tão conhecido.

A seguir analisaremos a Tabela 3 onde estão relacionados os locais onde estes alunos cursaram anteriormente seu curso superior. Gostaríamos de salientar que existe se uma incongruência em relação às respostas da questão 29: dos 4424 inscritos que assinalaram ter cursado um curso superior antes, 230 (5,2% dos inscritos) responderam agora não ter iniciado curso algum. O que pode ter acontecido é um erro por parte dos candidatos na hora de passar as respostas para o gabarito.

Tabela 3 Respostas à questão 30: "Se você já iniciou algum curso superior, informe o local"

 

Resposta

Inscritos

Aprovados

 

Total - %

1ª Opção - %

2ª Opção - %

0- Não informado

27

0,6

2

0,3

1

1,7

1- Não iniciei curso superior

230

5,2

29

3,9

3

5,1

2- UFSC

1119

25,3

262

35,0

11

18,6

3- Outra instituição de SC

2114

47,8

327

43,7

35

59,3

4- Fora de SC

934

21,1

128

17,1

9

15,3

Total

4424

100,0

748

100,0

59

100,0

 

Observa-se que 3048 (68,9%) dos inscritos iniciaram curso superior em outras instituições que não a UFSC. Neste caso, a desistência do curso (faculdade) original não significa necessariamente uma decepção com a carreira em si, mas pode ser a busca de melhores condições para concluir a mesma carreira escolhida anteriormente, em uma universidade pública, gratuita, e mais conceituada como a UFSC. Outro dado interessante observado é que 262 (35%) dos aprovados em primeira opção terem sido já alunos da UFSC. Neste caso podemos afirmar que corresponde a uma troca de curso, ou re-escolha profissional. Com menor freqüência, podemos supor uma re-entrada no mesmo curso, com o objetivo de melhorar o índice de aproveitamento.

O número de vezes que os candidatos já prestaram vestibular está indicado na Tabela 4. Constata-se mais uma vez uma incoerência com as respostas anteriores, dos 4424 inscritos que declararam inicialmente ter ingressado na universidade, 180 (4,1%) responderam nunca ter prestado vestibular. Como para ingressar na universidade é preciso passar no vestibular, houve novamente um equívoco na hora de assinalar o gabarito.

Tabela 4 Respostas à questão 14: "Quantas vezes você já prestou vestibular?"

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

0- Não informado

60

1,4

11

1,4

1- Nenhuma vez

180

4,1

20

2,5

2- Uma vez

1001

22,6

208

25,8

3- Duas vezes

1219

27,6

241

29,9

4- Três vezes

906

20,5

165

20,4

5- Quatro vezes

543

12,3

84

10,4

6- Mais de quatro vezes

515

11,6

78

9,7

Total

4424

100,0

807

100,0

 

Na Tabela 4, observa-se que a grande maioria dos candidatos inscritos (3183 ou 72,0%) enfrentou o vestibular pelo menos duas vezes. Isso significaria que eles não passaram para o curso desejado nas vezes anteriores, ou ainda, por não estarem satisfeitos, buscam uma re-escolha.

De acordo com Alves Júnior (1983: 46), "durante o 2ª grau, época em que o jovem deve tomar decisões relacionadas ao tipo de curso no qual vai prosseguir e à escolha da futura profissão, observa-se que muitos alunos situam-se entre dois pólos. Ou permanecem indecisos durante muito tempo ou ao ingressar na 1ª série já decidiram, de modo definitivo, a profissão escolhida". Ainda segundo ele, "é necessário tentar rever as decisões tidas como definidas a fim de ajuizar de sua adequação e, principalmente, de verificar até que ponto não se trata de uma opção prematura, realizada em bases duvidosas como as que foram discutidas no tópico sobre os fatores que interferem em uma boa escolha”.

A seguir, analisaremos as principais influências na escolha do curso em 1ª opção relacionadas na Tabela 5. A maioria dos inscritos (3003 ou 67,9%) responde que a profissão escolhida é mais adequada a suas aptidões e seus interesses. Isso pode significar, por um lado, uma opção aparentemente consciente ou, por outro, um desconhecimento das verdadeiras influências.

Tabela 5 Respostas à questão 15: "Em relação à escolha feita em 1ª opção, indique a principal influência"

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

0- Não informado

5

0,1

0

0,0

1- Nenhuma influência

534

12,1

79

9,8

2- Menor competição pelas vagas

88

2,0

28

3,5

3- Prestígio econômico da profissão

168

3,8

28

3,5

4- Prestígio social da profissão

64

1,4

10

1,2

5- Adequação a aptidões, interesses

3003

67,9

547

67,8

6- Família e/ou amigos

73

1,7

9

1,1

7- Professores

14

0,3

5

0,6

8- Ambiente de trabalho

162

3,7

25

3,1

9- Outras influências

313

7,1

76

9,4

Total

4424

100,0

807

100,0

 

Observa-se, na prática de Orientação Profissional, que este conhecimento de si mesmo, relacionado com o futuro desempenho profissional, é muito superficial e estereotipado, levando os alunos a desistirem de seus cursos quando passam a conhecer um pouco mais da profissão e percebem não ser aquilo que imaginavam. Embora às vezes não percebida, "a escolha está multi e sobredeterminada pela família, pela estrutura educacional e pelos meios de comunicação em massa, como também pela estrutura dialética social e a estrutura dialética subjetiva" (Bohoslavsky, 1981: 15).

De acordo com Alves Júnior (1983: 25), "em maior ou menor grau, todos nós possuímos aptidões, mas elas dependem de muitos fatores para se transformarem em capacidade real e efetiva. Embora se relacionem às atividades profissionais, não se pode dizer que cada aptidão corresponde a um determinado tipo de trabalho. Na realidade, existem complexos de aptidões que estão na base do êxito de profissões afins". Por outro lado, "os interesses se desenvolvem e se modificam a partir de novas experiências que o indivíduo vive. Portanto, quanto maior o número de atividades com as quais o indivíduo tiver contato, maior a possibilidade de desenvolver interesses a elas relacionados. Ninguém pode interessar-se por algo que não conhece".

Na Tabela 6 estão indicadas as expectativas dos candidatos em relação a seu curso superior. Do total de inscritos, 2404 (54,3%) responderam que esperam obter formação profissional voltada para o futuro emprego. O que se percebe nesta afirmação é a desinformação da maioria dos jovens em relação ao que seja a universidade. A preocupação da maioria dos jovens se restringe ao mercado de trabalho como se o objetivo principal da universidade fosse formar mão-de-obra qualificada. Não se pode reduzir a universidade a um escola profissionalizante, ela tem uma tarefa maior que é a de produzir o saber, através das pesquisas que são desenvolvidas e que apenas 5,2% dos jovens assinalaram.

Tabela 6 Respostas à questão 16: "O que você espera obter num curso superior?"

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

0- Não informado

37

0,8

7

0,9

1- Aumento de conhecimento e cultura

765

17,3

137

17,0

2- Melhoria da situação profissional atual

642

14,5

93

11,5

3- Formação profissional p/ o futuro emprego

2404

54,3

455

56,4

4- Formação teórica voltada para pesquisa

229

5,2

58

7,2

5- Outras

347

7,8

57

7,1

Total

4424

100,0

807

100,0

 

Os conhecimentos que os candidatos têm a respeito do curso superior escolhido em 1ª opção estão relacionados na Tabela 7.

Tabela 7 Respostas à questão 17: "Conhece as atividades a desenvolver na profissão em 1ª opção?"

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

0- Não informado

177

4,0

29

3,6

1- Sim

4085

92,3

747

92,6

2- Não

162

3,7

31

3,8

Total

4424

100,0

807

100,0

 

Dos 4424 inscritos, 4085 (92,3%) afirmaram ter conhecimento das atividades desenvolvidas na profissão em 1ª opção. O que se experiência na prática em grupos de orientação profissional na UFSC é que o real conhecimento das atividades profissionais pelos alunos não existe na maioria das vezes. O que acontece é uma idéia distorcida, fantasiada e romântica do desempenho profissional, que não corresponde à realidade. Segundo Whitaker (1985: 46), "é preciso conhecer um mínimo sobre o exercício de certas profissões possíveis e sobre os papéis sociais desempenhados por quem as execute, para poder estabelecer uma 'ponte', através da qual uma ou mais profissões se relacionam com determinada tendência e inclinação".

A informação e orientação profissional é importante para auxiliar no conhecimento das profissões. A seguir analisaremos os dados referentes à esta questão.

Tabela 8 Respostas à questão 32: "Já recebeu orientação vocacional?"

 

Resposta

Inscritos - %

Aprovados - %

0- Não informado

57

1,3

7

0,9

1- Não

2354

53,2

425

52,7

2- Sim, na escola

1352

30,6

258

32,0

3- Sim, na universidade

233

5,3

44

5,5

4- Sim, em consultório de psicologia

214

4,8

41

5,1

5- Sim, em outras instituições

214

4,8

32

4,0

Total

4424

100,0

807

100,0

 

O fato do vestibulando ter ou não recebido orientação vocacional pode ter tido influência na sua decisão. Segundo a Tabela 8, a maioria dos candidatos inscritos (2354 ou 53,2%) não recebeu orientação vocacional. Considerando que este é, no mínimo, o segundo ou terceiro vestibular que o jovem realiza, esse dado soa ainda mais preocupante. Será que eles têm informações suficientes sobre a profissão escolhida? Será que é realmente este o melhor curso para estes jovens? Será que o curso escolhido corresponde às suas capacidades, interesses e motivações?

Muitos jovens não têm acesso à orientação vocacional porque a sua escola não dispõe deste serviço ou por não terem condições financeiras de pagar uma orientação particular. As universidades que oferecem este serviço gratuitamente não têm como atender a tamanha procura. Outros, ainda, têm um conhecimento errôneo do que venha a ser orientação vocacional. Muitas pessoas pensam que a orientação vocacional se resume em uma seqüência de aplicações de testes que vão dizer qual a melhor profissão a seguir. A orientação vocacional é muito mais do que isto, ela leva o indivíduo a ter primeiramente um conhecimento melhor de si mesmo (quais seus valores, interesses, motivações, características pessoais), leva-o a um análise dos possíveis fatores que possam interferir na sua escolha. A principal função do orientador profissional é de um facilitador da escolha. Ou seja, sua função é auxiliar a pensar, a questionar, a discutir sobre a realidade do mundo do trabalho, as possibilidades que existem, as condições sociais, políticas e econômicas que nos cercam." [Soares, 1988: p.31]

Antes de fazer sua escolha, é importante que o vestibulando tenha bem esclarecidas as características e exigências de cada profissão para verificar qual delas é mais adequada a aptidões, interesses e características pessoais. Ele deve estar informado sobre o mercado de trabalho, já que este pode estar saturado ou a profissão pode estar em extinção ou reformulação e precisa saber as principais atividades desempenhadas nessa profissão, e ainda quanto costuma ganhar o profissional que desenvolve esta função. É fundamental também que o jovem tenha a consciência dos estereótipos formados por detrás das profissões como: o psicólogo "conselheiro", enfermeira "generosa", médico "rico" e o psiquiatra "louco", para que faça uma escolha mais condizente com a realidade.

As carreiras correspondentes a cursos superiores já iniciados pelos inscritos no vestibular 1997 estão relacionadas na Tabela 9, indicando os cursos onde um maior e um menor numero de jovens já iniciaram seus estudos.

Tabela 9 Respostas à questão 31: "Se você já iniciou algum curso superior, informe a carreira"

 

Respostas

Total Inscritos - %

Aprovados 1ª opção - %

Administração

472

10,7

73

9,8

Biblioteconomia

30

0,7

5

0,7

Ciências da computação

240

5,4

48

6,4

Direito

457

10,3

59

7,9

Engenharia

558

12,6

121

16,2

Física

72

1,6

26

3,5

Jornalismo

58

1,3

6

0,8

Matemática

122

2,8

40

5,3

Medicina

65

1,5

6

0,8

Nutrição

23

0,5

3

0,4

Serviço social

19

0,4

4

0,5

Veterinária

44

1,0

7

0,9

Total

4424

100,0

748

100,0

 

Nota-se que mesmo cursos considerados de alta procura, como Direito, Administração ou Engenharia, apresentam um número alto de desistências. Não se pode afirmar, no entanto, se trata-se de uma desistência do curso escolhido ou de uma troca de instituição, como levantado anteriormente. Especialmente em cursos que utilizam laboratórios, portanto de custo mais alto, a opção pela Universidade Federal pode ter sido principalmente uma escolha econômica.

Observa-se que os cursos que foram em maior número “abandonados” pelos estudantes são: administração, ciências biológicas, direito, engenharia, física e matemática. Por outro lado, os cursos que foram menos “abandonados” são os seguintes: biblioteconomia, jornalismo, medicina, nutrição, serviço social e veterinária. Vários podem ser os motivos, se pensarmos que muitos dos vestibulandos podem estar apenas trocando de instituição e não de opção, observamos que os cursos menos citados são aqueles que são também mais raros em universidades privadas.

 

Conclusões e Sugestões

O presente trabalho reuniu dados que permitem uma avaliação inicial do problema da re-escolha profissional na UFSC, a partir de um questionário respondido pelos vestibulandos de 1997 que já haviam iniciado um curso superior anteriormente.

Os motivos que levaram estes alunos a tentarem novamente o vestibular permanecem, no entanto, em sua essência desconhecidos. Alguns deles podem ser: a busca pela 1ª opção não conseguida no primeiro vestibular; a troca de universidade (particular para pública, ou ainda de uma cidade para outra); colisão de horários entre curso e a atividade profissional; má qualidade de ensino da universidade para com os cursos de baixo prestígio; decepção com o curso/professor; mudança de interesses pessoais; falta de aptidões para a profissão escolhida; desejo de experimentar um novo curso; motivo de saúde, ou ainda uma re-escolha profissional.

Sabemos que um número muito grande de jovens não conclui os cursos para o qual ingressaram, deixando inúmeras vagas de meio de curso abertas e inviáveis para outros estudantes. É um custo muito alto para as universidade públicas. A constatação destes dados nos preocupa. A sociedade investe na manutenção da universidade pública e gratuita, sendo grande o custo de cada aluno que se matricula mas não conclui o curso iniciado.

Os inscritos que iniciaram curso superior em outras instituições de ensino superior em Santa Catarina e estão fazendo vestibular novamente pode estar relacionado ao fato da UFSC ser a única universidade pública e gratuita do estado e de que muitos cursos desta instituição serem de melhor qualidade que os oferecidos pelas universidades particulares catarinenses. Assim, uma aparente desistência do curso original não significa necessariamente uma decepção com a carreira em si, nem uma troca de curso, mas pelo contrário, a busca de melhores condições para concluir a carreira escolhida anteriormente.

Tem-se observado na prática de Orientação Profissional desenvolvida nesta universidade um grande número de universitários em busca de esclarecimentos quanto a escolha de seu curso. Procuram nos Grupos de Re-orientação Profissional a confirmação de suas escolhas ou a possibilidade de fazerem uma nova opção. A partir da análise do relatório de vestibular de 1997, constatou-se que 25% dos alunos classificados no vestibular afirmam já ter iniciado um curso superior anteriormente.

Uma análise das razões que contribuíram significativamente para que estes alunos optassem por um novo curso universitário pode ser o tema de um estudo mais aprofundado. Uma pesquisa direta com a população em questão, através de entrevistas ou de questionários específicos, pode auxiliar no diagnóstico e na solução deste problema.

 

Referências Bibliográficas

Alves Júnior, J. Programas de Informação Profissional. S. P., Edicon, 1983.        [ Links ]

Bohoslavsky, R. Orientação Vocacional - A Estratégia Clínica. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.        [ Links ]

COPERVE/UFSC. Relatório do Vestibular 97. Florianópolis, COPERVE/UFSC, 1997.        [ Links ]

Lucchiari, D. H. P. S. “O Serviço de Orientação Profissional da UFSC,“ in: Lucchiari, D. H. P. S. (org.). Pensando e Vivendo a Orientação Profissional. São Paulo, Sumus, 1993, pp. 90-95.

Schwartzman, S., “Funções e Metodologias de Avaliação do Ensino Superior,“ in: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Avaliação da Universidade: Propostas e Perspectivas. Estudos e Debates, Vol. 14. Brasília, CRUB, 1988, pp. 21-45.

Soares, D. H. P. O Jovem e a Escolha Profissional. P.A., M. Aberto, 1987.        [ Links ]

Whitaker, D. A Escolha da Carreira. São Paulo, Moderna, 1985.

 

 

12 Maria Aparecida Silveira. Hotza - Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
13 Dulce Helena Penna Soares Lucchiari - Profa. Dra. em Psicologia pela Universidade de Strasbourg - França - Pesquisadora do LIOP (Laboratório de Informação e Orientação Profissional - UFSC.
14 Comissão Permanente do Vestibular.

 

 

Agradecimentos
À COPERVE/UFSC, na pessoa de seu presidente, Prof. Antônio Pedro Schlindwein, pelo apoio de infraestrutura, e ao NPD/UFSC pela elaboração do relatório em que se baseou este trabalho.

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