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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.3 n.1 Brasília  1982

 

Descrição evolutiva do comportamento exploratório-manipulativo na criança nos primeiros dois anos: uma revisão bibliográfica(1)

 

 

Vera Lúcia Soares da Silva(2)

 

 


RESUMO

O presente artigo faz uma revisão comentada dos trabalhos publicados na área da psicologia do desenvolvimento sobre o comportamento exploratório-manipulativo, no período de zero a 20 meses, descrevendo a cronologia deste desenvolvimento e discutindo os efeitos das variáveis ambientais.


 

 

INTRODUÇÃO

Nos últimos quatorze anos têm-se intensificado os estudos descritivos de desenvolvimento humano. Alguns destes trabalhos têm, de uma maneira geral, procurado testar e complementar a sistematização do desenvolvimento infantil feita por Piaget, com ênfase especial no período do nascimento aos dois anos. Numa revisão da literatura do desenvolvimento, pode-se verificar que uma grande parte dos autores fazem referência ao livro de Piaget, publicado em 1952, sob o título O nascimento da inteligência na criança. Sua metodologia de trabalho e teorização acerca do desenvolvimento da inteligência na criança orientaram grande parte dos estudos sobre o desenvolvimento cognitivo do homem. Tornou-se, portanto, praticamente impossível, na atualidade, falar em desenvolvimento humano sem referências a Piaget.

Nos anos de 1961 e 1965, dois pesquisadores, S.W.Bijou e D.M.Baer, editaram o livro Child Development. Nesta obra sistematizaram dados obtidos sobre o desenvolvimento infantil, segundo os princípios e métodos da Análise Experimental do Comportamento, tais como desenvolvidos por B.F. Skinner, elaborando o que chamaram "teoria empírica do desenvolvimento". Bijou e Baer procuraram relacionar funcionalmente comportamento e estimulação, compondo um modelo aplicável ao estudo do desenvolvimento humano. A influência destes autores, no entanto, foi centralizada principalmente na área de crianças excepcionais. Quase todos os trabalhos de análise comportamental aplicada feitos na época, e até há alguns anos atrás, citavam Bijou e Baer como a fonte teórica principal.

Alguns pesquisadores começaram a discutir a nenessidade de o estudo do comportamento humano e em especial do desenvolvimento, ser feito a partir de uma observação naturalista utilizando o Método de Observação Etológica. N.Blurton Jones(1972) considera que as quatro questões básicas da etologia 1) causação; 2) desenvolvimento; 3) valor de sobrevivênvia e 4) filogenia, deveriam ser respondidas também para o estudo do desenvolvimento humano. Vários destes trabalhos, feitos especialmente na Grã-Bretanha, foram condensados por Ferreira(1977) , em artigo publicado na revista Psicologia.

Brian Foss(1975) sistematizou de forma clara a situação da Psicologia do Desenvolvimento, quando disse que: "há um paradoxo interessante acerca da psicologia da criança... é claro que o mundo infantil é diferente do mundo adulto e que seu pensamento não é lógico. Piaget diz ter demonstrado isto há muito... mas por outro lado, somente agora ficou claro que as crianças "sabem" sobre o seu mundo, nas primeiras semanas de vida, mais do que se pensava ser possível... uma outra generalização é que as diferenças individuais são encontradas onde quer que se olhe..." (pág.8).

Desta forma, todas as contribuições de Piaget, Bijou e Baer, etólogos e demais pesquisadores, ampliaram os conhecimentos sobre a criança, seu desenvolvimento e o seu mundo. Num ponto todos parecem concordar: o período do nascimento aos dois anos é o mais importante na formação das habilidades básicas do homem.

Centralizando-nos neste período etário, iremos descrever o desenvolvimento sensório-motor, segundo alguns pesquisadores do desenvolvimento.

Segundo Bruner(1973), a partir do nascimento, a criança adquire uma competência que abrange a interação com os outros da espécie, o controle dos objetos, ferramentas e seqüências de eventos com ordenação espacial e temporal. Ela aprende a tratar com o mundo que a cerca de maneira a resolver de forma adaptada os problemas que surgem. Tais habilidades se diferenciam a partir das ações reflexas do bebê e do contato que fazem com o ambiente, num processo que Piaget chamou de desenvolvimento da inteligência(Flavell, 1974).

No início, o bebê apenas executa as ações específicas da espécie, como sucção, visão, tato, etc, e, através disto, ele tem experiências sensoriais com o ambiente. No entanto, como as ações específicas ou reflexas são comportamentos motores de abrir, fechar e mover a boca, os olhos, as mãos etc, cada ação do organismo tem um componente sensorial e outro motor. Isto nos permite, segundo Flavell, falar no período sensório-motor , que abrange desde o nascimento até aos 2 anos, como início da formação inteligência, tal colocou Piaget em seu livro O nascimento da Inteligência na criança (1975).

No recém-nascido, a estimulação provoca uma atividade motora generalizada (Connolly, 1970), de aspecto errático, incoordenado e confuso (Bruner,1970a) mais, a medida que varias ações reflexas ocorrem, elas começam a se alterar, associando-se com a estimulação. É importante destacar isto, por que como novas associações ocorrem, novas respostas surgem, e, podemos dizer, a criança adquire competência para agir no mundo (Bijou e Baer, 1965).

Uma das competências definidoras da espécie humana é sua habilidade de usar ferramentas para solucionar problemas de interação com o ambiente físico e social. Parece que a habilidade de manipular objetos é de grande importância no desenvolvimento do homem, constituindo-se numa das principais expressões de sua diferenciação em espécie humana. Por isso, o uso das mãos para solucionar problemas (Bruner, 1973) está sendo objeto de estudos recentes. Na Psicologia do Desenvolvimento, procura-se conhecer a progressão deste comportamento, que chamamos de exploratório-manipulativo(3), desde o nascimento ate os quatro anos, quando, de acordo com Connolly e Elliott (1972), a criança é capaz de pegar com força e precisão totais. Bruner (1970b) especifica que a mão tem habilidade para controlar vários objetos ao mesmo tempo, complementar o controle da outra mão, ultrapassar barreiras para alcançar objetos e pegar.

 

DESCRIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA EXPLORAÇÃO-MANIPULATIVA DE ZERO A 20 MESES

É conveniente que conheçamos de que modo a criança adquire tais habilidades. Para isto, vamos nos concentrar no período que vai do nascimento aos 20 meses, que é considerado por muitos autores como o período das grandes aquisições, principalmente dos 10 aos 18 meses (veja Piaget, 1975 e White, 1973).

Bruner (1976) afirma que através do brincar, a criança forma novas combinações de respostas e minimiza os riscos da aprendizagem. Vale dizer, ela descobre as cores, as formas, as relações de tamanho, de espaço, dureza, os sons, etc, em situação simplificada do mundo adulto, e suas mãos, combinadas com a visão e a sucção, são os agentes desta exploração do mundo. Nos dois primeiros anos de vida, esta será uma grande fonte de interesse da criança, segundo White (1973).

Durante os quatro primeiros meses de vida, a criança geralmente utiliza os esquemas de forma isolada: olha, ou agarra, ou suga, por isso Piaget chamou esta reação de circular primária e a enquadrou na segunda etapa do período sensório-motor. A criança mostra respostas de mover as mãos até à linha média do corpo, quando lhe é apresentado um objeto (Bruner, 1970a) e, se este se move sobre a palma de sua mão, ela fecha os dedos sobre ele (Twitchell, 1970). Mais adiante, a criança eleva suas mãos na linha média e uma das mãos aperta a outra (White e outros, 1964). No entanto, White (1970a), num estudo de 164 crianças institucionalizadas, encontrou respostas de integração de dois, três e até quatro esquemas no período de dois a quatro meses. Estes dados antecipam de até quatro meses a aplicação dos esquemas no ambiente exterior, o que Piaget chamou de reação circular secundária, como parte da terceira etapa do período sensório-motor. No quadro 1 encontra-se a especificação do desenvolvimento destas respostas no período de zero a quatro meses.

 

 

As respostas típicas deste período são as de pegar o objeto próximo de sua mão e, sem usar a visão, levá-lo à boca, ou, ainda, quando tem um objeto na mão, a criança olha o objeto ou olha a outra mão que está vazia (White, 1970a).

Bruner (1970b) afirma que aos quatro meses a criança já é capaz de manter um objeto na mão por mais tempo e,assim, novas combinações são feitas. A criança olha o objeto na mão e o explora tatilmente(White,1970a) ou pega o objeto, olha-o e o leva à boca (White, 1970a e Bruner,1970a), ou pega, olha,explora e leva o objeto à boca (White, 1970a).

No final do quinto mês a criança já desenvolveu o pegar com direção visual (White e outros, 1964) e apresenta a resposta de abrir a boca, ao pegar o objeto, numa antecipação ao final da seqüência alcançar - agarrar - reter - colocar na boca (Bruner, 1970a). O comportamento da criança que antes parecia generalizado e erratico, adquire "intenção". A criança começa a apresentar a resposta antecipatrória de pegar, elevando as duas mãos a linha média, quando um objeto é colocado no seu campo visual.

O colocar a mão na boca, previamente aprendido, também aparece como uma resposta inicial a este comportamento, conforme observou Bruner (1970a). Este mesmo autor diz que a partir dos sete meses, o papel da boca decresce em função da exploração tátil, visual ou cinestésica, isto é, a seqüência é interrompida em reter com vários comportamentos de exploração do objeto antes de levá-lo à boca. Apesar disto, White (1975) diz que os bebês jã aos dois meses são mais visuais do que orais. Gratch (1972) mostrou que aparentemente os bebês aos 6 meses ganham mais informação dos objetos através da visão e, quando a visão do objeto não é possível, eles perdem o contato com o objeto.

Parece que a aquisição do controle visual sobre a resposta de pegar é a responsável pelo aparecimento de respostas que exigem habilidade manual e alguns movimentos associados, como Flavell (1974) afirma. A criança executa exploratório-manipulativas bater com o objeto sobre alguma superfície num ritmo qualquer, balançar, passar uma mão para outra, etc, conforme Fenson colaboradores (1976) observaram, ao mesmo tempo em mantém fixo olhar no objeto. Quadro 2, são encontradas as respostas típicas do período de quatro a oito meses.

Aos oito meses temos o amadurecimento final do pegar com direção visual (Bruner, 1970a), que coincide com a possibilidade de coordenação e aplicação, pela criança, dos esquemas secundários a situações novas, conforme Piaget descreve na etapa quatro do período sensório-motor. A criança é capaz de, ao lhe ser oferecido um novo objeto, transferir o primeiro para a mão vazia e, então, segurar o novo (Bruner, 1970b), controlando os dois. Simultaneamente temos o aparecimento dos chamados atos relacionais simples, segundo Fenson e colaboradores(1976), quando a criança brinca com dois objetos ao mesmo tempo. As aquisições nesta etapa são ricas: o comportamento exploratório-manipulativo se torna mais complexo, havendo um aumento na freqüência das associações entre os comportamentos. Aos nove meses a criança já é capaz de recuperar a mão e o objeto que está na mão, quando são cobertos por uma barreira (Bruner, 1970a). Mas a coordenação bimanual ainda e deficiente e a criança é incapaz de usar as duas mãos de forma coordenada para recuperar um objeto dentro de uma caixa com tampa, por exemplo, porque ela aplica a esta situação nova os esquemas manuais já conhecidos, independente de a situação não ser resolvida desta forma.

Nos meses seguintes, até os 12 meses, observa-se uma evolução dos comportamentos exploratório-manipulativos,evidenciando-se cada vez mais a intencionalidade do comportamento. As respostas típicas encontradas neste período podem ser vistas no Quadro 3. As características dos objetos começam a ser exploradas, ao contrário da etapa anterior (Piaget, 1975). McCall (1974) verificou que os bebês de 10 meses manipulavam mais os objetos de maior plasticidade e potencial sonoro, embora o efeito se restringisse a uma característica por vez.

 

 

Poderíamos dizer que entre nove e 12 meses, a criança aperfeiçoa seu conhecimento do ambiente exterior, predominantemente através de experiências visuais, de exploração, de domínio e informação, concomitantemente ao desenvolvimento das habilidades motoras (White, 1973), ao relacionamento dos objetos entre si, à percepção do objeto independente de suas próprias ações (Piaget, 1975) e a preferência por objetos novos (Ross e outros, 1972). Neste período, aos 11 meses, ocorre o desenvolvimento final do reflexo de pegar, conforme verificou Twitchell (1970).

No início da quinta etapa do período sensóriomotor, isto é, aos 12 meses, a criança já pode controlar três objetos nas mãos e depositar um, quando lhe é ofereeido um quarto (Bruner, 1970b), evidenciando progresso na capacidade de combinar suas ações e propiciando o aparecimento da chamada reação circular terciária descrita por Piaget.

A criança de 13 meses inicia a integração de seu comportamento de forma acomodativa (Fenson e outros , 1976), imitando as atividades da vida diária como: colocar tampa em panelas, a xícara no pires, a colher na xícara, etc. Algumas delas também fazem simulações de comer, beber, derramar, etc, A coordenação bimanual evolui progressivamente, por exemplo: a criança bate na barreira que cobre o objeto, abre e fecha a tampa da caixa que contém o objeto, comportamentos que são, geralmente, os responsáveis pelo seu insucesso nesta idade. Apresenta-se no Quadro 4 o desenvolvimento da exploração-manipulativa dos 12 aos 18 meses.

 

 

Ao atingir os 17 meses, embora de forma grosseira, ela abre a tampa da caixa com uma das mãos e pega o objeto com a outra e desvia-se da barreira e pega o objeto que está atrás dela, segundo observações feitas por Bruner (1970b).

Piaget (1975) discute que provavelmente o desenvolvimento da coordenação bimanual se relaciona ao começo de organização da percepção do espaço. No segundo ano de vida, a criança tem bom desempenho em testes de permanência do objeto e conhecimento de como o objeto se move no mundo físico (Piaget, 1975 e White, 1973); faz discriminações grosseiras de tamanho e de cor, com auxílio (White, 1973). Piaget descreve um comportamento intermediário para conseguir um objeto distanciado, a que a criança chega por experimentação ativa, num claro aperfeiçoamento da conduta de solucionar problemas. Nos meses seguintes, o comportamento de experimentação se aperfeiçoa ate que a criança dá soluções aos problemas por aplicação de combinações mentais, a partir dos 18 meses. Nesta época, o desenvolvimento da linguagem parece mediar esta resposta (White, 1973), já que a criança começa a agrupar objetos familiares e não familiares e a desempenhar atos em seqüência (Fenson e outros, 1976), respostas estas que estão tradicionalmente relacionadas a mediação da resposta verbal. Ao findar o segundo ano de vida, a criança tem um repertório de ações que a habilita a resolver problemas simples que envolvam habilidade manual. A descrição deste repertório é apresentada no Quadro 5.

Com a apresentação deste último quadro (pág. 164) , temos a visão completa do desenvolvimento da exploração-manipulativa de zero a 20 meses. Na figura 1 (pág. 165) é apresentado um sumário deste desenvolvimento, permitindo a percepção de sua evolução gradativa e acentuando o aspecto de aumento da complexidade das respostas ,onde cada nova resposta engloba a anterior e a nova aquisição.

 

EFEITOS DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA EXPLORAÇÃO-MANIPULATIVA

A progressão do comportamento exploratório-manipulátivo, a par de envolver um conjunto de etapas de maturação(4)motora, pode ser acelerada pela experiência(5). Inúmeros estudos "têm verificado algumas das variáveis de estímulo que aceleram ou interferem no desenvolvimento do comportamento exploratório-manipulativo. Fredrickson e Brown (1975) verificaram que bebês de três dias, quando colocados na posição vertical, recostados no ombro de um adulto, melhoram a qualidade do comportamento visual, comparativamente a estarem deitados ou sentados. White e Castle (1964) verificaram que bebês de um a quatro meses, quando colocados na posição vertical, recostados no peito de um adulto e balançados, aumentaram a atenção visual, embora seus olhos fossem cobertos durante o manuseio. A posição vertical, mantida por um adulto, fornece uma estimulação tátil que parece ser importante para a qualidade do comportamento visual, o que pode ser confirmado pelos estudos de White (1970b).

Parece contudo que a variável mais importante não seria manuseio ou posição, mas sim a monotonia ambiental. Um enriquecimento estimulacional do ambiente provocaria alterações dramáticas na atenção visual. White(1970b) mesmo demonstra isto, acrescentando mudanças ambientais entre o 379 e 1249 dias de vida de crianças institucionalizadas. Houve um aumento percentual de 13,9 no tempo de fixação visual para os sujeitos experimentais a partir do 76º dia, em relação aos sujeitos controle. A este incremento de atenção ou exploração visual por mudanças ambientais, juntam-se os incrementos sobre as respostas de pegar e suas antecedentes. White (1970b) mostra o desenvovimento do pegar com direção visual, por volta do 3º mês como efeito de modificações ambientais nos primeiros dias. A criança aplica os esquemas visual, de sucção e de pegar aos objetos do meio exterior e os combina de várias formas já aos dois meses meio, antecedendo em cerca um mês o grupo controle (White, 1970a) . Também a exploração-manipulativa se desenvolve rapidamente, quando criança recebe estimulação nova com maior freqüência (Sayegh Dennis, 1965).

Outro elemento importante é a distância do objeto, McKenzie e Day (1972) verificaram que os bebês entre um a cinco meses fixam por mais tempo um objeto a 30 centímetros de distância que a 50, 70 e 90; enquanto Field (1976a) afirma que isto ocorre apenas aos cinco meses para distâncias maiores que 26cm. O mesmo autor confirma estes resultados para três, quatro e seis meses. Aos dois meses a distância somente influi quando o tamanho retiniano é constante.

As características de estímulo também são importantes: os bebês de 4 a 6 meses gastam mais tempo olhando estímulos angulares que retos, enquanto que os de 2 meses olham igualmente os dois (Ruff, 1976). Aos três e seis meses os bebês olham mais os objetos sólidos que as figuras dos objetos (Field, 1976b). Aos quatro meses quanto mais complexo o padrão do estímulo, mais o bebê olha para ele (Cohen e outros, 1975).

Field (1976b) relata efeitos da distância sobre as respostas de tocar e manipular. Os bebês de seis meses tocaram e agarraram mais os estímulos colocados a 13cm que a 32,5 e 52cm. O objeto solido foi mais manipulado que a figura deste mesmo objeto.

No Quadro 6, encontramos um resumo dos efeitos estimulacionais sobre o comportamento e seria oportuno que se verificassem estes dados comparativamente a afirmação de Piaget de que, entre quatro e oito meses, a criança apenas aplica o esquema visual sem que se importar com os objetos em si mesmos. É provável que as exigências de preensão e manipulação escondam o desenvolvimento de uma preferência visual.

 

 

Estes dados mostram que a experiência tem efei tos sobre o desenvolvimento do comportamento exploratório-manipulativo, incrementando e acelerando este desenvolvimento.

Estes efeitos não são apenas aceleradores. Uma deficiência na estimulação afeta o curso de desenvolvimento, atrasando a aquisição dos padrões de resposta exploratório-manipulativa. Estes efeitos são dramáticos no caso de privação estimulacional extrema. Os bebês criados em instituição apresentam menor atenção visual e menos manipulação tátil que os bebês criados em casa; menos respostas de exploração ao brinquedo; mais padronização nas respostas de brincar que os bebês criados em casa e menor habilidade em coordenação motora fina (Collard, 1971).

Rheingold (1961), citada por Rubenstein (1967), afirma que não encontrou diferenças entre crianças de 3,5 meses institucionalizadas e não institucionalizadas no que se refere à responsividade aos objetos novos, enquanto Collard (1962), também citada por Rubenstein, encontrou diferenças apenas na variedade de respostas aos 12 meses.

No entanto, o problema central parece estar relacionado com as experiências sensoriais que a criança tem durante seus primeiros anos. Rubenstein (1967) afirma que a atenção materna:olhar, tocar, segurar, falar, fornecer oportunidades de brincar - afeta o desenvolvimento do comportamento exploratório: as crianças de 6 meses, que receberam alta estimulação materna mostraram maior freqüência de olhar e de manipulação tátil que as crianças que receberam baixa estimulação materna. White (1973) também afirma que a melhor qualidade de estimulação, provida por quem cuida da criança, produz melhor competência na criança. Yarrow e colaboradores (1975) sustentam que a oportunidade de brincar com objetos esta fortemente relacionada com o desenvolvimento do comportamento exploratório e preferência por novidade. A atenção

Contudo, os dados da literatura são contraditórios sobre os efeitos da privação de estimulação sobre o comportamento exploratório-manipulativo do bebê humano, porque geralmente são anteriores aos estudos da progressão deste comportamento, com exceção dos estudos já citados de White, White e colaboradores, Bruner e Yarrow. Assim sendo; encontramos em Collard (1971)citações que se contradizem quanto às diferenças de níveis de desenvolvimento entre crianças institucionalizadas e crianças criadas em casa. Alguns estudos apontam o desfavorecimento das crianças institucionalizadas, outros não.

O fator determinante não parece ser instituição versus lar e, sim, baixa qualidade de estimulação versus alta qualidade.

White e Castle (1964), em seu estudo, discutem que a diferença encontrada entre crianças institucionalizadas e não institucionalizadas seria devida às experiências sensoriais que a criança tenha tido e não à institucionalização em si mesma.

Estes estudos, entre outros, mostram claramente que a experiência da criança se relaciona ao seu desenvolvimento e, em especial, a estimulação de objetos se relaciona ao desenvolvimento do comportamento exploratório. A criança que sofreu carência desta estimulação provavelmente apresentará uma deficiência na sua habilidade de usar as mãos para resolver problemas. Esta habilidade está freqüêntemente afetada nas crianças institucionalizadas (Rubenstein, 1967; Collard, 1971; McCall, 1974); nas crianças subnutridas (McKay e outros, 1973) e nas crianças de baixa classe econômica (Collard, 1971).

 

NOTAS

(1) - Este artigo constitui a parte introdutória do trabalho apresentado, pela autora, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicologia, pela Universidade de Brasília, em 1979, sob orientação da Dra. Thereza Pontual de Lemos Mettel, a quem a autora agradece o estímulo e a confiança.

(2) - Psicóloga - Endereço: SCS, Ed. Sônia, Sala 307 - CEP: 70300 - Brasília - DF.

(3) - Comportamento exploratório-manipulativo: são as respostas de utilizar as mãos, e, às vezes a boca, explorando os objetos forma associativa ou não; enquadram-se no grupo das respostas motoras-finas.

(4) - Maturação: as contribuições ao desenvolvimento do crescimento e diferenciação tecidual, mais seus efeitos vestigiais orgânicos funcionais sobreviventes do desenvolvimento anterior (Schneirla; in Connolly, 1970).

(5) - Experiência: as contribuições ao desenvolvimento dos efeitos de estimulação provenientes todas as fontes possíveis (externas e internas), incluindo seus vestigiais funcionais sobreviventes do desenvolvimento anterior. (Schneirla; in Connolly, 1970).

 

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