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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.4 n.1 Brasília  1984

 

CARTA EDITORIAL

 

 

Os ventos da mudança social sopram entre nós, agitando não apenas a superfície dos acontecimentos de nosso quotidiano político, mas movendo também as correntes mais profundas de nossa realidade. Este momento crucial da história, quando todos compartilhamos o sentimento da encruzilhada, é tempo propício para o repensar dos caminhos que percorremos e para a interrogação de nossa própria identidade cultural. E não há segmento da sociedade civil que se possa demitir desta tarefa, como algo que lhe seja alheio. Ao contrário, cada grupo, na especificidade que o define, é chamado a participar na torrente deste debate que se avoluma. A categoria profissional dos psicólogos não poderia permanecer insensível diante destes "sinais dos tempos", pois é neste horizonte rico de esperanças e contradições que constituímos nossa ciência e exercemos nossa profissão.

A revista "Psicologia: Ciência e Profissão" quer imprimir, em sua nova linha editorial, a marca desta opção por uma interação mais intensa com a realidade social que nos cerca. Temos o objetivo de facilitar a comunicação dos psicólogos entre si e o intercâmbio da psicologia com o meio em que está contextualizada. Pretendemos tornar a revista um veículo mais ágil, mais flexível, na diversidade de sua forma e de seu conteúdo, acolhendo modos diferentes de intervenção, que não se restrinjam à rígida padronização acadêmica: além dos artigos e de relatos de pesquisa, aceitaremos também reportagens, opinião de leitores, transcrições de mesas-redondas, entrevistas, resenhas de teses, livros etc. Além de acolhermos as contribuições enviadas, queremos ir ao encontro das preocupações de nossa categoria profissional, trabalhando no sentido de produzir o conteúdo da revista, de modo a suscitar novas temáticas, estimulando estudos, interrogações e polêmicas.

Nossa intenção é de veicular uma diversidade de temas e de modos de produzir o conhecimento. Aceitaremos a produção teórica, as contribuições provenientes dos centros de investigação científica, mas também concorreremos, ainda que modestamente, para a mediação entre a reflexão e a pesquisa universitárias e as inquietações da comunidade. Visamos, por um lado, divulgar a pesquisa científica para um público que pouco acesso tem a ela e, por outro, canalizar para a universidade as preocupações emergentes da prática profissional, articulando estes dois pólos à tessitura social maior onde ambos se inserem.

É necessário, também, que nossa revista se constitua num espaço interdisciplinar no qual a procedência múltipla dos enfoques possa fecundar-se. Esperamos aportes provenientes de outras áreas e disciplinas, certos de que a interpenetração dos diversos campos das ciências é não só inevitável, mas, também, desejável, pois a compartimentalização dos saberes responde, antes, às demandas da burocracia, do que às necessidades do conhecimento. Esta abertura externa para a interdisciplinaridade exige, por sua vez, uma abertura interna, na direção de uma ampla tolerância epistemológica.

A psicologia não se configura como um espaço teórico e prático homogêneo, mas está atravessada por uma heterogeneidade de técnicas, métodos e abordagens, que os torna irredutíveis a uma cientificidade comum, a não ser que se recorra a uma exclusão de princípio. As contribuições, independentemente de sua marca metodológica ou conceitual, serão apreciadas de acordo com alguns critérios que se inferem de nossa nova postura editorial, a saber: relevância temática para toda categoria profissional, utilização de uma linguagem não excessivamente técnica ou especializada, descrição e análise de problemas fundamentais e não de questões secundárias e de alcance restrito, e apresentação de trabalhos de caráter sintético, que não se estendam em detalhar longamente procedimentos e resultados. Enfim, sem descuidar da qualidade inerente a uma publicação desta natureza, são critérios que objetivam fazer de nossa revista um lugar de convergência, onde a dispersividade intrínseca da psicologia se encontre num diálogo crítico.

Certamente somos muito ambiciosos ao estabelecermos tais metas, sobretudo se considerarmos os muitos obstáculos que se interpõem à sua realização. Mas esta é uma contradição comum a qualquer projeto e afrontá-la talvez seja um motivo suficiente para o recomeço a que nos propomos.

A Comissão Editorial