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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.4 n.2 Brasília  1984

 

RESENHA

 

Sylvia Leser de Mello

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

 

 

O livro "O Perfil do Psicólogo no Estado de São Paulo" parte de três questões, uma delas evidente: como é o psicólogo? Na composição do seu perfil uniram-se o Conselho Regional de Psicologia — 6.ª Região, o Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo e uma equipe de pesquisadores do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). A pesquisa realizada quer dar precisão ao perfil e captar em todas as instâncias objetivas o profissional que se chama psicólogo. Assim, a pesquisa tem malhas finas: captura tudo o que pode ser apreendido, mistura e confronta, cruza e recruza os dados numéricos obtidos. Há muitas perguntas e muitas respostas que nos contam as múltiplas facetas pelas quais um profissional e uma profissão podem ser conhecidos. Algumas características são nítidas, como o número predominante de mulheres a exercerem a profissão, a preferência, ou alegada preferência, pela clinica autônoma, as rendas mensais que a caracterizam como uma profissão de classe média e a juventude dos profissionais que compõem a categoria — "Mais da metade dos psicólogos tem menos de 30 anos e cumulativamente 89,7% tem, no Estado, menos de 40 anos." (p. 17) — características que já nos permitem uma compreensão aproximada de outras que as malhas mais finas da pesquisa colocam em relevo.

A segunda questão, implícita na primeira, é o problema da definição do profissional que o Sindicato congrega. Essa questão remete aos problemas do próprio Sindicato quanto aos interesses da categoria, de suas aspirações e reivindicações. Onde trabalha o psicólogo? Possui vínculos empregatícios? De que ordem? Quem é seu patrão? Como é seu contrato de trabalho? Qual a função do sindicato para aqueles que se definem como profissionais liberais?

E, afinal, a terceira questão que, a meu ver, constitui a razão última do esforço do Sindicato e do Conselho: por que a categoria apresenta um índice tão baixo de sindicalização? O capitulo V, "Vinculação às Entidades de Classe" é, portanto, fundamental. Ele nos conta as razões e sem-razões que configuram o desinteresse pela sindicalização, ao mesmo tempo que coloca em destaque as atuações mais decididas do Conselho e do Sindicato. Por que a definição do perfil da categoria, de suas contingências no mercado de trabalho e de seu grau de consciência quanto às funções das entidades de classe são problemas tão importantes para o Sindicato? Porque o Sindicato é um órgão fundamental numa sociedade democrática estruturada em classes. Mesmo que as respostas que a pesquisa traz a essas questões não sejam de todo elucidativas, o básico é haver a disposição para investigá-las. A discussão final do livro é representativa das perguntas sem resposta, ou com múltiplas respostas, indício claro do tipo de proposição do qual partiu a pesquisa.

O livro representa, na sua intenção, a retomada da questão básica das associaçõesonde umdíreito, uma reivindicação, um modo de ver questões relevantes para a sociedade ganham corpo e voz, necessidade fundamental numa sociedade pluralista e aberta onde todos devem estar presentes, quer como indivíduos particulares, quer como profissionais. Subjacente à proposta de deslindar o perfil do profissional que é o seu associado, o sindicato quer responder ao desafio da democracia quanto às funções de uma associação, como o Sindicato, no corpo mais amplo desta grande associação que é a sociedade onde todos nós vivemos.