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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.6 n.1 Brasília  1986

 

EDITORIAL

 

 

A revista Psicologia, Ciência e Profissão prossegue nesta nova gestão do Conselho Federal de Psicologia com , a mesma linha editorial, trazendo matérias que informam sobre campos ainda recentes da Psicologia e da atuação profissional, bem como os avanços e visões críticas sobre os já existentes.

Inspirada no depoimento A sociedade dos descartáveis, da colega Sílvia M.B.R.O. de Arruda, a Comissão Editorial decidiu aprofundar o assunto. Este depoimento da colega põe em cena o desgaste das relações sociais numa sociedade de consumo, levando de roldão seus próprios valores humanísticos. Nossos Velhos, tema da seção Psicologia em Debate, abrirá também os olhos de nossos leitores — todos muito jovens, em sua grande maioria — para o problema que atinge os idosos. A condição de envelhecer é vivida diferentemente conforme a classe social e com isto devemos nos preocupar. Em seu depoimento, Luís Firmino de Lima falou de sua experiência de vida baseada no trabalho e na luta desde os seis anos de idade até hoje, quando continua resistindo na luta pelos aposentados. Raquel Vieira da Cunha, Elvira Wagner e Liliana Jalfen, responsáveis pelo curso de Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae, discutem o conceito de "velho"; a maneira como a sociedade brasileira está mal organizada para enfrentar esta etapa da vida; a organização da assistência ao idoso em outros países e o lugar do psicólogo nessa questão.

Na seção Depoimento, trazemos a experiência do colega Odair Sass na Escola Oficina. Uma experiência educacional com os menores de rua, em que ficam claras as carências nas áreas de pesquisa, teoria e ensino voltadas para as condições dessas crianças, cuja realidade está tão distante da pessoa do psicólogo enquanto experiência de sua própria vida e relações sociais. Vocês vão sentir com que confiança e garra Odair enfrenta as difíceis questões desse mundo de tóxicos, roubos, agressões e perseguições, enfim da luta pela dura sobrevivência imediata.

Um artigo de Sérgio Leite faz uma breve avaliação sobre o que é o ensino de 2° grau hoje e, em seguida, discute a relevância do recente retorno da disciplina de Psicologia no 2° grau, juntamente com a Filosofia e a Sociologia. Em termos de Psicologia, Sérgio Leite considera que, além da conquista desse mercado de trabalho, precisamos garantir a qualidade do ensino de Psicologia e assim contribuir para os jovens entenderem o mundo e a si mesmos como cidadãos participantes.

Outro artigo de, Eunice S. Alencar, discute inicialmente o interesse da Psicologia pelo estudo da criatividade. Depois demonstra quais condições sociais e características de personalidade são favoráveis ou desfavoráveis ao desenvolvimento da criatividade na escola, na família, na nossa sociedade. A autora considera que — psicólogos e educadores — podemos contribuir no sentido de ultrapassar as barreiras existentes no desenvolvimento da criatividade.

A Perícia Psicológica é um artigo relevante, pois trata de um campo onde são poucos os psicólogos a darem a sua contribuição. Nele, os psicólogos lidam com preciosas avaliações que pesarão na decisão judicial e que tanto influenciarão a vida das pessoas envolvidas. Maria Cecília M. Ortiz descreve muito bem o que o psicólogo pode fazer, como fazê-lo melhor e quais as conquistas que ainda devem ser feitas. Ela é uma batalhadora nesta área, aplicando-se com afinco ao assunto, quer em seus aspectos teórico-técnicos, quer em questões ainda por conquistar, como legislações e mudanças no nosso Código de Ética.

São raros os artigos de Psicologia Organizacional enviados para publicação. Neste número, publicamos um artigo de José Carlos Zanelli que destaca a importância do curso de graduação como um lugar privilegiado para mudar o papel e a função do psicólogo organizacional no ambiente de trabalho. O psicólogo organizacional tem sido freqüentemente reprodutor de objetivos técnicos sem poder de intervenção nos processos decisórios organizacionais. Zanelli faz uma crítica da situação profissional vigente e articula esse tipo de crítica com a questão da formação do psicólogo que ainda se volta, principalmente, para a clínica. O artigo de Zanelli estimulou um Contraponto escrito por Jairo Eduardo Borges Andrade e publicado também neste número.

A seção Memória Viva está dedicada a Elisa Dias Velloso. Figura tradicional de nossa área, ligada aos primeiros psicólogos que lutaram pela criação dos CF e CRPs, falou sobre suas experiências pioneiras nas áreas educacional e clínica.

Finalmente, queremos dizer que continuamos a receber muitas cartas elogiosas de psicólogos de todo o país. Além deles, estudantes e profissionais não-psicólogos têm-nos solicitado freqüentemente o envio da revista; o que não estamos podendo atender no momento. Entretanto, resolvemos trabalhar num projeto de ampliação da circulação da revista, visto que está demonstrado haver um público relativamente grande e interessado em nossa publicação. Para tanto, estamos providenciando o registro legal da revista e, em seguida, faremos uma divulgação nacional visando à venda de assinaturas entre os leitores não-inscritos nos CRPs. Acreditamos que assim estaremos cumprindo um dos objetivos que justificam a existência dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia: o de possibilitar a livre circulação de idéias no âmbito da profissão e da sociedade.

Queremos aproveitar a oportunidade para reafirmar a importância que conferimos ao caráter nacional de nossa revista. Achamos que isso pode ser conseguido não só através da escolha dos temas tratados, que possuem necessariamente uma repercussão nacional, mas também a partir da participação de psicólogos de todo o país, escrevendo e debatendo sobre a nossa realidade. Apesar de nossos esforços, este objetivo não está sendo fácil de atingir. Por essa razão voltamos a insistir com os colegas no sentido de participarem com as suas colaborações na nossa revista.