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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.7 n.2 Brasília  1987

 

EDITORIAL

 

Os 25 anos e a imagem da profissão

 

 

Estamos comemorando os 25 anos de regulamentação da profissão, assinada em 27 de agosto de 1962 pelo então Presidente João Goulart. Entretanto, o que muitos não sabem é que esse fato foi precedido por mais de 30 anos de lutas por parte dos profissionais que já atuavam como psicólogos. Assim, a Lei 4.119 não foi um mero presente que os setores políticos nos ofereceram; representou uma importante conquista de nossa categoria que na época, começava a se organizar e marcar presença na sociedade brasileira.

De lá para cá, muitos acontecimentos importantes afetaram não só a categoria dos psicólogos, mas toda a sociedade civil. A fase pós-64, incluindo os anos 70, representou um período difícil, em que os profissionais das diversas áreas foram praticamente impedidos de participar na discussão e encaminhamento de soluções para os principais problemas sociais que atingiam nossa população.

Mas, sem dúvida, os anos 80 têm se caracterizado como um período de amadurecimento da categoria, não só pelo seu crescente nível de organização, mas principalmente pela busca de novas formas de atuação profissional, visando ao atendimento de toda a população e em especial dos setores historicamente marginalizados. Hoje, somos cerca de 65.000 psicólogos trabalhando nas mais diversas áreas da sociedade. Apesar das dificuldades, estamos conseguindo gradualmente atuar de forma significante em hospitais, centros de saúde, creches, escolas, universidades, associações comunitárias, sindicatos, empresas, juizados de menores, penitenciárias, núcleos rurais etc.

Entretanto, apesar do crescimento e diversificação profissional observados nos últimos anos, temos que reconhecer que a imagem da profissão junto à população não se alterou proporcionalmente às mudanças que vêm ocorrendo no mercado de trabalho: ainda somos vistos, pela média da população, como profissionais que cuidam dos indivíduos quando estes apresentam problemas "da cabeça".

Certamente, tal imagem é conseqüência de um tipo de atuação profissional que durante muito tempo foi desenvolvida pelos psicólogos e que os cursos de formação ainda não conseguiram superar.

Talvez este seja o desafio para a categoria nos próximos anos: mudar radicalmente sua imagem profissional e firmar-se como uma profissão socialmente importante. No entanto, tal desafio só será vencido pelo exercício de práticas profissionais que efetivamente atendam às necessidades de todos os setores sociais, principalmente dos setores majoritários, ou seja, das populações mais pobres.

Hoje estamos comemorando o reconhecimento legal da profissão, mas temos ainda um longo caminho a percorrer para conseguirmos o completo reconhecimento social da profissão. Nesta perspectiva, precisamos aprofundar o processo de revisão crítica sobre o tipo de conhecimento que temos produzido e a busca de novos modelos de atuação mais adequados para a nossa realidade.

Além disso, tal objetivo implica necessariamente o fortalecimento de nossa organização enquanto categoria. Daí a importância das entidades de representação, como os Conselhos e os Sindicatos, serem fortalecidas pela participação ativa dos profissionais, pois representam concretamente um espaço político fundamental, através do qual a categoria pode se fazer presente e, como tal, participar do processo social.

É nesta perspectiva que se entende o esforço do CFP em manter um veículo como esta nossa revista — Psicologia — Ciência e Profissão. Nesses sete anos de existência, a revista já se tornou para a categoria um importante canal de socialização de idéias, conhecimentos e propostas de atuação, e pretendemos que ela continue exercendo esse papel. Neste sentido, é fundamental a participação da categoria, utilizando este veículo como meio de divulgação de pesquisas e práticas profissionais.

Assim, estamos solicitando a colaboração dos psicólogos no processo de elaboração das matérias aqui divulgadas: se você está desenvolvendo atividades profissionais que julga serem socialmente relevantes e inovadoras ou se produziu pesquisas que, pela sua natureza, merecem divulgação junto à categoria, entre em contato com a Câmara de Comunicação do CFP, via correio, enviando matéria pronta para avaliação ou resumo da experiência que sugere para divulgação, anexando nome e endereço para contato.

Acreditamos que a socialização de novos conhecimentos e práticas profissionais é uma das estratégias fundamentais nesse processo de reconstrução da imagem social, e, porque não dizer, nesse processo de construção de nossa própria história.