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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.10 n.2-3-4 Brasília  1990

 

EDITORIAL

 

Prática psicológica: repetição ou mudança

 

 

A nossa profissão tem passado por momentos complexos, não só no que diz respeito ao seu exercício, bem como ao que poderíamos chamar a nossa identidade. Tal fato depende de variáveis como a própria mudança da sociedade brasileira nesta ante véspera do terceiro milênio, bem como a necessidade dos psicólogos de darem respostas adequadas aos novos sinais dos tempos. A questão é: o que é psicologia hoje e como se expressar efetivamente. Surgem, então, as mais variadas formas de respostas, ocasionando propostas de soluções que terminam por confundir o público, sobretudo na seu aspecto técnico-metodológico. Falta, por vezes, um embasamento teórico que possa garantir a eficiência do método e a eficácia da resposta.

Temos, portanto, urgentemente, de pensar na profissão como um todo. Nada e ausente de significação. Nossa presença no mundo significa intervir nas variáveis culturais e psicológicas à procura de uma equilibração que redunde em bem estar e em saúde para a comunidade.

Este volume procura caminhar nesta vertente. Uma primeira parte nos leva a refletir, de uma maneira mais geral, sobre as possibilidades dessa reflexão, de uma mudança pensada, provocada a partir da realidade que nos cerca. Uma segunda parte, enfoca mais especificamente, o problema da educação.

Este o dilema da profissão: repetir ou mudar. A comodidade do antigo, do caminho já pisado ou o risco do novo, de criar, assumindo responsabilidades. Este também é o dilema do Brasil.

Este volume, portanto, vai nesta direção, o do risco e retorna, especificamente, a uma discussão iniciada na Revista Psicologia - Ciência e Profissão, Ano 9, nº 1/89, relativa à questão da formação profissional e, em especial, à formação e prática do psicólogo educacional, tema já discutido em outro volume (Ano 9, nº 3/89): "Psicologia e Política Educacional". Vale voltar a questão, principalmente por estarmos bem próximos do 1ª Congresso Nacional de Psicologia Escolar (nov/91), onde, esperamos, que novas polêmicas trarão novos dados para discussão e, quiçá, uma revisão nas políticas de atuação.

Vários estudos e pesquisas têm revelado diferentes facetas do problema da formação e atuação do psicólogo na área de Educação. Neste volume, dois artigos relativos a análises realizadas no Nordeste (Natal e Fortaleza) descrevem características desse trabalho, ressaltando que elas refletem os mesmos enfoques das demais regiões do país, no tocante à pouca valorização desta área, nos cursos de formação e ao viés clínico presente nas práticas que ainda priorizam a orientação e aconselhamento de alunos, além da dupla vinculação profissional da maioria dos psicólogos entrevistados nas duas pesquisas.

Para complementar as sugestões levantadas, como alternativas reais ao modelo tradicional nas análises dos trabalhos citados, surge o depoimento crítico de duas psicólogas cariocas, atuantes em equipes multidisciplinares de educação. Fazem essas autoras uma interessante discussão sobre a estrutura e funcionamento dos distritos educacionais, questionando inclusive suas verdadeiras funções no sistema educacional do município e propõem acabar com a tradicional centralização do poder nesses espaços, ao levar os profissionais em educação (psicólogos entre eles) a atuarem diretamente nas escolas, concretizando uma efetiva participação de todos nas mudanças necessárias em nossa sociedade.