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Psicologia: ciência e profissão

Print version ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. vol.19 no.1 Brasília  1999

 

CAIXA DE RESSONÂNCIA

 

Plágio

 

 

A psicóloga Olívia B. Valdivia enviou carta à Comissão Editorial, em resposta à denúncia de plágio formulada por Marcus do Rio Texeira, publicada na edição no 2, ano 18, de 1998. Segue-se uma síntese do que a autora chama de artigo resposta, o qual denomina "Um Horrível Caso de Plágio ou Ledos Enganos de Um Ser Afável?":

"Eu havia sido acusada de plágio pelo psicanalista Marcus do Rio Texeira: segundo Carta do Editorial da Revista, dirigida 'aos psicólogos', teria havido uma 'lesão dos direitos autorais' do referido psicanalista pelo fato de eu ter citado, num meu artigo de revista, trechos de um seu ensaio sem as devidas aspas e sem as citações de páginas que remeteriam ao texto original. (...)

Depois dessa justificada manifestação de protesto do conceituado Autor - e que foi, como disse, publicada pela aludida Revista - tive a enorme satisfação de obter uma inesperada, mas muitíssimo bem vinda, compreensão do próprio Marcus do Rio Teixeira com relação ao meu equívoco; tal expressão de um legítimo pensar psicanalítico veio favorecer bem mais a elaboração dessas minhas justificativas que ora seguem. (...)

Quanto ao episódio em si (o aparente plágio por mim praticado), devo dizer que se trata de um inadvertido e aprofundado estudo que fiz do 'A Feminilidade na Psicanálise', de Marcus do Rio Teixeira, a tal ponto esmiuçado (e proveitoso para minha formação!) que prática e imperceptivelmente, acabei por decorar passagens inteiras do ensaio: eu nunca tinha me detido antes num autor que me tornasse tão claras as idéias de Lacan sobre 'a mulher' e A Mulher!

Não há qualquer bajulação nessas minhas palavras; o texto que inconscientemente (no estrito sentido psicanalítico) enviei à Revista Psicologia Ciência e Profissão - e que afinal foi aquele que publicaram - constitui, na verdade, um meu estudo pessoal sobre as idéias de Marcus do Rio Teixeira. Eu me senti auto-sabotada como a estudante que, em lugar de entregar a prova de matemática para o professor, dá a ele uma das páginas mais secretas do seu Diário...

Não por acaso, nas Referências Bibliográficas desses meus apontamentos que descuidadamente vieram a se tornar um meu artigo, ele está, para mim com justiça, entre nomes como Roland Barthes, Jacques Lacan e Sigmund Freud. Será preciso dizer mais do meu respeito pelos escritos de Marcus do Rio Teixeira?! (...)

Por outro lado, salta a vista uma questão primordial quando se cogita de plágio: o plagiador, que obviamente sempre busca ocultar a originalidade das idéias que pretende que se acreditem serem suas, modifica ao máximo as construções e as próprias palavras do texto plagiado. (...) Tais procedimentos plagiários evidentes não forma, em absoluto, seguidos por mim nesse meu equivocado artigo. E é muito óbvia a facilidade malsã em se alterar a forma escrita de um pensamento, preservando as noções básicas subtraídas sutilmente ao original... (...)

Não sou dessa estirpe, nem tenho sequer os duvidosos talentos para montar esses quebra-cabeças alheios; o que ocorreu comigo foi a grata descoberta do aludido texto de Marcus do Rio Teixeira precisamente quando principiei a elaboração escrita do meu trabalho universitário sobre não propriamente a feminilidade em psicanálise, mas esse seu ramo espúrio e tão pouco estudado que pulsa nas vicissitudes da 'outra'-a outra mulher de um homem casado. (...)

Creio que só posso, no meu caso, denominar como identificação parcial o reconhecimento como verdades psicanalíticas de noções emitidas por outro autor (como Marcus do Rio Teixeira) a ponto de - por instantes - torná-las, inconscientemente, verdades também originalmente minhas.

Não pretendo me travestir com o cinismo da roupagem da generalização: isso seria algo da ordem, para mim inaceitável, da tentação (ao menos subjetiva) humana de tomar posse de tudo aquilo que nos pareça precioso.

Tenho firmes esperanças de que, aos olhos do leitor, possa ocorrer a mesma magia que parece ter me redimido no espírito do citado e ofendido Autor: a bruxa malvada e 'plagiária' transformar-se num Ser Afável, passível de Ledos Enganos."