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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.20 n.2 Brasília jun. 2000

 

ARTIGOS

 

Relações possíveis e impossíveis entre a psicanálise e a literatura

 

 

Rafael Andrés Villari*

Universidade Federal de Santa Catarina

Endereço para correspondência

 

 


 

 

O texto visa, num primeiro momento, percorrer as diferentes formas de relação entre a Psicanálise e a Literatura para logo propor os limites desta relação. Principalmente aquela que visa colocar a literatura como o campo de onde resgatar o conhecimento sobre a subjetividade.

Quando pensamos as relações entre a Literatura e a Psicanálise, delineamos dois espaços de conhecimento excludentes, diferentes, próprios, embora possivelmente dialógicos, sob certas condições.

É Sigmund Freud1 quem inaugura essa relação, criando um campo de diálogo, a nosso ver, privilegiado. Esse espaço abre um leque de relações muitas vezes duvidoso e problemático. Sobre essas dúvidas, gostaríamos de falar neste ensaio, acerca daquilo que consideramos como possibilidades e impossibilidades, limites e trocas prováveis entre a Psicanálise e a Literatura.

Nos textos de S.Freud, encontramos várias possibilidades ou níveis de relação entre Literatura e Psicanálise que assimilamos a dois eixos, diferenciados como possíveis e impossíveis. É importante destacar que aquilo que chamamos aqui possível ou impossível remete não à possibilidade de articulação, - o que já foi feito repetidas vezes nos trabalhos onde se tenta relacionar a Psicanálise e a Literatura - mas ao efeito de produção em termos de descoberta; quer dizer, quando o trabalho não se esgota no reencontro da teoria psicanalítica conhecida, no texto literário. Como veremos mais adiante, concebemos este efeito de produção em termos de acréscimo à teoria psicanalítica conhecida; enquanto condição propiciatória de aproximação ao real da prática psicanalítica. Também como condição de relançamento da escritura, possibilitando a geração de textos sustentados pelo diálogo, no campo da intertextualidade; concordando com R. Barthes que,

O interdisciplinar, de que tanto se fala, não está em confrontar disciplinas já constituídas das quais, na realidade, nenhuma consente em abandonar-se. Para se fazer interdisciplinaridade, não basta tomar o “assunto” (um tema) e convocar em torno duas ou três ciências. A interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a ninguém. O Texto é, creio, eu, um desses objetos. (1988, p.99).

Assim, vemos como num primeiro momento S. Freud inclina-se sobre o texto literário, tentando desvendá-lo, parecendo inaugurar uma via limitada em seus efeitos, embora saibamos que no final dos anos de 1920 ele diria, lamentando-se: “Diante do problema do artista criador, a análise, ai de nós, tem de depor suas armas.” (Freud, 1928 [1927]).

A primeira forma de pesquisa apontava para a condição estética, para a origem do gênio, da diferença criadora, para a função da arte em relação ao sujeito, assim como também, para a reconstrução fantasmática do autor. “Assim, deduzir de uma obra fáceis inferências sobre seu criador era uma tentação permanente para os críticos psicanalíticos. Suas análises dos criadores e dos públicos da arte e da Literatura ameaçavam se tornar, mesmo em mãos habilidosas e delicadas, exercícios de reducionismo.” (Gay, 1989, p.297). Esses textos têm caráter pioneiro; neles, S. Freud, de alguma maneira, testa os limites da investigação psicanalítica. O que perpassa, nesse caso, a relação entre a Literatura e a Psicanálise é a questão da origem da condição do fato estético. É recorrente, nesse sentido, a remissão à Psicanálise enquanto instrumento de investigação. Atitude conhecida em relação ao texto literário: ela visa, através do texto - tomando-o enquanto meio - atingir as condições de produção estética. Nesse caso, o que aparece enquanto incógnita não é o conhecimento que a Literatura pode veicular, no sentido mais amplo, mas o fato estético em si mesmo2. Como veremos, não é essa a via que privilegiamos em nosso estudo. Parece-nos limitada no sentido de somente apontar para uma possível confirmação da teoria psicanalítica através do texto literário. Quando o que pretendemos propor é a utilização do texto literário enquanto campo de pesquisa onde procurar aquilo que encontra-se distante ou velado ao campo psicanalítico.

Outra forma de S. Freud aproximar-se da Literatura, e da arte em geral, é tomando-a como campo de investigação, enquanto textualidade a partir da qual poder-se-ia dizer sobre o real, que ele próprio - com os elementos disponíveis na teoria psicanalítica - não conseguiria atingir. É um momento em que se convoca a Literatura para dizer aquilo que a Psicanálise não alcança. Trata-se também de uma forma de abordagem partilhada com referência à utilização do mito na psicanálise; na medida em que, quando o limite da construção da teoria se impõe, a recorrência ao discurso mítico - e literário - propicia o relançamento da elaboração teórica psicanalítica.

Assim, vemos como S. Freud inaugura o que nos parece constituir duas vertentes que reduzimos a dois movimentos de investigação trilhados e privilegiados em diferentes momentos históricos. Quer dizer, por um lado parece estabelecer-se entre a Literatura e a Psicanálise uma relação aditiva onde se tenta acrescentar sentidos ao texto literário a partir da interpretação psicanalítica. Por outro lado, vislumbra-se uma atitude que poderíamos chamar de extrativa, interessada em procurar resgatar do literário a particularidade que pudesse nutrir a Psicanálise. A diferenciação que tentamos descrever é complexa, na medida em que não aparece claramente delimitada nos textos de S. Freud. Neles, como já dizemos, ora pretende-se analisar o texto literário, ora servir-se dele enquanto instrumento. “Há sugestões - não mais do que isso - nos textos de Freud de que ele tinha um certo vislumbre dessas complexidades, mas suas idéias sobre arte, embora descortinassem perspectivas fascinantes, também levantaram problemas, quase igualmente fascinantes.” (Gay, 1989, p.298). Atitudes diferentes que tentaremos percorrer mais adiante, enquanto relações possíveis e impossíveis, porque também sabemos ao mesmo tempo que “[...] se Freud optou por ler O Mercador de Veneza e Rei Lear como meditações sobre o amor e a morte, nem por isso Shakespeare tornou-se um assunto de interesse puramente clínico para ele.” (Gay, 1989, p.301).

Partimos, na nossa análise, das relações inauguradas com o pós-estruturalismo, momento em que se exclui o autor do texto literário, deixando para trás o psicobiografismo e a psicocrítica3. Tentamos ultrapassar assim momentos anteriores, onde não se temia colocar o escritor no divã, tentando-se diagnosticá-lo, ou reencontrar a nosografia clínica psicanalítica no texto literário.

Sabemos que nossa tentativa não esgota a análise das relações entre a Psicanálise e a Literatura. O que pretendemos é, a partir de seu questionamento, delinear nosso posicionamento em relação a essa questão, encaminhando desta forma nossa atitude de pesquisa.

Vejamos, assim, o que chamamos o impossível de uma relação: utilizar a teoria psicanalítica no interesse do texto literário.

As relações entre a Literatura e a Psicanálise pareceram limitar-se, até pouco tempo, a uma relação de mão única, onde o objeto literário suportava o embate da teoria freudiana aplicada. Recorria-se com freqüência à Psicanálise, quando o sentido simbólico ou um nível outro de leitura parecia surgir no texto. A Psicanálise apresentava-se como um amplo instrumento interpretativo, servindo como chave crítica do texto literário, pretendendo desvendar o sentido oculto. Desta forma, sobre um objeto - o texto literário - debruçava-se uma teoria que poderia desvelar aspectos de seu enigma. Ou seja, a incógnita do escrito literário era desvendada por uma leitura orientada. Afirmava-se até mesmo que esse tipo de abordagem apontaria o desejo no texto (Bellemin-Noel, 1983, p.32). Esse posicionamento supõe a noção de “inconsciente do texto literário”, e é justamente sobre essa idéia que tal abordagem crítica baseia-se, a noção criada nos anos 70’, momento permeado pelo pensamento estruturalista. Suas tentativas foram no sentido de delimitar esse aspecto - o inconsciente do texto -, assim como no de elaborar um método de aproximação. Propunha-se, dessa maneira, excluir o autor privilegiando a importância do texto. Pensava-se trabalhar sobre uma narrativa do mesmo modo que o analista com o relato de seus pacientes. Chamou-se a essa prática de Textanálise.

Ora, num dado momento, percebeu-se que, se falava-se do inconsciente, o conceito de sujeito não poderia estar ausente, tinha-se expulsado junto com o autor, o próprio sujeito. Além disso, em se tratando do inconsciente freudiano, estamos nos referindo ao reprimido, ou seja, àquilo que se diz sem sabê-lo. Assim, excluído o autor, como saber sobre a diferença entre o reprimido e o manifesto no texto? De outra forma, pretendia-se um sujeito da enunciação sem sujeito do enunciado.

Com esse problema defrontaram-se as tentativas de aproximação entre Literatura e Psicanálise: o conceito de Proto-texto foi sua resposta limite. O Proto-texto constituiria o rascunho do texto, onde se poderia ver o movimento de escrita. Falava-se, agora, não do inconsciente do texto, mas do trabalho inconsciente da escritura. Na análise do Proto-texto, pensava-se que poder-se-ia encontrar algo semelhante às formações do inconsciente, quer dizer: ato falho, sonho, chiste e sintoma. O Proto-texto tenta localizar o sujeito no inters-tício, no intervalo, na dúvida, no erro, nas diferentes possibilidades de escrita levantadas pelo autor. Todavia, o equívoco parece estar em pensar que o texto teria, ele próprio, um inconsciente, quando na verdade o texto diz, na medida em que é lido. Convocamos então a figura do leitor. É este quem possibilita que o texto diga através dele, introduzindo-se nas possibilidades de análise. Nesse sentido, poderíamos dizer que o texto não diz nada, quem diz é o leitor. O que nos leva a deslocar a idéia de “trabalho inconsciente da escrita” para propormos a de “trabalho inconsciente de leitura” e as possibilidades que esta leitura tem através de uma outra escrita. Podemos propor assim, através da leitura, a transmissão do desejo do escritor, ao modo do desejo do analista. Desejo do escritor, que diferenciamos do “desejo de um escritor”, esse um apontando para a singularidade do desejo de um escritor em particular. Essa é uma diferenciação da particularidade do desejo em relação à escrita que tentamos fazer a partir da discriminação lacaniana - embora devamos tal especificação a Claude Dumézil - do “desejo do analista”, “desejo de um analista” e de “desejo de ser analista”. Sendo que o “desejo do escritor” visaria às condições de enunciação do sujeito, enquanto leitor, perante o texto; a leitura é condutora do Desejo de escrever (estamos certos agora de que há um gozo da escritura, se bem que ainda nos seja muito enigmático). Não é que necessariamente desejemos escrever como o autor cuja leitura nos agrada; o que desejamos é apenas o desejo que o escritor teve de escrever: desejamos o desejo que o autor teve do leitor enquanto escrevia, desejamos o ame-me que está em toda escritura. Foi o que disse claramente o escritor Roger Laporte: «Uma pura leitura que não chame uma outra escritura é para mim algo de incompreensível. A leitura de Proust, Blanchot, de Kafka, de Artaud não me deu vontade de escrever a respeito desses autores (nem tampouco, acrescento, como eles), mas de escrever».” (Barthes, 1988, p.50).

Isso nos faz pensar que a leitura aponta para a transmissão do relançamento da escrita enquanto escritura no sentido proposto por Roland Barthes.

Mas voltemos à idéia do “trabalho inconsciente da escritura”. Nela, alguns teóricos da Literatura propõem distinguir o desejo do escritor do desejo do narrador4. É uma diferença que parece retroceder na historicidade dessa via de relações entre a Literatura e a Psicanálise: a leitura do homem no texto, reaparecendo como desejo do escritor; e a leitura do texto, excluído o sujeito do desejo, como desejo do narrador. Algo assim como a possibilidade de coexistência entre a psicobiografia e a textanálise.

O que nos interessa destacar é o posicionamento epistêmico que essa atitude implica. Estabelece-se como sendo a de um sujeito portador de um saber apriorístico - a teoria psicanalítica - que, percorrendo o texto literário, tentaria desvendá-lo a partir do chamado vista psicanalítico.

Essa questão do vista psicanalítico é importante e problemática. Neste momento, faz-se necessário delimitar o que entendemos por Psicanálise. De um ponto de vista ortodoxo, consideramos que a questão se esvazia quando colocamos definições tais como:

[...] a Psicanálise é, fundamental e radicalmente, uma prática. Dizemo-lo melhor quando afirmamos com J. Lacan que se trata da prática de um discurso; esse discurso que articula um laço social totalmente novo: o da análise ou prática da transferência, entendendo a análise como a cura dessa neurose artificial que ela mesma provoca e que é a neurose de transferência. (Diaz Romero et Cancina,5 1993, p.90)

Como vemos, a Psicanálise remete, na constituição de seu campo, à pratica de um discurso constituído pela prática mesma, por sua clínica e pela teoria necessária e decorrente. Prática, clínica e teoria enlaçadas borromeanamente6 na constituição de um laço social singular. Então, a partir desta formulação, perguntamo-nos o que seria um vista psicanalítico do texto literário? Sabemos que não se trata de uma prática, já que nada nos permite pensar na análise da neurose de transferência de uma narrativa, e ao mesmo tempo também não constitui uma clínica - entendida esta como a reflexão sobre a prática. Isso quer dizer que quem utiliza a Psicanálise, tenha ou não se autorizado como analista para, no caso específico, abordar textos literários, utiliza somente um aspecto da Psicanálise, sua teoria, quer dizer, seu aspecto imaginário8.

Com isso queremos trazer justamente a questão dos limites da Psicanálise. Suas fronteiras são estreitas, limitadas inclusive pela própria situação analítica. Os limites a que nos referimos dizem respeito às estruturas clínicas freudianas e à particularidade na transferência que elas determinam. Vimos, então, como evidencia-se um caminho que vai do sentido ilimitado proposto na aplicação da Psicanálise à Literatura, ao limite que a Psicanálise impõe, explicitando não se tratar de uma meta-narrativa.

Desta forma, propomos o possível de uma relação: utilizar o texto literário no interesse da teoria psicanalítica.

A resistência do texto literário à abordagem anterior propiciou o retorno a outra via de relações entre a Literatura e a Psicanálise, aquela que posiciona o sujeito, enquanto leitor, para o conhecimento, colocando-o no lugar do não sabido, da falta perante o texto. Com isso, propomos que aquilo que pode ser questionado não é o texto literário a partir da Psicanálise, mas seu inverso, a Psicanálise a partir da Literatura. Esse posicionamento acarreta um questionamento do saber da Psicanálise, buscando, através do texto literário aquilo que não alcançamos dizer enquanto psicanalistas.

Não se trata, como no primeiro caso, de um exercício de Psicanálise aplicada, mas a procura do não sabido. Uma tentativa que pretende fazer falar o texto literário, encontrando em suas palavras aquilo que mal sabemos articular na teoria psicanalítica. Trata-se da procura de um bem-dizer, colocando o privilégio do saber no texto literário, vendo como aqueles que sabem fazer com a escrita conseguem circular pelo simbólico. No caso, pensamos em sutis condições de nos aproximarmos do real pelo simbólico, sabendo, com J. Lacan, que não nos é dado aceder ao real - que se nos apresenta como impossível -, a não ser através do simbólico e do imaginário. Trata-se, então, de um real que nos alcança, em alguns casos, a partir da literatura que nos ilumina com seu dizer.

Acreditamos que todos temo-nos deparado com esses efeitos. Por exemplo, quando Carlos Catania escreve que “La melancolía es solo um gran dolor que ha tenido la delicada crueldad de alejarse un poco sin perderse de vista.” (1977, p.152); quando Alfredo Bosi, em relação à rememoração, afirma: “Eu me lembro do que não vi porque me contaram” (Bosi, 1992, p.19); ou ainda, quando Roland Barthes, sobre o olhar, diz: “Massacre no Camboja: mortos rolam uma escada de uma casa quase inteiramente demolida: no topo, sentado sobre um degrau, um menino olha para o fotógrafo. Os mortos delegaram ao vivo o encargo de olhar-me; é no olhar do menino que vejo os mortos” (Barthes, 1990, p.279). Encontramos nesses casos condições de enunciação privilegiadas, quer dizer, momentos onde a escrita nos abre caminhos para o conhecimento. Quando isto acontece - esse encontro - embora sempre falho, convida-nos a dizer sobre o lido, condição para o surgimento da produção.

Por isso, o texto literário deve incitar-nos, a partir do insabido, à pesquisa, fazendo com que o analista resista aos encantos e à sedução que todo discurso, ainda mais o literário, nos oferece. Ao invés de possuí-lo, fazê-lo falar.

Trata-se de relançar a teoria psicanalítica, a partir dos elementos que podemos encontrar na Literatura, concebida como uma forma, a nosso ver privilegiada, de acesso ao conhecimento. Tal posicionamento implica considerar que o saber está no texto, e a ignorância de nosso lado. Como diz S. Freud numa carta a seu amigo W. FLIESS, trata-se de “encontrar as palavras para muita coisa que permanece muda em mim.” (Gay apud Freud, 1989, p.58).

Essa diferença de fundamento, com respeito àquilo que chamamos de relação impossível, fica clara quando lemos um trabalho em que se pretende abordar psicanaliticamente um texto literário. Trata-se de um exercício intelectual em que, dependendo de sua qualidade, podemos pensar na inteligência e na astúcia do intérprete. Não pensamos que essa seja a melhor forma de pesquisa; P. Gay nos diz em relação ao texto de S. Freud sobre a Gradiva:

Absolutamente impávido, porém, Freud entrou com coragem nesse pântano, com seu fascinante estudo da Gradiva de Jensen. Ele redigiu, disse a Jung, ‘em dias ensolarados’, e o texto deu-lhe ‘muito prazer. É verdade que não nos traz nada de novo, mas acredito que nos permite desfrutar de nossa riqueza’. A análise de Freud ilustra belamente o que essa espécie de psicanálise literária pode realizar e os riscos com que se depara. (1989, p.298).

A questão parece-nos residir em distinguir o ponto de cruzamento onde o autor encontra-se com sua obra: Autorobra, isto é, o que leva a pesquisar o escritor em cruzamento com seu escrito, sem cair na psicobiografia e pensando que “Cada um espera algo do seu abandono à leitura; mais que isso, cada um tem uma teoria que orienta sua espera,[...]” (Khan apud Bellemin-Noël , 1983, p.88).

Propomos então o abandono à leitura, a partir de uma teoria em falta, que oriente a espera do surgimento daquilo que nos faça reconhecer, no texto, aquilo que nos convoque à escrita; delineando o que nos parece constituir a atitude propriamente freudiana de investigação: encontrar nos grandes escritores da Literatura o campo de onde resgatar algo do conhecimento da alma humana.

 

Referências bibliográficas

Barthes, R. (1990). O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Trad. Léa Novaes.        [ Links ]

Barthes, R. (1988). Da leitura. Em O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense. pp.43-52. Trad. Mário Laranjeira.        [ Links ]

Barthes, R. (1988). Jovens Pesquisadores. Em O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, . pp.96-102.        [ Links ]

Bellmin, N. J. (1983). Psicanálise e Literatura. São Paulo: Cultrix . Trad. Álvaro Lorencini e Sandra Nitrini        [ Links ]

Bosi, A. (1992). O tempo e os tempos. Em: Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras. pp.19-33.        [ Links ]

Catania, C. (1987). Genio y figura de Ernesto Sábato. Buenos Aires: Eudeba .        [ Links ]

Diaz Romero, Ricardo et Cancina, Pura. (1993). Preguntas sobre la Fobia y la Melancolía . Coloquios em Recife. Rosario: Homo Sapiens.        [ Links ]

Freud. S. Dostoievski e o parricídio. (1928 [1927]). In: Edição eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. XXI.        [ Links ]

Gay, P. (1989) Freud. Uma vida para o nosso tempo. São Paulo: Companhia da Letras. . Trad. Denise Bottman.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Rafael Andrés Villari
Av. Tromposwky, 265 ap. 1002-B
88015-300 Florianópolis - SC
Tel.: +55-48 222-8398
E- mail: villari@cce.ufsc.br

Recebido em 05/04/99
Aprovado em 06/09/99

 

 

* Psicólogo,Psicanalista. Mestre em Letras (UFSC) Doutorando em Literatura (UFSC)
1 - Em relação este tema ver o trabalho de KOFMAN, Sarah. (1985) L’enfance de l’art: Une interprétation de l’esthétique freudienne. Paris: éditions Galilée, 3. ed. Conforme S. KOFMAN, conhecemos através da correspondência com W. FLIESS a preferência de S. FREUD pela literatura, com relação a outras formas estéticas como pintura, escultura ou música, “Mas é sobretudo nos exemplos imputados ao domínio literário que pontua toda sua obra, onde aparecem os gostos e os conhecimentos literários de Freud. Os autores que aparecem mais freqüentemente são: Shakespeare, Goethe, Sófocles, Heine, Ibsen, Flaubert, Rabelais, Zola, Diderot, Boccacio, Oscar Wilde, Bernard Shaw, Doistoïeski, Molière, Swift, Homero, Horacio, Le Tasse, Hoffmann, Schiller, Marc Twain, Aristófanes, Thomas Mann, Stefan Zweig, Hebbel, Galsworthy, Cervantes, Hesíodo, Macaulay, sem contar os autores de menor renome, seu conhecimento de lendas e do folclore é ainda notável.” (KOFMAN, 1985, pp.16-17).
2 - A esse respeito ver: FREUD, Sigmund. O interesse científico da psicanálise. In: Edição eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. XIII, principalmente a seção ‘F’, chamada ‘O interesse da psicanálise do ponto de vista da ciência estética.’.
3 - Ver sobre o tema Bellemin-Noël,, Jean. (1983) Psicanálise e Literatura. São Paulo: Cultrix, . pp.67-80. Trad. Álvaro Lorencini e Sandra Nitrini
4 -Ver, sobre essa diferenciação, WILLEMART, Philippe. ‘Além da Psicanálise’: a Literatura. Folha de São Paulo, São Paulo, 11-11-1984.
5 -O livro citado, se bem que corresponde aos dois autores, está dividido em duas partes. A primeira corresponde a Ricardo DIAZ ROMERO, a segunda a Pura H. CANCINA. Para distinguir a qual dos dois autores corresponde a citação, optamos por destacar o autor na referência, em itálico. Neste caso a citação corresponde ao texto assinado por Pura H. CANCINA.
6 - Referimo-nos ao nó borromeo enquanto instrumento da topologia lacaniana, cuja particularidade reside no fato de que seus anéis constituintes devem estar enlaçados de maneira que se um deles se desprende, todos se desatam.
7 - Sobre a diferenciação dos laços sociais discriminados e propostos por Jacques LACAN ver: LACAN, Jacques. (1992) El Seminario de Jacques Lacan. Livro XVII El reverso del psicoanálisis. Buenos Aires: Paidos. Trad. Eric Berenguer e Miquel Basols.
8 - Sobre o tema ver: CANCINA, Pura. (1995) Preguntas de la Fobia y la Melancolía: Coloquios de Recife. Rosario: Homo Sapiens, . pp. 89-90