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Psicologia: ciência e profissão

versión impresa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.21 n.2 Brasília jun. 2001

 

ARTIGOS

 

Eu quero ajudar as pessoas: a escolha vocacional da psicologia

 

 

Mauro Magalhães*, I; Márcia StraliottoI; Márcia Keller**, I; William B. Gomes***, II

I Universidade Luterana do Brasil - ULBRA
II Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste estudo, 146 alunos no primeiro ano do curso de Psicologia, em duas universidades, uma particular e outra pública, do Estado do Rio Grande do Sul, falam sobre a escolha da psicologia como profissão, através de entrevistas e questionários. A interpretação dos depoimentos sugere um perfil do estudante de psicologia e mostra o impasse vocacional do campo, caracterizado pelo distanciamento entre a profissão e os problemas contemporâneos.

Palavras-chaves: Psicologia, Escolha profissional, Brasil.


ABSTRACT

In this study, 146 freshmen psychology students from two universities, one public and the other private, in the state of Rio Grande do Sul, respond to interviews and questionnaires about their choice of psychology as a profession. The interpretation of the reports suggests a profile of the psychology student and shows the vocational predicament of the field, characterized by the distancing between the profession and contemporary problems.

Keywords: Psychology, Vocational choice, Brazil.


 

 

O fato de que, sob determinadas condições, o ser humano é capaz de ajudar seu semelhante, foi repetidamente evidenciado ao longo da história da humanidade. As sociedades institucionalizaram esta capacidade em uma variedade de ocupações que tem sido denominadas “profissões de ajuda” (Guggenbühl-Craig, 1998). Neste sentido, “Eu quero ajudar as pessoas”, é uma assertiva reiterada entre os candidatos à profissões tais como o serviço social, a terapia ocupacional e, sob o foco desta pesquisa, entre os aspirantes a psicólogos.

A escolha vocacional da psicologia já foi investigada desde diversas perspectivas, a saber: as motivações inconscientes (Miller, 1986; Sussman, 1992), motivações verbalizadas (Angelini, 1975; Carvalho, Ulian, Bastos, Sodré, & Cavalcanti, 1988; Cunha, 1979; Mello, 1975; Takahachi, Santos & Lisboa, 1987), antecedentes familiares (Galinsky, 1962), valores (Carvalho et al., 1988), representação social da profissão (Leme, Bussab & Otta, 1989). Por outro lado, as pesquisas sobre as escolhas das demais “profissões de ajuda” trazem subsídios úteis para um entendimento mais profundo e amplo do tema (Lackie, 1983; Marsh, 1988).

Sabe-se que o atendimento clínico em consultório é o estereótipo de atuação profissional idealizado tanto pelos sujeitos que ingressam nos cursos de psicologia quanto pelos egressos em busca de colocação no mercado de trabalho (Carvalho et al., 1988; Carvalho & Kavano, 1982; Gonçalves & Bock, 1996; Mello, 1975; Takahachi, Santos & Lisboa, 1987). A preferência pela clínica é acompanhada por valores altruístas, sendo esta ajuda ao próximo realizada no contexto de uma relação direta, íntima e prolongada. Estes estudos optaram pela prudência de não avançar em suas especulações sobre os fundamentos psicológicos desta “mística da dedicação ao próximo” (Carvalho et al., 1988, p.56), ou do desejo tantas vezes revelado pelos sujeitos de atingir “mais o íntimo de uma pessoa” (Carvalho & Kavano, 1982, p.11). Portanto, pode-se dizer que ainda não avançamos o suficiente na compreensão do fascínio exercido por este modelo hegemônico de exercício profissional. Considerando que é este o estereótipo profissional que atrai os candidatos para os cursos de psicologia, resta saber no quê reside a força de atração do modelo clínico da prática psicológica.

Quais as origens deste chamado a uma intimidade devotada e altruísta para com o outro, supostamente presente na tarefa clínica? Ou seja, o que é mais precisamente esta vocação do psicólogo? Como ela se constitui na percepção de nossos calouros, que em sua maioria sonham algum dia sentarem na poltrona do terapeuta?

De acordo com Carvalho e Kavano (1982), “o que a atuação clínica oferece aos psicólogos, e que tanto os atrai, parece ser a possibilidade de penetrar no outro, conhecê-lo, estabelecer com ele um certo tipo de relação”(p.11). Permanece incógnita a natureza deste anseio, desta curiosidade.

Desde os trabalhos pioneiros de Edward S. Bordin e seus colaboradores na Universidade de Michigan (EUA), o contexto familiar infantil e o desenvolvimento da personalidade dos profissionais de ajuda têm sido descritos de modo similar. Em comparação com outras categorias profissionais, destacaram-se vários aspectos. Profissionais de ajuda, mais especificamente psicólogos e assistentes sociais, relataram mais situações de privação afetiva na primeira infância. Em suas famílias, a disciplina caracterizou-se por regras menos consistentes e predizíveis, e a consideração pelos sentimentos alheios, por exemplo, “você vai fazer a mamãe ficar triste”, foi o método mais utilizado para o controle do comportamento infantil (Bordin, 1994; Galinsky, 1962; Nachmann, 1960; Penner, 1990).

Galinsky (1962) comparou o desenvolvimento da personalidade de físicos e psicólogos. Os resultados indicaram que os psicólogos clínicos tiveram mais oportunidades de serem curiosos sobre relações interpessoais enquanto crianças. Os físicos reconheceram características parentais que formaram sua personalidade, enquanto que os psicólogos, em uma primeira resposta, relataram não se perceberem semelhantes com algum de seus pais sob qualquer aspecto. Os psicólogos relataram, ainda, maior envolvimento em atividades interpessoais na infância. Neste sentido, indicaram ter tido apegos mais intensos, embora mais conflituosos, com suas famílias. Estas percepções não foram informadas pelos físicos.

Estudos que investigaram a infância familiar de psicólogos (Miller, 1986; Sussman, 1992, 1995), psiquiatras (Burton, 1970) e assistentes sociais (Lackie, 1983; Marsh, 1988) mostram que estes profissionais foram precoce e excessivamente responsabilizados quando crianças em suas famílias, assumindo o papel de cuidadores em relação a outros familiares. Isto é, foram crianças especialmente sensíveis às demandas afetivas interpessoais de seu ambiente familiar e tornaram-se vulneráveis à manipulação afetiva de adultos com necessidades narcisísticas intensas, notadamente seus pais. Sendo assim, foram indivíduos treinados para estarem atentos às necessidades alheias e assumiram o papel de mantenedores da homeostase familiar. Enquanto psicoterapeutas, estes “prisioneiros da infância” (Miller, 1986) encontrariam a oportunidade de dar continuidade ao desempenho deste papel infantil. Por outro lado, interpretou-se que as funções de psicoterapeuta proporcionariam a estes indivíduos encontrar pessoas que, na condição de pacientes, oferecessem a nutrição narcísica que lhes faltou, sob a forma de admiração pelas suas qualidades de “sábio” e “salvador”, sabendo-se que o psicoterapeuta é tipicamente visto como um modelo de saúde mental e estabilidade emocional (Miller, 1986; Sussman, 1992).

Sussman (1992) descreveu como alguns profissionais podem ser demasiadamente zelosos em seus desejos de ajudar os clientes, chegando a comportamentos imprudentes. Considerou que muitos destes clínicos desenvolveram culpas inconscientes, enquanto crianças, por danos reais ou imaginários infligidos a pessoas amadas, e que, portanto, estão dispostos a sacrifícios pessoais para repará-los. Neste sentido, destacou problemas para lidar com a própria agressividade e tendências masoquistas. O autor trouxe outros contextos evolutivos similares que considerou geradores de motivações inconscientes para o desejo de assumir o papel de um “salvador invulnerável”. Salientou também, que muitos buscam a prática psicoterápica num esforço contra-fóbico para dominar o medo da doença mental.

Achados de vários estudos (Burton, 1970; Henry, 1966; Marsh, 1988; Nachmann, 1960) informaram que a infância dos profissionais de ajuda foi marcada por eventos especialmente problemáticos no âmbito familiar, tais como a presença de doenças físicas e mentais incapacitantes, separações, alcoolismo e distúrbios de caráter. O estudo de Marsh (1988) comparou a incidência de comportamentos compulsivos e adictivos em famílias de trabalhadores sociais e de administradores. Os sistemas familiares dos trabalhadores sociais apresentaram significativamente maior incidência destes comportamentos, predominantemente o alcoolismo. Sabe-se que a presença de alcoolismo e outras condições incapacitantes no sistema familiar têm sido reconhecidas como geradoras de demandas excessivas de autonomia e responsabilidade em crianças (Sturges, 1978). Neste sentido, Lackie (1983) considerou que trabalhadores sociais desenvolveram excessiva responsabilidade pelos sentimentos de outros e buscam ostentar auto-suficiência interpessoal.

Os padrões adaptativos descritos acima, embora não signifiquem, absolutamente, uma predestinação destas crianças a serem “prisioneiras da infância”, sugerem uma predisposição para exercer uma função de cuidado. As sensitividades, vulnerabilidades e capacidades identificadas na literatura e descritas acima parecem estar disponíveis para expressão e utilização, adequada ou inadequadamente, numa carreira em profissões de ajuda.

Holland (1997) considerou que a escolha de uma determinada profissão expressa a personalidade dos indivíduos e que, portanto, membros de uma mesma categoria profissional possuem personalidades e histórias de desenvolvimento pessoal similares. Definiu que, em nossa cultura, as pessoas podem ser classificadas de acordo com seis orientações de personalidade ou tipos vocacionais: realista, investigativo, artístico, social, empreendedor e convencional. Os psicólogos e demais profissões de ajuda estão enquadrados no tipo social, exceto os experimentais, que são considerados do tipo investigativo.

O indivíduo “social”, segundo Holland (1997), seleciona metas, interesses e tarefas nos quais pode usar sua habilidade para treinar ou modificar o comportamento de outra pessoa. Está interessado no bem-estar de pessoas dependentes: pobres, deseducados, doentes, instáveis, jovens e velhos. Nestas atividades é recompensado recebendo amor, reconhecimento e status no âmbito pessoal e profissional. Em relação aos antecedentes familiares, os pais parecem dar alto valor ao autocontrole e baixo valor à curiosidade. Suas necessidades de relacionamentos cordiais são conscientes, mas suas necessidades de dependência, admiração, poder e prestígio são geralmente inconscientes. Neste sentido, Feld (1987) contrastou as autopercepções de poder de assistentes sociais e administradores de empresas. Os assistentes sociais dedicados à atividade clínica consideraram que seus subordinados atendem às suas manifestações de liderança por admiração às suas qualidades de personalidade (poder de referência), e não porque considerem que detenham o direito de liderar (poder de legitimação).

As inúmeras pesquisas (Bedford & Bedford, 1985; Holmstrom, 1975, Kadushin, 1976; Polansky, 1959; Rosenberg, 1957; Rutheford, 1977) que investigaram a personalidade de profissionais de ajuda trouxeram resultados convergentes que mostram um conjunto estável de valores e traços. Destacam-se a apreciação empática e a preocupação com as necessidades alheias mais do que com ambições pessoais, a desatenção à recompensas externas tais como status e dinheiro; e níveis elevados de auto-acusação, auto-suficiência e dúvidas sobre si mesmo. Bedford e Bedford (1985) sugeriram que os altos escores em auto-acusação podem contribuir para o burnout destes profissionais no futuro. Salienta-se que a classe médica apresenta a taxa de suicídios mais elevada dentre as categorias profissionais, sendo isto mais acentuado na especialidade psiquiátrica (Kelly, 1973).

No Brasil, várias pesquisas preocuparam-se em identificar as características de personalidade de estudantes de psicologia e psicólogos, com o objetivo de definir seus atributos como grupo diferenciado. As pesquisas que investigaram diferenças de personalidade entre psicólogos e outros grupos profissionais produziram resultados pouco concludentes. O desempenho de estudantes de psicologia no teste Rorschach mostrou características de inteligência concreta (Camargo, 1979), dificuldade na aceitação de normas (Camargo,1979), espírito crítico (Coutinho, Gonçalves & Gomes, 1996; Vaz, 1976), impulsividade (Coutinho et al., 1996), adaptabilidade, ajustamento social, angústia e conflitos não solucionados (Ferreira, Martins & Jaquemin, 1996; Vaz, 1976), introversão e boa capacidade intelectual (Vaz, 1976), passividade e pensamento estereotipado (Ferreira et al., 1996), necessidade de contato, busca de gratificação afetiva, imaturidade afetiva e interesse pelo humano com a presença de conflitos (Camargo, 1979; Vaz, 1976).

No exterior, enfatiza-se o estudo de Dannay-Richelle e Timsit (citado por Camargo, 1979) que aplicaram o Rorschach em estudantes de psicologia e candidatos à residência psiquiátrica. Os resultados sugeriram uma tendência comum, descrita como a tentativa de controlar a angústia diante do outro, de si mesmo e da sexualidade; e também de resolver um problema de relacionamento interpessoal. Os autores interpretaram a possibilidade de inversão de uma relação de dependência com a mãe, na qual os indivíduos identificam-se com esta no exercício da profissão.

Os estudos brasileiros que investigaram os motivos da escolha da profissão de psicólogo relataram resultados semelhantes. Nos estudos de Angelini (1975), Cunha (1979) e Takahachi, Santos e Lisboa (1987) os motivos mais relatados pelos estudantes foram a possibilidade de conhecer o ser humano e ajudá-lo. Outros motivos foram o interesse pela área humana, o fascínio pelo interior humano, os segredos da mente, preocupações filosóficas e categorias similares na ênfase ao “lado humano” da atividade. E, desde o trabalho pioneiro de Thebaud realizado em 1969 (Mello, 1975) já se destaca a busca de auto-conhecimento dos estudantes de psicologia.

Mello (1975) e Carvalho (1982) salientaram que estas motivações de escolha estavam relacionadas à representação social do psicólogo como um profissional que atua em conformidade ao modelo da clínica médica. Observaram que esta imagem não se modificou após a passagem pelos cursos de graduação e perpetua-se na medida em que os profissionais e recém-formados percebem, almejam e/ou praticam a função de resolver problemas individuais como a atividade principal do psicólogo (Carvalho, 1982; Carvalho & Kavano, 1982; Mello, 1975).

Carvalho, Ulian, Bastos, Sodré e Cavalcante (1988) definiram categorias de motivos verbalizados por profissionais em relação a escolha da carreira de psicólogo, a saber: motivos voltados para o outro (40,5%), motivos voltados para a profissão (31,4%), motivos voltados para si (21,9%) e motivos extrínsecos à profissão. O motivo mais citado foi o “interesse pela psicologia” (35,4%), situado na categoria “voltados para a profissão”. Isto é, os sujeitos consideraram que a natureza dos temas psicológicos foi o fator determinante para a escolha. Os motivos “conhecer o ser humano”(29,4%) e “ajudar o ser humano”(22,6%) se destacaram na categoria “voltados para o outro”. As três categorias mais citadas compõem o interesse teórico pelo assunto e o desejo de conhecer a ajudar o ser humano como os determinantes mais significativos da escolha da profissão. Por outro lado, a categoria “ condições do exercício profissional” atingiu um percentual de apenas 4,7%.

Ainda no estudo de Carvalho et al. (1988), os sujeitos informaram características pessoais que os levaram a considerar a psicologia como opção adequada para si, definidas como “aptidão para relacionamento” (38,5%) e “aptidão para ajudar na solução de problemas” (36,6%). Estas informações reforçam a influência marcante que a orientação para o outro tem na escolha da psicologia. Destacaram-se também, a busca do “desenvolvimento pessoal” e do “autoconhecimento”, e a atração pela psicologia como ciência humana.

O objetivo desta pesquisa é identificar contextos significativos relacionados a escolha da carreira de psicólogo, na perspectiva de quem está no início da formação acadêmica. São focalizados os seguintes constituintes e os respectivos contextos: motivações associadas a escolha; influências familiares e interpessoais; valores a serem realizados na profissão; expectativas e gratificações almejadas em relação ao exercício profissional; e autoconceito e escolha profissional. O estudo assume como hipótese de investigação aspectos apontados na literatura como associados à escolha da profissão de psicólogo, a saber: 1) a escolha está associada à auto-percepções de características pessoais que enfatizam as habilidades para o relacionamento interpessoal de ajuda (Carvalho et al., 1988); 2) a escolha é motivada mais por valores altruístas e menos por valores econômicos, de poder e status (Carvalho et al., 1988; Cunha, 1979; Takahachi et al., 1987); 3) a escolha é motivada pela busca de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal (Carvalho et al., 1988); 4) a escolha é motivada pela busca de controlar a angústia diante do outro e de si mesmo, e a resolução de problemas interpessoais (Dannay-Richelle & Timsit citado por Camargo, 1979; Miller, 1986); 5) a escolha é uma busca por nutrição narcísica através da admiração de pacientes em tratamento (Miller, 1986; Sussman, 1992).

 

Método

A concepção de coleta e análises de dados desta pesquisa fundamenta-se na relação reversiva entre quantidades e qualidades, assumindo que quando um destes relatum é tomado como texto, o outro torna-se contexto, e vice versa (Gomes, 1998). Na perspectiva qualitativa (capta), o interesse dirigi-se para explorações verticais ou de aprofundamento. No entanto, a exigência da verticalidade tende a restringir número de participantes, sacrificando a horizontalidade em termos de limitação do espectro de possibilidades emergentes (divergências) e da determinação da amplitude de redundâncias (convergências). Em outras palavras, estudos qualitativos identificam, definem e analisam possibilidades sem, contudo, demonstrar as amplitudes correlatas. Nesta pesquisa, procurou-se preservar a verticalidade como foco sem contudo sacrificar a horizontalidade como contexto. Para atender aos cuidados metodológicos mencionados acima, o estudo foi dividido em três etapas.

Na primeira etapa, denominada de definição de verticalidade, foram entrevistados 12 estudantes do primeiro ano do curso de psicologia de uma universidade privada sendo seis homens e seis mulheres. As entrevistas foram realizadas na própria universidade, duraram em média 75 minutos, foram gravadas em audio-teipe e transcritas literalmente. Do ponto de vista metodológico, o interesse voltava-se para a vantagem interativa oferecida pela entrevista e a expectativa era de se obter relatos mais refinados, mais detalhados e mais profundos.

A entrevista organizava-se em torno de um roteiro pré-estabelecido (Anexo A). No entanto, os diálogos entre entrevistador e entrevistados não ficavam restritos ao roteiro e, uma vez iniciados, expandiram-se conforme o fluxo espontâneo do entrevistado.

Na segunda etapa, denominada de definição de horizontalidade, oito homens e 32 mulheres estudantes do primeiro ano do curso de psicologia da mesma universidade privada responderam a um questionário aberto com os mesmos itens da entrevista. A expectativa é que a variação instrumental preservasse o espaço para o aparecimento de novas possibilidades descritivas (divergências), identificassem redundâncias (convergências) e permitisse a reversão contextual entre singulares e universais.

Na terceira etapa, denominada de verificação alternativa de contexto, 4 homens e 36 mulheres, estudantes do primeiro ano do curso de Psicologia da mesma universidade privada, juntamente com 19 homens e 35 mulheres, estudantes do primeiro ano do curso de Psicologia de uma universidade pública responderam a um protocolo de frases incompletas, desenvolvido por Lassance e Danielski (1987). As frases foram as seguintes: 1) Ser psicólogo é …; 2) Para ser psicólogo é necessário…; 3) A grande procura pelo curso de psicologia se deve a…; 4) Como psicólogo eu ... . O planejamento e execução desta terceira etapa baseou-se na lógica adutiva (Lanigan, 1997). A lógica adutiva [Regra + Resultado = Caso] requer uma condição na qual efetue-se, em diferentes contextos (universidade privada e universidade pública – Regra), comparações externas (diferentes instrumentos e depoentes – Resultados) que verifique a identidade entre dois fenômenos (Caso). Assim, parte das questões de pesquisa foram verificadas pontualmente em um universo maior de respondentes provenientes de dois diferentes contextos através de uma variação instrumental.

As respostas obtidas nos três diferentes instrumentos nas três etapas da pesquisa foram analisadas qualitativamente tendo como linha de base a delimitação de micro-unidades temáticas. De acordo com Bardin (1979, p. 105) “fazer uma análise temática consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença ou freqüência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”. A seguir, as micro-unidades foram transformadas em macro-unidades temáticas. As macro-unidades refletem tanto as falas individuais quanto os grandes temas vinculados aos itens propostos pelos instrumentos. O tratamento inferencial realizado buscou as condições de produção das narrativas em termos dos fatores antecedentes e conseqüentes às mensagens do texto, sintetizadas em macro-unidades. Isto é, a partir das estruturas semânticas, inferiram-se as estruturas psicológicas ou sociológicas das mensagens.

 

Resultados

A apresentação dos resultados está dividida em duas partes. A primeira traz a análise combinada dos dados obtidos na primeira e segunda etapas da pesquisa. Isto é, combina as respostas obtidas nas entrevistas e nos questionários, procurando demarcar as presenças enquanto núcleos de sentido (análise vertical) e sua recorrência (análise horizontal). A segunda apresenta os resultados da análise adutiva, que é a introdução de uma variação instrumental aplicada a uma população correlata em um outro contexto.

 

Análise dos Dados Obtidos nas Duas Primeiras Etapas da Pesquisa

Os depoimentos obtidos nas entrevistas e nos questionários foram articulados em grandes núcleos de sentido ou macro-unidades. O critério de articulação entre os dados obtidos nos dois instrumentos foi o seguinte: 1) os dados obtidos nas entrevistas foram utilizados para escolha (capta) de relevância e esclarecimento temático (presença); e 2) os dados obtidos nos questionários serviram para definição de amplitude (freqüência da recorrência). O conceito de reversão aparece claramente enquanto escolha focal ou da descrição oferecida para um determinado núcleo temático ou para a freqüência de sua recorrência. Assim, as exposição das macro-unidades iniciam com a percentagem da recorrência dos temas abordados pelas 12 entrevistas e os 40 questionários (N = 52) e concluem com a descrição qualitativa. As descrição são exemplificadas com excertos dos depoimentos obtidos e apresentados em itálicos. As macro-unidades são as seguintes: motivos de escolha, influência da família, gratificações almejadas na profissão, preferências por áreas de atuação, percepção do mercado de trabalho e planos para o futuro, vocação de conselheiro e poderes do psicólogo.

Motivos da Escolha

Os motivos apresentados para a escolha da Psicologia como profissão foram: desejo de ajudar (75%), busca de crescimento pessoal (20%), fascínio pelo conhecimento psicológico (62,5%), e busca de competência interpessoal (22,5%). Esses motivos estavam entrelaçados. O desejo de ajudar foi expresso do seguinte modo: “A oportunidade de poder ajudar as pessoas a conviverem melhor consigo mesmas e com a sociedade”; “Ajudar as pessoas a se encontrarem e serem muito felizes”; “possibilidade de ser útil para alguém que está desamparada”; “quero ajudar quem está precisando”. A busca do crescimento pessoal apareceu em declarações como: “saber como entender a todos e a nós mesmos”; “poder ajudar os outros e a mim mesma”; “a minha própria terapia”; “a necessidade do meu próprio conhecimento e a necessidade de ajudar os outros”; “melhorar como pessoa”, “compreender melhor a mim mesmo, meus atos e das outras pessoas”; “quero aprender mais, principalmente sobre mim mesma”; “vai ajudar a mudar a minha cabeça, ... o meu jeito”; “eu iria ajudar todo mundo, inclusive eu mesma”. As declarações que expressaram o desejo de ajudar apareceram associadas a um interesse pelos assuntos psicológicos. A mente humana foi apresentada como algo misterioso e fascinante, despertando o desejo de seu conhecimento. Exemplos: “estudar a gênese da psiquê humana e seu desenvolvimento”, “os mistérios de cada indivíduo, o desenrolar de cada história, a diversidade humana”, e “desvendar os mistérios da alma”. A necessidade de entender o ser humano foi associada com a busca de habilidades de relacionamento interpessoal, em declarações tais como: “saber como lidar com as pessoas, porque agem de determinada forma”; “adquirir habilidade de não me envolver com os problemas dos outros”; “habilidade de saber lidar com o outro”; “poder lidar com os sentimentos das pessoas (o que é muito difícil)”; “adquirir melhor jeito para entender o ser humano tão complicado”; “saber o porquê de determinados atos dos seres humanos”; “espero poder entender certos comportamentos humanos”.

Influência ou Não-Influência da Família

As respostas às questões sobre o contexto interpessoal da escolha apresentaram um padrão comum através dos depoimentos. Quando questionados sobre a influência de pessoas significativas em sua escolha profissional, os sujeitos imediatamente negaram a influência da família com declarações como:

“minha família não influenciou em nada” (80%). Não obstante, no decorrer das entrevistas, outras informações surgiram em contraste a esta assertiva inicial, como por exemplo o fato de um ou ambos os pais exercerem profissões de psicólogo e/ou psiquiatra, ou que o sonho da mãe era cursar psicologia ou ter uma filha psicóloga, ou que acompanharam os estudos de psicologia de um dos pais ou irmãos e se interessaram, ou que um dos pais tinha opiniões favoráveis à profissão. O contraste a este padrão recorrente foi o caso de um entrevistado que reconheceu a influência dos pais, ambos psiquiatras, e do seu psiquiatra, sendo este último destacado como modelo.

Gratificações Almejadas na Profissão

O feed-back dos clientes e/ou o sentimento de ter ajudado o seu paciente mostrou ser a gratificação mais valorizada (64,5%). Seguem alguns exemplos: “gratificação em saber que tu fez um bem ao próximo”; “ perceber o crescimento pessoal dos outros”; “as pessoas precisam de ajuda, e como é bom quando elas gostam de você porquê você é uma boa profissional”; “curar diversas pessoas e ser reconhecida”; “ver as pessoas desenvolvendo todo o seu potencial sem barreiras”; “saber que consegui ajudar alguém com os meus conhecimentos”; “é eu conseguir a cura de outra pessoa”. Portanto, estar no papel do psicólogo clínico e constatar o progresso do tratamento e a “cura” dos pacientes, sentindo-se responsável por esta, foi a gratificação mais almejada.

A busca de gratificações materiais e financeiras foram pouco citadas (15%): “sucesso profissional”, “boa renda”. E também desvalorizadas (10%): “não espero muito retorno financeiro”; “nunca pensei no financeiro, penso nas pessoas”, “uma vida mediana financeiramente”.

Preferências por Áreas de Atuação

A preferência por atuação na área clínica foi hegemônica (75%). Em segundo plano, e associadas à clínica, surgiram as áreas hospitalar (30%) e organizacional (22,5%). Por outro lado, a área da psicologia organizacional ou do trabalho também foi freqüentemente rejeitada (27,5%). Em contraste, a área escolar foi considerada desinteressante (40%), e o trabalho com deficientes mentais foi rechaçado (10%).

Os depoimentos em entrevista possibilitaram a explicitação das crenças subjacentes a estas preferências. A comunidade, a escola e a empresa foram descritos como locais onde o psicólogo não realiza um trabalho “profundo”. O trabalho na empresa foi descrito como frio, burocrático e rejeitado sob justificativas tais como: “tu não tem condições de ajudar os empregados”, “ o psicólogo não é tão necessário, a empresa é mecânica, o psicólogo trabalha com emoções”. O trabalho na escola foi descrito como superficial e “moralista”, sendo que os sujeitos referem estas percepções a partir de experiências pessoais como estudantes. Foram também oferecidos descritores referindo-se que na escola o psicólogo não vai trabalhar com as pessoas que “realmente tem problemas”; que o trabalho social-comunitário “não permite um acompanhamento das pessoas, o psicólogo é só um conselheiro, é menos profundo”; e que o trabalho com deficientes mentais é improdutivo devido a sentimentos de impotência diante das limitações dessas pessoas.

A Percepção do Mercado de Trabalho e Planos para o Futuro

A maioria dos sujeitos (70%) percebeu o mercado de trabalho como saturado e difícil. Por outro lado, alguns apresentaram uma atitude otimista e apostaram na competência e no esforço para vencer estas dificuldades (26%), em declarações como “sempre terá lugar para o bom profissional”. Outros referem não pensar no assunto por enquanto (25%). Os planos para o futuro limitaram-se a especificar áreas de preferência (“abrir meu consultório”; “trabalhar numa empresa”); embora alguns manifestaram o desejo de fazer uma especialização no exterior (10%).

A Vocação para Conselheiro

Diante de questões sobre autoconceito e escolha profissional, os sujeitos declararam possuir dons especiais para ouvir, observar, compreender e aconselhar o ser humano (74,5%), revelados em seus relacionamentos de amizade e familiares (20%). Relataram ter assumido o papel de conselheiros e ouvintes em relação aos problemas de amigos, tendo recebido um feedback positivo. Alguns excertos ilustrativos: “todos acham que a psicologia tem a ver comigo, com o meu jeito … eu sou uma pessoa compreensiva, querida…”; “no meu grupo de amigas era sempre eu quem escutava o problema delas, tentando explicar e ajudar”; “uma colega estava com problemas com o namorado... e eu tentava interpretar..., isto me estimulou um monte”; “possuo um poder de entendimento e análise das pessoas”. Foram considerados exemplos extremos a referência à “mania de procurar… tendência para andar com pessoas que desabafam mais, que contam mais a estória delas…e fazer o que puder para ajudar” e “eu tenho muito de conversar com os amigos e saber as tendências deles”. A escolha da psicologia foi vista como uma possibilidade de exercer e aprimorar estas habilidades: “acho que esta capacidade de avaliação que eu tenho, de ver o que a pessoa está querendo realmente, vai ajudar na minha profissão”. Os sujeitos descreveram-se como pessoas calmas e pacientes (50%), características consideradas importantes para o exercício da profissão de psicólogo.

Poderes do Psicólogo

No decorrer dos depoimentos os sujeitos atribuíram à ciência psicológica e ao psicólogo um conjunto de habilidades que podem ser sintetizados em uma capacidade de analisar e compreender os comportamentos humanos (“ler a mente”; “analisar a idéia da pessoa e mostrar para ela o porquê”), bem como intervir e produzir a cura de problemas psicológicos (72,5%). A psicologia foi descrita como fonte de recursos capazes de levar à cura.

Em contraste, houve também referência ao poder do psicólogo para manipular a vontade das pessoas: “principalmente quando elas estão em crise, talvez seja isto que fascine as pessoas … e talvez me interesse também, o conselho que tu dá para a pessoa, essa sensação de poder é muito interessante”.

 

Resultados da Terceira Etapa da Pesquisa: Análise Adutiva

O protocolo de frases incompletas investigou percepções de autoconceito, expectativas em relação à carreira e a identidade da profissão de psicólogo. Sua aplicação objetivou esclarecer vicissitudes que porventura viessem a caracterizar a amostra de 52 estudantes da universidade privada. Portanto, procedeu-se a comparação entre 54 estudantes de universidade pública e 40 da universidade privada. Considerou-se relevante esta comparação na medida em que os processos seletivos na instituição pública e na particular caracterizam-se, no primeiro caso, por um exame vestibular intensamente disputado e com alto índice de reprovação, e no segundo, por um exame acessível e pela facilidade de ingresso no curso. Fica caracterizado, portanto, a diferença contextual entre as duas instituições cujos alunos participaram da pesquisa.

As macro-unidades e freqüências de resposta às frases incompletas foram discriminadas para os sujeitos de cada universidade na Tabela 1. As porcentagens foram calculadas sobre o total de micro-unidades, portanto, um sujeito pode participar em mais de uma macro-unidade num mesmo item do protocolo. O valor de N acompanha a variação do número de unidades temáticas para cada item.

As respostas obtidas através do protocolo confirmam as descrições qualitativas apresentadas nas macro-unidades extraídas na análise das entrevistas e questionários. As reações às frases trazem uma equivalência entre os dois grupos, com pequenas variações de pesos e ênfases observadas na Tabela 1. Os mesmos temas apareceram como reação a diferentes frases incompletas. Por assim, um tema pode concentrar as respostas para um determinado item em um grupo e este mesmo tema catalisar concentração de resposta em outro item para o outro grupo. As características gerais atribuídas ao psicólogo estão presentes como a mesma especificidade (qualidade) e intensidade (quantidade) encontradas na análise anterior (ênfase em características pessoais consideradas pertinentes ao papel de terapeuta, comportamento altruísta, e o fascínio do conhecimento psicológico).

Diante da frase “Ser psicólogo é ...” obteve-se que os alunos da universidade pública enfatizam o conhecimento do ser humano e o comportamento altruísta como os traços distintivos mais importantes do ser profissional. Na universidade particular, o comportamento altruísta é enfatizado, seguido pelas “características pessoais” relacionadas a este comportamento. A macro-unidade “características pessoais” constituiu-se predominantemente em resposta à frase “Para ser psicólogo é necessário ...”. Neste item, os alunos de ambas universidades enfatizaram as qualidades anteriormente mencionadas como requisitos para o profissional: paciência, calma, compreensão, saber ouvir e consideração pelo ser humano.

A grande procura pelos cursos de psicologia é percebida como a busca de auto-ajuda pelos indivíduos. Salienta-se que esta necessidade não foi assumida pelos sujeitos da pesquisa, mas endereçada às pessoas de modo geral, em declarações como “as pessoas acham que fazendo psicologia vão se encontrar”, “um grande número de pessoas vê no curso uma maneira de resolver seus próprios problemas”. Os alunos da universidade pública destacaram a divulgação de psicólogos e temas psicológicos na mídia como fator de atração de candidatos ao curso.

Os projetos profissionais dos dois grupos concordaram em salientar predominantemente a “ajuda ao próximo” enquanto motivação ocupacional. O “fazer pesquisas” foi uma atividade mencionada por alunos da escola pública. Alunos da escola privada também manifestaram aspirações de sucesso profissional e aprimoramento intelectual.

 

Discussão

A análise das macro-unidades e de suas interrelações sugerem a proposição de um discurso que pode representar a tipicalidade do estudante que ingressa nos cursos de formação de psicólogos, quando este depõe a respeito de sua escolha profissional. Os elementos essenciais deste discurso constituem o seguinte perfil:

Um(a) jovem com idade entre 17 e 22 anos, com ambições econômicas modestas ou moderadas, que percebe-se com o desejo de compreender profundamente o ser humano a fim de poder ajudá-lo, enquanto psicólogo clínico, a vencer problemas sentimentais e existenciais através de habilidades de escuta, paciência, calma, observação, compreensão e interesse pelo outro. Ele(a) julga possuir estas habilidades, almeja aperfeiçoa-las na universidade, e espera constatar seu “poder de cura” através da observação clínica, da gratidão e do reconhecimento de seus pacientes. Este(a) jovem não percebe-se como influenciado pelo contexto familiar e julga ter feito uma opção autônoma. E por fim, não possui planos concretos para seu futuro profissional embora pense o mercado de trabalho como “esgotado”.

Este perfil corrobora descrições apresentadas por pesquisas anteriores. O modelo de atendimento individual em consultório foi o ideal de atuação psicológica projetado pelos sujeitos. Sendo que o conhecimento psicológico foi reduzido a conhecimentos sobre os “mecanismos da mente”, numa visão reducionista do comportamento humano. A pesquisa de Carvalho et al. (1988) realizada com profissionais e, portanto, apoiada em dados retrospectivos, sintetizou o conjunto de valores que cercam a prática profissional da psicologia em “conhecer a mente humana para melhor ajudar as pessoas e a si próprio”. (p.64)

Os resultados mostraram que os estudantes primeiranistas almejam ser admirados pelos seus pacientes devido à seus poderes de cura e qualidades pessoais altruístas. Entendendo-se poder como a capacidade de exercer influência (Milton, 1981), esta é uma opção por determinado tipo de poder, exercido em um contexto determinado; quais sejam, respectivamente, o poder de eliminar o sofrimento do outro através de conhecimentos profundos sobre a natureza humana, exercido no contexto de uma relação íntima e prolongada, e veiculado numa postura de generosidade altruísta. Bohoslavsky (1977) examinou os sentimentos de onipotência associados a toda prática profissional. O autor esclareceu que até mesmo profissionais modernos e maduros não estão isentos de atribuir qualidades mágicas a seus atos profissionais; e que adolescentes, por mais racionais e sadios, sentem-se como “aprendizes de feiticeiro” quando crêem que, aprendendo determinadas ações ou movimentos, podem chegar a conseguir efeitos na realidade. Neste sentido, “toda técnica, principalmente pelo que tem de ritual, constitui um ótimo depositário de fantasias onipotentes, ligadas a magia do gesto, da palavra e da ação” (Bohoslavsky, 1977, p. 57). Neste sentido, as motivações subjacentes à esta “mística da dedicação ao próximo” (Carvalho et al., 1988, p.56) serão examinadas a seguir.

Os sujeitos revelaram terem assumido o papel de conselheiros, ou seria mais acertado dizer “terapeutas”, nas suas relações interpessoais; relataram possuir dons especiais para perceber e sentir as necessidades alheias; enfatizaram valores altruístas e deram pouca importância às gratificações materiais. O conjunto destas declarações é coerente com as interpretações evolutivas e psicodinâmicas de Miller (1986) e Galinsky (1962). Galinsky (1962) mostrou que os métodos de disciplina adotados nas famílias de psicólogos clínicos enfatizava a sensibilidade aos sentimentos alheios. Miller (1986) descreveu como crianças usadas narcisisticamente por seus pais para atenderem às demandas inconscientes destes, aprendem a ignorar suas próprias necessidades e adquirem uma responsabilidade emocional intensa e uma percepção aguçada das necessidades alheias. Miller (1986) alerta para o risco destas crianças reproduzirem estes papéis em sua vida pessoal e profissional futura; ou se deixando usar por pessoas com necessidades narcisistas intensas, ou usando pessoas mais fracas e fazendo-as tomarem o lugar dos pais disponíveis e atenciosos que nunca tiveram. Neste sentido, uma vez psicoterapeutas, poderiam usar seus pacientes para preencher suas necessidades de admiração e afeto incondicionais, que não foram gratificadas adequadamente no contexto apropriado da infância. E por outro lado, tal como salientou Sussman (1992) e os depoimentos de inúmeros eminentes psicólogos clínicos americanos que colaboraram em sua última publicação sobre o tema (Sussman, 1995), psicoterapeutas freqüentemente sofrem com sentimentos de zelo demasiado por seus pacientes, e com a compulsão de manterem-se como pessoas invulneráveis aos conflitos e frustrações comuns.

Os depoimentos mostraram um engrandecimento do papel do psicólogo na concretização de mudanças nas pessoas que recorrem aos serviços da psicologia clínica. O sucesso do tratamento ou “cura” é atribuído unilateralmente ao profissional que aplica seus conhecimentos teóricos. Pode-se dizer que o conhecimento psicológico propicia, na perspectiva dos sujeitos, a aquisição do poder de desvendar o que há de “secreto” no outro, que nem mesmo este outro tem consciência. Sendo assim, à onipresença de declarações de intenções de ajudar às pessoas, subjaze a busca de uma relação vertical, onde o psicólogo seria o “salvador” e o paciente seria dependente deste poder. Neste sentido, Feld (1987) mostrou que as percepções de poder pessoal de assistentes sociais dedicados à formação clínica, que nos E.U.A. podem ser psicoterapeutas, enfatizam o “poder de referência”, no qual a influência interpessoal do líder se deve à admiração que este obtém de seus subordinados. Holland (1997) considerou que indivíduos com interesse tipicamente social possuem necessidades de relacionamentos cordiais conscientes, mas ocultam necessidades de dependência, admiração, poder e prestígio a nível inconsciente. Sob outra perspectiva, o depoimento pessoal do eminente psiquiatra Irving D. Yalom (1989) ilustrou corajosamente a pré-disposição do psicoterapeuta para orgulhar-se de sua capacidade de modificar o ser humano para ajustá-lo à ideais abstratos de saúde mental. Berger (1995) descreveu a desilusão e o desapontamento experienciados por psicoterapeutas após anos de carreira. A principal frustração identificada foi a constatação das limitações das suas habilidades e dos resultadosda psicoterapia. Por outro lado, profissionais mais experientes e satisfeitos relataram que para o seu crescimento pessoal e profissional foi importante a redução do interesse na idéia de “cura”, e a atribuição de novos significados ao processo psicoterápico.

Pelo que foi dito até agora, não são surpreendentes as justificativas oferecidas pelos estudantes para o desinteresse em relação às outras áreas de atuação da psicologia, principalmente escolar e sócio-comunitária, e o rechaço do trabalho com deficientes mentais. Este desinteresse foi justificado, nas entrevistas, pela impossibilidade do psicólogo realmente ajudar as pessoas, pois entre outra razões, nas palavras de um entrevistado, não pode “ acompanhá-las de perto”. Estes resultados corroboram as observações de Carvalho e Kavano (1982). Porém, os autores preferiram não ceder a tentação de especular sobre os fundamentos psicológicos da atração exercida pela atividade clínica, que supostamente possibilita “penetrar no outro, conhecê-lo”. O presente estudo capitulou diante desta tentação.

A recorrente negação da influência familiar na escolha profissional, apesar das evidências em contrário, pode ser interpretado como uma reação característica do estágio de vida no qual se encontram os sujeitos, ou seja, uma expressão do ímpeto adolescente para diferenciarem-se do grupo familiar e adquirir independência. Por outro lado, os psicólogos clínicos entrevistados por Nachmann (1960) reportaram, em uma primeira resposta, não se perceber semelhantes com qualquer um de seus pais sob qualquer aspecto, em contraste aos físicos. A similaridade dos achados indica uma possível especificidade deste comportamento nos indivíduos que buscam a carreira de psicólogos, talvez indicando o traço de auto-suficiência encontrado por Bedford e Bedford (1985) e que compõe o perfil da criança pseudo-madura, que necessita excluir sentimentos de dependência (Lackie, 1983).

A quase ausência de alusões à aspirações financeiras nos depoimentos, mostra a relativa despreocupação com relação a este aspecto, em contraste às motivações intrínsecas para obter os resultados de uma relação terapêutica com o paciente. Os valores de trabalhadores sociais no estudo de Rosenberg (1957), de modo similar, priorizaram o aspecto interpessoal da atividade profissional em detrimento de recompensas externas. Estes resultados são semelhantes aos encontrados em estudos com trabalhadores sociais, terapeutas ocupacionais e psicoterapeutas (Berger, 1995; Holmstrom, 1975; Polansky, 1959). E também no estudo de Carvalho et al. (1988), no qual sugerem que “as pessoas se mobilizam mais pelo prazer de ser psicólogo, pelas possibilidades de autoconhecimento, de conhecimento, ajuda e contato com o outro do que pelas condições em que o trabalho da psicologia é exercido” (p.55).

A hegemonia do sexo feminino nos cursos de psicologia no Brasil e na amostra investigada é um aspecto a ser considerado na interpretação dos resultados. A orientação de papel sexual feminina é tradicionalmente descrita como dedicada à valores de comunalidade, expressão de sentimentos, e com motivações afiliativas; em comparação com os traços masculinos de assertividade, ambição e motivações de domínio (Magalhães & Koller, 1994). Sendo a psicologia um grupo profissional predominantemente composto por mulheres, não é surpresa que desenvolva uma cultura ocupacional dedicada à valores altruístas, em vista da socialização diferencial dos sexos.

As investigações sobre as relações entre sexo, valores de trabalho e aspirações profissionais têm mostrado que as mulheres, em comparação aos homens, dão mais importância às gratificações pessoais e busca por desenvolvimento pessoal (Schulenberg, Vondracek & Kim, 1993) e a possibilidade de ajudar os outros (Bridges, 1989; Strey, González, Martínez & Carrasco, 1995), e são menos preocupadas com o valor “prestígio” na opção da carreira a seguir (Bridges, 1989). Hennigen (1994) observou que objetivos de vida descritos por adolescentes homens enfatizavam aspectos materiais, enquanto que as adolescentes enfatizavam valores pró-sociais. Embora estudos longitudinais indiquem que as mulheres estão cada vez mais preocupadas com prestígio e altos salários (Fiorentine, 1988), pesquisas recentes indicam a permanência das diferenças descritas acima (Rocha, Menegotto, Teixeira & Gomes, 1998). Porém, a análise dos depoimentos apresentados nos proporcionou um entendimento da escolha da psicologia que ultrapassa estas determinações sócio-culturais.

As pesquisas tem mostrado que a imagem do psicólogo junto ao público leigo é restrita ao modelo clínico (Leme, Bussab & Otta, 1989; Weber, 1991), no qual, de acordo com Gomes et al. (1996), percebe-se o psicólogo como “alguém que sabe, e a partir deste saber ensina ou orienta os outros a como resolver seus problemas”. ( p.126) O consagrado modelo de escolha vocacional de Holland (1997) nos mostra que os estereótipos profissionais vigentes em determinada cultura fazem convergir para a mesma área ocupacional indivíduos com características de personalidade comuns. Portanto, se a escolha profissional da psicologia está mediada pela imagem do psicólogo clínico fechado em um consultório, é natural que os candidatos aos cursos de psicologia apresentem as motivações, interesses e valores descritos nesta e em outras pesquisas. Este fato não seria por si só um problema, porém tem se constatado que a passagem pelos cursos de formação ainda tem acrescentado muito pouco a uma visão mais ampla e complexa da atuação psicológica, tendo em vista a reprodução e hegemonia do estereótipo profissional em voga, e as motivações apresentadas por alunos primeiranistas e finalistas (Carvalho & Kavano, 1982; Gonçalves & Bock, 1996). Sendo assim, sugere-se que uma transformação da cultura ocupacional da psicologia, a fim de atender às demandas do mundo contemporâneo e da realidade brasileira deverá ocorrer também a partir da visibilidade de carreiras exemplares em outros contextos de atuação que não somente a clínica particular.

 

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Endereço para correspondência
Mauro Magalhães
Rua Vasco da Gama 176, apt. 504
90420-110 Porto Alegre – RS
Tel.: +55-51 311-6342
Fax. +55-51 330-4797
E-mail: mauro.m@zaz.com.br

Recebido 13/01/00
Aprovado 22/09/00

 

 

* Prof. da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA.
** Alunas do Curso de Psicologia da ULBRA.
*** Prof. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS.

 

 

ANEXO 1

PROTOCOLO DE ENTREVISTA

Apresentação da pesquisa:” Esta é uma pesquisa sobre a escolha profissional da psicologia. Nós vamos conversar sobre como foi a sua escolha pela carreira de psicólogo. A entrevista será gravada em fita cassete. Será mantido sigilo absoluto sobre o teu depoimento. Você gostaria de perguntar alguma coisa?”

O VESTIBULAR E A ESCOLHA
1a) Este foi o seu primeiro vestibular?
1b) Você prestou outros vestibulares? Quais?

AS MOTIVAÇÕES DA ESCOLHA
2a) Saberia dizer o que lhe atraiu para a psicologia?
2b) O que mais lhe atrai na profissão de psicólogo?
2c) Como você se imagina trabalhando como psicólogo?
(qual ambiente? que tipo de atividade?)

CONTEXTO INTERPESSOAL DA ESCOLHA
3a) Com quem você costumava conversar sobre a escolha de profissão, este tipo de assunto...?
3b) Como foram estas conversas? Contribuíram ou influenciaram de alguma forma?

EXPECTATIVAS ACADÊMICAS E VOCACIONAIS
4a) Qual a expectativa em relação ao curso?
4b) Quais as gratificações que você espera obter do exercício desta profissão?

PROJETO PROFISSIONAL
5a) E após a formatura como psicólogo(a)?! Como você pensa o mercado de trabalho? Tem planos?
5b) Você conhece as áreas de atuação da psicologia? Tem alguma preferência?
5c) O que você com certeza não gostaria de fazer? Ou tem menos atração, dentro da psicologia?

AUTOCONCEITO E ESCOLHA PROFISSIONAL
6a) Que tipo de pessoa você se considera?
6b) O que você percebe que o diferencia de outras pessoas? Algo particular do teu jeito de ser?
6c) Você relaciona estas características com a opção pelo curso de psicologia?