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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.22 n.2 Brasília jun. 2002

 

ARTIGOS

 

O saber e a prevenção no trabalho e na vida: representações de profissionais de saúde que trabalham com HIV/ Aids

 

 

Sônia Maria Oliveira de AndradeI, *; Oswaldo Yoshimi TanakaII, **

I Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal
II Universidade de São Paulo São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Departamento de Saúde Materno Infantil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A manutenção das práticas sexuais de risco dos heterossexuais levam ao aumento do número de casos de Aids em pessoas sem qualquer outra prática de risco senão as relações sexuais. Buscamos investigar e compreender as representações dos profissionais de saúde que trabalham com HIV/Aids sobre sua prática profissional, sobre os riscos no trabalho e na vida pessoal, considerando o conhecimento diferenciado que possuem. Os resultados mostraram que o conhecimento sobre Aids é utilizado como instrumento de trabalho e não para a vida pessoal. Para esses profissionais, o uso do preservativo é incompatível com o viver sexual cotidiano, como conseqüência de um conjunto de processos culturais e históricos; sexo seguro não se faz presente na vida pessoal desses profissionais até esse momento.

Palavras-chave: Aids, Prevenção, Prática profissional, Comportamento sexual.


ABSTRACT

The heterosexual risk practices maintenance produces the increase of cases of Aids in people without other risk practices except sexual relations. This study aims to investigate and understand the social representations of health personal who work with HIV/Aids, their professional practice and the risk in their work and in their life, observing their high level of information. The results have shown that the knowledge about Aids is used at work and not in their lives. The use of condom is not compatible with their daily life, as a consequence of cultural and historical processes. Safe sex isn’t present in health personal life, until this moment.

Keywords: Aids, Prevention, Professional practice, Sexual behaviour.


 

 

O descompasso entre o avanço da epidemia da Aids e as perspectivas relativas à descoberta de uma vacina ou à cura da doença configura-se como preocupação desde o início da década de 1990.

A recomendação da Organizacion Mundial de la Salud /OMS (1990), afirmando que para poder conter a pandemia causada pelo HIV, teria que ser realizado um esforço em todos os países com o fim de interromper essa transmissão, destaca que dentre as medidas convenientes para serem adotadas encontravam-se a orientação e o fomento ao uso do preservativo.

Essa relação entre conhecimento e mudança de comportamento em direção a sexo seguro, implícita na recomendação da OMS, tem-se mostrado tênue, visto que, apesar de a população possuir um bom nível de informação com relação à Aids e reconhecer a necessidade do uso do preservativo, as práticas sexuais de risco continuam a acontecer. Como bem argumenta Smith (1998), o conhecimento sobre Aids leva a atitudes favoráveis à adoção do sexo seguro, mas isso não significa que tenham comportamento compatível com tais atitudes. Essa situação tem sido constatada tanto no Brasil, como mostram os estudos de Andrade (1991; 1997), Cordeiro et al. (1994), Loyola (1994) e em outros locais do mundo, como apontam as pesquisas de Ozer et al.(1997), nos Estados Unidos; Jeannin et al., na Suiça (1998); Smith et al. (1998), na Austrália e na África do Sul (1998); Ostergaard, na Dinamarca (1997), Bernal et al., no Chile (1994) e Abreu Garcia et al.,(1993), em Cuba.

Segundo Andrade (1998), os profissionais de saúde que trabalham com HIV/Aids, mais do que a população em geral, detêm um conhecimento diferenciado sobre as questões que envolvem o risco frente à Aids e os cânones do sexo seguro, sendo difusores de comportamentos considerados como desejáveis, buscando fazer com que sua ação educativa resulte na adesão a eles.

Esses mesmos profissionais se deparam com os números crescentes de casos de Aids, numa constatação clara de que os esforços no sentido de manter a população informada não têm revertido em mudanças comportamentais, inclusive dos próprios profissionais.

Pesquisa realizada por Giami e Veil et al.(1997), com enfoque nas representações de profissionais sobre a doença e os doentes, mostrou que o tipo de atividade realizada, preventiva ou assistencial, exerce influência sobre a percepção de risco com relação à Aids.

Essas questões serviram de subsídio para o objetivo da pesquisa, que é conhecer as representações de profissionais de saúde que desenvolvem atividades em HIV/Aids sobre sua prática profissional, buscando investigar como e em que medida o saber sobre Aids e a prática profissional provocaram repercussões no seu comportamento sexual.

 

Metodologia

Local da Pesquisa

A pesquisa foi realizada nos Serviços Ambulatoriais Especializados em HIV/Aids - SAE, em Campo Grande, Aquidauana e Dourados (Mato Grosso do Sul), serviços estes que se caracterizam por atender exclusivamente a portadores do vírus HIV e doentes de Aids, comportarem profissionais capacitados de forma diferenciada para o trabalho com a clientela específica e ênfase no trabalho em equipe (médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social), preconizando-se igual importância ao papel profissional de todos os envolvidos.

A escolha por trabalhar nos SAE se deu em decorrência da concentração dos atendimentos especializados aos portadores do HIV/Aids nesses serviços, espaço privilegiado para a contextualização das questões referentes à Aids. É fundamental destacar que os profissionais que trabalham nos SAE desenvolvem trabalhos exclusivos com esse tipo de clientela, o que não ocorre em outros serviços, como os ambulatoriais e hospitalares existentes na realidade de Mato Grosso do Sul.

Sujeitos

Apesar de as equipes dos SAE contarem com profissionais farmacêutico-bioquímicos, dentistas, dentre outros, as quatro categorias profissionais que são comuns a todos os SAE do Estado são: médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Considerando que as representações sobre a Aids e seus riscos podem diferir segundo o tipo de contato com a doença, optamos por tomar como sujeitos da pesquisa 3 médicos e 3 enfermeiros que estabelecem com os pacientes relações em que prevalecem a proximidade corporal e a manipulação de fluidos biológicos; bem como 3 psicólogos e 3 assistentes sociais que estabelecem relações essencialmente verbais com os pacientes.

Instrumento de Coleta de Dados

A coleta de dados se fez por meio de entrevistas individuais semi-estruturadas, constituídas por dois blocos:

• história profissional em relação à Aids, buscando aprender como e porque se deu o ingresso desses profissionais no campo da Aids e a importância que tem o desenvolvimento das atividades para si e para os beneficiários de suas ações.

• Representações atinentes à relação entre o saber e a prática profissional e a vida pessoal, notadamente no que diz respeito às práticas sexuais de risco, buscando explorar a percepção de risco no âmbito do trabalho e no âmbito da vida pessoal; conhecer se, como e porque o saber e a prática interferem no comportamento sexual; conhecer em que medida as questões culturais permeiam as práticas sexuais de risco.

Técnica de Análise

Foi feita a leitura flutuante de todas as entrevistas, numa pré-análise, o que permitiu o registro de anotações livres decorrentes da tentativa de apreensão das lógicas que mobilizaram as falas de cada entrevistado, identificando as razões dadas para todos os tipos de argumento.

A seguir foram constituídos os dois “corpus” comunicacionais, ou seja, um que se compôs pelas entrevistas de médicos e enfermeiros e o outro composto pelas conversas com psicólogos e assistentes sociais.

Houve, ainda, o agrupamento segundo o sexo, para a verificação de possíveis diferenças que pudessem ser consideradas significativas, notadamente no que diz respeito às questões de gênero.

Os eixos compostos pelos dois blocos da entrevista se constituíram nas unidades temáticas, sendo que, para os conteúdos referentes a cada uma dessas unidades, foram buscadas as unidades de significação.

Por fim, houve a reconstrução do discurso do sujeito coletivo, numa síntese do significado e valor que têm a questão do saber e da prática profissional na vida pessoal, e os argumentos explicativos para as representações dos entrevistados.

Considerando que o pensamento representativo é formado simbolicamente, possui validade consensual, é dominado pelo “porque” e apresenta flexibilidade na sucessão de atos mentais, em todas as etapas da análise buscou-se apreender o significado e o valor que os sujeitos dão aos aspectos levantados pela entrevista, captar a coerência e a consensualidade dos discursos, apreender o argumento explicativo e discernir os atos de fala que exprimem o cotidiano (natural e espontânea), diferenciando-os dos da fala formalizada, informativa.

 

Resultados e Discussão

Considerando que se buscou conhecer a história profissional dos sujeitos entrevistados em relação à Aids e as representações atinentes à relação entre o saber e a prática profissional e a vida pessoal, os resultados são apresentados considerando os aspectos acima, sendo que a descrição da síntese referente ao material coletado é acompanhada de comentários que refletem uma análise crítica do conteúdo expresso pelos sujeitos.

O trabalho com Aids

A questão colocada no início da entrevista, referente à inserção profissional no trabalho com HIV/Aids, mostra que, por se tratar de um serviço ambulatorial especializado, a entrada no SAE se deu por convite ou oferta do cargo para profissionais que já desenvolviam atividades envolvendo doenças sexualmente transmissíveis e, na ausência destes, o critério foi o de consulta a profissionais que, ou recém-admitidos ou veteranos, tinham um perfil que eles mesmos mencionam como típicos de quem gosta de desafios.

Inserção no Serviço

Trabalhar no SAE é um desafio, um apaixonante e assustador desafio. A princípio é difícil por dois motivos: primeiro surgem a insegurança frente ao desconhecido, preconceito com relação aos doentes e à doença, medo dos riscos da prática profissional, apreensão devido ao sofrimento e a perda dos pacientes e o receio do convívio cotidiano com a morte, com a sentença de morte; segundo, devido ao despreparo com relação à Aids. A gente pensa que sabe, mas não sabe. (Psicóloga, 28 anos)

A gente chega, vai-se capacitando, começa a desenvolver o trabalho em equipe, vai ficando, se envolvendo, gostando daquilo que faz e, depois, vira paixão mesmo. (Assistente Social, 32 anos)

Trabalhar no SAE tem um aspecto diferenciador, visto que a “morte anunciada” passa a ser algo sobre o qual nem o saber existente, nem a dedicação e envolvimento profissional promovem qualquer mudança, dada a questão da incurabilidade, mas trabalhar no SAE também implica algo peculiar e inusitado para esses profissionais: o trabalho em equipe e a proposta diferenciada de atendimento, não só em relação ao leque de possibilidades de atuação multiprofissional, como também em relação à qualidade da assistência oferecida. Isto leva à satisfação dos profissionais e, como se pode notar em vários depoimentos, dos próprios usuários.

O Significado de Trabalhar com Aids

Trabalhar com Aids é a experiência profissional mais marcante da vida e isso tem duas dimensões: a da gratificação e da frustração. É frustrante porque faz parte do cotidiano, o sofrimento e a perda. É deprimente perder os pacientes mais vinculados e, mesmo sabendo do futuro deles, parece que a gente alimenta alguma esperança. Há muito envolvimento e mais triste do que perder o paciente, é conviver com o sofrimento dele, da família e com o nosso próprio sofrimento. Até nisso a gente aprende: aprende a conviver com o fantasma da morte todo o tempo, aprende a estabelecer alguns limites no próprio vínculo e a ver os aspectos negativos de forma diferente. (Psicóloga, 36 anos)

Os limites entre o papel profissional e os sentimentos e emoções pessoais são fluidos, quando se trata de Aids. A fluidez entre a racionalidade, típica da relação profissional e o emoção, característica da relação pessoal, se apresenta. O vínculo afetivo do profissional com o paciente coloca a questão da parcialidade em destaque. Como se percebe no discurso, é como se fosse possível escolher entre quem deve permanecer vivo e quem não deve. Os próprios profissionais destacam que o confronto com o sofrimento e a morte é inerente à condição humana.

Contudo, a proposta diferenciada de trabalho, o envolvimento paulatino e a “paixão” são, indiscutivelmente, fatores que minimizam a ansiedade e a frustração diante do sofrimento e da morte.

Trabalhar com Aids, também é muito gratificante. É uma experiência que nos marca como profissional e como pessoa. (Enfermeiro, 31 anos)

Uma questão fundamental é a perda da onipotência. Qualquer profissional tem pelo menos um caso de cura para contar. Quem trabalha com Aids, não. O profissional que lida com Aids tem apenas um conhecimento diferenciado do conhecimento do carpinteiro, mas ele é tão somente um profissional. A gente oferece para o paciente muito mais do que a cura: se oferece a possibilidade de ter o sofrimento aliviado, de poder contar com alguém; não se busca a cura e sim a melhor qualidade de vida. O maior significado da Aids é que ela nos colocou no devido lugar. Ninguém tem conhecimento suficiente para resolver a questão. Acabou a onipotência. (Médico, 36 anos)

Porque não sabemos quanto tempo temos com cada paciente, porque às vezes dispomos de um momento, esse momento tem que ser brilhante e isso leva a grandes procedimentos. É fantástico. Ao mesmo tempo você é profissional e é gente. No trabalho com Aids, se cresce como pessoa. A gente passa a ver a vida com outros olhos, nos tornamos mais humanos. A gente, por ter amor pelo que faz, se doa mais. É mudança de vida mesmo, porque é, também, se voltar para o interior. É rever conceitos, enterrar preconceitos, sentir-se responsável por uma melhor qualidade de vida para os pacientes e para si. É entender que não há nada tão difícil que não mereça algum investimento no sentido de melhorar. (Psicóloga, 31 anos)

“Gratificante”, “lição de vida”, são algumas das expressões-chave no discurso de profissionais de saúde, com relação à prática profissional. É indiscutível que trabalhar com Aids dá, a eles, uma identidade comum: abraçam a causa e não tem mais volta, o que se configura como uma espécie de privilégio. A marca da continuidade e envolvimento com Aids extrapola os limites do âmbito profissional estrito. A “paixão”, na análise dos profissionais, não tem qualquer possibilidade de explicação racional e é destacado por eles que não há nenhum caso de alguém que se tenha envolvido com o trabalho no SAE e o tenha trocado por qualquer outra atividade.

O contrário, sim: rejeitam-se propostas financeiramente melhores em detrimento da permanência no serviço.

O trabalho em equipe é, também, um fator diferenciador positivo. A união, o entrosamento, o envolvimento entre os membros da equipe com as atividades uns dos outros e com o paciente dá a configuração de um verdadeiro pensar e agir coletivos. Todos sentem seu trabalho mais valorizado, tanto pelo que significa para o paciente como porque é compartilhado com uma equipe que tem o mesmo objetivo. O significado positivo para o profissional é percebido por eles como tendo repercussões para o usuário. Busca-se valorizar a auto-estima dos pacientes que chegam ao SAE, em sua maioria, desesperados, revoltados, sem perspectivas. Pela ação da equipe, o sentimento de desesperança é minimizado, o que consideram como elemento importante para a adesão ao tratamento e ao serviço, acrescido do fato que, por saberem da capacitação específica da equipe, sentem-se mais confiantes no grupo e na eficácia do tratamento.

Qualquer coisa de negativo, alegam os profissionais, torna-se insignificante diante disso tudo.

Nas falas dos profissionais, não há elemento diferencial conseqüente ao tipo de contato com os pacientes, sendo que a intensidade emocional da relação com os usuários do SAE é nivelada tanto para os profissionais que têm contato físico como os que mantêm apenas contato verbal com os pacientes. Considerando os aspectos que tipificam o pensamento representativo, quais sejam: o consenso, a flexibilidade na sucessão de atos mentais e a existência de um argumento explicativo, é possível inferir que as afirmações dos sujeitos não se configuram como meramente discursivas, estas últimas tipicamente formalizadas, segundo Perrusi (1992).

 

Risco Profissional e Risco Pessoal

Onde o profissional de saúde, que trabalha com HIV/Aids, corre mais riscos? No desenvolvimento das atividades de trabalho ou na vida pessoal?

A consensualidade característica das representações se fez notar quando todos os profissionais foram unânimes em afirmar que é na vida pessoal que se corre mais riscos.

O argumento explicativo flui de modo coerente em decorrência do pensamento flexível, típico do pensamento representativo.

Porque aqui (no SAE) a gente conhece os riscos; na vida pessoal, não.(Assistencial Social, 35 anos)

Porque, diferentemente daqui, não usamos EPI (equipamento de proteção individual) em casa. (Enfermeira, 41 anos).

Porque a gente nunca conversa sobre sexo com o parceiro e não tem isso de camisinha impregnado no jeito de se relacionar. (Médico, 33 anos)

A gente corre muito risco na vida pessoal, sim, porque a maioria de nós tem parceira fixa, não usa camisinha, num comportamento muito parecido, igual, ao dos nossos pacientes. (Médico, 38 anos)

Temos comportamento de risco como qualquer outra pessoa que tem uma relação estável. E eu lhe pergunto: numa perspectiva dessa há lugar para a camisinha? Claro que não.(Enfermeira, 38 anos)

O principal é que a gente aprende que a Aids não está longe da gente e que somos pessoas cuja história é muito parecida com a de muitos pacientes. É uma escola da vida, mesmo. (Assistente social, 37 anos)

Não há distinção entre as representações de profissionais que manipulam fluidos biológicos (médicos e enfermeiros) e as dos profissionais que, basicamente, estabelecem relações verbais com os pacientes (psicólogos e assistentes sociais). Todos se sentem protegidos no ambiente profissional devido ao conhecimento e prática das normas de segurança e uso de EPI, e essas medidas de proteção são adotadas como conseqüência da compreensão e da aceitação da existência de riscos. Apesar da forma diferenciada do discurso de psicólogos e assistentes sociais, mais extensos e detalhados que o discurso de médicos e enfermeiros, o conteúdo não reflete maior capacidade de reflexão dos primeiros em relação aos outros. Na vida pessoal, os profissionais preferem pensar que estão protegidos contra a Aids porque levam uma vida sexual estável, como se esquecessem do fato de haver um outro na relação.

Tanto o saber diferenciado como a prática profissional desmonta este tipo de argumento, que não segue uma lógica racional.

Na seqüência, buscou-se conhecer se, como e porque o saber e a prática interferem no próprio comportamento sexual.

 

Saber e Prática

O saber provoca mudança, mas não no sentido de mudança de comportamento em direção ao sexo seguro.

O saber provoca mudança, sim, e vou começar pelos homens. A gente sabe que a possibilidade de um homem adquirir o vírus da Aids em uma relação sexual é bem menor que o da mulher. Já começa por aí. Até na doença o vírus é machista. Então alguns de nós já joga nessa sorte. Para nós o saber muda, mas muda para pior. (Enfermeiro, 31 anos)

O saber e a prática profissional provocam mudança, mas mudança no sentido de que a gente tem a oportunidade e a vivência de ver que pessoas que chegam aqui e são portadoras, são iguais a nós. Uma coisa é certa: o fato de ter conhecimento não favorece a proteção. Não existe essa relação entre o conhecimento e a vida. Muda somente a consciência. (Psicóloga, 28 anos)

A resposta dos profissionais, apoiada na racionalidade científica, aponta para algo já expresso por alguns autores.

Parker (1994) diz que, no Brasil “[...] talvez não surpreenda o fato de esforços iniciais para a educação sobre a Aids, desenvolvidos quase sem qualquer referência aos tipos de significados culturais, parecerem ter causado um impacto relativamente pequeno. Embora estudos recentes demonstrem um nível realmente elevado de preocupação e informação, eles pouco documentaram as formas mais concretas de mudança comportamental consideradas como as que podem reduzir mais efetivamente o risco de transmissão do HIV. O enfoque central da educação sobre Aids e da promoção da saúde durante a última década tem sido claramente a disseminação de informações objetivas sobre os riscos de transmissão do HIV. Independentemente da mídia específica envolvida, ou dos grupos atingidos, a hipótese fundamental tem sido a de que os indivíduos, ao receberem informações objetivas, responderão através de escolhas racionais que resultarão em mudança comportamental e redução do risco”.

Pois, vale repetir, em tese: uma vez conhecendo as formas de transmissão do HIV, trata-se de uma questão racional evitar ser atingido pelo vírus. Adoecer não é mais uma questão do destino, das contingências que podem escapar ao controle, mas algo que pode ser prevenido a partir de escolhas intencionais baseadas em ações racionais bem informadas, como bem destaca Castiel (1998).

Madeira (1998) destaca o equívoco em se querer vincular a formação de hábitos desejáveis, necessários ou adequados apenas às informações que se tem acerca da doença e da sua prevenção. Além de espelhar a lógica das autoridades de saúde, reduz o problema a uma simples relação de causalidade linear, que não dá conta dos níveis e dimensões envolvidos.

Na busca da causalidade explicativa, perguntamos aos profissionais por que isso acontece.

Esta é uma boa pergunta. Por que não faço o que deveria, apesar de estar tão bem informado? É complicado fazer uso, na prática, do que se sabe na teoria. A gente sabe da presença do problema, sente que ele tem a ver com a gente, sabe da complexidade dele, sabe do avanço assustador afetando qualquer um, sabe que não mais existe grupo de risco mas, ainda assim, não muda do jeito que deveria mudar. Nós fazemos uma sensibilização para fora, ou seja, dizemos aos outros mas não dizemos para nós mesmos. É como se o que dizemos para os outros não servisse para nós. Parece que a regra é: o conhecimento é para o trabalho e não para a vida. (Médico, 36 anos)

O discurso, quando se busca uma explicação para o que se sabe e não se faz, a princípio, fica redundando em torno de constatações e não de explicações. Quando insistimos em identificar “porquês”, as respostas são marcadas por pausas, risos irônicos, sendo perceptível um certo incômodo causado não só pela abordagem daquilo que lhes é mais íntimo, mas por trazer à reflexão algo complexo, ameaçador, sobre o qual, geralmente, não se pensa ou prefere não se pensar, como se pode notar no discurso.

Por que? Talvez exatamente porque somos profissionais de saúde. Lidamos com Aids o dia inteiro no ambiente de trabalho, passamos o dia todo lidando com pacientes, com a família e a gente emenda com a noite, saí por aí fazendo palestras na comunidade, escolas, casas de prostituição e por aí vai. Chega em casa, a gente quer é falar de outras coisas. (Assistente Social, 37 anos)

A gente tem uma bagagem teórica que propicia conhecer todas as possibilidades de risco. Só que antes de ser profissional de saúde, nós somos seres humanos, com todas as dificuldades, com todos os erros, com toda uma história de vida que nos ensina a ter uma postura no relacionamento, cheia de fantasias de que o parceiro é gente fina. (Enfermeira, 38 anos)

Parece que na vida pessoal a gente é igual aos pacientes: pensa que está longe da Aids. Pensa que está longe, não. A gente sente a presença do problema, mas prefere investir na relação como forma de segurança. Tem a ver com o sentimento de que você tem uma pessoa, que ela e você estão numa relação estável e que isso vai ser suficiente para garantir a fidelidade e lhe livrar dos riscos. A gente fica nessa de relação só com um parceiro e na confiança. Se pensar corretamente, isso não protege. Isso é pensamento de mulher. Parece coisa de gente que não pensa, mas não é. A gente prefere não pensar e acaba não tomando nenhum cuidado e é por aí que a Aids bate na porta. A Aids bate na porta do nosso quarto todo dia e a gente finge que não ouve ou faz questão de não querer ouvir. (Psicóloga, 36 anos)

As explicações contêm uma racionalidade cuja lógica é frágil e não se sustenta frente às argumentações. Não é só a questão da fidelidade implícita nos relacionamentos que se destaca para explicar a exposição a possíveis riscos. Ela vem acompanhada por um outro componente, conformado e mantido histórica e culturalmente: a questão da confiança.

O uso do preservativo traz dois níveis de dificuldade, ambos envolvendo a questão da confiança. Sugerir o uso do preservativo implica a expressão, mesmo que subliminar, da desconfiança ou do estado de saúde ou da vida sexual.

A gente esquece o que sabe por causa da relação, pela questão da confiança, que é fundamental. Existe relação sem confiança? Sem cumplicidade? A confiança está por trás de tudo. Acho que se numa relação não tem confiança, é melhor desistir. (Assistente social, 35 anos)

Pense bem! Se um homem ou uma mulher levar o preservativo para a relação, leva também a desconfiança. (Enfermeiro, 31 anos)

Aqui a fala de homens e mulheres aponta para as características femininas e masculinas, diferenciando os papéis na relação.

O maior medo das mulheres que têm relacionamento fixo é esse: levantar alguma suspeita. O preservativo é fundamental, nós sabemos, mas acaba com a confiança. E, sem confiança, pode se chamar de relacionamento? (Médico, 38 anos)

Como uma mulher vai chegar para o marido e pedir para usar camisinha? Isso não existe, porque a mulher não pede mesmo; se pedisse abalaria a confiança e a estabilidade do relacionamento. (Enfermeira, 41 anos)

No fundo, a gente se protege da ameaça de romper um relacionamento, que é muito importante e é real, e acaba se expondo a um risco que, na nossa cabeça, é irreal ou está muito longe. Além do mais, prevenção não cabe no ambiente doméstico porque é um ambiente “protegido”. Sabe, o sagrado recesso do lar! Colocar camisinha na rotina é difícil e o que faz a mulher não usar preservativo é a confiança. A mulher valoriza mais a relação do que a si mesmo; o homem também? É uma forma de tentar ser feliz. (Psicóloga, 31 anos)

Mesmo quando há desconfiança de que a fidelidade e a monogamia não estejam garantidas?

Não é diferente. Camisinha não funciona para ninguém. Mesmo quando a mulher desconfia, ela não pede para usar. Ela espera que o marido use com as outras. Mulher é assim mesmo, já põe afeto, amor e a cumplicidade é algo indissociado. Não há espaço para a camisinha. E eu pergunto. Será que vale a pena qualquer relação sem emoção, sem afeto? É isso que nos torna humanos. (Psicóloga, 36 anos)

Pode parecer ilógico. Deve ser por conta da cultura, da forma como formos criados, educados. Tanto os homens quanto as mulheres têm uma história antiga. Foi assim com a geração dos nossos avós, nossos pais, com a nossa e, pelo que estamos vendo, vai ser com os nossos filhos. Não dá para mudar assim, tão facilmente. (Assistente social, 32 anos)

Tem afeto, não tem camisinha. Introduzir camisinha é introduzir desconfiança e isso ninguém quer enfrentar. (Assistente social, 35 anos)

Isso é muito complicado e não sei exatamente porque ocorre. E acho que, como forma de nos protegermos psiquicamente e de proteger o relacionamento, temos resistido em pensar sobre essas questões. (Assistente social, 37 anos)

As verbalizações, além de exprimirem o cotidiano, contêm uma construção simbólica que associa o poder ao homem (inclusive na vulnerabilidade em relação à Aids) em contraste com o mundo feminino, permeado pelas emoções e sentimentos, mais frágil e vulnerável. Essas representações de gênero, mantidas e articuladas culturalmente, com a ativa participação de homens e mulheres, termina por conformar, inclusive, a vida sexual masculina e feminina dos profissionais de saúde e a relação entre ambos.

E o que a gente fala em palestras! Já pensou se as pessoas soubessem disso? Que na vida a gente parece esquecer de tudo, que a gente também se arrisca? Nisso a gente é igual a todo mundo. Fora daqui não somos médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nada. Somos pessoas que têm comportamento sexual igual a qualquer outra. Na vida, fora daqui, na cama, a gente é mesmo igual a todo mundo. O que a gente aprende e sabe não faz muita diferença. É muito difícil quando você ouve a historia do paciente e vê que ele tem uma vida muito parecida, igual à sua. (Psicóloga, 28 anos)

A gente pensa assim: camisinha é para fora de casa. Em casa estão as garantias. Esse pensamento mágico, cultural, parece ser impermeável a qualquer argumento lógico. Por que? Eu não consigo explicar de modo convincente. Só sei constatar e, de vez em quando, me angustiar com essas constatações. (Médico, 33 anos)

Para os profissionais de saúde, a prevenção é norma, é prescrição, é exigência... para os outros, mas não para si. Eles justificam a sua conduta com base na confiança e, apesar da percepção de que o argumento é frágil, há um significado cultural que normatiza o comportamento de fidelidade, que minimiza a preocupação e sustenta a noção de que há pouco a se fazer.

A consonância é absoluta e o discurso conforma, de forma inequívoca, as representações de homens e mulheres quanto à sexualidade e a fidelidade. Associada à espontaneidade e à informalidade, características das representações sociais, evidencia-se uma outra característica que as tipifica: a causalidade fenomenal exemplificada pelo argumento explicativo.

Os profissionais colocam-se como iguais aos próprios pacientes no confronto com o risco (possibilidade futura, talvez remota) e colocam-se numa posição que os torna imunes ao que mais temem: a destruição do relacionamento, que é real e se sustenta na confiança.

Não deixa de ser uma lógica racional, no sentido defendido por Madeira (1998), quando diz que a racionalidade caracteriza-se como uma construção que articula, ao nível do sujeito, o psíquico, o social e o histórico, no concreto das relações que assinalam e articulam as partes de uma dada totalidade.

É diferente da lógica racional e linear contida nas informações e no saber sobre Aids, que se funda na alienação dos sujeitos daquilo que os define como sujeitos culturais.

Prevenção, hoje, é usar preservativo e isto é incompatível com fidelidade, resultado esperado da confiança mútua, valor cultural para o qual se vêem poucas possibilidades de mudança a curto prazo.

Chamam a atenção, ainda, as questões de gênero. As representações de homens e mulheres apontam para a direção do poder como sendo inerente ao homem: poder para decidir quando e com quem usar o preservativo e, embora sejam mencionados alguns avanços femininos no sentido da conquista de maior espaço social, isto é considerado inexpressivo quando se trata da sexualidade.

Knauth (1998 a), considerando que mulheres infectadas pelo HIV, diz que, para elas, a Aids e os assuntos a ela relacionados passam a ser circunscritos e limitados ao espaço médico. Fora daí é como se a Aids não existisse, ou seja, o espaço para conversas sobre Aids não é o das relações interpessoais, que envolvem intimidade, emoções e sentimentos.

As duas lógicas parecem guiar a conduta dos profissionais de saúde. Uma serve ao espaço profissional e outra ao espaço pessoal, levando os profissionais de saúde a adotarem diferentes posturas no âmbito do trabalho e no âmbito de seus relacionamentos, visto que as representações que orientam os comportamentos sexuais se pautam em construções que envolvem emoções e sentimentos (inclusive construções de gênero), dificultando a ancoragem de representações incompatíveis, como o uso do preservativo, sustentadas em bases racionais.

As dificuldades encontradas entre se colocar em prática aquilo que se sabe no sentido do comportamento em direção ao sexo seguro e aquilo que se vive, talvez se dê exatamente porque as relações sexuais dos profissionais de saúde sejam a mais pessoal e íntima parte das suas vidas, mas fortemente moldadas e pautadas em valores culturais fundamentais para homens e mulheres, uma vez que o comportamento humano está enraizado nos fatores sociais e o comportamento sexual está sujeito a poderosas coerções, profundamente enraizadas.

Todas as sociedades têm, ao longo da história, gerado usos e pautas sexuais e estes têm modelado a identidade sexual dos membros de cada sociedade e têm constituído um tipo peculiar de sexualidade humana, como um modo de relacionar-se. Desse contexto não fogem os profissionais de saúde.

 

Conclusão

O discurso e a prática profissional são diferentes daquilo que se aplica à vida sexual de profissionais de saúde. Como diz Giami et al. (1997), isso tem relação não só com a biografia dos indivíduos, mas com seu ambiente social e relacional e com as necessidades com as quais se confronta.

As informações dos profissionais sobre Aids são incompatíveis com a prática sexual cotidiana e está claro que a sua vida sexual está impregnada por aspectos culturais que refletem os valores fundamentais da nossa sociedade, valores estes legitimados e mantidos pelos profissionais, homens e mulheres, enquanto pessoas comuns. Saber não implica mudança de comportamento, no sentido do sexo seguro. As representações sobre Aids e prevenção servem ao âmbito profissional.

As representações da sexualidade são incoerentes com o uso da camisinha, de tal maneira que, por não terem amparo em algo que seja compatível, o saber sobre Aids encontra-se objetivado e não ancorado, no que se refere às práticas sexuais dos profissionais de saúde.

Lidar com Aids, na opinião dos profissionais, é uma grande lição de vida porque implica dar a ela um novo valor. E, como valor é aquilo para que, a partir do que, a pessoa faz questão de viver e em favor do que aceita correr o risco de perder algo importante, na vida dos profissionais de saúde a qualidade da relação com o outro é a dimensão primordial.

Os comportamentos de risco de profissionais de saúde em relação a Aids são moldados pela confluência constante entre a percepção individual e os modos nos quais essas percepções se organizam pelo processo de interação social e repercutem no cotidiano, a despeito da percepção de vulnerabilidade diante do HIV. Ela não é suficiente para mudar significativamente o comportamento em direção ao sexo seguro.

A mudança no sentido do sexo seguro implica intervir no cotidiano. Implica ver que a vida cotidiana é a vida do indivíduo e esta não está fora da história e da cultura.

 

Referências bibliográficas

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Endereço para correspondência
Sônia Maria Oliveira de Andrade
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e
da Região do Pantanal
Coordenação do Curso de Psicologia
Tel.: +55-067-726-3276 - ramal 252
E-mail: anart.msi@terra.com.br

Oswaldo Yoshimi Tanaka
Departamento de Saúde Materno Infantil
Faculdade de Saúde Pública
Universidade de São Paulo São Paulo - SP
E-mail: oytanaka@usp.br

Recebido 13/02/01
Aprovado 20/10/01

 

 

* Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal Coordenação do Curso de Psicologia
** Departamento de Saúde Materno Infantil, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo São Paulo - SP