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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.23 n.2 Brasília jun. 2003

 

ARTIGOS

 

Ciberespaço: nova realidade, novos perigos, novas formas de defesa

 

New reality, new dangers and new kinds of defence

 

 

Ana Maria Nicolaci-da-Costa*

Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A mídia, nacional e internacional, vem divulgando à exaustão vários tipos de perigo que supostamente rondam a utilização da Internet. Por trás dessa divulgação, parece estar um pressuposto que desafia a Psicologia: o de que somos indefesos para lidar com a nova realidade do ciberespaço. Resultados inesperados de uma pesquisa sobre o uso intensivo da Internet, no entanto, mostram o contrário. A partir destes, novas estratégias de auto-proteção online, que visam principalmente à preservação da intimidade, puderam ser identificadas. Essas estratégias envolvem diferentes formas de utilização, por parte dos usuários, dos próprios programas e recursos tecnológicos disponíveis.

Palavras-chave: Intimidade, Defesa, Auto-proteção, Recursos digitais.


ABSTRACT

National and international media constantly report several kinds of danger allegedly due to the use of the Internet. Underlying such reports, there seems to be an assumption which is challenging to Psychology: the assumption that we are defenseless when dealing with the new reality of cyberspace. Unexpected results stemming from research on the intensive use of the Internet have, however, revealed this assumption to be unwarranted. These results show that new self-protection strategies, aimed mainly at the preservation of intimacy, have already been developed. These strategies involve different kinds of use of the very software and technological tools available.

Keywords: Intimacy, Defense, Self-protection, Digital tools.


 

 

A sobrevivência de qualquer espécie animal depende de seus mecanismos de defesa, tanto em relação às características do local onde vive (frio, calor, enchentes, seca, avalanchas, deslizamentos de terra etc.) quanto em relação aos outros habitantes do mesmo (predadores, presas etc.). Mudam as características ou os demais ocupantes do seu habitat e os animais têm que mudar suas formas de auto-proteção. Caso contrário, inúmeros exemplos nos mostram, podem até mesmo enfrentar o perigo máximo da extinção.

A espécie humana não é exceção, embora muitos dos perigos que a aflijam sejam de ordem diferente daqueles que ameaçam a maior parte dos animais e os seus sistemas de defesa sejam extremamente complexos se comparados com os de outras espécies. Para sobrevivermos, temos que saber nos proteger e, quando somos expostos a novos perigos, temos que desenvolver novas formas de defesa. A julgar pelo crescente aumento da população mundial, parece que fazemos isso com competência.

Segue-se um exemplo clássico dessa capacidade de adaptação que tem um significado especial para a Psicologia. Sabemos que o mundo mudou radicalmente na passagem do século XVIII para o XIX (para descrições dessa mudança, ver, entre outros, Nisbet, 1966, McClellan III e Dorn, 1999, Castells, 2000). No final do século XVIII, foi descoberta a primeira fonte de energia inanimada – o vapor – e teve início a era das máquinas e da produção industrial. As primeiras indústrias, instaladas nas cidades de então, começaram a atrair a mão-de-obra do campo e, em decorrência dessa migração, acabaram surgindo os grandes complexos urbano-industriais da era moderna: as metrópoles.

A vida nas metrópoles subvertia as expectativas daqueles que para elas migravam. Até então, a maior parte da população ainda vivia em pequenas comunidades rurais, nas quais o tempo passava lentamente, todos se conheciam, vivia-se e trabalhava-se em família e os estímulos externos (ruídos, paisagens etc.) eram relativamente poucos e familiares. Ao chegarem à metrópole, entre muitas outras coisas novas, os migrantes tinham que enfrentar a solidão causada pela ruptura com a rede de relações fornecida pela vida comunitária, o excesso de exposição a pessoas desconhecidas e a aceleração do tempo, além do excesso de estímulos de origem pouco familiar.

Arguto observador desse quadro, que lhe era contemporâneo, o sociólogo alemão Georg Simmel foi um dos primeiros autores a tornar visível aquilo que hoje chamamos de construção social da subjetividade.1 Seus principais trabalhos se tornaram clássicos e foram traduzidos para várias línguas. Um conjunto desses trabalhos foi reeditado em inglês por Kurt Wolff e recebeu o título The Sociology of Georg Simmel (Wolff, 1964). Destes, um dos mais conhecidos é o artigo “A Metrópole e a Vida Mental”. Nele, Simmel foi capaz de estabelecer, com grande clareza, uma ponte explícita entre o que acontecia no cotidiano de uma grande metrópole e a emergência do que ele chamava de novos “traços psíquicos”, no caso, novas formas de defesa antes inexistentes.2 Segue-se uma breve apresentação de seu raciocínio.

Para começar, Simmel discorre sobre os principais efeitos psicológicos gerados pelo cotidiano em um grande centro urbano-industrial. Fazendo uso da tradução encontrada em Velho (1987), de acordo com ele:

“... de cada ponto da superfície da experiência (...) pode-se deixar cair um fio de prumo para o interior da profundeza do psiquismo, de tal modo que todas as exterioridades mais banais da vida estão, em última análise, ligadas às decisões concernentes ao significado e estilo de vida. Pontualidade, calculabilidade, exatidão, são introduzidas à força na vida pela complexidade e extensão da existência metropolitana e não estão apenas muito intimamente ligadas à sua economia do dinheiro e caráter intelectualístico. Tais traços também devem colorir o conteúdo da vida e favorecer a exclusão daqueles traços e impulsos irracionais, instintivos, soberanos que visam a determinar o modo de vida de dentro, ao invés de receber a forma de vida geral precisamente esquematizada de fora” (Simmel, 1902, em Velho, 1987, p. 15).

Ou seja, Simmel argumenta que o psiquismo se acomoda e se ajusta às forças externas, no caso, aquelas da modernização.

Ressalta o caráter mais sofisticado da vida psíquica urbana, quando comparada à da pequena comunidade. Essa sofisticação, argumenta, resulta do fato de que o intelecto é a mais adaptável das nossas forças interiores. Onde o habitante da pequena comunidade reage com o coração, o habitante da grande cidade reage com a cabeça. A seu ver, a intelectualização característica da vida metropolitana se destina, portanto, a preservar a vida subjetiva do poder avassalador dos inúmeros estímulos sensoriais e contatos interpessoais proporcionados pela grande concentração de seres humanos com interesses divergentes. A vida metropolitana, afirma, gera, antes de mais nada, uma intensificação dos estímulos nervosos que resulta da alteração brusca e ininterrupta de estímulos externos e internos.

Tudo isso leva o habitante da grande metrópole a desenvolver duas importantes formas de defesa ou auto-preservação: a atitude blasée e a reserva. A atitude blasée é uma forma de defesa em relação ao excesso de estimulação sensorial gerado pelo ritmo acelerado de vida, pelos constantes deslocamentos de um lugar para outro e pela diversidade de objetos e sensações inerentes a uma grande cidade. Diante desse excesso de estimulação sensorial, o homem metropolitano tende a tornar-se indiferente e tende a desvalorizar o mundo objetivo. De forma análoga, para se proteger do alto número de contatos interpessoais propiciados pela grande concentração humana, o habitante da grande cidade torna-se reservado. Já que não é lhe possível ter contato emocionalmente significativo com todos, o urbanita tende a assumir uma postura fria e desconfiada em relação aos outros.

Simmel mostra, portanto, que, tal como acontece com as demais espécies animais, alterações no nosso habitat fazem com que desenvolvamos novas formas de auto-proteção.

Nos dias de hoje, essas constatações não são novas ou surpreendentes. Mesmo assim, muito do que vem acontecendo recentemente faz crer que foram esquecidas. Um exemplo disso é a divulgação que a mídia vem fazendo daquilo que acontece na Internet.

O papel da mídia em tempos de mudança é extremamente importante. Com seu poder de observação e sua agilidade, ela cumpre a importante função de apontar-nos novos caminhos, guiar-nos em novas explorações, mostrar-nos o uso que podemos fazer das novidades etc. Cumpre também a função de alertar-nos para novos perigos.

No que diz respeito à Internet, como seria de se esperar, a mídia vem eficazmente guiando milhões de pessoas ao redor do mundo a com ela se familiarizarem. Infelizmente, no entanto, vem se excedendo na ênfase que dá aos novos perigos. Como venho argumentando em vários lugares (ver Nicolaci-da-Costa, 1998, 2002a, 2002b), tanto a mídia internacional quanto a nacional vêm injetando, nos usuários da Rede, um medo exagerado (que pode, por si mesmo, vir a gerar muitos problemas). Comportamentos patológicos, depressão, isolamento, crimes, seqüestros, prostituição de menores, pornografia, perseguições, invasões de privacidade e outros horrores supostamente gerados pela vida online ganham, no noticiário diário, um destaque que faz parecer que não existiam antes do advento da Internet. E nós, psicólogos, pouco estamos fazendo para combater esse medo excessivo no Brasil.

O mesmo, felizmente, não acontece em outros lugares. Em abril de 2000, por exemplo, o Monitor on Psychology, jornal da American Psychological Association, apontava os exageros no debate sobre aquela que já foi chamada de “vida digital” (como na tradução do título do livro Being Digital, de Nicholas Negroponte, 1995) dedicando-lhe, entre outros, o artigo Linking up Online, de Rebecca A. Clay.

Neste, Clay menciona explicitamente o medo que a mídia norte-americana vem gerando ao dar tanta ênfase aos aspectos negativos da vida online. Revela, também, que, associada a esse medo está uma reação à mudança análoga àquela observada quando do surgimento de outras tecnologias:

A pesquisadora Kathlyn Y. A. McKenna, PhD, e o professor John A. Bargh, PhD, do departamento de Psicologia da Universidade de Nova York, comparam as notícias negativas a respeito da Internet ao medo de novas tecnologias que, no passado, incitou as pessoas a resistirem ao telefone na crença de que outros poderiam ouvir suas conversas em casa mesmo com o telefone no gancho (Clay, 2000, p.21, nossa tradução).

Afirmações semelhantes podem ser encontradas no artigo Internet Statistics Unsound: Media Reporting on Internet Studies Misses Fundamental Problems – assinado por Cristopher Weare, professor de Comunicação na Universidade da Carolina do Sul e publicado no Online Journalism Review em 25 de abril de 2000.

À mídia se associa a indústria cinematográfica e televisiva. Cito um único exemplo, dentre muitos possíveis. O filme norte-americano A rede, que foi transformado em seriado da televisão, retrata a perseguição que sofre sua protagonista por conta de sua excessiva auto-exposição na rede mundial de computadores.

Mesmo que estejamos conscientes de que há muito exagero em tudo isso, não é fácil nos descartarmos do pressuposto que se encontra por trás de todos esses horrores: o pressuposto de que somos indefesos para lidar com os novos perigos criados pela nova realidade digital.

Resultados inesperados de uma pesquisa sobre o chamado “vício na Internet” (ver Nicolaci-da-Costa 2002a) revelam, no entanto, um quadro bem mais otimista. Antes de apresentá-los e discuti-los, porém, é necessário que sejam apresentados o contexto de origem, os objetivos e a metodologia da pesquisa que lhes deu origem.

 

A Pesquisa3

Objetivo:

Nessa pesquisa, tínhamos como objetivo a identificação das razões pelas quais tantos passam várias horas de seus dias sentados à frente de seus computadores conectados à Internet. Queríamos investigar o que se acha por trás desse tipo de comportamento, que vem sendo encarado por muitos como excessivo ou patológico, chegando mesmo a ser rotulado de “vício” por muitos psicólogos (para uma apresentação detalhada, ver Nicolaci-da-Costa 2002a).

Sujeitos:

Pelo próprio fato de estarmos lidando com um uso intenso da Rede, tivemos que trabalhar exclusivamente com aqueles que vêm sendo chamados de “usuários pesados”. Não dispúnhamos, no entanto, de uma definição clara do que vem a ser um uso “pesado” da Rede, pois a literatura disponível é muito vaga. Alguns – poucos – indicadores puderam ser obtidos: (a) em uma pesquisa realizada pelo Stanford Institute for the Qualitative Study of Society – SIQSS (2000), que sugere um patamar de 10 horas semanais, e (b) em um estudo realizado por Alvin Cooper (citado em deAngelis, 2000), que considera “pesado” um uso de no mínimo 11 horas semanais.

Tornou-se necessário, portanto, que encontrássemos nossa própria definição operacional do que vem a ser um “usuário pesado”. Para isso, a equipe de pesquisa e esta pesquisadora resolveram entrevistar pessoas que dela faziam uso diário (estas nos foram indicadas por usuários conhecidos) com a intenção de apreender o que elas viam como um “uso pesado” da Rede.

Com essa finalidade, fizemos uso das entrevistaspiloto normalmente realizadas para testar nossos instrumentos. A partir dos depoimentos coletados nas 13 entrevistas realizadas nessa fase, chegamos à conclusão de que, aos olhos desses entrevistados, um “usuário pesado” é aquele que passa no mínimo duas horas diárias conectado à Internet. Como essa definição era semelhante àquelas sugeridas pelos estudos do SIQSS e de Alvin Cooper (e até um pouco mais rígida do que elas), tornouse o principal critério de recrutamento dos sujeitos que participariam da pesquisa.

A esse critério, acrescentamos outros: (1) Os participantes deveriam se conectar exclusivamente de casa, por opção, em seu tempo disponível para lazer. Queríamos evitar as situações em que os usuários se conectam por obrigação ou necessidade, como em diversos ambientes de trabalho e estudo; (2) Todos os participantes deveriam já estar usando a Internet por, no mínimo, seis meses. Queríamos investigar rotinas de uso já estabelecidas; (3) Os participantes deveriam ter pelo menos 16 anos de idade. Queríamos que pudessem ter alguma consciência dos impactos da Rede no seu cotidiano e em si mesmos; (4) Os participantes deveriam, no mínimo, estar cursando o segundo grau. Queríamos ter a garantia de um patamar de instrução comum a todos. Não foram feitas quaisquer restrições a idade, sexo ou profissão. Esses dados foram, no entanto, coletados. Com base nesses critérios, foram recrutados vinte sujeitos a partir de indicações de usuários conhecidos dos pesquisadores. Desses, quatorze tinham entre 20 e 27 anos e três tinham entre 16 e 19. Os outros três eram mais velhos: 39, 44 e 56 anos de idade. Devido ao grande número de jovens, muitos dos nossos sujeitos eram estudantes de segundo ou terceiro grau. Havia, também, jornalistas, médicos (sendo que um deles era também psicanalista), professores, consultores de informática e um advogado. Todos eram experientes usuários da Internet.

Coleta de dados

A coleta de dados foi feita a partir de vinte entrevistas individuais de cerca de uma hora de duração. Essas entrevistas foram realizadas em locais escolhidos pelos próprios sujeitos de modo a torná-las informais e descontraídas. Isso porque, para nós, é fundamental que os sujeitos não se sintam inibidos e possam se abrir com o entrevistador (a esse respeito ver, por exemplo, Labov, 1973 e Nicolacida- Costa, 1989).

Para guiá-lo, o entrevistador dispunha de um roteiro construído com essa finalidade (a construção desse tipo de roteiro é discutida em Nicolaci-da-Costa, 1989). O roteiro era composto de 25 perguntas abertas, que poderiam ser desmembradas em outras, para maior aprofundamento. Essas perguntas versavam sobre os hábitos do(a) usuário(a), sobre suas opiniões a respeito da Internet e sobre o que dizem dela, sobre seus sentimentos em relação ao uso da Rede etc. (O roteiro completo é apresentado em Nicolaci-da-Costa, 2002b.)

Desse longo roteiro, as perguntas mais relevantes para a presente discussão são aquelas que faziam um levantamento do uso cotidiano que o entrevistado(a) fazia do computador. Eram as seguintes: quando o entrevistado(a) ligava o computador; quais os programas que usava na Rede; quando e quantas vezes por dia checava email; quantos e-mails tinha (e por que); quantos programas usava ao mesmo tempo (e por que); quanto tempo por dia gastava na Rede (fazendo o que); qual o máximo de horas que ficara conectado (fazendo o que); o que gostava de usar na Internet.

No início da entrevista, eram também coletados dados objetivos do sujeito: tempo de acesso à Rede, idade, sexo, escolaridade e ocupação/ profissão. Como forma de registro, fez-se uso de gravações.

Análise dos Dados

Todas as entrevistas foram integralmente transcritas e submetidas às técnicas de análise de discurso propostas por Nicolaci-da-Costa (1989, 1994). De forma muito resumida, a análise – qualitativa – é realizada em duas grandes etapas. Na primeira – a da análise inter-sujeitos –, são reunidas todas as respostas de todos os sujeitos a cada uma das perguntas, o que nos propicia uma visão panorâmica dos depoimentos gerados a cada uma de nossas questões. As respostas recorrentes nos discursos coletados e analisados nessa etapa já nos apontam os primeiros resultados – ou seja, as tendências centrais das respostas dadas pelo grupo como um todo –, embora estes ainda sejam inconclusivos. Já na segunda etapa – a da análise intra-sujeitos –, tomam-se as respostas de cada um dos sujeitos como um único conjunto dentro do qual são analisados possíveis conflitos de opiniões, inconsistências entre respostas, sentimentos contraditórios etc. Com o insight ganho nessa segunda etapa, retorna-se à primeira e reanalisamse novamente os conjuntos de respostas dadas por todos os sujeitos a cada uma das perguntas. Esse vai-e-vem (que pode ser repetido quantas vezes necessário) permite que dominemos o material a fundo e possamos detectar, além de vários nãoditos (pois o que não é verbalizado em uma resposta pode ser claramente sugerido em outra), os preciosos pormenores de sentimentos, dúvidas, mal-estares, conflitos internos e porquês que sempre buscamos.

Resultados relevantes

Além de nos permitir constatar a ausência de um quadro patológico no uso que nossos entrevistados fazem da Rede (ver Nicolaci-da-Costa, 2002a), pudemos, através dessa pesquisa com “usuários pesados”, detectar sua preocupação com o uso produtivo da Internet (ver Nicolaci-da-Costa, 2002b) e identificar comportamentos inesperados – e já estabelecidos – como o seu uso de recursos tecnológicos para auto-proteção. No que se segue, serão apresentados e discutidos somente os últimos, ou seja, as formas de auto-proteção empregadas por nossos sujeitos.

Em primeiro lugar, todos obviamente utilizam o email como forma de comunicação. Muitos, no entanto, revelaram ter dois ou mais e-mails por dois motivos principais. O primeiro desses motivos é o desejo de separar graus de intimidade. Nesse caso, geralmente usam um e-mail gratuito (como, por exemplo, o hotmail ou zipmail) como o impessoal, aquele que nada revela a respeito das características de seu usuário no “mundo real”. Seguem-se alguns exemplos dos vários depoimentos coletados que explicitam o uso dessa estratégia.

Wanda4 (23 anos, professora de inglês), por exemplo, diz ter duas mailboxes ativas:

“Uma do meu provedor que se tornou mais pessoal, só para amigos e interesses mais sérios. Outra pelo hotmail.” [Por que?] “... porque pude tornar o nick [apelido] mais impessoal e assim me cadastrar em alguns sites (deram-me essa dica assim que entrei na internet e acho que é bem melhor assim mesmo).”

Fernando (24 anos, jornalista) também tem três contas de e-mail porque:

“Um [e-mail] é só profissional, o outro é o e-mail do meu provedor que é totalmente pessoal, sabe? Só dou para quem é camarada e o terceiro é hotmail, então é festa, quem pedir eu tô dando.”

Já Roberta (39 anos, consultora de informática) fala a respeito de seu uso de e-mails “oficiais” (os de provedores) e “clandestinos” (os gratuitos, nos quais “você não põe dados reais” e que, por isso mesmo, oferecem a proteção do anonimato):

“... nos oficiais eu faço até questão que as pessoas saibam que sou eu. Agora, para entrar nas salas de bate-papo, a gente nunca coloca o e-mail verdadeiro.”

O segundo motivo para a manutenção de mais de uma conta de e-mail nos foi revelado por usuários que dividem o computador com a família. Nesse caso, menos comum mas não menos interessante, para poderem manter sua intimidade longe dos olhos de seus familiares, os usuários adotam algum e-mail gratuito – do tipo webmail (no qual as mensagens ficam disponíveis em um site online) – como o e-mail pessoal. Desse modo, evitam que as mensagens sejam armazenadas no computador da família e possam ser lidas por outros membros desta.

Esse é, por exemplo, o caso de Márcio (16 anos, estudante de segundo grau). Márcio divide o computador com o pai e, além do e-mail do provedor, que é de ambos, diz usar:

“... o zipmail, que é só meu.”

É, também, o caso de Aline (24 anos, estudante de terceiro grau):

“O computador que eu tenho em casa, apesar de ficar no meu quarto, ele é da casa, então, quem usa ele sou eu, meu pai e minha irmã. ... Mas, às vezes, eu sinto falta de privacidade para receber alguns e-mails que eu quero que ninguém veja, essas coisas. Então, eu escolhi um outro e-mail, o zipmail, para ter essa privacidade e colocar coisas mais pessoais.”

Resumindo, o e-mail é utilizado por todos e, na maioria dos casos, há uma preocupação com questões relativas à intimidade. Se o usuário tem computador próprio, essa preocupação gera a estratégia da utilização de duas ou mais contas de e-mail, que são alocadas a diferentes círculos de conhecimentos (sendo a conta gratuita aquela tratada como impessoal). Quando isso não é possível, como no caso dos usuários que dividem o uso do computador com outros membros da família, adota-se uma estratégia diferente: o e-mail gratuito é utilizado como “o pessoal”.

A utilização de diferentes programas de comunicação online também revela a preocupação que nossos entrevistados têm com a questão da intimidade. Em sua grande maioria, eles se conectam diariamente por duas ou mais horas porque gostam de bater papo. O tipo de papo e o grau de auto-exposição nele envolvido, no entanto, parece ser função do programa que usam. Por isso, mantêm sempre o IRC5 e o ICQ6 abertos (além de um navegador – como o Netscape ou o Internet Explorer – e de algum outro aplicativo, como, por exemplo, o Word, com o qual estejam trabalhando). A partir dessas revelações, uma pergunta imediatamente se coloca. Quais são, para eles, as diferenças entre um papo num Web chat (ou chat de portal/ provedor)7 , no IRC e no ICQ? Vejamos o que nos foi dito.

Nossos sujeitos não gostam de Web chats – embora certamente já os tenham freqüentado – porque, nesses, é difícil encontrar as mesmas pessoas e com elas manter algum tipo de vínculo. É tudo anônimo, inconstante e descompromissado demais. Não há muito como dar continuidade a algo já iniciado, por isso fica tudo muito “bobo”.

Wanda (23 anos, professora de inglês) diz:

“... quanto às salas de chat, eu de vez em quando entro em uma no zaz que é específica para piadas que eu me amarro, mas já não entro faz uns três meses. Não gosto muito de chat. Geralmente vêm aqueles bebês cheio de cantadas bobas ou naquela de sexo virtual...”

Em contrapartida, como já foi dito, a maioria dos sujeitos faz questão de manter o IRC sempre aberto durante o tempo de conexão. No IRC, o desconhecimento dos dados “reais” dos freqüentadores parece ter pouca importância, tendo em vista que estes, por vezes ao longo de anos, se apresentam sempre com o mesmo apelido (nick) e com as mesmas características pessoais. Por isso mesmo, no espaço virtual gerado pelo IRC, os interlocutores são capazes de estabelecer vínculos, criar amizades e muito mais. É o “lugar” ideal para conhecer pessoas mais intimamente, ainda sob a proteção do anonimato.

No nosso grupo de entrevistados, um de seus maiores adeptos é Sérgio (56 anos, médico e psicanalista). Com sua experiência, ele nos oferece uma rica análise dos tipos de relacionamento e dos vínculos que podem ser construídos no IRC. Por isso mesmo, transcrevo um longo trecho de seu depoimento:

“Tem canais que são imensamente grandes, são 50/60 pessoas. Esse que eu entro não, deve ter em média, por dia, umas trinta pessoas, e depois reduz mais à noite. Mas é um grupo que é constante. Então é um grupo que de todo dia conversar acabo conhecendo intimamente algumas pessoas sem nunca tê-las visto.

E lá nesse grupo é um grupo jovem, então a minha idade me afasta porque as músicas deles eu não entendo, (...) então sobre música nós não conversamos. Agora quando falamos em vida muitas vezes eles perguntam o que é que eu acho, e eu não me considero uma pessoa antiquada, então muitos conversam comigo, bastante, pessoalmente, então entra em pvt, privado, e a gente conversa. (...) são pessoas amigas que eu conheço pouco [conheceu algumas no seu aniversário]. (...) é uma relação engraçada, é uma relação sui generis.

Teve uma época que eu comecei a entrar um pouco num outro [canal], me dei mal pra burro. Os grupos são muitos fechados, são muito ciumentos, desconfiados... Mas neste outro que eu entrei (...) aconteceu uma coisa engraçada, um dos masters era filho de um colega meu de faculdade (...) e eu entrei lá e perguntei “seu pai chama Felipe?”, ele disse “Chama”, aí conversamos muito, o pai dele era muito meu amigo na faculdade, então ele tem certa consideração comigo, e ele me protegeu um pouco lá dos outros, porque os outros vinham com porradaria mesmo, muito brabos.”

A partir do depoimento de Sérgio, podemos entender a diferença entre o Web chat e o IRC. Embora, em ambos, os nicks nada ou pouco revelem sobre quem os usa, no Web chat tudo parece ser livre, leve e muito solto para o gosto dos nossos entrevistados. Já no IRC, apesar do anonimato, é possível serem estabelecidas relações tão permanentes e intensas quanto as descritas acima.

Resta, agora, tentar estabelecer a diferença que nossos entrevistados fazem entre o IRC e o ICQ, já que o último é usado praticamente por todos. E a diferença é novamente reveladora do cuidado que têm com sua auto-preservação.

O ICQ é o lugar virtual onde é feita a manutenção do círculo de amigos íntimos – conhecidos pessoal ou virtualmente – a cujos dados reais se tem acesso (em contraste com o que acontece em relação ao e-mail gratuito fornecido nos Web chats e no IRC, os dados fornecidos pelos usuários do ICQ são geralmente os verdadeiros). O fato de permitir que a presença online de seus usuários possa ser detectada é um dos seus grandes atrativos; a velocidade da comunicação e o fato de o usuário poder se comunicar com vários outros ao mesmo tempo são outros. O ICQ é, na realidade, onde desembocam todas as amizades – virtuais ou reais – que se deseja manter online.

Ronaldo (23 anos, jornalista) revela usar o ICQ: “[Uso o ICQ]... porque ele é o único no mercado que faz isso, te permite encontrar pessoas que você conhece para bater papo. É como marcar um encontro com seus amigos.”

Já Cláudia e Carla enfatizam o fato de reencontrar pessoas conhecidas no IRC. Cláudia (21 anos, estudante de terceiro grau) diz:

“O ICQ é legal porque se você conversa com uma pessoa no IRC, rola uma afinidade, você coloca ela na sua lista e vai saber quando ela está online.”

Carla (20 anos, estudante de terceiro grau) acrescenta:

“No ICQ você só conversa com quem você já conversou, você já conhece e no IRC você conversa com qualquer pessoa que você nunca viu. Normalmente, começo a conhecer as pessoas pelo IRC, se rolar uma identificação dou meu ICQ e passa a ser uma coisa mais particular, menos impessoal, menos anônima.”

Paulo (24 anos, médico residente) relata, empolgado, que o ICQ é um espaço reservado para os amigos, reais ou virtuais:

“Uso o ICQ porque através deste genial programa consigo reencontrar as pessoas mais interessantes que conheci em outros sistemas de chats, ou os amigos da “vida real” que também conectam.”

Ou seja, o ICQ é um espaço virtual de encontro entre amigos e um meio ágil e confiável de comunicação.

Web chats, IRC e ICQ, como indicam os resultados acima apresentados, parecem ser três pontos distintos numa trajetória que vai do público e anônimo ao íntimo e conhecido. Das conversas anônimas e inconstantes com qualquer interlocutor desconhecido nos Web chats, passando pelas conversas – muitas vezes ainda anônimas mas já constantes e íntimas a ponto de poderem gerar vínculos sólidos – no IRC, os relacionamentos atingem seu ponto máximo no círculo íntimo do ICQ, onde é estabelecida a ponte entre as realidades “virtual” e “real”.

 

Discussão: Compreendendo a Construção das Novas Formas de Auto-Proteção

Todos necessitamos de proteção em relação ao mundo exterior. Mudanças nas características deste forçosamente geram mudanças tanto no que diz respeito àquilo de que precisamos nos proteger quanto nas formas de proteção que adotamos. Quando, nos primórdios da vida em grandes metrópoles, homens e mulheres se sentiram ameaçados de sucumbir ao excesso de estímulos sensoriais e à sobrecarga afetiva gerada por múltiplos contatos emocionalmente significativos, surgiram dois novos tipos de auto-proteção: a atitude blasée e a reserva discutidos na Introdução. Agora, nos primórdios da vida digital, parecem estar surgindo outras formas de auto-proteção. Para que possamos compreendê-las, retomo brevemente as características da reserva, não somente a partir do exposto por Simmel, mas também a partir do nosso conhecimento acumulado sobre essa forma de defesa.

Simmel nos fala que a reserva – ou seja, a capacidade de nos relacionarmos com os outros de uma forma distante e fria – serve de proteção para uma sobrecarga afetiva que não seríamos capazes de suportar. E ele está coberto de razão. Certamente não poderíamos investir com a mesma intensidade emocional em todos os vários relacionamentos que mantemos no nosso dia-adia. Para evitar essa sobrecarga, aprendemos a reservar nossa capacidade de relacionamento afetivo para os círculos das pessoas que realmente contam para nós, geralmente para familiares e amigos. Ao fazê-lo, no entanto, forçosamente limitamos a esses círculos a exposição daquilo que consideramos ser o “cerne” da nossa existência: a nossa intimidade.

A reserva não é, no entanto, um mecanismo rígido ou algo que tenha fronteiras fixas. A reserva, pode, de fato, ser vista como um mecanismo de regulação da intensidade do contato emocional com os outros, contato esse que invariavelmente se fundamenta na exposição a estes daquilo que consideramos íntimo. Pode ser abandonada em estágios, sob o controle individual. Por isso mesmo, também não têm fronteiras rígidas e imutáveis os círculos das pessoas que para nós são significativas. Nossos entrevistados parecem saber disso e mostram ter a capacidade de adaptar seu conhecimento da administração dos diferentes círculos de intimidade, gerados por diferentes graus de enrijecimento ou afrouxamento da reserva, aos novos relacionamentos contraídos e mantidos no mundo digital. Não parecem estar preocupados com a questão da reserva, e têm razão para não estar. A reserva é útil como defesa para contatos inevitáveis e esse certamente não é o caso quando se está online procurando pessoas com quem se possa relacionar. Preocupam-se, no entanto, com a intimidade, que, intuem, pode ficar muito exposta na vida virtual ao perder os anteparos fornecidos pela reserva na vida real. Para protegêla, recorrem a diversas estratégias.

De acordo com o que foi apresentado na seção anterior, adotam, por exemplo, como uma estratégia de preservação e proteção de sua intimidade, o uso de vários e-mails. No caso daqueles que dividem o computador com outros membros da família, um e-mail gratuito do tipo webmail passa a ter as funções de um e-mail pessoal que protege a correspondência eletrônica de seu usuário de olhares familiares, porém indiscretos. Nos demais casos, as estratégias de proteção da intimidade tornam-se ainda mais sofisticadas. e-mails são fornecidos de acordo com a posição que quem recebe ocupa nos círculos de intimidade de quem fornece o e-mail. Essa forma de auto-proteção parece, na realidade, fazer uso, ao menos parcial, dos círculos de relacionamentos da vida real posto que, muitas vezes, o fornecimento do e-mail antecede qualquer tipo de relacionamento online. A passagem de um círculo mais superficial para o círculo mais íntimo pode ser feita de uma forma bem simples: basta fornecer um e-mail pessoal (de provedor) para quem só tinha acesso a um gratuito.

Já no que diz respeito ao uso dos Web chats, IRC e ICQ, a concepção de intimidade que parece estar por trás das estratégias adotadas online é um pouco diferente daquela que vigora no mundo cá fora. A norma parece ser: “pode-se revelar aquilo que de mais íntimo se tem, sem se sentir exposto, contanto que o outro não possa identificar quem se é no mundo ‘real’”. Ser realmente íntimo de alguém no mundo virtual parece estar vinculado à autoexposição nesse mundo digital com possibilidade de identificação do que se é fora dele.

Assim sendo, a intimidade nas comunicações virtuais é protegida de duas formas diversas. Em primeiro lugar, pode haver um transbordamento de confissões íntimas e reveladoras nas diversas salas de bate-papo sob a proteção do anonimato.8 Em segundo lugar, diferentes círculos de intimidade são demarcados pelo uso de um ou outro software, sendo o Web chat o menos e o ICQ o mais íntimo deles.

Ainda com relação aos programas de bate-papo – Web chat, IRC e ICQ –, o movimento de alguns relacionamentos anônimos, mas promissores, em direção ao círculo íntimo de amigos é bastante visível. Os Web chats são anônimos e inconstantes demais para que relacionamentos possam ser estabelecidos e são, muitas vezes, logo abandonados. O mesmo não acontece com o IRC, em cujo espaço virtual os freqüentadores criam vínculos sólidos que certamente estão calcados no conhecimento de características íntimas de seus interlocutores (a respeito dos fortes vínculos criados no IRC, ver Costa, 2001). Esses interlocutores, no entanto, ainda não têm necessariamente existência conhecida no mundo “real”. Nesse movimento em direção a uma intimidade cada vez maior e, agora com ponte explícita para o mundo “real”, chegase, finalmente, ao círculo íntimo do ICQ.

 

Conclusão: Usando a Própria Tecnologia para proteger a Intimidade Online

O mundo externo em transformação confronta o ser humano com novas dificuldades e este, com sua criatividade, rapidamente inventa formas de com elas lidar. Foi o que acabamos de ver. A reserva, como uma das várias formas de auto-proteção desenvolvidas ao longo dos séculos XIX e XX, continua operante no mundo “real”. No mundo “virtual”, no entanto, já surgiram novas formas de auto-proteção. Como nossos resultados indicam, neste novo mundo é a manipulação dos recursos tornados disponíveis pela informática que atua como proteção da intimidade, uma intimidade que só é realmente íntima quando a autoexposição revela quem se é no mundo “real”.

 

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Endereço para correspondência
Ana Maria Nicolaci-da-Costa
Departamento de Psicologia
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 225
22543-900 Rio de Janeiro - RJ
e-mail: anicol@psi.puc-rio.br

Recebido 18/11/02
Aprovado 25/02/03

 

 

*Psicóloga.Mestre em Psicologia pela New School for Social Research em Nova York, Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Londres. Professora e pesquisadora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio.
1 A esse respeito ver, também, entre muitos outros, Durkheim (1897/1982), Berger e Luckmann (1973) , Nicolaci-da-Costa (1987).
2 Várias outras formas de defesa foram analisadas por seu contemporâneo Sigmund Freud. Este, no entanto, não atribuía a sua emergência explicitamente a fatores externos (ver, entre outros, 1930/1980).
3 Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq. Dela participaram, em diferentes momentos, os seguintes alunos do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, muitos dos quais foram ou são bolsistas de iniciação científica: Priscilla França Dib, Fernanda Vanni, Sabrina Presman, Carla Pannetti, Bianca Castro Dantas, Vanessa Cervinho Viana, Fernando Vilela, Cristiane Mastrangelo Ebecken e Erika Falcão Ramalho.
4 Para preservar a identidade dos nossos sujeitos, todos os nomes usados são fictícios.
5 IRC (Internet Relay Chat) é um programa de bate-papo síncrono, com canais dedicados a diferentes assuntos e/ou grupos, que necessita de uma instalação específica. Diferentemente dos Web chats – ou chats de provedor e portais – têm freqüentadores assíduos e são relativamente reservados. Já os últimos não necessitam de qualquer tipo de instalação, sendo geralmente oferecidos por provedores de acesso e portais. São, portanto, mais acessíveis ao grande público.
6 Tal como o IRC, o ICQ (acrônimo de I seek you, ou Eu procuro você) é um programa de comunicação online que necessita de instalação específica. Diferentemente daquele, no entanto, oferece diversos recursos de autoproteção como, por exemplo, o de o usuário ter que dar sua permissão para alguém com ele se corresponder. Diferentemente do IRC e dos Web chats, o ICQ é um programa de comunicação online freqüentado majoritariamente por pessoas que se conhecem na vida “real”.
7 Ver nota 5.
8 Exemplos pungentes desse tipo de confissão íntima podem ser encontrados em Nicolaci-da- Costa (1998). Gostaria, apenas, de fazer referência a um depoimento, no qual uma mulher de meia idade, mãe de dois filhos, revela suas relações homossexuais secretas. Essa confissão nos foi enviada com a garantia de total anonimato dada por um remailer [sistema de reenvio anônimo de mensagens].