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Psicologia: ciência e profissão

Print version ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. vol.24 no.3 Brasília Sept. 2004

 

EDITORIAL

 

Direitos Humanos! Neste número, um dos artigos discute uma “nova clínica” para o atendimento a moradores de rua. Este artigo é um exemplo da natureza das mudanças que têm ocorrido no campo de estudo, pesquisa e de atuação da Psicologia no Brasil. A presença da Psicologia na área dos Direitos Humanos é bastante recente, datada, fruto das terríveis experiências vividas em regimes políticos autoritários dos quais muitos de nós fomos vítimas. Em recente conferência dada sobre a questão da “Tortura e os Profissionais de Saúde” em São Paulo, o eminente jurista Dr. Hélio Bicudo comenta que a tortura só é institucionalizada como crime a partir da Ditaduda Militar de 1964, quando jovens de classe média são vítimas dos chamados “porões da ditadura” e suas famílias, amigos, parentes, simpatizantes de suas causas passam a lutar pela criminalização desta prática, antes considerada simplesmente como mais uma técnica de interrogatório, exigindo a apuração dos fatos e a responsabilização do Estado brasileiro pela violência cometida contra seus cidadãos.

Ou seja, no campo da Psicologia, pensar nos excluídos, no sofrimento daqueles que se encontram no interior de uma sociedade de classes vivendo diariamente a violência das práticas geradas pela profunda desigualdade social é, sem dúvida, articular-se com uma perspectiva nova para a formação e a profissão, alicerçada na concepção de compromisso social. Se tal temática é ainda muito recente, não podemos deixar de considerar sua importância social, política e técnica. Mas, para tanto, precisamos freqüentemente nos perguntar: como enfrentar a realidade social sem cair no assistencialismo simplista? Como considerar o contexto social que produz o desempregado, o sem-teto, o morador de rua, a criança e o adolescente em situação de rua em nossa prática psicológica? Quais instrumentos a Psicologia terá que se valer para repensar suas concepções e práticas profissionais? Podemos dizer que vários materiais têm subsidiado esta discussão, sendo um dos mais recentes a publicação do livro intitulado “Psicologia e Direitos Humanos: subjetividade e exclusão”, fruto de vários seminários realizados pela Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. Esperamos que a ampliação destas discussões produzam, de fato, práticas e teorias que, cada vez mais, aproximem a Psicologia da temática dos Direitos Humanos.