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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.25 n.1 Brasília mar. 2005

 

HOMENAGEADO

 

 

Raul Briquet

 

 

Raul Briquet, nasceu em 1887 em Limeira, Estado de São Paulo, era filho do engenheiro francês Edouard L. Briquet e de Ana Rosa Constança Baumgart Briquet.

Graças à requintada formação de sua mãe, sua única professora, com quem adquiriu conhecimentos de idiomas e de música, conseguiu ingressar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde defendeu sua tese relativa à psicofisiologia e à patologia musical. Era poliglota, exímio pianista, conhecido como sendo um devorador de livros e um ser humano muito solidário, conforme relata o livro Raul Carlos Briquet (BOMFIM, 2002).

Sua especialização em ginecologia e obstetrícia e suas publicações na área, a partir de 1914, propiciaram a criação de uma postura científica, conhecida como Escola Briquet de Ginecologia. Em 1925, assumiu a cátedra de Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Em 1927, juntamente com Franco da Rocha, Durval Marcondes e Lourenço Filho, participou da criação da Sociedade Brasileira de Psicanálise, primeira entidade associativa dos psicanalistas brasileiros, tendo ocupado o cargo de vice-presidente. Em 1930, envolveu-se na criação da Sociedade de Filosofia e Letras de São Paulo, instituição que acabou viabilizando a fundação da Universidade de São Paulo, onde Briquettornaria Catedrático de Clínica Obstetrícia e Puericultura Neonatal. Briquet foi, também, signatário de um dos mais importantes documentos da educação brasileira: Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, ou mais conhecido como: Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932.

Foi nessa condição que Briquet propôs, em 1933, o curso de Psicologia Social à Escola Livre de Sociologia e Política. O primeiro contato com o material legado por Briquet revela que, no seu curso, uma vasta e atualizada lista de referências bibliográficas foi facultada aos alunos. Iniciando sua performance com uma apresentação das principais contribuições à Psicologia Social advindas da Biologia, da Psicologia e da Sociologia, Briquet deu a cada uma dessas contribuições um peso semelhante. Num tratamento igualitário, posicionou a Psicologia Social como um campo dependente tanto da Psicologia quanto da Sociologia e da Biologia. Nessa parte do curso, considerada como parte geral, articulavam-se uma introdução, uma apresentação dos subsídios da Biologia, uma apresentação dos subsídios da Psicologia incluindo o behaviorismo, o gestaltismo, as leis da natureza humana e a aprendizagem e uma apresentação dos subsídios da Sociologia. Ao engendrar-se nas temáticas específicas da Psicologia Social, Briquet privilegiou, em primeira instância, os fatores psíquicos que motivavam o comportamento social, relacionando o instinto, o hábito, a inteligência e o que ele considerava como as três formas de identidade social: a sugestão, a imitação e a simpatia. Num segundo momento, Briquet articulou, em sua concepção de vida social, os grupos sociais, o eu social, a personalidade, a adaptação social e o que nomeou como Psicologia Coletiva as questões relativas ao preconceito de raça, à liderança, à opinião pública, à multidão e à revolução.

Seu estudo sobre grupos foi fortemente influenciado pelo materialismo histórico de Karl Marx (abrangendo o determinismo econômico, a concepção materialista da história, a luta de classes e a teoria econômica) e pelo método dialético de Hegel. Com isso, concorria Raul Briquet para a introdução da visão materialista histórica em Psicologia Social no Brasil, conforme Bomfim (2003). Sua atitude anti-racista levou-o a um ferrenho combate ao preconceito racial num momento histórico em que aos preconceitos contra negros e mulatos eram acrescidas as barreiras à imigração japonesa. Posicionou-se, ainda, contra a censura e defendeu a possibilidade de revolução contra um governo injusto.

Raul Carlos Briquet faleceu em São Paulo, em 1953, deixando vasta contribuição científica, respeito e admiração.