SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.28 issue3Arguing the volunteerism: the allowed subjectivity author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Psicologia: ciência e profissão

Print version ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. vol.28 no.3 Brasília Sept. 2008

 

ARTIGOS

 

Citações a periódicos na produção científica de Psicologia

 

Journals’ citacions in the psychology scientific production

 

Citaciones a periódicos en la producción científica de psicología

 

 

Maria Imaculada Cardoso Sampaio*,**

Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia

Endereço para correspondência

 


 

RESUMO

Este artigo analisa os trabalhos de grau apresentados aos programas de pós-graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), no período de 2000 a 2005, objetivando explorar uma parte da importante produção gerada no IPUSP, a partir da pesquisa feita em relação às referências aos periódicos. Para a coleta de dados, formaram-se equipes que contabilizaram a referência a periódicos nas dissertações e teses, anotando em planilha própria o título da revista e o ano referenciado. Após análise do material, os dados foram reunidos para inferência dos resultados, e demonstram que, entre os anos 2000 e 2005, foram defendidas no IPUSP 460 dissertações de mestrado e 333 teses de doutorado, perfazendo o total de 793 trabalhos. Os dados permitem afirmar que a produção científica em dissertações e teses no IPUSP aumentou nos últimos anos e que a citação a periódicos também cresceu significativamente. A pesquisa detecta que o número de referências às revistas brasileiras é baixo, considerando o volume de publicações e as fontes de informação que indexam essa produção, e aponta também a necessidade de maior divulgação das revistas científicas publicadas pelos países latino-americanos entre os produtores da ciência, uma vez que, com exceção das brasileiras, não foram identificadas referências aos periódicos publicados na região. O trabalho conclui que o reconhecimento ao saber de qualidade gerado na região somente virá quando os pesquisadores tomarem consciência de que as revistas brasileiras merecem leitura freqüente e desprovida de preconceito. Recomenda que estudos dessa natureza sejam elaborados em outros programas de pós-graduação em Psicologia para comparação dos resultados.

Palavras-chave: Produção científica - Psicologia, Bibliometria, Análise de citação, Periódicos de Psicologia.


ABSTRACT

This work analyses the dissertations and thesis presented to post-graduate programs at the University of São Paulo Psychology Institute (IPUSP), between 2000 and 2005 with the aim to identify the presence of Brazilian journals’ citations in the references. The information was collected by the IPUSP Library staff, who registered in proper data sheets the number of journals’ citations in the dissertations and thesis as well as the journals’ titles as well as the referenced year. It was also considered the degree of the research and the year of its presentation. After a review, the data were organized in electronic sheets in order to analyze the results. They showed that between 2000 and 2005 460 master’s degree works and 333 doctoral thesis submitted their research, what totalized 793 works. The study allows the verification of a significant increase in the scientific production of the IPUSP and in the number of journals’ citations during the recent years of the period examined. It concludes that despite the increasing number of citations from Brazilian periodical literature, it is indispensable to implement actions that could reinforce the relevance of scientific journals as knowledge registration among researchers. This kind of literature presents the state-of-the-art of the scientific community production. The study points out the urgency of greater dissemination of the scientific knowledge from Latin-American countries among researchers and post-graduates of IPUSP, since in this study it was not identified any citation of a Latin-American journal in the analyzed research works. The conclusion is that the recognition of the quality of the knowledge produced in the region will only be achieved when researchers realize that Brazilian journals deserve being read without prejudice.

Keywords: Scientific production – Psychology, Bibliometry, Citation analysis, Psychology journals.


RESUMEN

Este artículo analiza los trabajos de grado presentados a los programas de post-graduación del Instituto de Psicología de la Universidad de Sao Paulo (IPUSP), en el período de 2000 a 2005, objetivando explorar una parte de la importante producción generada en el IPUSP, desde la pesquisa hecha con relación a las informes a los periódicos. Para la recogida de datos, se formaron equipos que contabilizaron la referencia con periódicos en las disertaciones y tesis, anotando en planilla propia el título de la revista y el año referenciado. Después del análisis del material, los datos fueron reunidos para inferencia de los resultados, y demuestran que, entre los años 2000 y 2005, fueron defendidas en el IPUSP 460 disertaciones de licenciatura y 333 tesis de doctorado, rehaciendo el total de 793 trabajos. Los datos permiten afirmar que la producción científica en disertaciones y tesis en el IPUSP aumentó en los últimos años y que la citación a periódicos también creció significativamente. La pesquisa detecta que el número de informes a las revistas brasileñas es bajo, considerando el volumen de publicaciones y las fuentes de información que indexan esa producción, y apunta también la necesidad de mayor divulgación de las revistas científicas publicadas por los países latinoamericanos entre los productores de la ciencia, una vez que, aparte de las brasileñas, no fueron identificadas referencias a los periódicos publicados en la región. El trabajo concluye que el reconocimiento al saber de calidad generado en la región solamente vendrá cuando los pesquisidores tomen conciencia de que las revistas brasileñas merecen lectura frecuente y desprovista de prejuicio. Recomienda que estudios de esa naturaleza sean elaborados en otros programas de post-graduación en Psicología para comparación de los resultados.

Palabras-clave: Producción científica – Psicología, Bibliometría, Análisis de citación, Periódicos de Psicología.


 

 

Escrever e publicar são etapas vitais do processo de construção do conhecimento. Registrar as descobertas e disseminar seus saberes são deveres que todo cientista tem com a comunidade. A comunicação científica tem como objetivo primordial dar visibilidade ao conhecimento gerado nas instituições de pesquisa e ensino, compartilhando com a sociedade os avanços obtidos.

Volpato (2003, p. 15) esclarece que “O conhecimento científico é aquele obtido segundo o método científico, com as credenciais da ciência”, e acrescenta que não basta obter o conhecimento a partir do método científico, mas é necessário que a comunidade científica confirme esse conhecimento. Um dos meios mais eficazes para se buscar o credenciamento é a publicação dos resultados em um veículo reconhecido pela comunidade, como, por exemplo, uma revista científica indexada em bases de dados internacionalmente acreditadas.

A escrita científica tem suas normas próprias, e redigir o trabalho científico é muito diferente de criar uma poesia, um romance ou mesmo um artigo para uma revista popular. Muitos pesquisadores consideram a etapa da escrita como uma das mais difíceis no processo da investigação e sentemse impelidos a não concluir essa fase do processo, o que implica grande prejuízo para a ciência. Bork (1999) estudou as dificuldades enfrentadas pelos mestrandos dos programas de pós-graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) na conclusão de grau e detectou que a expressão escrita foi considerada um dos grandes problemas apresentados. A compilação da dissertação, dentro das exigências científicas, assim como o uso da gramática, as limitações com a língua e a formatação do texto foram barreiras apontadas pelos alunos na composição do trabalho final.

Os trabalhos de grau, por sua natureza científica, encerram o ciclo de estudos na pós-graduação stricto sensu e exigem do pós-graduando habilidades na ordenação dos dados levantados e o conhecimento das normas para a montagem do trabalho. A redação de dissertações e teses pode ser facilitada a partir da consulta a artigos publicados em revistas científicas, que, cada vez mais, são acessíveis no meio virtual. Dessa forma, espera-se que os trabalhos de grau façam menção aos artigos publicados, pois são as revistas as grandes responsáveis pela rápida circulação do conhecimento recém-criado. citações a periódicos, tanto internacionais quanto nacionais, são elementos de que nenhum trabalho acadêmico pode prescindir, pois a falta dessa importante fonte de informação pode significar uma grande perda para a completude e a atualização dos trabalhos oriundos da obtenção do grau.

Como afirma Granja (1995, p. 18), a Psicologia, embora seja uma ciência recente, consolidada como disciplina autônoma somente no século XIX, “vem registrando, nos países desenvolvidos, crescimento significativo em sua literatura científica...”. No Brasil, a produtividade científica ainda apresenta pouco crescimento se comparada à expansão do ensino na área. O investimento em pesquisa ainda é pequeno, ficando a atividade restrita às universidades públicas e aos centros de pesquisa. Segundo o presidente da CAPES, Jorge Almeida Guimarães, durante a 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o Brasil teve um crescimento exponencial no cenário científico internacional. A produção nacional aumenta em torno de 8 a 10% anualmente; o sistema de pós-graduação cresce por volta de 15% ao ano, e o País ocupa hoje a 17ª posição no ranking das publicações científicas no mundo (Portal de Periódicos CAPES e o crescimento da ciência brasileira, 2007). Esse novo cenário nos incentiva a estudar a presença da revista científica, enquanto fonte de informação, na geração do conhecimento produzido pelos pesquisadores brasileiros.

 

Falando sobre Periódicos Brasileiros de Psicologia

Desde que começaram a ser publicadas, no século XVII, as revistas científicas passaram a desempenhar relevante papel no processo de registro e divulgação dos resultados de pesquisas científicas. Esse tipo de publicação é importante por diversas razões, porém uma aparece como determinante da necessidade de se publicar nesse tipo de veículo: a ascensão e êxito de um pesquisador ou profissional dependem, em grande parte, da quantidade de trabalhos por ele publicados e da freqüência com que esses trabalhos são citados por outros autores.

Segundo Gonçalves, Ramos e Castro (2006), as duas primeiras revistas científicas publicadas no mundo foram o Journal dês Sçavans, publicado em 1665, na França, que serviu de base para as revistas de divulgação científica, e Philosophical Transactions, editada pela Royal Society of London, no mesmo ano. A última nasceu como modelo para as revistas científicas, ou seja, com o objetivo de divulgar as novas idéias e relatos de pesquisas.

Especificamente na área da Psicologia, os dois periódicos mais antigos foram publicados na França e nos Estados Unidos. Henry Beaunis e Alfred Binet foram os primeiros editores da revista L’Année Psychologique (AP), editada pelo Laboratoire de Psychologie Psysiologique de la Sorbone, no ano 1894. O American Journal of Psychology (AJP), fundado por G. Stanley Hall, teve seu primeiro fascículo publicado em 1887, pela John Hopkins University. As duas revistas científicas são editadas até hoje e estão disponíveis em formato eletrônico, sendo que o AJP é acessado mediante assinatura e o AP tem toda a coleção com acesso aberto na Internet.

No Brasil, as duas revistas mais antigas especializadas em Psicologia foram publicadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o Boletim de Psicologia, publicado desde 1949, teve como presidente Anita castilho cabral, é editada até hoje sob a responsabilidade da Sociedade de Psicologia de São Paulo e encontra-se disponível no portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC). O periódico Arquivos Brasileiros de Psicologia foi fundado no Rio de Janeiro, em 1949, sendo o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), da Faculdade Getúlio Vargas, o primeiro responsável pela publicação. Inicialmente denominado Arquivos Brasileiros de Psicotécnica (1949- 1968), passou a ser chamado de Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada (1969- 1978), tendo sido consolidado o nome de Arquivos Brasileiros de Psicologia no ano 1980. A publicação da revista foi interrompida de 2002 até o ano 2006, quando voltou a ser publicada exclusivamente em versão eletrônica. Desde então, o panorama das revistas de Psicologia seguiu a tendência das outras áreas do conhecimento.

Acompanhando a evolução das revistas científicas publicadas no mundo, Wieers (1994) prognosticou que chegaria a 1.000.000 o número de títulos publicados no ano 2000. Seu prognóstico foi confirmado, sendo que nenhum autor depois se aventurou a fazer nova estimativa do crescimento do número de revistas publicadas. Segundo Oliveira (2006), Dru Magge, no trabalho intitulado “Seven years of tracking electronic publishing: the ARL Directory of Scholarly Electronic Journals and Academic Discussion Lists”, faz um estudo comparativo do crescimento do número de periódicos eletrônicos registrados no diretório da American Research Library (ALA) entre a 1ª edição, de 1991, e a 7ª, de 1997. Foi registrado nesse diretório um crescimento de 110 para 3400 títulos de periódicos e newsletters, apenas em formato eletrônico. A mesma autora afirma que Tenopir, Hitchcock e Pillow (2003), com base na edição online de 2002, do Ulrich’s International Periodicals Directory, afirmam existirem aproximadamente 15.000 periódicos científicos correntes, dos quais 12.000 estão disponíveis eletronicamente; desses, a maioria é réplica de publicações impressas tradicionais. Uma visita ao site do Ulrich’s, em abril de 2006, permitiu registrar a existência de 189.000 títulos correntes incluídos na base.

Embora não tenhamos o dado exato do número de títulos de periódicos de Psicologia publicados no mundo, podemos avaliar o conjunto dessas publicações com base nos títulos cadastrados nas principais bases de dados que indexam a literatura da área. Em abril de 2006, foram computados 2.039 títulos indexados na PsycINFO; 554 na PSICODOc; 497 no Diretório do LATINDEX; 50 na CLASE; 366 no Portal SECS da BIREME; 67 na LILACS e mais de 190 títulos indexados no Index Psi Periódicos, dos quais 150 são correntes.

Quando ainda não contávamos com a facilidade da publicação eletrônica, Thorngate (1990) estimava que os psicólogos publicavam uma média de 100 artigos por dia, cerca de um artigo a cada 15 minutos. Qual seria a média atual, lembrando que as facilidades e exigência para publicar impulsionam a criação de centenas de títulos no mundo?

Vanz (2004) analisou a produção discente na área de comunicações a partir das dissertações defendidas nos programas de pós-graduação do Rio Grande do Sul, e recomendou que os resultados de seu trabalho fossem analisados à luz da importância em se dar continuidade ao desenvolvimento do periódico científico. O autor considera que essa é a arena adequada para o debate entre pesquisadores, além da rápida divulgação do conhecimento que o veículo proporciona.

Assim, buscamos, com este trabalho, explorar uma parte da importante produção gerada no IPUSP a partir das referências aos periódicos nas dissertações e teses defendidas de 2000 a 2005. Nossa hipótese, ao iniciar este estudo, é que as revistas brasileiras são pouco citadas nos trabalhos de grau apresentados no período. Buscamos, também, com a discussão, despertar o interesse da comunidade pelo tema e contribuir para ampliar a visibilidade do conhecimento psicológico gerado no País e registrado nesse importante veículo da comunicação científica.

 

Método

O método utilizado neste trabalho foi o bibliométrico. A bibliometria consiste na aplicação de um conjunto de técnicas que quantificam o processo de comunicação científica, analisando quantitativamente o volume de publicações, a produtividade dos autores, as revistas ou outros tipos de materiais. Silva (2001, p. 6) explica que a bibliometria e a cientometria nasceram da “preocupação com o desenvolvimento da medida em diferentes campos da ciência...”. O autor complementa que a cientometria é a aplicação de “técnicas numéricas analíticas para estudar a ciência da ciência; já a bibliometria consiste no tratamento e na análise estatística da mensuração desses resultados e desenvolvimentos através das diferentes publicações científicas refletidas em artigos, livros e em revistas editadas.”

Para o levantamento dos dados, foram consultadas as dissertações e teses apresentadas nas cinco áreas de concentração (escolar, clínica, experimental, neurociências e social e do trabalho) aos programas de pós-graduação do IPUSP, no período de 2000 a 2005, com o objetivo de quantificar o número de referências aos periódicos brasileiros encontradas nos trabalhos.

Foram formadas equipes que contabilizaram o número de referências das dissertações e teses, anotando em planilha própria o título do periódico e o ano referenciado. A contagem foi efetuada considerando o ano da defesa e o grau do trabalho. Após a finalização da análise do material, os dados foram reunidos em planilhas para posterior inferência dos resultados.

 

Resultados e Discussão

A referência a outros trabalhos é uma das características importantes do texto científico, pois denota o domínio do autor em relação ao tema estudado e reconhece os autores que anteriormente abordaram o assunto. De acordo com Noronha (1998, p. 66), a função da citação é dar “autoridade e credibilidade para os fatos citados no texto, além de permitir aos pesquisadores da área a oportunidade de conhecer trabalhos que tratam do mesmo tema de seu interesse.” O conhecimento não é gerado de forma isolada nem imediata; ao contrário, é construído de forma coletiva e contínua, a partir da contribuição de diversos autores. como afirma Targino (2005, p. 40), “parece óbvio que a autoria de qualquer texto, no âmbito da ciência, decorre de conhecimentos preexistentes, a tal ponto que a originalidade em ciência é sempre relativa, e nunca absoluta.” Assim, causou-nos profunda estranheza quando nos deparamos com um trabalho que não apresentava nenhuma referência e que fora aprovado pela banca examinadora. Ao contrário, outra obra apresentou mais de 1.000 referências. Discorrendo sobre a explosão de referências nos artigos de quatro importantes periódicos de Psicologia, Adair e Vohra (2003) afirmam que a American Psychological Association (APA) publicou 555.000 resumos de artigos no ano 1957, passando para 2,24 milhões em 1977 e para 3,7 milhões no ano 1997. Ainda de acordo com os autores, a explosão do conhecimento e de referências está gerando quatro problemas para os pesquisadores: 1) como permanecer atualizando em relação à literatura relevante; 2) como ter acesso a essas publicações, pois as bibliotecas não possuem recursos para aquisição de todas as obras publicadas; 3) como ler e processar todo o novo conhecimento; 4) como lidar com tanta literatura e ainda encontrar tempo para gerar seus próprios textos. Finalizam o estudo discutindo se seria viável limitar o número de referências nos artigos, considerando que alguns artigos chegam a apresentar até cinco páginas de referências, o que, provavelmente, significa pobreza de conteúdo, já que reduzem a discussão a uma seqüência de cópias de outros artigos.

A tabela 1 demonstra o panorama da produção do IPUSP a partir da categorização dos trabalhos analisados em relação ao ano de defesa e grau.

 

 

Em estudo sobre a produção científica do IPUSP, no período compreendido entre 1980 a 1989, Granja (1995) analisou 434 dissertações e teses defendidas no intervalo de tempo delimitado para o estudo, encontrando uma média de 43,4 trabalhos por ano. Nos seis anos definidos para este estudo, contabilizamos 793 obras, o que resultou em uma média de 132 dissertações e teses defendidas por ano. comparando os dois estudos, podemos afirmar que a produção científica em dissertações e teses no IPUSP vem aumentando de forma significativa nos últimos anos.

Em relação ao período selecionado para este estudo, o aumento da produção apresentou relativa constância. No primeiro ano do estudo, tivemos 136 contribuições, e, no último, 2005, o número caiu para 130. Em 2004, apareceram 138 trabalhos, maior marca no período analisado, seguido pelo ano 2003, com 137 contribuições. Nos anos 2001 e 2003, foram defendidos 126 trabalhos. Os dados apontam um período de estabilidade na produção dos programas.

Analisando a produção em dissertações e teses sobre orientação profissional cadastradas nas bases de dados da CAPES e BVS-Psi (www.bvs-psi.org.br) Noronha et al. (2006) observaram que a Região Sudeste foi a que mais contribuiu com “trabalhos (73%), com incidências maior advindas da USP (29%) e das PUCs do Estado de São Paulo”. Reafirmando a produtividade da Região, o IPUSP contribuiu para a formação de 460 mestres e 333 doutores no período.

Na tabela 02, registramos o total de referências aos periódicos e a outros tipos de documento, considerando o grau dos trabalhos.

 

 

Foram contabilizadas 75.315 referências, sendo 36.218 nas dissertações de mestrado e 39.097 nas teses de doutorado, perfazendo uma média de 78 e 117 por trabalho, respectivamente. Os alunos de doutorado, por já terem desenvolvido treino em pesquisa durante a fase do mestrado, tendem a esgotar mais as fontes de informação e a encontrar mais material para a fundamentação teórica dos trabalhos. Além disso, espera-se desse grupo maior exploração dos autores que desenvolveram pesquisas na mesma área. Assim, o percentual de 45,6% a mais no número de referências das teses, em relação às dissertações, era um dado esperado. Das publicações citadas pelos doutorandos, 40,7% são periódicos, enquanto nos mestrados a proporção é de 24,9%. Essa é outra informação que confirma as hipóteses de que os pesquisadores mais treinados em fazer ciência recorrem ao conhecimento mais atualizado e publicado de forma mais rápida, como é o caso das revistas científicas.

Na figura 1, ilustramos a evolução do número de referências aos periódicos nacionais e estrangeiros.

 

 

A figura revela um crescimento de 33% na citação a periódicos, comparando o ano 2000 com 2005. Exceto o ano 2002, em que a curva ascendente não se manteve, notamos que as revistas científicas ganharam relevância na composição do corpo de referências dos trabalhos.

No ano 2000, a CAPES disponibilizou o Portal de Periódicos, que oferece acesso ao texto completo de milhares de publicações periódicas internacionais e nacionais e às mais renomadas bases de dados referenciais e cobre todas as áreas do conhecimento. As universidades públicas foram premiadas com o acesso ao portal. Desde então, o número de revistas disponíveis vem aumentando de forma significativa, além de crescer a oferta por publicações de acesso aberto, que também são citadas no Portal. Paralelamente ao crescimento do Portal, o SciELO ampliou expressivamente o número de títulos publicados. A BVS-Psi ampliou de 114, no ano 2002, para mais de 190 o número de títulos indexados em sua base de dados Index Psi Periódicos. Em relação aos demais países da América Latina, a BVS ULAPSI reúne informações de 43 revistas científicas publicadas.

Além dessas iniciativas, os editores científicos, sensibilizados pelo movimento do acesso aberto, iniciado no ano 1999, passaram a publicar as revistas em seus próprios sites, facilitando muito mais o acesso à produção nacional. Em 2004, os produtores de revistas de Psicologia se organizaram na Associação Brasileira de Editores científicos de Psicologia (ABECiP) – e definiram um projeto que iria mudar o panorama das revistas brasileiras da área, tendo surgido o PePSIC. A iniciativa avançou rapidamente e ampliou sua abrangência para a América Latina.

Das 24.991 referências aos periódicos, foram contabilizadas também as menções às revistas comerciais, como, por exemplo: Carta Capital, Veja, Isto É, Manchete, Caros Amigos e outras, além de trabalhos de eventos, considerados publicações periódicas na contagem dos dados. Quando restringimos a análise aos periódicos científicos, encontramos o total de 19.564, concentrados em 3.417 títulos. Para efeito deste estudo, selecionamos os títulos que foram citados no mínimo 10 vezes, e obtivemos um extrato de 391 títulos, que foram elencados pelo número de referências recebidas.

Para a discussão no corpo deste artigo, optamos por fazer um recorte na 15ª posição da lista total dos 391 títulos que apresentamos na tabela 03.

 

 

O título mais citado é o Journal of the Experimental Analysis of Behavior (JEAB), que declara em seu site ser a primeira revista a publicar experimentos relevantes na área comportamental. Publicada desde 1958, os artigos foram disponibilizados gratuitamente na Internet como cortesia da Society for the Experimental Analysis of Behavior. A segunda revista mais citada é Brain Research, publicada pela editora comercial Elsevier, desde 1966. O periódico só pode ser acessado mediante assinatura. Na seqüência, aparece a Science, que, segundo a Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Science), é uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo. Publicada a partir do ano 1880 pela Sociedade Americana para o Avanço da ciência (AAAS), tem tiragem semanal de 130 mil exemplares, além das consultas online. O acesso à Science só é permitido aos assinantes e sócios da AAAS. Em quarto lugar, aparece a primeira revista brasileira Psicologia USP, órgão oficial do IPUSP desde 1990, que divulga trabalhos de reflexão e ensaios que expressam a pluralidade e a diversidade da Psicologia, tanto em números temáticos como diversificados. Psicologia USP foi a primeira revista da área a ser incluída no SciELO, fazendo parte do primeiro grupo publicado no portal. Do 5º ao 9º lugar, temos publicações estrangeiras. Em 10º lugar, aparece a segunda revista brasileira mais citada, Educação e Sociedade. As três próximas revistas do ranking também são estrangeiras. Na 14ª posição, temos a Revista Brasileira de Psicanálise, junto a um título estrangeiro. No último posto da classificação, aparecem mais dois títulos estrangeiros. Vale enfatizar que, dos 17 títulos mais citados, apenas três são brasileiros.

Discutimos, a seguir, a presença das revistas brasileiras nas referências dos trabalhos.

 

 

O recorte dos 17 títulos brasileiros melhor classificados nesse ranking demonstra que o mais citado representa 0,94% do total de títulos levantados. Em relação à revista estrangeira mais citada, o percentual obtido por Psicologia USP é de 52%, ou seja, quase metade do total de referências atribuídas ao JEAB. Embora não tenhamos indicadores de uso das revistas nacionais de Psicologia para comparação, podemos inferir que o desempenho das revistas brasileiras está aquém do esperado.

Os resultados confirmaram nossa hipótese de que as revistas são pouco citadas nos trabalhos de grau. Mesmo assim, frustraram nossa expectativa, pois, com a facilidade de acesso provocada pela disponibilização das fontes de informação na Internet e o esforço da equipe da Biblioteca Dante Moreira Leite em divulgar as publicações, esperávamos encontrar dados que mostrassem maior uso desse importante instrumento de registro e divulgação do conhecimento.

Consultando o módulo de bibliometria do SciELO (www.scielo.br), em agosto de 2007, vimos que o total de citações aos periódicos de Psicologia é de 1.411, para os nove títulos indexados. considerando as 50.049 citações feitas nos 1.802 artigos publicados desde 1997, podemos afirmar que a baixa citação às revistas brasileiras da área não se restringe aos trabalhos de grau do IPUSP.

Mueller (1999) refere-se ao princípio de Mateus, utilizado por Merton para explicar o círculo vicioso ao qual as revistas estão submetidas. Para que um artigo seja lido e citado, deve estar acessível, ou seja, precisa ser encontrado pelo leitor. “Os instrumentos de busca são os índices e periódicos de resumo ou bases de dados bibliográficas especializadas. Mas apenas os periódicos mais prestigiosos são sistematicamente analisados e incluídos nos índices e periódicos de resumo e nos índices de citação internacionais.” Poucas revistas brasileiras conseguem penetração nos importantes indexadores internacionais, como, por exemplo, a Web of Science. Ainda segundo a autora, “Essas bases de dados, adotadas internacionalmente como fonte de referência para medir citações e impacto de artigos, autores e títulos, incluem apenas uma percentagem muito pequena de títulos provenientes dos países em desenvolvimento.” Embora as bases de dados internacionais sejam as que apresentam maior visibilidade, ferramentas para indexação das revistas, como o Index Psi Periódicos, disponível desde 1998, a LILACS, lançada em 1982, SciELO, acesso aberto às revistas científicas a partir de 1997 e, atualmente, o PePSIc, possibilitam o acesso à informação de forma democrática e saem em busca da ruptura desse circulo vicioso. O estudioso da pós-graduação do IPUSP utiliza pouco o periódico especializado por motivos outros, porém não por falta de ferramentas eficientes de organização e disseminação dessas publicações.

Pinto e Andrade (1999) alertam para o perigo de se utilizar apenas os fatores de impacto como medida de avaliação da produção nacional e chamam a atenção para o mau hábito de muitos pesquisadores, que não citam seus colegas brasileiros. A baixa citiação aos periódicos brasileiros aqui detectada pode corroborar as idéias dos autores, que explicam:

Tradição científica exige tempo, e uma nação como o Brasil, onde a atividade científica é recente e a pós-graduação só há pouco tempo começa a se consolidar..., se abrir mão de sua independência científica trilhando o caminho da imitação, ao invés de construir sua própria história de desenvolvimento, estará condenada ao subdesenvolvimento eterno. (p. 463)

 

Considerações Finais

Este estudo possibilitou-nos analisar os trabalhos de grau apresentados aos programas de pós-graduação do IPUSP, no período 2000 a 2005, em relação às referências aos periódicos científicos, buscando identificar, principalmente, a citação aos periódicos brasileiros.

Preocupada com a geração do conhecimento, a área da Psicologia vem se ocupando com a organização e disseminação da informação, principalmente em relação aos periódicos. Lembramos que o Index Psi Periódicos, base de dados que indexa as revistas brasileiras de Psicologia, foi desenvolvida pelo conselho Federal de Psicologia, em parceria com a PUC-Campinas, no ano 1998. Podemos citar também a BVS-Psi como o segundo e mais importante exemplo dessa preocupação e de como as entidades de classe, notoriamente os conselhos Federais e Regionais, podem contribuir para a democratização do acesso à informação, o que reverteria para sua comunidade em termos de atualização profissional.

Além do investimento em recursos de acesso à informação, a área desenvolveu um complexo sistema de avaliação das revistas científicas, que vem se responsabilizando pela definição do QUALIS para os periódicos brasileiros.

Nosso estudo aponta a necessidade de ações ainda mais efetivas por parte das bibliotecas para a promoção do uso das revistas; devem, por exemplo, assumir atitudes mais pró-ativas em relação à divulgação e à capacitação dos usuários no uso das fontes de informação, com ênfase nos periódicos, principalmente os publicados na América Latina.

A análise que fizemos nas referências dos periódicos permitirá ampliar o leque de investigações, inclusive no que diz respeito à avaliação da coleção de periódicos da Biblioteca do IPUSP e seu possível remanejamento, mediante a substituição de títulos, quando for o caso. Os dados também possibilitarão novas análises e discussões, como, por exemplo, a atualidade da literatura citada, a partir da idade das referências aos periódicos.

A baixa presença de referências a periódicos, principalmente aos nacionais, de fácil leitura e acesso, representa um desafio a ser vencido por todos os atores envolvidos no processo de geração do conhecimento. A responsabilidade também é dos docentes, que devem incentivar seus alunos a usarem as bases de dados nacionais e internacionais, para que possam se beneficiar da leitura do conhecimento atualizado e publicado nas revistas. Além disso, é nessas revistas que a maioria dos pesquisadores brasileiros publica seus trabalhos. Os editores também podem alavancar o uso das revistas científicas da área, a partir da inclusão de suas publicações nas bases de dados, principalmente naquelas que publicam o texto completo em metodologias reconhecidas.

Dar visibilidade ao conhecimento produzido no País é tarefa de todos, e o reconhecimento de que o saber gerado na região é de qualidade só virá quando os pesquisadores tomarem consciência de que nossas revistas merecem leitura séria e sem preconceito.

Este trabalho não se esgota aqui, pois simplesmente despertou algumas inquietações para a comunidade do IPUSP. A análise dos dados trouxe à tona as imensas possibilidades que esse tipo de estudo proporciona e apontou a necessidade de realizações de futuras investigações, inclusive com os trabalhos de outros programas de pós-graduação do País. Tais estudos mostrariam se o panorama em outras regiões é semelhante ou se há diferenças significativas.

Recomendamos que outros estudos dessa natureza sejam empreendidos, pois com certeza farão emergir questões provocativas, mas que certamente contribuirão para a valorização da produção científica do País.

 

Referências

Adair, J. G., & Vohra, N. (2003). The explosion of knowledge, references and citations. American Psychologist, 58, 15-23.        [ Links ]

Bork, B. (1999). As dificuldades dos mestrandos no decorrer do seu percurso. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.        [ Links ]

Gonçalves, A., Ramos, L. M. S. V. C., & Castro, R. C. F. (2006). Revistas científicas: características, funções e critérios de qualidade. In D. A. Problación, G. P. Witter, & J. F. M. Silva (Orgs.), Comunicação & produção científica: contexto, indicadores e avaliação (pp. 163-190). São Paulo: Angellara.        [ Links ]

Granja, E. C. (1995). Análise da produção científica do Curso de Pós-Graduação do Instituto de Psicologia da USP, no período de 1980 a 1989. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.        [ Links ]

Mueller, S. P. M. (1999). O círculo vicioso que prende os periódicos nacionais. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação. Recuperado em 20 de agosto de 2006, de http://www.dgz.org.br/dez99/Art_04.htm        [ Links ]

Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V. et al. (2006). Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10.        [ Links ]

Noronha, D. (1998). Análise das citações das dissertações de mestrado e tese de doutorado em saúde pública. Ciência da Informação, 27(1), 66-75.        [ Links ]

Oliveira, E. B. P. M. (2006). Uso de periódicos científicos eletrônicos por docentes e pós-graduandos do Instituto de Geociências da USP. Dissertação de Mestrado, Escola de comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.        [ Links ]

Pinto, A. C., & Andrade, J. B. (1999). Fator de impacto de revistas científicas: qual o significado deste parâmetro? Química Nova, 22(3), 448-453.        [ Links ]

Portal de Periódicos CAPES e o crescimento da ciência brasileira. Newsletter BIREME. Recuperado em 13 de agosto de 2007, de http://espacio.bvsalud.org/boletim.php?&lang=pt&style=search&articleId=07141608200620        [ Links ]

Silva, J. A. (2001). Cientometria: a métrica da ciência. Paidéia, 11(21), 5-10.        [ Links ]

Targino, M. G. (2005). Artigos científicos: a saga da autoria e coautoria. In S. M. S. P. Ferreira & M. G. Targino (Eds.), Preparação de revistas científicas: teoria e prática (pp. 35-54). São Paulo: Reichmann & Autores.        [ Links ]

Tenopir, C., Hitchcock, B., & Pillow, A. (2003). Use and users of electronic library resources: An overview and analysis of recent research studies. Washington, DC: Council on Library and Information Resources.        [ Links ]

Thorngate, W. (1990). Professional issues / questions profissionelles: The economy of attention and the development of Psychology. Canadian Psychology, 3(3), 262-272.        [ Links ]

Vanz, S. A. S. (2004). A produção discente em comunicação: análise das dissertações defendidas nos programas de pósgraduação do Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Biblioteconomia e comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.        [ Links ]

Volpato, G. L. (2003). Publicação científica (2a ed.). Botucatu, SP: Tipomic.        [ Links ]

Wieers, L. (1994). A vision on the library of the future. In H. Geleijnse & C. Grootaers (Eds.), Development of the library of the future: The Tiburg experience (pp. 1-11). Tiburg: Tiburg University.        [ Links ]

Xhginesse, L. V., & Osgood, c. E. (1967). Bibliographical citations characteristics of the psychological journal network in 1950 and 1960. American Psychologist, 22(9), 778-791.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Maria Imaculada Cardoso Sampaio
Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia, Biblioteca Dante Moreira Leite
Av. Prof. Mello Moraes, 1721- Bl. C
05508-0303, São Paulo, SP, Brasil
E-mail: isampaio@usp.br

Recebido 15/02/2007
Reformulado 28/03/2008
Aprovado 10/04/2008

 

 

* Bibliotecária do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; Coordenadora técnica da BVS-Psi e BVS ULAPSI; Mestre em Ciências da Comunicação-ECA/USP
** Autora agradece, nominalmente, à equipe da Biblioteca Dante Moreira do Instituto de Psicologia e Biblioteca Virtual em Saúde/Psicologia, incansável nas etapas de coleta, organização dos dados e no preparo das tabelas e gráficos. Aos colegas, muito obrigada. Ana Rita Junqueira Linguanotto; André do Nascimento Serradas; Aparecida Angélica Z. P. Sabadini; Antonio Marcos Amorim; Camila Maria C. de Oliveira; Célia Regina de Oliveira Rosa; Fábio Leão Chamelet; Fátima Andrade campos; Elaine Cristina Domingues Martins; Fernanda Leite Guzman; Geórgia A. de Freitas Nomi; Hélina Alves de Araújo; Ingrid C. dos Santos; Karina Schmidt Brancher; Kátia Maria Bruno Ferreira; Lílian Leme Bianconi; Lucia Margarete Gil; Maria Lopes Peixoto; Maria Marta Nascimento; Maria Rita Marques de Assunção; Nilza Ventura da Silva; Patrícia Antunes Marcelino; Renato dos Passos; Roseni Vieira Gomes da Silva; Teresa Cristina de Oliveira Peres; Thiago Gomes Veríssimo; Valter Rodrigues da Silva; Wanderley Correia de Moraes