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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.29 n.2 Brasília jun. 2009

 

ARTIGOS

 

Entre o bordado e a renda: condições de trabalho e saúde das labirinteiras de Juarez Távora/Paraíba

 

Between embroidery and Lace: health and labor conditions for labyrinth-makers from Juarez Távora/Paraíba

 

Entre el bordado y la renta: condiciones de trabajo y salud de las bordadoras de Juarez Távora/Paraíba

 

 

Tânia Batista da Cunha*; Sarita Brazão Vieira**

Universidade Federal da Paraíba

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo trata da análise da atividade desenvolvida por um grupo de mulheres, em uma cidade do interior da Região Nordeste do Brasil, que se dedicam a um artesanato denominado “labirinto”. Trata-se de um bordado trabalhoso, utilizado para produzir peças de decoração e vestuário. O objetivo do estudo é verificar a relação das condições e da organização do trabalho e a saúde das labirinteiras. Foram utilizados os aportes teóricos da ergonomia da atividade e da psicodinâmica do trabalho, por permitirem analisar o trabalho real e as vivências subjetivas de prazer e sofrimento ligadas ao trabalho. Como instrumentos metodológicos, foram utilizadas observações, entrevistas individuais e entrevistas em grupo. Os resultados indicam que se trata de uma atividade majoritariamente desenvolvida por mulheres que se acham inseridas no mercado informal de trabalho. O processo, a organização e as condições de trabalho tornam essas trabalhadoras dependentes de comerciantes intermediários, em situação vulnerável para a saúde e sem poder de mobilização para se organizarem em cooperativas de trabalho.

Palavras-chave: Artesanato, Labirinteiras, Saúde e trabalho, Trabalho informal.


ABSTRACT

This article is an analysis of a working activity developed by a group of women who work with handicraft known as “labyrinth” in a small town in the interior of the Northeast Region of Brazil. It is a meticulously designed and finished embroidery used to produce items of decoration and clothing. The objective of the study was to verify the report on the conditions, infrastructure and health of the workers. The theories of activity ergonomics and work psychodynamics were used to enable an analysis of the real work and subjective experiences of pleasure and suffering connected to the work. Observations and individual as well as collective interviews were used as methodological instruments. The results indicate that this work is overwhelmingly carried out by women who work informally in the market. The process, the organization and the working conditions result in a dependence on middlemen, what leaves them in a vulnerable situation in relation to health and without the power to mobilize or organize themselves into cooperatives.

Keywords: Workmanship, Labyrinth-makers, Health and work, Informal work.


RESUMEN

Este artículo trata del análisis de la actividad desarrollada por un grupo de mujeres, en una ciudad del interior de la Región Nordeste de Brasil, que se dedican a una artesanía denominada “laberinto”. Se Trata de un bordado trabajoso, utilizado para producir piezas de decoración y vestuario. El objetivo del estudio es verificar la relación de las condiciones y de la organización del trabajo y la salud de las “labirinteiras” (bordadoras). Fueron utilizados los aportes teóricos de la ergonomía de la actividad y de la psicodinámica del trabajo, por permitir analizar el trabajo real y las vivencias subjetivas de placer y sufrimiento conectadas al trabajo. Como instrumentos metodológicos, fueron utilizadas observaciones, entrevistas individuales y entrevistas en grupo. Los resultados indican que se trata de una actividad mayoritariamente desarrollada por mujeres que están insertadas en el mercado informal de trabajo. El proceso, la organización y las condiciones de trabajo hacen a esas trabajadoras dependientes de comerciantes estraperlistas, en situación vulnerable para la salud y sin poder de movilización para organizarse en cooperativas de trabajo.

Palabras clave: Artesanía, Labirinteiras, Salud y trabajo, Trabajo informal.


 

 

A atividade artesanal cumpre importante papel, especialmente para as populações rurais e de pequenos Municípios do interior do Brasil, como estratégia de sobrevivência. Na Região Nordeste, isso se torna marcante, dada a escassez de oportunidades de trabalho na área industrial e a dureza das condições climáticas, que dificultam o desenvolvimento da agricultura. Estima-se que há no Brasil, atualmente, cinco milhões de pessoas envolvidas com a atividade artesanal, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2005), o que representa 0,5% do PIB e fator econômico de peso em 25% dos Municípios brasileiros.

Nesse contexto, desenvolveu-se esta pesquisa, cujo objetivo principal foi analisar a atividade de um grupo de mulheres que se dedica a um tipo de bordado denominado “labirinto” e as suas relações com a saúde mental das chamadas “labirinteiras”1. O interesse em conhecer a vida, o trabalho e a saúde daquelas que criam, com mãos habilidosas, as delicadas e belas peças vendidas nos mercados típicos do nordeste brasileiro nos colocou em contato com uma atividade complexa, heterogênea e, ao mesmo tempo instigante.

A partir do olhar da Psicologia do trabalho, considerou-se a categoria das labirinteiras como trabalhadoras, portanto, sujeitas a condições que afetam sua saúde física e mental tanto como fonte de equilíbrio e prazer quanto de sofrimento e adoecimento, tal como preconiza a psicodinâmica do trabalho, representada por Dejours e seguidores (Dejours, 1992, 1993, 2004; Dejours & Abdoucheli, 1994). Escapa-se, assim, de uma visão idílica e romantizada da atividade artesanal sem, contudo, negar os aspectos artísticos próprios dessa atividade. Ao incorporar a ótica e a experiência dos sujeitos pesquisados e o interesse pelo trabalho vivo, contou-se com o auxílio também dos conceitos da ergonomia da atividade (Daniellou, 2004; Daniellou, Laville, & Teiger, 1989; Guérin, Laville, Daniellou, Duraffourg, & Kerguelen, 2001), que mostra a importância da atividade real de trabalho como categoria central de análise.

É comum se confundir artesanato com rusticidade, mas é importante observar que, nesse trabalho, fazem-se tanto objetos rústicos como bem acabados, pois o artesanato se define pelo processo de produção de objetos, e não pelas qualidades práticas que podem ser emprestadas a este no ato de fazer (Martins, 1973).

Para a diretoria executiva do Conselho Mundial de Artesanato, que se reuniu em Bogotá em 1996, este é definido como toda atividade produtiva de bens e artefatos realizados manualmente ou com a utilização de meios rudimentares com habilidade, destreza, qualidade e criatividade.

Inicialmente, o que caracteriza o artesanato é a transformação da matéria-prima em objetos úteis. Consiste em manifestação de vida comunitária, e o trabalho se orienta no sentido de produzir objetos de uso comum, seja em função utilitária, seja lúdica, decorativa ou religiosa. O artesanato é prático e de aprendizagem informal, em geral na vivência do indivíduo com o meio artesanal, por observação e imitação.

Existem inúmeras definições de artesanato entre os estudiosos, o que dificulta sua definição precisa, portanto, concordamos com Alvim (1983, p. 50), para quem “o artesanato não pode ser usado como expressão de uma categoria explicativa a priori que, como tal, aponta uma realidade homogênea. As diferentes realidades que se escondem muitas vezes sob a capa do artesanato são bastante diversas e particulares”.

Gonçalves (1996) salienta que o artesanato desempenhou e continua a desempenhar um papel importante na vida dos homens e das sociedades. Dessa forma, constitui-se em parte integrante da sociedade capitalista que se acha em constante transformação, e não simplesmente em parte de um mundo em desaparecimento, um mundo pré-capitalista, tradicional.

O artesanato sofre modificações, enquanto atividade produtiva, em função do seu relacionamento com o mercado capitalista, como é o caso da indústria turística. Vives (1983, p. 143) ressalta que “o fluxo dos bens artesanais para fora dos subsistemas onde são criados é fato do nosso tempo, pois o artesanato é moda, estabelecida com base na reação contra a massificação dos bens de consumo”. Há, portanto, um papel social e um papel econômico a serem desempenhados pelo artesanato na sociedade contemporânea.

 

O labirinto: transição entre bordado e renda

A renda é uma obra na qual um fio, conduzido por uma agulha, ou vários fios trançados engendram um tecido e produzem combinações de linhas análogas às que o desenhista obtém com o lápis. O bordado consiste em uma decoração aplicada a um tecido pré-existente (Maia, 1980). A autora especifica duas grandes linhas de produção de rendas: a renda de bilros e a renda de agulha. O que caracteriza a primeira é o que o próprio nome significa, ou seja, é a renda tecida com bilros (pequenas hastes de madeira) afixados numa almofada cilíndrica por meio de alfinetes ou espinhos. A renda de agulha compreende vários tipos, como a renda irlandesa ou renascença, o filé, o rendendê e o labirinto, que é conhecido também como crivo.

O labirinto tem como característica o fio desfiado preliminarmente de um tecido que depois é trabalhado com agulha e linha segundo motivos ou desenhos preestabelecidos. Para Girão (1983), o labirinto, que merece esse nome pelo emaranhado dos pontos, é o bordado de fio cortado, distendido em uma grade ou em um bastidor, e, a seguir, é cheio, isto é, recoberto de bordados feitos com agulha. Assim, é um artesanato considerado ao mesmo tempo bordado e renda de agulha.

O aparecimento da renda de agulha data dos fins do século XV, na Europa. Maia (1980) explica que ela surgiu da necessidade de quebrar a monotonia do bordado fechado sobre um fundo compacto. Veio a idéia, então, de cortar certos espaços no tecido entre os motivos, o que assinalou a transição entre o bordado e a renda. Sucederam-se os desfiados, que é o caso do crivo ou labirinto. A renda chegou a Portugal vinda da Itália, Flandres e França, além de sofrer influência oriental, com as inúmeras viagens das frotas portuguesas. Durante muito tempo, só foi feita em conventos e usada para adornos em igrejas e paramentos sacerdotais.

No século XIX, as rendas portuguesas ficaram conhecidas no mundo todo. Em 1747, foram publicados editais nas Ilhas dos Açores, convocando famílias a estabelecerem-se no Brasil, assim, chegaram os comboios, e as famílias se espalharam pelo litoral e, mais tarde, pelo interior. Enquanto os homens se dedicavam principalmente à pesca e a pequenas lavouras, as mulheres se dedicavam aos bordados e rendas. De início, foram as casas de família e os colégios de religiosas que difundiram a renda de agulha no Brasil; mais tarde é que, para as mulheres das classes trabalhadoras, o trabalho com agulha, longe de representar apenas uma etapa das “prendas domésticas”, representou uma oportunidade de atender às necessidades de complementar a renda familiar.

O local escolhido para este estudo, o Município de Juarez Távora, situa-se na região agreste do Estado da Paraíba, nordeste do Brasil. Trata-se de um Município pequeno (cerca de 7.000 habitantes), cuja economia se baseia na agricultura de subsistência, no artesanato e no comércio. No artesanato, destaca-se o labirinto, produto mais conhecido e tradicional, principalmente na confecção de colchas, passadeiras, toalhas de mesa e ornamentos de altar para igrejas.

Quanto ao processo de trabalho do labirinto propriamente dito, este consiste em uma série de etapas desde a preparação do tecido até a peça estar pronta e limpa para ser vendida. Inicia-se com o processo de riscar, com a ajuda de uma carretilha que deixa marcas no tecido; em seguida, vai-se desfiar o tecido, com a ajuda de uma lâmina que corta os fios que são puxados. Depois vem o processo de encher o tecido, já preso no bastidor ou na grade, o que significa bordar os motivos com agulha e linha. Isso requer uma contagem detalhada dos fios. Após o enchimento, vem a etapa de torcer, que compreende o processo de prender os “pauzinhos” do tecido para dar forma e firmeza ao desenho, passando a linha de três a quatro vezes no mesmo lugar com movimentos de baixo para cima. A etapa seguinte consiste em perfilar, termo utilizado para se referir ao caseamento ou acabamento das beiradas. O perfilo é feito fora do bastidor, com o tecido preso firmemente entre as pernas da labirinteira, e requer a realização de movimentos repetitivos e rápidos. Por último, é necessário lavar e engomar. A peça é engomada e presa, ainda molhada, na grade, de forma que seque bem esticada.

 

Método

Este estudo segue uma abordagem qualitativa ao buscar a análise dos processos e organização do trabalho e suas relações com a saúde das trabalhadoras do artesanato do labirinto. A coleta de informações baseou-se nos instrumentos dialógicos das entrevistas individuais e das entrevistas em grupo, além das observações da atividade.

Para Minayo (1998), o que torna a entrevista um instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais é a possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos e, ao mesmo tempo, transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.

Optou-se por utilizar a entrevista nãoestruturada, na qual o pesquisador se libera de formulações prefixadas para introduzir perguntas ou fazer intervenções que visam a abrir o campo de explanação do entrevistado ou a aprofundar o nível de informações. A ordem dos assuntos abordados não obedece a uma seqüência rígida, mas é freqüentemente determinada pelas próprias preocupações e ênfases que os entrevistados dão ao assunto em pauta.

Michelat (1987) utiliza os termos “entrevista diretiva” e “não-diretiva”, e enfatiza que a utilização desta última tem o objetivo de provocar as produções verbais dos indivíduos, consideradas reveladoras da cultura e das subculturas próprias a cada indivíduo. O pressuposto básico é que cada indivíduo é portador da cultura e subculturas às quais pertence e é representativo delas. Cultura é entendida como o conjunto das representações, dos valores, dos hábitos, das regras sociais e dos códigos simbólicos.

Quanto ao presente estudo, após contatos iniciais com a equipe do PSF (Programa de Saúde da Família) de Juarez Távora/ PB e com algumas labirinteiras contatadas pelos agentes de saúde, foram realizadas 12 entrevistas individuais ao longo de uma série de visitas da pesquisadora àquela cidade. Em geral, as entrevistas ocorreram no próprio local de trabalho, ou seja, nas residências das labirinteiras. De posse de um roteiro previamente organizado, os temas abordados se referiram basicamente ao processo e à organização do trabalho (execução e comercialização), à inserção e ao aprendizado do trabalho, ao cotidiano de trabalho, às queixas sobre a saúde e ao sofrimento e ao prazer relacionados ao trabalho.

As entrevistas em grupo ou coletivas têm sido utilizadas em diversas áreas de estudo, especialmente nas pesquisas de cunho qualitativo. A psicodinâmica do trabalho privilegia as entrevistas coletivas como forma de ter acesso à dimensão específica das pressões no trabalho. Essa metodologia consiste em reunir, em um local de trabalho comum, vários trabalhadores que participam voluntariamente da investigação. A experiência dos autores demonstrou que “os trabalhadores em grupo eram capazes de reconstruir a lógica das pressões de trabalho que os fazem sofrer e também podiam fazer aparecer as estratégias defensivas coletivamente construídas para lutar contra os efeitos desestabilizadores do trabalho” (Dejours & Abdoucheli, 1994, p. 124).

A partir dessas orientações, recorremos a essa técnica como instrumento complementar, objetivando melhor compreensão do objeto de estudo. Em seguida, foi realizado um encontro na varanda da casa de uma das mais antigas labirinteiras da cidade, com oito participantes, que ocorreu na etapa final da pesquisa de campo, fato que se revelou enriquecedor, já que foi possível trazer para o coletivo algumas questões a partir das entrevistas individuais e das observações, para serem confrontadas, e outras, mais aprofundadas. Os temas abordados, além daqueles já citados, incluíram: aspectos relativos à relação com os comerciantes do labirinto, questões sobre o coletivo de trabalho (regras, reconhecimento, relacionamento) e ainda questões referentes à divisão sexual do trabalho (gênero).

Vale ressaltar que este estudo também se inspirou na AET (Análise Ergonômica do Trabalho), vista como um instrumento analítico-metodológico da ergonomia, que permite a descrição e a interpretação do que acontece na realidade da atividade enfocada. É uma metodologia abrangente e adaptável às situações, pois, nessa abordagem, toda atividade acontece em uma situação a que se reporta e se referencia a todo instante. Não há, portanto, uma atividade abstrata, mas a que ocorre num lugar definido, efetivada por uma dada pessoa. Além disso, é característica da pesquisa qualitativa a observação dos fatos, comportamentos e cenários na forma como eles se dão no seu ambiente natural.

A observação do trabalho real, ou seja, em situação, é a abordagem mais imediata da atividade, e constitui-se no grande diferencial da corrente ergonômica contemporânea. Enquanto objeto de pesquisa a atividade de trabalho, não pode ser apreendida diretamente. É, portanto, no diálogo e na confrontação dos pontos de vista que se constrói aos poucos a representação da atividade, de seus processos subjacentes e das conseqüências experimentadas pelos sujeitos sobre sua saúde e sua vida fora do trabalho (Athayde, 1996).

Em consonância com esses preceitos, as observações realizadas nesta pesquisa foramassistemáticas (livres), realizadas ao longo de uma série de seis visitas ao Município e registradas em um diário de campo. A escolha desse instrumento decorreu da abordagem denominada ergonomia da atividade, para a qual uma apreensão da atividade de trabalho que ultrapasse as representações parciais dos diferentes atores implica a coleta de informações no momento do seu exercício efetivo. Para Guérin et al. (2001), essa constatação é o que marca a diferença fundamental entre os métodos relativos à análise da atividade e a outros modos de abordagem do trabalho.

Dessa forma, procurou-se estar na cidade em dias variados da semana, assim como em diversos horários do dia, a fim de observar uma variada gama de situações em um contexto dinâmico. As atividades relacionadas à execução do bordado foram observadas no próprio local de trabalho, ou seja, nas casas das labirinteiras ou nas calçadas próximas. Nesse caso, focalizou-se a atenção naqueles aspectos que mais revelassem o comprometimento do trabalho sobre a saúde, ou seja, a postura, os movimentos repetitivos, o local e os instrumentos de trabalho, o mobiliário, a temperatura, etc. Além destes, foram observadas as situações que envolvem as relações sociais como a relação com as crianças, com as outras labirinteiras e com outros membros da família.

O uso de fotografias foi outro recurso utilizado, após o devido consentimento dos participantes. Minayo (1999, p. 63) salienta que “a fotografia é um registro visual que amplia o conhecimento do estudo, porque nos proporciona documentar momentos ou situações que ilustram o cotidiano vivenciado”.

A análise das informações baseou-se na análise de conteúdo temática, conforme Bardin, que inclui as categorias previamente estabelecidas e as empíricas. A análise de conteúdo é o método mais amplamente usado para o tratamento dos dados em pesquisa qualitativa, e pode ser definida como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens” (Bardin, 1977, p. 42).

Após a etapa da leitura flutuante de todo o material constante da transcrição das entrevistas e do diário de campo, procedeuse à organização deste para a constituição do corpus, conforme a orientação desse método. Em seguida, procedeu-se à classificação e à agregação dos dados, escolhendose as categorias teóricas e empíricas que especificam os temas.

Em resumo, a análise temática no presente estudo consistiu em descobrir os núcleos de sentido cuja presença ou freqüência tivessem significado para o objetivo analítico visado. Dessa forma, foi possível destacar algumas categorias a serem interpretadas à luz do referencial teórico aqui utilizado, tais como as condições de trabalho, a divisão sexual do trabalho, a comercialização e as relações com os atravessadores, as condições de saúde, as vivências de sofrimento e prazer no trabalho e o coletivo de trabalho.

Participantes

Participaram da pesquisa um total de 12 labirinteiras residentes no Município, com idades que variam de 16 a 70 anos. O nível de escolaridade em geral é baixo, assim como o nível socio-econômico. A metade tem mais de 50 anos, sendo que três são analfabetas e três apenas alfabetizadas. A outra metade (seis participantes) tem o ensino fundamental incompleto, e, quanto à idade, três delas têm menos de 20 anos e as outras três estão na faixa de 20 a 35 anos.

As labirinteiras mais idosas relatam que o aprendizado dessa atividade se iniciou na infância, com alguém da família ou vizinhas (mãe, irmã mais velha, primas). São mulheres que vieram da zona rural e praticamente não freqüentaram a escola. Nesse contexto, como filhas ou esposas de agricultores pobres, o labirinto surgiu como uma opção de trabalho considerado “leve”, melhor do que no roçado, com a enxada.

As mais jovens iniciaram o bordado por volta dos 15 anos de idade, da mesma forma, com parentas ou amigas. O aprendizado e a inserção na atividade acontecem de maneira simultânea, já que, na medida em que aprendem, começam a receber pela tarefa executada ou vendem as peças. Como o Município é pequeno e oferece poucas opções tanto de trabalho como de lazer, seu interesse no labirinto aparece mais como uma “falta de opção”.

Infelizmente, não há registros estatísticos a respeito da população que se dedica à atividade artesanal no Município. A estimativa é de que existam cerca de 400 mulheres labirinteiras, incluindo a zona rural, o que representa cerca de 5,8% da população. Esse cálculo foi feito através dos agentes de saúde em suas visitas domiciliares, já que não há registro formal da profissão.

 

Resultados e discussão

Condições de trabalho e questões de gênero

As condições de trabalho são representadas por um conjunto de fatores interdependentes, que atuam direta ou indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho. Um dos principais resultados da pesquisa se refere ao fato de que essas trabalhadoras não podem ser vistas como uma categoria homogênea, mas fazem parte de uma forma peculiar de organização do trabalho. Sob a denominação “labirinteiras”, há mulheres que trabalham em uma peça, que lhe pertence e que ela confecciona do início ao fim do processo, porém, a maior parte se “especializa” em uma ou duas das etapas descritas. Dessa forma, bordam peças que pertencem a outra, realizando tarefas específicas, sob encomenda.

O trabalho é fragmentado e mostra que, pela falta de condições de comprar a matéria prima (tecido e linha), a urgência em receber o pagamento, mesmo que seja um valor pequeno para atender a uma necessidade urgente, é o que as leva a aceitar as encomendas e a receber o pagamento quando é concluída a tarefa. Observa-se aqui como a precarização determina as formas como o trabalho se organiza.

Embora elas enfatizem a importância de se fazer bem feita cada parte do trabalho para manter a qualidade final da peça, a divisão das tarefas toma por base as etapas específicas do bordado e determina uma espécie de “hierarquia” complexa; há etapas que são consideradas mais simples, e o aprendizado do trabalho começa por estas, como é o caso do torcimento.

As labirinteiras trabalham dentro de casa, sentadas em cadeiras ou em tamboretes na varanda. Não há uma separação entre o local de trabalho e o espaço doméstico, onde se misturam o trabalho, as tarefas domésticas e a socialização das crianças. As condições de moradia são precárias, com casas pequenas, e a maioria é conjugada com as vizinhas, o que impede a circulação de ar nos ambientes, agravando o calor e prejudicando a iluminação. Assim, elas costumam sair para as sombras de árvores próximas ou ainda sentar-se na própria calçada.

Com relação à jornada de trabalho, observouse que não há um horário determinado para o trabalho; as tarefas domésticas se intercalam com o bordado, que ocupa todas as horas “vagas” e entra pela noite. O que determina a quantidade de horas, principalmente para aquelas que fazem o bordado para outras, sob encomenda, é o prazo para concluírem, já que é o único meio de aumentar um pouco a renda, ou seja, de entregar o trabalho no menor prazo possível e receber o pagamento pela tarefa executada.

O trabalho é remunerado de acordo com a complexidade da tarefa e com o tamanho das peças. Sendo assim, o torcimento, por exemplo, que é considerado mais simples, recebe um valor em torno de R$10,00 por uma toalha que leva cerca de uma semana para ficar pronta, com oito horas de trabalho por dia ou mais. Outra labirinteira pode receber cerca de R$20,00 para executar a tarefa de encher a mesma peça, que também leva uma semana para concluir.

As condições precárias de trabalho e de vida, que incluem a baixa remuneração, as longas jornadas e o acúmulo com as tarefas domésticas, corroboram os estudos que analisam as atividades em que predomina o trabalho feminino. Estes demonstram que a precarização e as condições de trabalho causadoras de sofrimento atingem o conjunto de trabalhadores, que envolve homens e mulheres, porém ela incide de forma especial e mais aguda sobre as mulheres trabalhadoras (Brito, 2000; Neves, 1999; Vieira & Araújo, 2000). Tais pesquisas contribuíram para se entender a participação feminina na sociedade como um todo e no trabalho em particular, ao trazer para o debate o trabalho doméstico e a relação trabalho produtivo-reprodutivo.

Cabe às mulheres a responsabilidade por um trabalho que não é remunerado e que inclui tarefas de limpeza, preparo da comida e cuidado com as crianças. Segundo Brito (2000), este deve ser analisado pela sua importância na reprodução do quadro de pobreza e de precarização das mulheres. No caso das labirinteiras, mesmo que o marido e os filhos estejam em casa, cabe à mulher interromper o seu bordado para executá-las.

A questão das relações de gênero deve ser ressaltada, e, nesse sentido, lembramos que um dos principais limites para a conquista da igualdade de condições para as mulheres se refere ao processo de naturalização das competências femininas. Isso significa que todo o trabalho relacionado ao mundo privado, doméstico, no ato de cuidar da casa, dos filhos, incluindo os trabalhos de limpeza, é considerado decorrente de qualidades das mulheres, e não de qualificações, fazendo parte do que se convencionou chamar de “natureza feminina” (Vieira, 2003).

A autora chama a atenção para a estratégia das mulheres em escolher uma atividade profissional que permita conciliar seu trabalho com a vida familiar, já que é sobre elas que recai a responsabilidade com a criação dos filhos e os cuidados com a família. Nesse sentido, conciliação é um conceito que diz respeito às mulheres e corresponde a uma estratégia imposta a elas para que não tenham os meios de trabalho. De fato, a pesquisa realizada em uma organização hospitalar mostrou somente referências a essa necessidade de conciliar as exigências do trabalho com a vida familiar, no discurso de mulheres trabalhadoras.

Corroborando tais afirmações, as pesquisas que relacionam as questões de gênero, saúde e trabalho mostram que o maior contingente do trabalho feminino se encontra engajado em atividades com as mesmas características das funções ligadas ao âmbito doméstico, principalmente nas áreas de saúde, educação, áreas assistenciais e trabalho informal.

O trabalho no labirinto em Juarez Távora é claramente considerado uma atividade feminina, e as práticas sociais a esse respeito apresentam tal rigidez que o homem será questionado na sua masculinidade se pretender se dedicar a ele. Conforme Louro (1996), esse fato vem demonstrar que as diferenças de gênero se dão a partir de uma construção social.

As mulheres, por serem também as encarregadas da socialização das crianças, contribuem para reafirmar os estereótipos de masculinidade e feminilidade e perpetuar as diferenças. As crianças crescem ao redor do labirinto e o percebem não só como uma atividade prazerosa em muitos aspectos mas também como uma forma de complementar a renda familiar. No entanto, os meninos são desencorajados a se inserir na atividade, o que demonstra como os valores de formação da masculinidade se sobrepõem ao desejo das crianças em aprender e à possibilidade de ajuda financeira em meio à situação de precarização.

Apesar da situação de necessidade financeira e da falta de oportunidades de trabalho na região, os poucos homens que se “aventuram” no bordado o fazem escondidos. Aqueles que estão envolvidos diretamente no artesanato do labirinto são os comerciantes, cujo trabalho acontece “lá fora”, no mercado consumidor. Tal fato reafirma a divisão sexual do trabalho a partir da divisão das esferas pública (lugar do homem) e privada (espaço doméstico, da mulher). A divisão sexual do trabalho revela ainda uma hierarquização, já que o trabalho feminino é considerado menos importante, ainda que a família dele dependa economicamente.

Viu-se que o costume das labirinteiras de entregar as peças ainda sujas para serem lavadas e esticadas pelo próprio comerciante, próximo ao dia de serem vendidas, é bastante comum. Estes, no entanto, se referem a esse processo através do termo “preparar” a peça para entregar. No uso do termo “preparar”, há um esforço para distingui-lo do trabalho de “lavar”, pois esse termo remete a uma tarefa feminina, lavar roupas, embora a descrição do processo envolva basicamente colocar e tirar da água e sabão.

A maioria das famílias vem da zona rural e tem ligações com atividades relacionadas à agricultura. Há uma distinção entre o território da “roça” e o da “casa”, além de uma associação entre os serviços considerados “pesados”, ligados à roça e à masculinidade, e os serviços considerados “leves”, ligados à casa e à feminilidade. O trabalho no roçado fica a cargo dos homens. As mulheres também trabalham “na enxada”, mas apenas em momentos de necessidade, como forma de ajuda. O trabalho na casa é responsabilidade das mulheres, e inclui o labirinto, as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças.

A comercialização e os atravessadores: uma relação controvertida

Outro aspecto importante revelado pela pesquisa foi que a atividade das labirinteiras se caracteriza pela informalidade, no sentido de que não é um trabalho assalariado, não há contratos ou qualquer vínculo empregatício, portanto, não contam com qualquer forma de regulamentação ou proteção legal. A informalidade em si não é o que determina a condição de precarização, mas parece contribuir para a situação de vulnerabilidade a que essas trabalhadoras estão expostas, marcada pela relação de dependência dos atravessadores para a comercialização do seu produto.

O termo atravessador se refere àquele que se interpõe entre o produtor e o vendedor final. Este, no contexto das atividades informais, não é exclusivo da categoria das labirinteiras, mas está presente em todas as atividades em que o produtor não tem condições de comercializar ele próprio o seu produto ou que não esteja suficientemente organizado para tal. No senso comum, o atravessador é uma categoria que se associa a termos de conotação negativa, como exploração, precarização, dependência e poder.

Maia (1980), ao fazer um mapeamento do artesanato da renda no Brasil, chamou a atenção para o fator comercialização como um dos pontos difíceis da produção artesanal quando se trata de proporcionar rendimento justo ao artesão, e coloca a figura do atravessador como um fator prejudicial nesse contexto.

O poder aquisitivo das labirinteiras, de modo geral, é baixo, e comercializam quase a totalidade de sua produção por meio de atravessadores, em uma situação de dependência que agrava a condição de precarização. Sua relação com os atravessadores se apresenta de maneira controvertida. Ao mesmo tempo em que se vêem exploradas, elas necessitam deles para prosseguir na atividade, principalmente por não terem condições de sair para vender, por falta de condições financeiras ou por não conhecer o mercado consumidor.

Um estudo semelhante feito com as rendeiras de renascença (Albuquerque, 2002) observou que as bordadeiras percebiam o atravessador como um “mal necessário”, cujo poder está ligado não só ao fato de conhecer o mercado mas também à sua capitalização, já que as rendeiras são descapitalizadas, portanto, produtoras fragilizadas, despreparadas para o mercado.

Nessa cadeia de comercialização, há ainda a figura do comerciante de labirinto que, em geral, é um membro da própria comunidade (marido, pai) das labirinteiras. Este é denominado “fabricante”, termo usado para se referir à pessoa que tem recursos para comprar o tecido e a linha e encomendar os serviços, e opõe-se ao trabalho das mulheres, que é “fazer” o labirinto.

Há uma idéia difundida entre as labirinteiras aqui estudadas, de que não é interessante a organização em associação ou cooperativa. Já houve algumas tentativas, sem sucesso, nesse sentido. O argumento defendido é que, se trabalharem para uma associação, o pagamento demoraria mais para chegar até elas, pois somente iriam receber depois dos produtos comercializados. Na forma atual, as intermediárias e os “fabricantes” pagam no momento da entrega da peça, ou, muitas vezes, pagam adiantado pela tarefa executada. Observamos que tal resistência atende aos interesses dos comerciantes do labirinto, pois estes se beneficiam da forma de organização atual.

A resistência persiste, embora haja casos em que a organização de cooperativas e associações em Municípios próximos tenha trazido vantagens no sentido de aquisição de matéria prima e melhores condições para comercialização. Na pesquisa realizada por Gonçalves (1996) em uma região próxima, observou-se que a criação de associações e cooperativas de labirinteiras trouxe facilidades não só para a aquisição de matéria-prima como também para gozar de benefícios obtidos através dessas organizações, a exemplo da criação de uma creche. Observamos ainda que a figura do “fabricante” tem desaparecido na região desde que foram criadas tais associações.

Maia (1985) analisa cooperativas de rendeiras na Região Nordeste a partir da ótica das próprias artesãs cooperativadas, e conclui que estas têm melhores condições de crescimento econômico e de promoção social do que as que atuam individualmente. A autora vê ainda a cooperativa como “um espaço para que os integrantes possam ter oportunidade de debater e analisar seus problemas e, organizados, lutar por seus interesses. Nesse caso, a cooperativa surge como um ensejo para a prática democrática” (p. 98).

Fischer e Ziebell (2004) afirmam, em seu estudo sobre experiências de gestão comunitária, que a participação contínua em movimentos sociais reforça o protagonismo das mulheres na esfera econômica e social. As autoras consideram que o termo “protagonizar significa ocupar um lugar central, sair dos bastidores” (p. 55). Assim, em grupo, as participantes aprendem a lutar e a construir consensos em torno de valores que orientam e regulam a participação. E ainda “essa sociabilidade, por vezes transformada em saberes, objeto de reflexão crítica com as mulheres, pode contribuir para a superação de dificuldades que as impedem de realizar plenamente o seu protagonismo” (pp. 66-67).

As implicações do trabalho na saúde

Compreende-se que a experiência de trabalho apresente inúmeros fatores que atuam na dimensão subjetiva. Para Seligmann-Silva (1994, p. 611), “existe uma interatuação dinâmica e continuada entre a instância psíquica e a experiência laboral”. Seus estudos mostram que as agressões dirigidas à mente pela vida laboral se exercem através de diferentes vias, onde se cruzam o social, o psicológico e o próprio corpo do (a) trabalhador (a).

Os dados empíricos revelam que o sofrimento decorrente da organização e das condições de trabalho das labirinteiras se expressa no corpo, através de dores na coluna, nos braços, dores de cabeça e desgaste visual. Essas são as queixas mais freqüentes que encontramos em relação à saúde. A maior parte dos problemas é tratada em casa, com automedicação ou remédios caseiros.

Algumas tarefas específicas são percebidas como mais prejudiciais, como é o caso do processo de riscar, que requer força para se marcar o tecido. O processo de perfilar, por sua vez, é considerado uma das tarefas mais cansativas, pois a forma de fazer impede a labirinteira de recostar, o que faz com que ela fique curvada, apertando uma perna contra a outra durante horas.

Em todas as etapas, observa-se a postura curvada sobre o bordado, sem encosto, durante muitas horas, além da execução de movimentos repetidos e rápidos com as mãos. Esses são fatores agravantes para os problemas de saúde relatados, como é o caso de dores na coluna.

A análise ergonômica da atividade é, em resumo, a análise das estratégias de regulação usadas pelo trabalhador (a) para administrar a tarefa prescrita e a situação real de trabalho, de forma a se conhecer melhor as relações entre as condições de realização do trabalho e a saúde dos trabalhadores. As agressões à saúde ligadas ao trabalho não se referem somente às doenças profissionais ou aos acidentes de trabalho. A análise ergonômica do trabalho pode ajudar a identificar “sinais precoces”, de modo a identificar uma situação penosa para o trabalhador que nem sempre é mensurável (Guérin et al., 2001). Às vezes, é através dos sofrimentos relatados pelos trabalhadores que se chega a uma compreensão dessas relações.

Dejours e Abdoucheli (1994) assinalam que as pressões do trabalho que apareceram nas pesquisas como potencialmente desestabilizadoras para a saúde mental dos trabalhadores eram decorrentes da organização do trabalho, que foi então conceituada em contraste com as condições do trabalho:

por condições de trabalho, devem-se entender as pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas que têm como alvo principal o corpo dos trabalhadores, podendo ocasionar desgaste, envelhecimento e doenças somáticas Por organização do trabalho, entende-se, por um lado, a divisão do trabalho, ou seja, a divisão de tarefas, repartição, cadência, enfim, o modo operatório prescrito e, por outro lado, a divisão de homens: a repartição das responsabilidades, hierarquia, comando, controle, etc. Se, por um lado, as condições de trabalho têm por alvo principalmente o corpo, a organização do trabalho atua no nível da vida psíquica. (p. 125)

Para Dejours e Abdoucheli (1994, p. 130), “o trabalho é uma atividade que, no sentido ergonômico do termo, exige o funcionamento do corpo todo no exercício de uma inteligência que se desdobra para enfrentar o que não está dado pelo trabalho prescrito”. Particularmente por se tratar de uma atividade informal, o trabalho das labirinteiras escapa aos planejamentos oficiais em economia e saúde do trabalhador. Portanto, as conseqüências das condições e da organização do trabalho na saúde dessa categoria de trabalhadoras não estão visíveis nas estatísticas oficiais.

A noção de saúde que adotamos como referência é entendida como a possibilidade de enfrentar situações novas, pela margem de tolerância ou de seguridade que cada um possui para enfrentar e superar as “infidelidades” do meio (Canguilhem, 1990). Portanto, remete-nos à idéia de movimento, não é estática, possui uma dinâmica ligada à própria vida. A saúde é ter meios de traçar um caminho pessoal em direção ao bem-estar, é a possibilidade de defesa contra o sofrimento. No contexto do trabalho, é a possibilidade de mudança, de gerir as situações desfavoráveis que indicam um movimento em direção à saúde (Dejours, 1993).

Apesar das condições de precarização de trabalho e de vida, foi possível perceber esse movimento quando as labirinteiras buscam “conforto” ao se deslocar para a rua nos horários mais quentes, trabalhar à noite ou em grupo para conversar. Isso pode ser visto como um movimento em direção ao equilíbrio psíquico.

Por outro lado, o sofrimento psíquico relacionado ao trabalho pode se expressar de diversas formas, como foi possível perceber no campo empírico. O fato de, com freqüência, as labirinteiras trabalharem em uma peça que pertence a outra pessoa pode gerar preocupação e medo em estar com um objeto de outrem sob sua responsabilidade.

Para Canguilhem (1990), os erros e as variabilidades são inerentes ao meio, que é sempre “infiel”. Assim, em algumas ocasiões, apesar de relatarem sempre um “cuidado” com o bordado que está em sua mão, acontecem pequenos acidentes. Dessa forma, surge o medo, a angústia e a ansiedade gerados pelo risco de acidentes, gerados pelo fato de trabalharem em peças que não lhe pertencem. As variabilidades presentes no trabalho real requerem procedimentos para resolvê-las, denominadas margens de manobra. Quando as condições de trabalho impedem a liberdade da trabalhadora em criar seus próprios modos de regulação das variabilidades, estas também podem se transformar em fonte de sofrimento.

Para a ergonomia da atividade, o(a) trabalhador(a) sempre vai lidar e gerir as variabilidades do meio, e a atividade real jamais será exatamente igual à tarefa prescrita pela organização (Daniellou et al., 1989). Isso significa que sempre haverá uma defasagem entre o trabalho prescrito (aquilo que é para ser feito) e o trabalho real (o que efetivamente acontece na realidade de trabalho).

A psicodinâmica do trabalho coloca que os processos psíquicos mobilizados pelos sujeitos na invenção, inovação, criatividade e ajustamento estão ligados a uma forma específica de inteligência, denominada inteligência prática, que diz respeito a uma inteligência inscrita no corpo e detentora de um caráter astucioso que se traduz em modos operatórios efetivos e que subverte ou transgride a prescrição da organização do trabalho (Dejours, 1993). Esta se caracteriza por ser, principalmente, uma inteligência do corpo, ou seja, passa pela solicitação dos sentidos, com a primazia da percepção, sendo a astúcia e a engenhosidade sua mola propulsora. É fundamentalmente subversiva e criativa.

As situações relatadas nos depoimentos anteriores, assim como outras em que as variabilidades estão presentes, levam as labirinteiras a exercitar sua inteligência prática na busca de transformar o sofrimento em criatividade. A engenhosidade e a astúcia estão presentes quando, por exemplo, procuram “esconder” o incidente através da criação de um novo desenho no bordado, de tal maneira que a dona da peça nem perceba o ocorrido.

Zanella, Balbinot e Pereira (2000), ao estudar o tema da criatividade entre rendeiras de bilro, comenta a visão do senso comum: quando se fala em algo criativo, remete-se ao inusitado, surpreendente, e, na maioria das vezes, restrito a grandes artistas, de forma desvinculada do cotidiano. Wolf (1982) se contrapõe a essa idéia, e afirma que a atividade criativa também se faz presente em diversas áreas da vida do sujeito, inclusive na do trabalho.

A atividade criativa, então, não se separa de nenhuma outra atividade humana. Para Vigotsky (1990, citado por Zanella et al., 2000, p. 540),

a atividade criadora está em relação direta com a riqueza e variedade da experiência humana, pois essa experiência constituise no material com que o sujeito cria e reorganiza diferentes elementos oriundos de sua experiência que, em princípio, não têm qualquer vínculo.

Para enfrentar o sofrimento, os trabalhadores e trabalhadoras elaboram defesas. Segundo Dejours (1992), uma das descobertas empíricas mais surpreendentes foi a existência da construção coletiva de sistemas defensivos, que ele denominou ideologias defensivas. Estas levam a uma modificação ou minimização da percepção que os trabalhadores têm da realidade que os faz sofrer.

No caso das labirinteiras, alguns comportamentos foram compreendidos como estratégias defensivas contra o sofrimento. Apesar do relato das queixas de dores (coluna, dores de cabeça), há uma tendência entre as labirinteiras em negar qualquer ligação entre o trabalho no labirinto com os problemas de saúde, vistos como corriqueiros, ou até mesmo ignorados. Entre as mais idosas, há uma idéia naturalizada de que as dores fazem parte do envelhecimento, e não é o trabalho no labirinto que as causa. Este representa a única saída como fonte de sobrevivência para algumas e importante renda complementar para outras. Dessa forma, perceber essa atividade como “responsável” pelas mazelas de saúde a que estão sujeitas parece ser uma experiência causadora de angústia. Assim, é alcançado o objetivo principal das estratégias defensivas, ou seja, o de minimizar a percepção do sofrimento sem, contudo resolvê-lo.

As queixas sobre a saúde são semelhantes entre as labirinteiras mais jovens e as mais idosas (principalmente os problemas de coluna e dores de cabeça). A diferença está no fato de que as mais jovens estabelecem uma relação entre essas queixas e o trabalho.

A partir das relações sociais no coletivo de trabalho, percebe-se uma forma bastante característica de lidarem com tal situação. As mais velhas disseminam a idéia de que isso se dá porque as jovens ainda não estariam “acostumadas” ao labirinto. Observou-se que “acostumar-se” a trabalhar no labirinto aparece como uma forma de “doutrinamento” das mais jovens, que vai além do aprendizado do processo de trabalho e abrange a apreensão das regras e a participação no grupo, o que inclui as ideologias defensivas.

 

Reconhecimento, regras e o coletivo de trabalho

Para Cru (1986), há um coletivo a partir do momento em que vários trabalhadores concorrem a uma obra comum e respeitam as regras. Assim, para que haja coletivo, é necessário haver simultaneamente: vários trabalhadores(as), uma obra comum, a existência de regras e o respeito durável de cada um às regras.

O conceito de “regras de ofício” apontado pelo autor nos auxilia na compreensão das particularidades da atividade do labirinto, pois este destaca a descoberta de regras de trabalho (aparentemente espontâneas) que supõem, para sua elaboração, a existência do consenso de indivíduos de uma mesma situação de trabalho. Não se trata apenas de “macetes”, ou truques, mas sim, da elaboração de verdadeiros princípios reguladores para a ação e a gestão das dificuldades observadas no curso do trabalho. As regras de ofício são construídas pelo coletivo de trabalho ao longo de sua história, por isso são específicas do grupo.

As regras, o gesto e a linguagem construídos pelo coletivo fazem parte do que Clot (2006) denomina gênero profissional, que se refere às maneiras de fazer que estão estabilizadas em um determinado meio, em um dado momento. O autor parte de um aprofundamento da noção de tarefa prescrita e atividade de trabalho que se desdobra no conceito de prescrito informal, isto é, em um sistema de obrigações e regras partilhadas por um determinado meio profissional. Essa prescrição coletiva, de origem interna, que situa as maneiras de realizar a atividade no tempo, imprimindo-lhes um caráter histórico e transitório, é o que define o gênero profissional.

Para Clot (2006), o trabalho só cumpre sua função psicológica para o sujeito se lhe é permitido entrar em um mundo social cujas regras lhe permitam aí se sustentar. Isso significa que o gênero profissional é o que baliza as ações, orienta os trabalhadores e os une na gestão das dificuldades no curso do trabalho.

Embora as labirinteiras muitas vezes trabalhem dentro de casa, aparentemente separadas umas das outras, o coletivo se manifesta em uma obra comum, cujas etapas dependem das anteriores, em que cada uma afeta a seguinte. Na atividade do labirinto, um conjunto de regras norteia o processo de trabalho, a divisão de tarefas e as relações sociais.

Uma das fontes de prazer no trabalho do bordado de labirinto vem do reconhecimento das demais labirinteiras e da comunidade, o que as situa numa posição privilegiada diante do grupo por um saber que as diferencia, ao mesmo tempo em que lhes confere uma identidade. A dinâmica do reconhecimento, descrita por Dejours (1993), enfatiza a importância do julgamento dos pares, que se constitui em um reconhecimento importante, pois somente esses, por conhecer efetivamente as regras do trabalho, têm condições de avaliar a elegância, o rigor e a engenhosidade do que foi feito e ainda lhe conferir a originalidade e a singularidade que o distingue dos seus pares, permitindo o registro de sua identidade. É o reconhecimento, cuja natureza tem forte componente simbólico, que possibilitará a construção, por parte dos sujeitos, do sentido do trabalho.

Para as labirinteiras, o trabalho está relacionado a uma forma de ocupar o tempo e a um conhecimento adquirido que pode compensar a falta de estudo. Além disso, ter um trabalho é considerado um valor social importante, pois a ociosidade é vista de forma negativa.

O componente lúdico do artesanato do labirinto é percebido através de relatos de como “não sentir o tempo passar” enquanto trabalham. Os depoimentos dizem respeito ao fato de se “concentrarem” nos pequenos cálculos dos fios para formar o desenho, e, dessa forma, se esquecerem dos problemas e preocupações.

A tarefa de encher é considerada a mais prazerosa, pois é a que possibilita margem maior para a criação, o que a ergonomia da atividade denomina margem de manobra, ou seja, a possibilidade de gerir os modos operatórios para atingir os objetivos (Guérin et al., 2001). Essa noção está ligada à de carga de trabalho, e, desse ponto de vista, um trabalho que permita maior flexibilidade de modos operatórios terá uma carga menos pesada.

 

Considerações finais

A saída do labirinto

A partir do objetivo central do presente artigo, o de estabelecer relações entre o trabalho e a saúde das labirinteiras, foi possível dar visibilidade à situação de trabalho de um segmento social significativo no Brasil, em especial nos Municípios do interior do nordeste. Confirmou-se a importância do artesanato para a população estudada, como estratégia de sobrevivência ou renda complementar imprescindível às famílias.

O bordado do labirinto se caracteriza por ser um trabalho meticuloso, lento, dividido em etapas ou tarefas específicas para a confecção de uma peça. A aproximação com o trabalho das labirinteiras mostrou que a atividade artesanal deve ser analisada como uma categoria de trabalho complexa e que, ao contrário do senso comum, não pode ser definida apenas em oposição ao sistema de produção industrial. Essa idéia se afirma na medida em que a organização do trabalho das labirinteiras se caracteriza por uma “especialização” nas etapas, portanto, a maioria das trabalhadoras não executa todo o processo de produção da mesma peça. Além disso, elas não se apropriam do produto do seu trabalho, ou seja, trabalham em peças que pertencem a outra pessoa.

As trabalhadoras encontram prazer e sentido no seu trabalho, que as coloca em destaque diante do seu grupo social como detentoras de uma habilidade especial. Por outro lado, as condições de trabalho, aliadas às pressões por produção por parte dos “fabricantes” e atravessadores, as colocam em situação vulnerável à saúde, agravada pela sobrecarga com o trabalho doméstico, não remunerado.

O não reconhecimento do valor comercial do trabalho dá origem a sentimentos de exploração, o que acarreta sofrimento diante da impotência para escapar da dependência, já que essa atividade representa para muitas a principal renda familiar ou renda complementar importante.

Inserida no mercado informal de trabalho, a atividade do bordado de labirinto, assim como outras atividades artesanais, não conta com a proteção de direitos trabalhistas, e, por isso, escapa aos planejamentos oficiais, tanto no âmbito da economia como na área de saúde do trabalhador.

O propósito deste estudo foi o de dar visibilidade a esse fato e contribuir para a construção de ações político-sociais que possibilitem o resgate do saber-fazer dessa atividade e das raízes culturais da atividade artesanal no nordeste brasileiro. A Psicologia do trabalho à qual nos reportamos partilha com a ergonomia da atividade o debate de aspectos do trabalho que antes eram vivenciados, mas que ficavam invisíveis e distantes dos mais diferentes atores sociais. Compreender o trabalho para transformálo é a sua primeira finalidade. Mas a noção de transformação, em ergonomia, refere-se a uma transformação efetiva do trabalho, para que seja cada vez mais adaptado ou adaptável às características dinâmicas dos seres humanos, ao permitir seu desenvolvimento profissional, promover a saúde e, em conseqüência, aprimorar os resultados desse trabalho.

O termo “labirinto” remete a algo complicado, confuso, tortuoso. É constituído por um conjunto de percursos intrincados, criados com a intenção de desorientar quem os percorre, ou seja, de difícil saída. Encontrar a saída no caso das labirinteiras não significa sair da atividade, já que o trabalho tem um significado importante em suas vidas sob diversos aspectos: econômicos, sociais, psíquicos. Antes, encontrar a saída desse labirinto significa melhorar as condições de vida e de trabalho. Trabalhar está ligado à saúde, tanto de sua promoção como de sua perda, portanto, a saída é a possibilidade de ações transformadoras em busca do desenvolvimento pessoal e coletivo.

Nesse sentido, a Psicologia do trabalho encontra em Clot (2006) uma escola de atuação, a clínica do trabalho, que traz contribuições importantes ao considerar o coletivo questão central. Não é o coletivo como grupo, mas o coletivo como recurso para o desenvolvimento da subjetividade individual. Ele considera, portanto, que o social seja mais do que o encontro de pessoas, o social está em nós, no corpo, no pensamento, como um recurso importante para o desenvolvimento individual, em uma dimensão coletiva e subjetiva.

Acreditamos que, embora apresente limites, a organização do trabalho em grupos, seja na forma de associação ou de cooperativa, poderia trazer, para as trabalhadoras da comunidade pesquisada, a possibilidade de desenvolvimento tanto pessoal quanto profissional e um espaço para a formação de um coletivo transformador, através da discussão conjunta de seus problemas, o que seria, portanto, uma saída possível para a situação de submissão e vulnerabilidade.

 

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Endereço para correspondência
Tânia Batista da Cunha
Av. Epitácio Pessoa, 4697 apto 503 – Tambaú
58039-000, João Pessoa – PB - Brasil
E-mail: taniacunha01@gmail.com

Recebido 28/11/2007
Reformulado 24/12/2008
Aprovado 06/01/2009

 

 

* Psicóloga, Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
** Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: sarita@terra.com.br