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Psychê

versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.8 n.15 São Paulo dez. 2004

 

EDITORIAL

 

A revista Psychê obteve recentemente algumas conquistas. Em primeiro lugar a revista foi avaliada, recebendo aprovação para ser incluída na base de dados CLASE (Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades), base de dados bibliográficos criada pela Universidad Nacional Autónoma de México /UNAM. Em seguida, após a devida apreciação, Psychê foi formalmente convidada a integrar a Red ALyC (Red de Revistas Científicas de America Latina y El Caribe, Espana y Portugal) – um projeto impulsionado pelos integrantes da Facultad de Ciencias Políticas y Administración Pública de la Universidad Autónoma de Estado de México/UNAEMEX – sendo que brevemente será possível a consulta aos trabalhos publicados mediante acesso a esse site. Finalmente, tivemos a grata satisfação de receber substancial apoio editorial do CNPq para este ano.

Neste número da Psychê temos o privilégio de oferecer ao leitor um texto clássico da psicanálise contemporânea, que versa sobre um tema fundamental e imprescindível ao entendimento da clínica psicanalítica: o silêncio. O artigo de André Green, O silêncio do psicanalista, publicado há 25 anos, é inédito em português. Ana Cecília Carvalho, que compõe o nosso corpo editorial, deu-nos a notícia de sua tradução por dois de seus alunos do Curso de Especialização em Teoria Psicanalítica (FAFICH/UFMG), e o autor gentilmente autorizou sua publicação em português.

A despeito da central importância do silêncio na clínica, há poucos trabalhos na literatura psicanalítica que o focaram da maneira que Green o fez nesse ensaio. O tema do silêncio é também intimamente associado ao percurso do autor e aos assuntos que o vêm ocupando desde os anos 70 – o discurso vivo, isto é, as conexas questões acerca do afeto, da linguagem e do enquadre –, todos tendo como fonte de inspiração e contribuição a clínica com pacientes fronteiriços. O silêncio é o espaço potencial da escuta, onde o discurso manifesto apaga-se para se abrir sobre a “população” de palavras, ou sobre a rede associativa no analista em relação ao material latente no paciente.

Entretanto o silêncio do analista, afirma Green, só pode ser entendido como fazendo parte do enquadre psicanalítico, pois silêncio não significa necessariamente o calar-se. São o enquadre e a situação analítica que condicionam o acesso à reserva inconsciente, cujo pano de fundo é o silêncio. Green mostra-nos as diferentes modalidades para atingir esse plano, dependendo da configuração clínica em questão. Nos casos fronteiriços o alcance das ligações inconscientes só se faz por um trabalho prévio de intervenção não-interpretativa, em que se estabelecem relações de superfície para tocar o fundo de silêncio, impedido inicialmente pela operação da clivagem nessas configurações narcísicas.

Além do destaque dado ao artigo de Green, mencionamos vários outros trabalhos neste número acerca da metapsicologia freudiana: Campos faz uma re-leitura do Projeto de uma psicologia, no qual se encontram os ingredientes das concepções de Freud sobre o afeto e a representação entre outros conceitos dinâmicos e econômicos formulados na segunda tópica. Darriba discute o paradigma dos dualismos na obra freudiana; Belo elabora a questão da violência na constituição psíquica e Winogard volta-se para o clássico problema psicofísico que assola o pensamento ocidental, para demonstrar sua relevância no surgimento da psicanálise. Nesse contexto, Perreira discute as relações entre a experiência analítica e a atividade filosófica. A paranóia e a crise da modernidade é tema do artigo de Santi, que debate com as proposições freudianas acerca desse mal. A modernidade, a relação do sujeito com o corpo é tema de outro ensaio, de Próchno, neste número.

Dois artigos sobre o trabalho clínico com crianças são abordados a partir de contextos culturais e teóricos diferentes, e um último trabalho discorre sobre a clínica possível dos serviços residenciais terapêuticos. Finalmente, as resenhas refletem os dois temas que servem de eixo a este número: metapsicologia e clínica psicanalítica.

Daniel Delouya
Editor