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Psychê

versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.9 n.16 São Paulo dez. 2005

 

RESENHAS

 

 

Maria Valéria Pelosi Hossepian Salles Lima1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 

SAFRA, Gilberto. Curando com histórias: a inclusão dos pais na consulta terapêutica das crianças. São Paulo: Sobornost, 2005. 100p. ISBN 8599207040.

Com alegria acolhemos dentro do pensar psicanalítico dois nascimentos consecutivos: as Edições Sobornost e o primeiro volume da Coleção “Pensamento Clínico de Gilberto Safra”. Que as Edições Sobornost tenham vida longa! E com freqüência venham a nos enriquecer com os próximos volumes da coleção que se inicia com Curando com histórias! Este visa veicular as idéias originais e cada vez mais amadurecidas desse pensador tão permeável e atento às necessidades do homem que deverá traçar seu caminho neste século.

Edições Sobornost é a concretização de um projeto e de uma vocação para o acolhimento de obras que possam refletir o ser humano como a singularização de toda a história da humanidade.

Em Curando com histórias temos a possibilidade de acompanhar, a partir desse embrião, a evolução do pensamento de Gilberto Safra, esse autor singular. Um registro necessário e fundamental de um processo de criação, enraizado na prática clínica, mas não distante de outros campos do conhecimento, para que esteja acessível a todos os que venham a “descobri-lo”.

Na Apresentação, o próprio autor relata seu encontro com o pensamento de Winnicott, em 1977, e como do resultado desse encontro nasce o texto em questão, “que procurava apresentar um método de consultas terapêuticas com crianças, tendo as histórias como meio de intervenção” (p. 17) e a inclusão dos pais no processo.

Sua humanidade transborda na Dedicatória: “a meu avô que, por meio da forja e da bigorna, mostrou-me a importância do trabalho na transformação da vida”. A solidez teórica é apresentada nos dois capítulos iniciais, nos quais percorre a obra de diversos pensadores, como Wittgenstein, Heusher, Bettelheim e outros, que utilizaram histórias com fins terapêuticos. No entanto, é a partir de Winnicott que Gilberto Safra estabelecerá a relação entre o conceito de Espaço Potencial com as histórias infantis e desenvolver seu método, no qual os fatores “tempo” e “forma de intervenção” farão toda a diferença.

“Todos temos necessidade de hospitalidade, de reconhecimento de si, de sermos apresentados por um Outro a diferentes aspectos da realidade ainda desconhecidos para nós” (p. 31). Para que o terapeuta possa criar esse espaço hospitaleiro, onde a intervenção possa se dar sem intrusão, é necessário um tempo adequado às possibilidades de cada um.

Sua sensibilidade aparece na rápida apreensão das questões provocadoras dos sintomas e na coerente criação de histórias, que de forma adequada retratam o mundo, os conflitos e as possíveis soluções para aquele sofrimento. Esses dez casos clínicos compõem o terceiro capítulo.

Tal coerência dá sustentação a todo o trabalho e está explicitada na Conclusão: “é necessário que o analista tenha flexibilidade na eleição do procedimento que irá empregar para que possa se adaptar à situação concreta do paciente, sem que se perca a qualidade do atendimento” (p. 94).

Livros como Cuidando com histórias abrem novos horizontes no atendimento clínico de crianças.

 

 

Endereço para correspondência
Maria Valéria Pelosi Hossepian Salles Lima
e-mail: iovaleria@ig.com.br

 

 

1Psicanalista; Mestre em Psicologia Clínica (Universidade São Marcos); Doutora em Psicologia Clínica (PUC/SP).