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Psychê

versión impresa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.10 n.17 São Paulo jun. 2006

 

EDITORIAL

 

Os trabalhos que compõem este número da revista Psychê têm como objeto de investigação e indagação um variado espectro de temas e fenômenos, seja na esfera particular do sujeito, seja na do grupal e do cultural. Os campos da clínica, da religião, da filosofia e da arte constituem os diferentes cenários examinados pelos diversos autores.

Há um fato atual relevante às vozes aqui expressas: encontramo-nos, neste momento, no período de celebração dos cento e cinqüenta anos do nascimento do pai da psicanálise. Período em que jornais e revistas dirigidos ao público geral abriram espaços de expressão aos psicanalistas, assim como para aqueles que questionam a legitimidade da descoberta freudiana e sua eficácia. O tema é um só: a descoberta e seu criador são legítimos ou não, falam a verdade ou são descartáveis e ultrapassados?

Não há nada novo no teor das críticas e desvalorização a respeito da psicanálise, apesar dos novos ornamentos e embalagens. Constatamos, novamente, que a concessão de espaço legítimo para a psicanálise entre as produções científicas e culturais continua sendo julgada pela civilização ocidental e seus esclarecidos porta-vozes. Quanto tempo devemos esperar? Devemos esperar? Isto nos remete a um eixo que nos parece perpassar os artigos que apresentamos ao nosso leitor – o trauma e o traumático. Freud inicia sua obra com esse conceito no âmbito da clínica e a conclui na dimensão grupal e cultural, acerca do Moisés. Nesta, debatendo-se com o uso de termo e sua extensão, Freud conclui que o traumático é aquilo que faz diferença, seja porque demora para ser lembrado, seja porque é repetido sem ser reconhecido, seja porque é incapaz, por sua violência, de ser elaborado, seja porque é abolido, erguendo em seu lugar reações e buracos no tecido psíquico e cultural.

Entretanto, nessas impressões, traumas, em que se abriga a realidade histórica, a verdade insiste; sua data de instalação permanente é incerta, demorada, mas acaba vingando. A psicanálise está, no momento, sem endereço, sem casa permanente junto à família das nações culturais e científicas. Isso não nos deve preocupar. O que fazemos e continuaremos a fazer – como psicanalistas atuantes, e que também refletem sobre a psicanálise nos campos em que está implicada –, é nos atermos àquele elemento que tem sentido e faz diferença – e os autores deste número indagam sobre isso em várias casas da cultura contemporânea.

Daniel Delouya
Editor