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Psychê

versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.10 n.17 São Paulo jun. 2006

 

ARTIGOS

 

Electra versus Édipo1

 

Electra versus Oedipus

 

 

Hendrika Halberstadt-FreudI

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora sugere o mito de Electra como paradigma do desenvolvimento feminino porque atribui a ela, como metáfora, uma maior aplicabilidade para descrever as vicissitudes do desenvolvimento feminino do que ao mito de Édipo. Electra, marcada desde seu nascimento por vários aspectos de ambivalência em relação à mãe, refletiria o destino da mulher. Formas patológicas dessa ligação são examinadas na rejeição violenta da mãe, como no caso de Electra, ou em seu oposto, no intenso vínculo simbiótico. Em suas conclusões, a autora considera que as meninas não trocam radicalmente de objeto, mas acrescentam o modelo heterossexual ao componente homossexual.

Palavras-chave: Complexo de Electra, Desenvolvimento feminino, Ambivalência, Ligação materna, Transmissão transgeracional.


ABSTRACT

The author suggests the myth of Electra as a paradigm for feminine development, because she considers that Electra, as a metaphor, is more applicable to the vicissitudes of feminine development than the Oedipus complex. Electra, who was marked, since her birth, by several aspects of ambivalence in relation to her mother, reflects women’s destiny. The author considers that pathological forms of ambivalent attachment to the mother are vehement rejection, as with Electra, or the opposite, a close symbiotic bond. She concludes that girls do not change radically their primary object, but rather add to the homosexual component, the heterosexual model.

Keywords: Electra complex, Female development, Ambivalence, Maternal attachment, Transgenerational transmission.


 

 

Poderíamos nos questionar sobre o que teria acontecido se o criador da psicanálise tivesse sido uma mulher ao invés de um homem. Como ponto de partida, a história de Édipo – o drama de um homem – certamente teria sido substituída pelo mito de Electra, que ilustra as armadilhas do desenvolvimento feminino. E o papel designado à mãe, teria tido maior relevância. Somente após haver delineado a maior parte de sua teoria, Freud descreveu as conseqüências emocionais do vìnculo da mulher com sua mãe.

Em 1931, Freud – então com 75 anos de idade – admitiu sua dificuldade em decifrar o enigma da esfinge feminina. Ele afirma: “tampouco alcancei sucesso em divisar completamente o caminho em qualquer caso”. Reconheceu, então, que o complexo de Édipo correspondia de forma muito limitada ao desenvolvimento feminino. Para abarcar a questão feminina, o conceito deveria ser radicalmente ampliado. Freud criou o termo pré-edipiano para poder manter o complexo de Édipo como núcleo da neurose. Através do prolongamento da fase pré-edipiana, Freud encontrou uma maneira de por um lado, manter o desenvolvimento de ambos, meninos e meninas, determinado pelo complexo de Édipo, mas por outro, de diferenciar o percurso deste para meninas. Assim, evitou confrontar-se com o problema do complexo de Édipo nas meninas.

Quero aprofundar-me na figura de Electra como paradigma do desenvolvimento feminino porque este mito atribui um lugar especial para a relação mãe-filha. O destino da mulher é determinado, desde seu nascimento, por vários aspectos de ambivalência em relação à mãe.

A mãe ocupa permanentemente um lugar central na vida da mulher. A primeira relação amorosa das meninas não é heterossexual, mas homossexual, uma vez que seu primeiro objeto libidinal pertence ao sexo feminino. E é principalmente com ela que a menina irá se identificar. Estes dois fatores juntos levam a uma lealdade dupla da filha em relação a sua mãe. Ao mesmo tempo, a semelhança biológica torna o percurso de sua individuação e sexualidade – mas não a sua identidade de gênero – mais conflitivo do que no caso dos meninos. Todos os passos seguintes do desenvolvimento da menina levam necessariamente à identificação renovada com a mãe. Isso significa que a cada progresso existe a ameaça de um retrocesso.

Será que a menina faz a passagem da mãe, como objeto principal, para o pai? Ou será que ela acrescenta a uma relação objetal homossexual existente uma relação heterossexual? A teoria psicanalítica clássica do desenvolvimento feminino supõe que o primeiro caso seja verdadeiro. Eu acredito que o segundo deva ser focalizado. Além disso, quero dedicar-me à seguinte questão: qual o papel da identificação, da individuação e da separação no desenvolvimento feminino.

 

Electra

O mito de Electra tem sido escolhido como tema por vários autores clássicos e modernos, fascinados pelos enigmas da feminilidade. Electra representa a problemática do desenvolvimento feminino mal sucedido, freqüentemente marcado por ciúmes, masoquismo, dramatização, rejeição da feminilidade e sexualidade freada2.

Uma obra de arte ou um mito são comparáveis com um sonho. Eventos simbólicos ricos em significado expressam diversas emoções e fantasias. Electra traduz o conflito entre mãe e filha, repleto de fantasias de morte, suicídio e ódio, que leva ao sadismo e também ao masoquismo.

Os mitos de Édipo e de Electra diferem em suas essências – mesmo que ambos tratem da rivalidade com o genitor do mesmo sexo e do amor pelo genitor do sexo oposto. O confiante Édipo, o lamentável filho do rei de Tebas, que quase foi assassinado pelos próprios pais, não tinha a mínima intenção de matar seu pai. Ele nem o conhecia e fugiu de seus supostos pais (na verdade adotivos) para escapar do presságio do oráculo, que anunciava que mataria seu pai.

Electra planeja durante muitos anos o assassinato da sua mãe, que executará sorrateiramente. Édipo, por outro lado, mata um estranho em um cruzamento de Delfos, em um ataque de raiva irracional. Electra alimentará um rancor pelo resto de sua vida em relação a sua mãe pelo fato de que esta, junto com o amante Aegisthus, matou seu pai, Agamêmnon, e a amante deste, Cassandra. Após anos de espera, Electra consegue executar sua vingança com a ajuda do irmão, matando a mãe, Clytaemnestra.

Todos os autores gregos e modernos concordam com o fato de que a raiva e a dor de Electra têm como intenção acusar sua mãe pela falta de amor para com ela. Devido a todas as provas de egoísmo, crueldade e infidelidade de seu pai, Agamêmnon, torna-se difícil de entender por que ela manteve uma idealização tão intensa desse homem impiedoso. Ele não apenas matara o primeiro marido de Clytaemnestra e seus filhos, mas também sacrificara Iphigenia, sua própria filha com Clytaemnestra, para conquistar uma estima positiva diante da deusa Ártemis. Imediatamente após esses acontecimentos, velejou para Tróia para lutar como comandante. Tudo isso acontecera quando Electra era apenas uma criança. Para ela, ele não poderia ter sido muito mais do que um mito de um pai invisível.

Electra tornou-se uma mulher infeliz e só, obcecada pelo rancor em relação a sua mãe e a Aegisthus, seu padrasto. Ela era cronicamente enraivecida, profundamente frustrada e sofria amargamente com seu destino incontestavelmente triste. Como genitora em potencial de um herdeiro para o trono, foi banida do palácio por Aegisthus, e seu amado irmão, Orestes, foi mandado por sua mãe para um país distante. Ela odiava a mãe com a mesma intensidade com que amava o pai, como se ela tivesse dividido seus afetos em dois pólos opostos. Na ausência de Agamêmnon, identificava-se intensamente com seu pai adorado.

A bissexualidade da mulher – por um lado ser um homem e possuir uma mulher, e por outro ser uma mulher e conquistar um homem – evidencia-se no caso de Electra. Seu desejo de ser e possuir ambos os sexos é demonstado pela depreciação do marido (Eurípides), e também na medida em que força seu irmão a servir-lhe como ferramenta no assassinato de sua mãe. Seu complexo de masculinidade evidencia-se pelo fato de considerar Aegisthus uma mulher e alegar que ela própria é mais homem do que ele – o que sugere seu enamoramento silencioso com sua mãe e o ciúme em relação a Aegisthus. A intensa negação do vínculo amoroso para com a mãe indica, de certo modo, a repressão de seu oposto. Considerando a acusação de negligência dirigida contra a mãe, lidamos nesse caso com um desejo intenso de amor materno e anseio pelo paraíso perdido – o vínculo homossexual do início de sua vida.

A bissexualidade pode levar à assexualidade, como demonstra Electra. Sem ser homem ou mulher, consola-se com sua superioridade moral em relação a sua sensata irmã, Chrysothemis, a qual representa a mulher sadia. O ódio que Electra espera da mãe é parcialmente uma projeção da animosidade da criança frustrada. Na realidade, Clytaemnestra está tão desamparada quanto Electra. Aquela, como esta, também anseia pelos cuidados de uma mãe terna. Insone e consumida pela angústia, perambula pela noite cheia de sentimentos de culpa: um sentimento feminino, que aparentemente não incomoda os protagonistas masculinos. Em seu desespero, Clytaemnestra procura ser consolada por Electra, quase como se ela não fosse sua filha, mas sua mãe. Esse momento de fraqueza só causa desdém e desconfiança na filha, que se aproveitada ocasião para matar a mãe.

 

De mãe para filha

O Deus judaico, conhecido por ser um Deus ciumento, provavelmente sentiu inveja das mulheres porque não apenas são capazes de se duplicar, mas também de produzir homens. Ele certamente criou o homem à sua imagem e semelhança, mas isso apenas valia para o homem. Em seqüência, a mulher foi criada a partir da costela de Adão. Ela foi a criação de um homem grávido (como Pallas Athena nasceu da cabeça de Zeus), não mais do que uma parte incompleta de sua totalidade.

Tudo isso é mitologia. Na realidade, o destino da mulher é o de se recriar na figura da filha, muito mais do que na figura de seu filho. Esse motivo vincula mães e filhas de forma mais intensa e ambivalente do que mães e filhos. O fato de que mãe e filha têm uma ligação estreita pode levar a vantagens na maternidade. De outra parte, existe o risco de manutenção da falta de amor materno de uma geração para outra. A transmissão entre gerações, tanto de saúde como de patologia, parece ocorrer com maior facilidade através da linhagem feminina de descendência.

 

Clare

Clare, 25 anos, procura análise por ter dificuldade em manter uma relação estável com um homem. Seu distúrbio alimentar oscila entre ora comer em excesso, ora vomitar, como alguém acometido de anorexia nervosa. Ela não consegue ter um orgasmo sem fantasias masoquistas. Sua agressão dá voltas e às vezes encontra um escape através de outros. Um de seus namorados cometeu suicídio, o que sua mãe posteriormente também fará.

Clare permanece vários anos em tratamento comigo, e após o término volta algumas vezes ao se deparar com calamidades ou preocupações. Após o tratamento encontra um marido, com quem compra uma casa e constitui uma família. Torna-se uma boa esposa e mãe, e trabalha meio período como fisioterapeuta. Considera-se satisfeita com sua vida.

Durante o tratamento seu distúrbio alimentar desaparece rapidamente, mas as fantasias masoquistas continuam. Considero isso um sintoma frente ao problema latente relacionado com a luta contra sua mãe. Ela sente não ter sido uma filha desejada. Sua mãe não era feliz com seu pai e manteve um amante durante a infância da filha. Até onde alcançam suas lembranças, sua mãe desaparecia no mínimo um dia por semana e costumava falar longamente por telefone.

Clare sempre teve medo do olhar hostil da mãe e tentava agradá-la com obediência e amabilidade. Em suas fantasias cultivava a ilusão de um entendimento silencioso entre ambas. De outra parte, a paciente não demonstrava nenhum vínculo emocional com o pai, cuja imagem não consegui formar claramente durante todo o tratamento.

Ela não passou pela adolescência, no sentido de que nunca se rebelou. Quando finalmente conseguiu rebelar-se, já estava com trinta anos. Sua mãe, que na época sofria de uma doença crônica, cometeu suicídio logo após esse incidente. Ainda que a mãe já houvesse planejado fazer isso antes, Clare era atormentada por sentimentos de remorso e culpa.

Ao entrar em minha sala, costuma apresentar uma expressão assustada. Apesar de nosso trabalho árduo em relação ao seu medo de rejeição e ao ódio encoberto em relação a mim, ela continua insegura: não consegue expressar críticas ou animosidade. Não somos bem sucedidas em resolver a ilusão simbiótica com a terapeuta e em curar seu ódio cindido. Parece vivenciar a relação terapêutica como uma relação amorosa secreta, na qual não pode haver animosidade. Eu sou seu anjo de guarda com quem ela às vezes sente-se mais ligada do que com o marido. Ao mesmo tempo, estabelece um vínculo real, seguro e confiante comigo. Ela consegue cindir seu ódio encoberto e a sensação de ser vítima de sua mãe. Tais sentimentos são dirigidos contra si mesma através defantasias masoquistas.

Após um longo tempo de tratamento, quando novamente procuramos as origens de sua insegurança e do medo de ser rejeitada, ela revela um segredo de família que envolve quatro gerações e remete a três gerações na linhagem feminina. Sua bisavó trabalhava como empregada doméstica e a filha, avó de minha paciente, nasceu em segredo, por ter sido a filha bastarda do dono da casa. Para evitar um escândalo, a mãe biológica dessa criança foi mandada embora e a criança, fruto do adultério, foi adotada pela esposa como filha.

Podemos imaginar o ódio que essa mulher deve ter sentido pela filha gerada por seu marido adúltero. O rancor e o ódio eram de tal natureza que a menina abandonou a casa o mais rápido possível. Partiu para as Colônias Holandesas a fim de tentar sua sorte. Longe de casa encontrou um marido, teve vários filhos e se separou. Uma dessas crianças era a mãe de minha paciente, que posteriormente separou-se do marido. Clare também pensava às vezes em se separar, mas não chegou a fazê-lo. Graças à compreensão obtida na terapia, ela reconheceu que suas dificuldades não dependiam de seu marido.

Inconscientemente ela tem medo de mim e teme não ser desejada e bem-vinda, apesar de nossa boa relação de trabalho. Além da ilusão simbiótica que mantém, existe uma outra cena, a propósito de seus afetos negativos guardados. Esse problema poderia ter sido resolvido por meio da interpretação mais completa da transferência. Em um trabalho psicanalítico de maior freqüência isso talvez pudesse ter acontecido.

Percebo que o problema de Clare ultrapassa sua própria experiência de vida, e que deve ter sido transmitido através das gerações, de mãe para filha, desde que sua bisavó foi mandada embora, e a avó transformada em uma lembrança odiada de um evento humilhante para sua mãe adotiva. Esse conflito infeliz entre mãe e filha, atravessado pelas gerações, demonstra como problemas podem ser passados através da linhagem feminina.

 

Elisabeth

Elisabeth, uma mulher com formação acadêmica, com aproximadamente quarenta anos, evita contato de olhar e parece a personificação de uma grande e silenciosa tristeza. Após anos de psicoterapia, ela um dia me surpreende com a revelação de que sua mãe, quando criança, sofrera de poliomielite e por isso ficou inválida. Elisabeth leva uma vida razoavelmente solitária. Durante muitos anos ela é amante de um homem casado e eles se encontram raramente. Posteriormente apaixona-se por uma mulher, o que também já tinha acontecido em sua adolescência. Elas decidem morar juntas após um ano de dúvidas por parte de Elisabeth – não quer perder seu amante nem sua namorada.

Mesmo após ter aumentado o número das sessões semanais, ela ainda não consegue me comunicar algo sobre o aspecto erótico de ambas as relações. A sexualidade não é mencionada: o corpo falta no discurso de Elisabeth. Sua auto-estima é baixa e ela sente muita vergonha de se expressar. Pedir algo é totalmente impossível para ela, sem falar em reivindicar aquilo que quer.

Até onde sua memória alcança, sempre considerou sua relação com a mãe tensa e hostil. Ela a esperava quando voltava da escola com chá pronto e só falava “besteira”. Elogiava Elisabeth, tudo que fazia era bom, e superficialmente tudo andava bem, mas não havia comunicação ou um contato verdadeiro.

Quando Elisabeth estava com mais ou menos oito anos, a mãe sofreu um ataque histérico, jogando-se no chão, chutando e gritando: “eu não agüento mais, eu não quero mais”. Elisabeth vingou-se pelo silêncio. Ela não queria ser parecida com sua mãe, mas adorava o pai e o idealizava; culpava apenas a mãe por sua infância solitária. Seu pai trabalhava em outra cidade e não tinha muito tempo para as crianças. Durante o tratamento, descobriu que nunca recebera apoio ou reconhecimento de seu pai. Ele não se comportava como pai, tampouco participava dos cuidados com a casa e os quatro filhos. Todos consideravam a mãe uma mulher forte, que nunca se queixava e não falava de sua incapacidade física. Parecia não enfrentar seus problemas.

Durante a análise, torna-se claro que Elisabeth identifica-se intensamente com a mãe inválida, e que se sente emocionalmente deficiente. Na transferência comunica-se tão pouco quanto se comunicava, no passado, com sua mãe. Ela expressa-se vagamente, é educada e utiliza-se de uma linguagem impessoal. Quando realiza o que está dizendo, costuma emocionar-se e chorar. Geralmente está despersonalizada, sem contato com suas emoções. Isso evidencia-se pela dispersão pela qual é freqüentemente acometida.

Parece que Elisabeth, em sua tentativa de não se parecer com a mãe, ficou totalmente enredada na compulsão à repetição. Assumiu o peso da invalidez não aceita da mãe. Este é um mecanismo oculto que permite aos traumas parentais – não elaborados ou expressos, e que evidentemente deixam lacunas na comunicação – serem preenchidos pelos filhos com suas próprias fantasias. Esconder eventos terríveis dos filhos com a intenção de preservá-los resulta ser mais prejudicial do que a verdade. Elisabeth desenvolveu um padrão de sofrimento e negação comparável com o da mãe. Ela não conta nada, mas fala “besteira” educada. Não teve filhos, e nesse caso há um padrão que implica duas gerações, impedindo que o bloqueio emocional repita-se mais uma vez.

 

Nora

No caso de Nora, no mínimo três gerações estão envolvidas. Essa mulher de aproximadamente 40 anos, casada, procura-me devido a sérios bloqueios no âmbito sexual, profissional e social. Ela é muito insegura em relação a sua profissão e seu papel como amante, esposa e mãe. Preocupa-se com o desenvolvimento de sua filha, que a ameaçou com uma faca. A comunicação entre elas é difícil e a relação é tensa. Nora é uma mãe dedicada, mas um pouco compulsiva, que sofreu uma depressão pós-parto não diagnosticada na época. Além disso, o bebê sofria de fortes cólicas intestinais e seguiu uma dieta rigorosa e limitada durante os primeiros cinco anos de vida.

Nora considera sua mãe invasiva e oferece vários exemplos disso. Ela não apenas quer determinar como a filha tem de se comportar, como também o que ela deve sentir. Acredita saber melhor do que Nora do que esta gosta, o que quer comer e quais são suas preferências. Ela detesta a mãe e não ousa tocá-la. Ficar em sua proximidade é uma tortura. No nascimento de sua filha, Nora não queria que sua mãe ficasse próxima. Para seus pais ela omite que esteja em análise. De fato, nunca conta nada para a mãe sobre sua vida pessoal, e teme constantemente seus comentários e críticas.

A família de Nora é protestante e nela predominam intensos preconceitos em relação a estranhos. Comportamento socialmente adaptado é importante para a mãe. Ela casa-se com um homem que não corresponde, de forma nenhuma, às exigências maternas. Sua falta de educação e seu desleixo agradam Nora. Ele representa tudo que ela, inconscientemente obediente à sua mãe, não consegue e não se atreve. O pai ocupa um lugar secundário em sua vida. Tal como o pai da Elisabeth, trata-se aqui também de um homem um tanto fraco e introvertido, que não se envolve com as decisões da mãe em relação à educação dos filhos.

Nora teme a filha desde seu nascimento. Ela tentava corresponder a cada capricho para evitar seu choro, que significaria ser ela uma mãe má. Às vezes tinha a sensação que sua mãe estava no berço. Ao mesmo tempo, adorava o bebê e desconhecia seu ódio também presente. Tinha a sensação de ser uma pessoa extremamente má, e o bebê um ser perfeito e maravilhoso. Ela acreditava que a criança era tão dotada, que devia aprender a ler e escrever antes de saber falar direto. Fazer sons ou falar com seu bebê, ela quase não fazia. O clima entre ambas era extremamente tenso. Apesar de ela sempre ter tentado ser diferente de sua mãe, parece comportar-se da mesma forma invasiva e restritiva em relação a sua filha. Para seu grande alívio, a relação com a filha obteve melhoras significativas durante a análise, conforme relatou posteriormente. A menina tornara-se mais aberta em relação a seus afetos, e menos defensiva em relação a sua mãe.

A paciente demonstra como a patologia pode ser passada através de três gerações na linhagem feminina. Elisabeth e Nora mantinham sentimentos positivos em relação ao pai, mas descobriram durante a análise que o vínculo com ele carecia de intimidade. O pai mantinha-se distante e era idealizado pela filha, como no caso de Electra. Ambas as mulheres odiavam a mãe e tentavam ser diferentes dela. A identificação com ela era freada e limitada.

O corpo como representação da figura materna internalizada raramente foi mencionado, e era vivenciado com desagrado. Apesar do fato de as mães considerarem que tinham um bom casamento e que eram boas mães, as filhas temiam qualquer semelhança. Nenhuma das mulheres demonstrou alguma indicação a respeito de mudança de objeto, da mãe para pai. De acordo com a vivência das filhas, o papel principal pertencia à mãe. Os homens com quem se relacionavam eram vivenciados como “objetos maternos”, porém, por serem homens, suficientemente diferentes de suas mães.

Elisabeth e Nora eram bloqueadas sexual e eroticamente, e nunca faziam referências a esse respeito. Palavras como pênis ou pinto jamais foram mencionadas. Em relação ao corpo, o próprio e do outro, existia um tabu, não se falava sobre esse assunto. A mãe internalizada, sua voz e sua crítica eram continuamente temidas, e para manter a integridade era necessário defender-se contra tais ataques.

A aparência de Elisabeth era assexuada, apesar de se vestir de modo impecável, sem ser, contudo, atraente. Nora era mais feminina em sua aparência, não totalmente desprovida de charme, mas não se sentia confortável em seu papel de amante; considerava-se feia e suja, e definitivamente não se sentia atraente. Elisabeth e Nora mostraram ser incapazes de libertar-se da figura materna internalizada.

 

Sigmund Freud e o complexo de Édipo feminino

A análise feita por Sigmund Freud de Dora, uma moça histérica de dezessete anos, levanta dúvidas a respeito da atribuição da causa de suas queixas ao complexo de Édipo. A respeito dessa questão, escreve a pesquisadora israelense Rachel Blass: “o deslocamento [da teoria do trauma] para o complexo de Édipo apenas poderia ser formulado com grande esforço. As questões que dificultaram o modelo edípico, quando Freud desistiu da teoria de sedução, até hoje não foram resolvidas”.

Até 1897 Freud acreditava que os traumas sexuais, como por exemplo o incesto, eram as únicas conseqüências da neurose. Após esse ano, ele considerava que a fantasia, a realidade interna, ocupava, no mínimo, a mesma importância que o mundo externo na constituição dos delírios e alucinações.

Freud partiu do pressuposto de que o complexo de Édipo de Dora – sua ligação forte com o pai – era a causa de seu sofrimento. Ela tinha uma relação ruim e ambivalente com a mãe e era muito apegada ao pai. Ele estava envolvido na relação com sua vizinha a Srª K., o que causava ciúmes em Dora. O vizinho, o Sr. K., por sua vez, aproximava-se de Dora, o que inspirava medo a ela. Seu quase estupro causou sentimentos de vingança na jovem. Seu desejo não estava dirigido para o Sr. K., mas para sua esposa, de quem ela procurava um amor maternal.

Dora foi encaminhada a Freud pelo pai, porque ele também não queria que ela atrapalhasse sua relação com a Srª K. O tratamento não foi bem sucedido. Freud não conseguiu entender essa jovem suficientemente. Ele visava à confirmação de sua teoria. Dora resistiu e abandonou o tratamento após três meses, o que foi atribuído por Freud a seus sentimentos de vingança em relação aos homens. Ele não estava totalmente enganado e a figura da histérica vingativa foi criada.

Após o confronto com Dora, Freud não publicou nenhum outro relato de análise, que visasse confirmar a existência do complexo de Édipo nas mulheres. Ele percebeu que outras questões tinham de ser consideradas, as quais não eram totalmente claras para ele.

No final de sua vida, Freud escreveu sobre a relação pré-edipiana prolongada da menina com sua mãe, atribuindo-lhe um papel mais importante, e o complexo de Édipo não foi mais mencionado. Antes disso publicou alguns estudos de caso sobre mulheres que não seguiam a norma do complexo de Édipo. Um desses casos tratava de homossexualidade e o outro de uma mulher com um delírio paranóide. Em ambos era justamente a mãe que ocupava um papel principal na mente da filha. Freud sabia muito bem da importância da mãe, mas isso o incomodava pelo fato de que, de acordo com sua teoria, o pai deveria ocupar um papel central para a filha ao invés da mãe.

A moça homossexual mantinha uma ligação erótica com uma mulher, após ter se sentido rejeitada pela mãe. No caso famoso de paranóia, é a mãe internalizada quem determina se a sexualidade com um homem é permitida. Isso remonta a Nora, que tinha a impressão de que sua mãe estava embaixo da cama quando namorava com o marido. Freqüentemente mulheres se referem à presença incômoda da mãe quando namoram. E freqüentemente também indicam a presença materna em algum lugar na minha sala de consultório.

A análise mais prolongada que Freud fez com uma mulher foi provavelmente com sua filha Anna. Podemos supor que a análise facilitou a manutenção do complexo de Édipo feminino. Ela era fortemente ligada ao pai, com um vínculo bem mais forte do que com sua mãe, a quem rejeitava. Isso estava aparentemente de acordo com o modelo edípico. As concepções de Freud com relação à feminilidade foram intensamente influenciadas pelo contato com sua filha. Seus artigos A feminilidade e A sexualidade feminina lembram a análise com Anna, comentada por ela mesma em várias ocasiões. Ela era uma mulher jovem e corajosa, que ousou fazer análise com o pai e revelar para ele suas fantasias secretas. Posteriormente comentou na correspondência com suas amigas íntimas sobre esse episódio em sua vida com uma franqueza admirável.

No artigo de Freud Bate-se numa criança, que parece em grande parte baseado nos problemas do masoquismo de Anna, as meninas escondem seu desejo edípico de apanhar do pai por meio de fantasias inconscientes de masturbação. O amor de uma filha para com sua mãe e seu vínculo com ela são apenas uma única vez mencionados nesse artigo. Por volta de 1925, Freud afirmava que meninas odeiam suas mães. A possibilidade do masoquismo nas mulheres estar relacionado com o vínculo materno não é considerado por Freud.

Posteriormente, em 1931, Freud concluiu que as mulheres freqüentemente não conseguem superar o vínculo materno. Ele reconheceu que essa descoberta representava uma ameaça para o complexo edípico – a pedra fundamental de sua teoria, e o núcleo da neurose. Em vez de rever a teoria e supor que as mulheres não teriam um complexo de Édipo, ou apresentariam um complexo diferente dos homens, ele formulou uma hipótese de ajuda, que dizia que a fase pré-edipiana nas mulheres estende-se por um período maior do que ele originalmente havia pensado. Por volta de cinco anos de idade a mãe é rejeitada e elas dirigem-se ao pai. O motivo da mudança de objeto é atribuído ao fato de que a mãe não poderá dar um pênis à filha, mas na fantasia da menina o pai poderá dar-lhe um filho. A mudança de objeto, que ocorre a partir da decepção da menina, restaura o complexo de Édipo como paradigma central para meninos e meninas.

Na análise de Anna, Freud deve ter tido oportunidade de confirmar sua visão a respeito da suposta mudança de objeto nas meninas, “que faz sucumbir o poderoso vínculo materno”. Essa análise, esse caso particular, ajudou-o a manter sua teoria.

Anna, a filha mais nova e não desejada da família Freud, sentiu-se negligenciada por sua mãe e profundamente decepcionada com ela. Em razão disso, ligou-se ao pai, a quem idealizava, como Electra, sem chegar a uma escolha heterossexual. Portanto, seu desenvolvimento não era de forma alguma um padrão do desenvolvimento da mulher. Ela compartilhou sua vida de adulta com Dorothy Tiffany-Burlingham – norte-americana, divorciada, filha de um milionário – e seus quatro filhos, alimentando uma fascinação por mulheres e mães durante toda sua vida.

Como em outros casos, a concepção freudiana em relação à mudança de objeto, como norma, levanta questões. A rejeição da mãe e da feminilidade não pode ser considerada normal, o que o caso da Anna demonstra. Sua análise, conforme suas próprias descrições, tratou intensamente da renúncia de suas fantasias masturbatórias de cunho masoquista clitoridiano. Ela também preocupava-se com sua fantasia de ser um homem. Temo que o tratamento de sua filha, conduzido por Freud, não apenas libertou-a das fantasias masoquistas, mas também da possibilidade de satisfação sexual. Seu desenvolvimento edípico, sua inclinação em direção aos homens, não podem ter causado uma impressão exemplar em Freud. Entretanto, a análise de Anna convenceu-o de que meninas trocam de objeto, implicando na rejeição da mãe e no amor pelo pai, e que elas trocam de zona de prazer: do clitóris para a vagina, a fim de se tornarem mulher. Isso está de acordo com a teoria que afirma ser o clitóris um órgão masculino e a vagina um órgão feminino.

Anna representou para Freud um exemplo de mulher que troca radicalmente de objeto, algo que a meu ver, a mulher “normal” não faz. Ela representou um percurso de desenvolvimento desviante: a rejeição da feminilidade e uma tentativa de desidentificação com a mãe para identificarse com o homem e tornar-se escudeira do pai. Quando Freud refere-se ao complexo de Édipo feminino, de forma nenhuma pretende que essa mudança de objeto radical seja o percurso esperado. Este não leva a ter um homem, mas de certo modo, a querer ser um homem. Evidentemente, trata-se do desenvolvimento homossexual.

De acordo com Freud, o bloqueio sexual faz parte do complexo de Édipo feminino. O caminho para alcançar a feminilidade, como descrito por ele, é tão complicado, que é difícil de entender como uma menina algum dia torna-se uma mulher heterossexual. Não surpreende que tenha sido difícil para Freud responder à questão “o que quer uma mulher?”. A não ser no caso de Anna, sua teoria edipiana exigia uma mudança de objeto maior do que ele pôde constatar, e em 1931 afinal ele admite isso. Reconhece que suas idéias em relação à mudança de objeto são baseadas em mulheres que têm uma intensa ligação paterna.

Afinal Freud concluiu que o complexo de Édipo negativo (o amor pelo genitor do mesmo sexo) formava o núcleo da neurose para as mulheres. Na relação pré-edipiana com a mãe encontra-se a semente da paranóia futura da mulher. De fato, o medo de ser assassinada e engolida pela mãe todo-poderosa não é nada raro.

 

Os problemas de Electra e mulheres como ela

Sigmund Freud admite que as afirmações a respeito do complexo de Édipo “aplicam-se de modo absolutamente estrito apenas à criança do sexo masculino”, mas determina, na seqüência, “que temos razão ao rejeitarmos a expressão ‘complexo de Electra’ (uma proposta de Jung), que procura dar ênfase à analogia entre a atitude dos dois sexos. É apenas na criança do sexo masculino que encontramos a fatídica combinação de amor por um dos pais, e simultaneamente ódio pelo outro como rival”. Aqui Freud demonstra sua pouca empatia para com as mulheres. A meu ver, o complexo de Electra descreve a combinação ainda mais fatídica na mulher – de amor e ódio pelo mesmo genitor: a mãe. Por causa disso, freqüentemente as meninas ficam enredadas em conflitos de ambivalência. Freud refere-se aqui ao fato de que o desenvolvimento masculino e feminino não segue um percurso paralelo. Nisso ele tinha razão. Em geral a menina não se afasta da mãe, mas se mantém ligada a ela de maneira ambivalente.

Freud segue: “o afastamento da mãe constitui um passo extremamente importante no curso do desenvolvimento de uma menina. Trata-se de algo mais do que uma simples mudança”; e continua um pouco depois: “o caminho para o desenvolvimento da feminilidade está agora aberto à menina, até onde não se ache restrito pelos remanescentes da ligação pré-edipiana à mãe, ligação que superou”. A questão se mantém: será que uma menina pode e deve superar a ligação com a mãe, como Freud supunha? Será que a atitude consciente de rejeição não revela uma ligação inconsciente à mãe? Além disso, a rejeição hostil, suposta por Freud, não se torna um fator promissor para o desenvolvimento da feminilidade, mas indica conflitos não elaborados com a mãe interna, em vez de mudança de objeto.

Independentemente da questão se a menina de fato afasta-se da mãe, é de se esperar que afetos negativos criem um vínculo mais intenso do que afetos positivos. O ódio prolongado e a decepção com a mãe conduzem a problemas. Esses problemas femininos são interpretados pelo mito de Electra.

 

A ligação materna

Em vez de trocar de objeto, a menina continua freqüentemente ligada ao primeiro objeto com sentimentos mistos. A ambivalência que começou na infância intensifica-se na adolescência, continua perceptível na mulher adulta e pode seguir até uma idade avançada. Ocorre que ela pode passar sua relação ambivalente com a mãe para a própria filha, como ilustra Nora. Para a menina, a separação não tem a mesma importância que para o menino, nem é condição necessária para a constituição da identidade sexual saudável, como no menino. Com freqüência a separação ocorre apenas parcialmente, sem que isso traga conseqüências negativas para o desenvolvimento da menina. Quando a separação não ocorre de forma alguma – ou ocorre de forma muito radical – o resultado será patológico. A esperança e o desejo de tornar-se uma unidade, que chamei de ilusão simbiótica em relação à mãe, é tão destrutivo quanto seu oposto – a raiva demonstrada por Electra.

O meio termo entre a aderência e a rejeição oferece as melhores chances para uma vida satisfatória. Certo grau de ambivalência parece inevitável, tendo como conseqüência que meninas não conseguem expressar com facilidade seus afetos hostis em relação à mãe, de quem elas sempre precisarão. Elas tendem a ter explosões silenciosas de raiva e fantasias assassinas secretas. Meninas tendem a reprimir sua agressão e preferivelmente dirigi-la a si mesmas mais do que a um outro, originando o masoquismo feminino.

A combinação de amor e ódio pelo mesmo genitor, como no caso da menina, é bem mais fatídica do que aquela que ocorre com o menino, que deseja um genitor e rivaliza com o outro. A menina sente-se freqüentemente ameaçada pela figura materna internalizada, porque teme vingança de sua parte. Ela ouve sua mãe dizer que ela não é boa ou que ela causa tristeza. Sua voz interna a persegue, e não raro a mulher, mesmo na maturidade, segue temendo a opinião da mãe. Por isso o masoquismo nas mulheres está muito mais ligado à mãe internalizada, e a seus conflitos conseqüentes, do que ao pai.

 

Guerra acerca do desenvolvimento feminino

De acordo com a teoria psicanalítica clássica, duas condições precisariam ser cumpridas para que a feminilidade pudesse ser alcançada. Em primeiro lugar, a menina teria de trocar de zona erógena: o lugar do prazer teria de mudar do clitóris para a vagina. Em segundo, ela teria de mudar o objeto de amor, da mãe para o pai. Com isso exigiu-se da menina que ela desistisse de duas fontes essenciais de satisfação para poder tornar-se mulher. De fato, ela devia desistir de sua masculinidade original, sua masturbação clitoridiana na fase fálica, para poder alcançar a verdadeira feminilidade.

De acordo com Freud, a menina era um homem pequeno antes de tornar-se mulher. Jeanne Lampl-de Groot, uma aluna holandesa, reforçou esta idéia. Em um artigo publicado em 1927 – elogiado por Freud no prefácio –, ela refere-se à fase fálica da menina. Formula a hipótese de que durante essa fase do desenvolvimento, a menina ama a mãe como se fosse um menino, querendo ocupar o lugar do marido. De fato, isso às vezes acontece.

Lembro-me de uma menina de cinco anos que vivia com sua mãe. O pai, com quem a mãe tinha tido uma relação de curta duração, e que não morava com ela, morreu antes do nascimento de Bárbara. A mãe era uma mulher vaidosa que estava inteiramente concentrada em si mesma e não tolerava outro adulto por perto. Ela dormia com a menina na mesma cama, apoiava-se nela e a considerava um prolongamento de sua pessoa. Bárbara fora encaminhada para terapia porque queria continuamente ver a foto do pai e também porque a mãe tinha de ler para ela todos os dias o conto de fadas A bela adormecida, como se o pai devesse ser ressuscitado para intervir entre ambas. A menina estava totalmente aderida à mãe e comportava-se como se fosse seu amante. Evidentemente, era um conluio que correspondia ao desejo da mãe. Esta configuração com filhas pode ocorrer, mas não é tão comum quanto Lampl-de Groot supunha.

A menina foi concebida por Freud como um pequeno homem, na medida em que só existe uma libido, a masculina. A travessia da fase fálica ocorre da mesma forma que para o menino, mas infelizmente com um órgão sexual de tamanho bem menor (clitóris). Para se tornar feminina, ela precisa submeter-se a uma castração psíquica, comparável à sua correspondente física – a qual ainda segue em uso em algumas culturas tradicionais. Ela deve desistir de qualquer satisfação e passar por uma metamorfose.

Do menino não se exige esse tipo de sacrifícios para alcançar a masculinidade – uma vez que ele é nascido e criado como homem. “A constituição (da mulher) não se adaptará à sua função sem uma luta”, escreve Sigmund Freud. De acordo com ele, a menina, por um lado, é mais bissexual do que o menino, mas por outro, menos feminina e não totalmente “natural”, como o menino: “a natureza tem em menor conta as suas exigências referentes a essa função, do que às da masculinidade”. O menino não precisa trocar de objeto de amor, mudar o foco de sua sexualidade ou mudar sua atitude masculina.

Pesquisas recentes demonstraram exaustivamente que essa concepção é em grande parte culturalmente determinada. E já nos tempos de Freud era evidente que a vagina carecia de condutores nervosos para permitir a transferência totalmente desnecessária de clitóris para vagina. A manutenção de sua posição deve-se a um preconceito secular sobre a genitália feminina como derivada da masculina.

Nos anos vinte do século passado iniciou-se entre os psicanalistas uma discussão intensa a respeito do desenvolvimento feminino. Uma das questões problematizava se na primeira fase de suas vidas ambos os sexos não eram femininos ao invés de masculinos, porque o menino inicialmente também identificava-se com sua mãe. Alguns pesquisadores supuseram a existência de uma feminilidade autêntica, primária. Desde então aceitou-se a opinião dos pioneiros que se opuseram a Freud. Conseqüentemente, não é a menina que inicia sua vida como menino, mas o menino que deve encontrar sua identidade de gênero através da desidentificação com sua mãe.

Na concepção de Freud a menina torna-se mulher apenas na puberdade, quando descobre a vagina e desiste totalmente do clitóris masculino. Atualmente, psicanalistas concordam que ambos os sexos desenvolvem, desde a primeira infância, não apenas uma identidade sexual masculina ou feminina e suas respectivas características de gênero, mas também devem ter um conhecimento inconsciente da vagina. A negação da existência da vagina por meninos pequenos, e às vezes também por homens grandes, representa um sinal de medo e defesa. O desejo de penetrar ou ser penetrada está no préconsciente da menina. É geralmente aceito que a menina possui sensações eróticas em sua genitália externa e interna, especialmente na vagina e clitóris.

Crianças pequenas preocupam-se pouco com o gênero. Elas simplesmente querem ter, ser e poder tudo – uma idéia de grandeza que tem de ser perdida com muita dor narcísica. Quando a criança, entre um e dois anos, descobre a diferença entre os sexos, isto não apenas representa um marco em seu desenvolvimento, mas também um golpe na auto-estima, um dano narcísico, seguido por uma fase passageira, em ambos os sexos, de inveja do pênis ou medo de que seja danificado. Se essas reações tornam-se permanentes ou muito intensas, elas são consideradas atualmente uma conseqüência de frustrações precoces (pré-genital – oral e anal), especificamente da menina em relação a sua mãe ou substituta. Uma fase fálica da menina, que se comporta como um menino, não foi confirmada em uma pesquisa extensiva. A fase edipiana negativa adotada por Jeanne Lampl-de Groot, e aclamada por Freud, também não foi confirmada.

O desejo por um filho não é mais considerado atualmente como substituto do desejo de um pênis, mas como um desejo autenticamente feminino. Atualmente o desejo de pênis não apenas tornou-se uma metáfora, mas também um conceito que sintetiza uma série de problemas ligados ao narcisismo e à auto-estima – na mulher adulta não é um dado imutável e inanalisável, como Freud formulou, mas um sintoma, um sinal que indica problemas e necessidade de tratamento.

Seguindo Freud – e teoreticamente elaborado pelo psicanalista francês Jacques Lacan – a psicanálise francesa usa o termo fallus como significante da ordem simbólica. Nessa fase de desenvolvimento, válida para ambos os sexos, o monismo fálico (a aceitação da existência de um único sexo) continua desempenhando um papel no inconsciente de ambos os sexos. O termo fallus não é usado para designar uma parte do corpo, mas como um símbolo. Este símbolo indica uma fase do desenvolvimento na qual nem todos os desejos podem ser realizados. O símbolo parece com as duas metades, os dois sexos, que de acordo com Platão, eram uma unicidade e que agora se procuram, porque cada um separadamente é incompleto.

A bissexualidade, já apresentada por Freud, parece ser nas meninas3 menos reprimida do que nos meninos, que necessitam renunciar à identificação e ao amor pela mãe para se tornarem homens. A meu ver, a bissexualidade da menina não é tanto uma conseqüência de sua suposta renúncia ao órgão masculino, o clitóris, mas deve-se mais ao desejo homossexual pelo objeto primário – um desejo que nem sempre, ou de forma completa, pode ser satisfeito por um homem.

A questão referente à mudança de objeto nas meninas terá uma resposta negativa. Se considerarmos que Sócrates e outros autores tinham razão a respeito de Electra, perceberemos que as mulheres com maior freqüência ocupam-se muito mais da relação de amor e ódio em relação à mãe do que do amor edipiano pelo pai. O pai, freqüentemente ausente e observado de longe, é desejado e idealizado tanto por Electra como pelas meninas contemporâneas. A imagem materna sempre está presente na menina, seja amada ou odiada, seja na realidade ou internamente. A mãe é acusada pelo fato de não ter sido um objeto de amor satisfatório e também pelo fato de atrapalhar a relação da menina com o pai. Isto leva a uma cisão: de um lado a mãe má que frustra e de outro lado a imagempaterna idealizada e boa. Por isso, Electra, como metáfora, parece ter uma maior aplicabilidade para os aspectos problemáticos do desenvolvimento feminino do que o mito de Édipo.

 

Mãe e filha presas entre atração e aversão

Como Édipo, Electra representa um extremo, uma perversão de uma fantasia comum. Uma menina pode movimentar-se entre dois pólos, ambos igualmente destrutivos e patológicos, sem trocar de objeto. Ela pode rejeitar seu primeiro objeto e rejeitar a mãe com ódio e horror para escapar da angústia de ser engolida por ela, com aconteceu com Electra.

Um exemplo dessa aversão. Eva, uma mulher jovem e instruída, procurou me pedindo que eu falasse com sua mãe, já que havia interrompido, por sua iniciativa, o relacionamento com a mesma. Apesar disso, ela percebeu por meio das minhas perguntas que de forma alguma tinha se libertado de sua mãe, e que seria melhor para ela se encontrasse a solução de seus problemas consigo mesma e não com a mãe. Chorou durante uma semana. Sentindo-se melhor, decidiu começar o tratamento comigo. Após alguns encontros, contou que costumava acordar todas as noites muito angustiada, mas que isso de repente não estava mais acontecendo. Aparentemente, o medo que sentia de sua mãe tinha diminuído após nossas conversas. Uma aversão manifesta, como no caso da Eva, geralmente é acompanhada por uma obsessão latente em relação a tudo que está ligado à mãe ou à maternidade.

Encontramos uma outra saída, não menos extrema, do dilema da filha quando mantém uma forte ligação simbiótica com a mãe. Tal ligação é freqüentemente passada de uma geração para outra, e ocorre com mães que não conseguiram libertar-se da própria ligação materna, e usam a filha como um prolongamento narcísico de si mesmas. Esta vinculação culmina freqüentemente em uma combinação de amor e ódio, passando a raiva pela mãe para a filha, com todos os sentimentos de culpa concomitantes. O espelhamento de mãe e filha pode criar a sensação de responsabilidade pelo bem-estar recíproco, e conseqüentemente também pela destruição.

Esses dois extremos – a rejeição da mãe ou a manutenção da ligação intensa com ela ou a alternância de ambas – divergem apenas aparentemente. Aquilo que no nível comportamental pode ser diferente, no nível intrapsíquico pode significar a mesma coisa. Nenhum dos dois extremos implica em uma troca de objeto, de mãe para pai.

 

Pais e filhas

A focalização na mãe não tira a forte atração erótica exercida pelo pai. Durante o primeiro ano de vida, bem mais cedo do que na concepção da teoria clássica, as meninas demonstram afetos libidinais pelo pai. Para escapar dos conflitos com a mãe, a menina procura o pai e o idealiza, o que pode parecer uma mudança de objeto. Como dito anteriormente, com freqüência ocorre uma cisão, no sentido de que o pai é o bondoso e a mãe a malvada. O pai tem que reparar aquilo que com a mãe falhou.

Uma outra função importante do pai é que ele pode servir, tanto para meninas como para meninos, como objeto de identificação, reconhecendo a necessidade de autonomia e identidade sexual da criança. Homens reconhecem seus próprios desejos geralmente com mais facilidade do que mulheres. Mas a menina mantém um problema com a agressão, oriundo da relação com a mãe. Quando ela se dirige ao pai, com o amor e o ódio que a caracteriza, ela teme prejudicá-lo. O sadismo que restou de sua luta oral e anal com a mãe pode involuntariamente afetar a relação com ele. Conseqüentemente, ela teme perder seu amor como o de sua mãe. Seus sentimentos de culpa a levarão novamente a bloquear seus impulsos agressivos.

A função do pai como aquele que reconhece a feminilidade da menina ganha na adolescência um impulso renovado. Por um lado ele valorizará sua feminilidade, mas por outro não poderá se tornar um sedutor, e a linha de separação entre ambas as atitudes é extremamente tênue. A menina necessita de sua atenção e de seu elogio para sentir-se valorizada como mulher. O pai pode compensar ou corrigir a relação com a mãe. Ele oferece uma segunda oportunidade, que, entretanto, pode terminar em uma frustração dupla com conseqüências negativas para a menina, sua auto-estima e a capacidade de manter relações objetais heterossexuais estáveis.

Geralmente a menina perdoa com maior facilidade o pai do que a mãe, cuja ligação é mais arcaica, como vimos no caso de Electra. Ela idealiza o pai, na esperança de que com ele finalmente o idílio, que fracassou com a mãe, possa se realizar. Na adolescência, a tendência de libertar-se do pai ocorre de forma mais intensa do que jamais aconteceu com a mãe. A sugestão de um vínculo erótico pode tornar-se angustiante tanto para ele, como para ela.

 

De filha para mulher

A mulher se cria a partir de sua própria imagem, e as conseqüências dessa circunstância são claramente reencontradas em seu desenvolvimento. A combinação explosiva de amor e ódio para um único genitor e a idealização do outro é perfeitamente reproduzida pelo mito de Electra. Neste caso a relação mãe-filha é focalizada – em oposição ao mito de Édipo, descoberto por Sigmund Freud como base para o desenvolvimento masculino.

Problemas emocionais como masoquismo, vaginismo, frigidez, medo de fusão e depressão pós-parto estão intimamente ligados com a imagem materna internalizada da mulher. A transmissão, através das gerações, de doença ou de saúde transcorre com maior facilidade pela linhagem feminina, o que pode representar tanto uma vantagem como também uma desvantagem4

Mulheres iniciam a vida com uma ligação homossexual com a mãe, seu primeiro objeto, com quem se sentem identificadas por serem do mesmo gênero, mantendo e renovando essa identificação durante as várias fases da vida. Para poderem separar-se, as meninas terão de saber administrar sua agressão, porque elas o farão de quem ainda continuarão necessitando. As mulheres freqüentemente terão de se movimentar entre o ódio, de um lado, e a ilusão simbiótica do outro, em relação à imagem materna.

Não é necessário que a separação ocorra de forma tão radical, porque a identidade sexual da mulher não está em jogo, como é o caso nos meninos. A rejeição da mãe e a mudança radical de objeto, conforme postulado pela teoria de Édipo, tornam-se, por este motivo, menos necessárias, não muito comuns e até pouco saudáveis. A conclusão de tudo isso pode ser que a heterossexualidade é acrescentada ao vinculo homossexual no sentido de que para a mulher a mãe representará seu ponto de referência durante toda sua vida.

 

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Endereço para correspondência
Hendrika Halberstadt-Freud
Van Eeghenstraat 105
1071 EZ Amsterdam

Susan MarkuschowerII
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E-mail: susanmark@uol.com.br

Recebido em 09/09/05
Aprovado em 24/09/05

 

 

Notas

IPsicanalista (Sociedade Holandesa).
IIPsicanalista (Instituto Sedes Sapientiae).
1O texto original “Elektra versus Oedipus” encontra-se em Elektra Het drama van de moederdochterrelatie (1997/2004), escrito em holandês, traduzido para o português por Susan Markuschower e cedido pela autora para publicação na Revista Psychê.
2Tanto o complexo de Édipo como o de Electra são reduções. O desenvolvimento da heterossexualidade e da homossexualidade apresentam uma variabilidade e complexidade tão grandes que não justificam generalizações no caso individual (Chodorow, 1992).
3Uma paciente que nunca conseguiu namorar com seu marido contou-me que costumava usar cuecas. Ela imediatamente reconheceu minha pergunta a respeito de sua dúvida entre ser homem ou mulher, preferindo ser ambos.
4A transmissão transgeracional de traumas é conhecida através da problemática de filhos de pais traumatizados durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua aplicação estende-se muito além desse grupo especifico. Ver, por exemplo, Adelman (1995) e Kogan (1995).