EDITORIAL

Notícias que nos chegaram recentemente de Brasília apontam para uma séria intenção por parte das autoridades de avaliarem, nos próximos semestres, as produções científicas segundo critérios qualitativos (e não tão somente segundo precauções burocráticas) o que implica uma avaliação das produções de revistas nacionais assim como livros, entre outras produções de docentes. Uma intenção necessária, bem vinda e louvável, porém indagamonos sobre a viabilidade de uma empreitada que insiste numa estratégia centralizada. Por que não recorrer a um método antigo e que tem funcionado extremamente bem há algumas décadas: o índice de citação. Sabemos que este tem sido aplicado sobre as produções nas áreas “duras” da ciência (Física, Química, Biologia, etc.). Naturalmente, nas áreas humanas a interlocução não se faz no mesmo plano como nas ciências naturais. Geralmente recorremos a autores de base, tal como Kant, Hegel, Freud etc. No entanto é possível utilizar-se de meios tecnológicos de comunicação disponíveis para avaliar o impacto e o uso das produções de nossos pares, seja em sua citação em livros e artigos, seja em trabalhos dos estudantes e candidatos de institutos de formação, tais como em TCC, monografias, simpósios, dissertações e teses, pois estes vêm sendo inseridos dentro de “pools” dos sistemas de registro, tais como os bancos de dados das bibliotecas conforme os pedidos da CAPES. A nosso ver é possível com uma ajuda técnica competente centralizar esses dados de forma a poder ter um quadro adequado daquilo que constitui o cerne dos propósitos da ciência: as interlocuções, debates e fruição mutua entre pares do mesmo campo de pesquisa. Registramos aqui a nossa posição.

Neste número da Psychê demos continuidade ao nosso projeto de resgatar para a língua portuguêsa trabalhos clássicos de nosso campo. Neste caso o trabalho de John C. Flügel sobre o valor afetivo das vestimentas, concedido gentilmente pelos nossos colaboradores de Belo Horizonte. Aproveitamos este contexto para solicitar aos nossos leitores engajados em grupos de estudos ou em sua pesquisa, em nos encaminhar artigos clássicos traduzidos por eles para suas finalidades e que podem ter interesse mais geral para os leitores brasileiros.

Este número da revista traz artigos em torno da feminilidade, da metapsicologia, de questões epistemológicas que lhe concernem assim como sobre a interface e interlocução entre psicanálise e estudo da linguagem e das afasias. Ademias, questionamentos clínicos deram nascimento a alguns artigos sobre a formação do analista, sua função e suas técnicas.

Daniel Delouya
Editor