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versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.12 n.23 São Paulo dez. 2008

 

ARTIGOS

 

Para uma abordagem estrutural da depressão: contribuições freudianas

 

The structural approach of depression: freudians contributions

 

 

Zeferino Rocha

Universidade Católica de Pernambuco
Círculo Psicanalítico de Pernambuco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do presente ensaio é oferecer uma contribuição para o estudo psicanalítico das diversas formas clínicas de depressão. Fazendo do conceito psicanalítico de estrutura um referencial metodológico fundamental, o autor ressalta, a partir de sua leitura do texto freudiano, os elementos-chave indispensáveis para a compreensão da psicogênese e do estatuto metapsicológico das principais formas clínicas de depressão, vale dizer, a depressão neurótica, a depressão melancólica e a depressão borderline.

Palavras-chave: Teoria psicanalítica, Estrutura psíquica, Depressão neurótica, Depressão melancólica, Depressão borderline.


ABSTRACT

The objective of the present essay is to bring a contribution for the psychoanalytic study of the several clinical forms of depression. Making the structure psychoanalytic concept a fundamental methodological reference, the author highlights, from his lecture of the freudian text, the indispensable key-elements for the psychogenetic comprehension and the metapsychological statute of the principal clinical forms of depression, that means, the neurotic depression, the melancholic depression and the borderline depression.

Keywords: Psychoanalytic theory, Psychic structure, Neurotic depression, Melancholic depression, Borderline depression.


 

 

Introdução

O que me proponho como objetivo, neste ensaio, é oferecer, à luz da psicopatologia freudiana, uma contribuição para o estudo teórico-clínico da depressão. Freud não fez um estudo sistemático das diversas manifestações clínicas do fenômeno depressivo, vale dizer, ele não elaborou, de forma sistemática, uma explicação metapsicológica dos fenômenos depressivos. As inúmeras referências aos sintomas depressivos encontram-se disseminadas em sua obra, nos contextos clínicos e doutrinários os mais diversos. Desde as mais simples formas de depressão, como por exemplo, a depressão companheira inseparável de nosso existir no tempo, causada pela dor de nossos limites, ou aquela que acompanha o trabalho normal do luto, até a depressão melancólica, que já se situa no registro patológico das psicoses, ou a depressão dos chamados estados-limite, o fenômeno depressivo, na perspectiva psicanalítica freudiana, é o resultado de um processo psíquico de natureza tópica, dinâmica e econômica, cujos elementos variam de conformidade com a estrutura psíquica a que o fenômeno depressivo pertence.

Entre as diversas formas clínicas da depressão, a Melancolia foi, seguramente, aquela que mais chamou a atenção de Freud, e se tornou objeto de um importante estudo metapsicológico, escrito em 1915 e publicado em 1917, com o título: Luto e melancolia [Trauer und Melancholie] (Freud, 1917). É digno de nota que apesar de vivermos em um contexto sociocultural inteiramente diferente, este artigo sobre a dinâmica inconsciente da melancolia conserve intactas, ainda hoje, tanto sua atualidade quanto sua relevância metapsicológica.

Alguns estudiosos da depressão, como Ehrenberg (1998), acreditam que a nova realidade cultural de nosso mundo contemporâneo (na qual não mais predomina um "modelo disciplinar", como acontecia na sociedade vienense do tempo de Freud, mas um "modelo de insuficiência"), impõe uma leitura diferente do processo depressivo em geral, e do processo melancólico em particular. No caso da melancolia, que segundo o modelo freudiano, exprimia-se pelas violentas auto-acusações motivadas pelo sentimento de culpa, agora, nesse novo modelo civilizatório, no lugar da culpa derivada do interdito aparecem a vergonha e a falta de iniciativa, substituindo a dor moral pela apatia e pelo vazio depressivo. A questão, porém, que permanece aberta é a de saber se esses modelos são exclusivos ou, se apesar de diferentes, eles não se relacionam mutuamente e se complementam. Pessoalmente, inclino-me para esta segunda alternativa.

Sobre as outras formas clínicas de depressão, como já foi dito, Freud infelizmente não nos deixou um estudo sistemático, como fez com a Melancolia, mas em sua obra podemos encontrar os elementos-chave indispensáveis para a reconstrução da gênese e do estatuto metapsicológico dessas outras formas clínicas depressivas, como a depressão neurótica e a depressão-limite1.

 

Procedimento metodológico

Para tanto, necessário se faz determinar um procedimento metodológico, que nos permita focalizar o essencial da abordagem psicanalítica da depressão, sem nos perdemos nos labirintos das classificações nosológicas ou das descrições nosográficas, e tampouco contentarmo-nos com as apresentações simplistas dos trabalhos de divulgação. Acreditamos poder evitar esses dois obstáculos, escolhendo como ponto de referência metodológicoaquilo que se convencionou chamar, na psicopatologia psicanalítica, de abordagem estrutural.

Assim sendo, vamos descrever, à luz da metapsicologia freudiana, as principais formas clínicas da depressão, tentando articulá-las com suas respectivas estruturas clínicas – vale dizer, a estrutura neurótica, a estrutura psicótica e a estrutura, ou organização dinâmica, dos chamados estados-limite ou da personalidade borderline.

Segundo nosso modo de ver, esta ênfase dada à estrutura é uma das características fundamentais da própria psicopatologia freudiana. Freud, muito antes da moda estruturalista, ressaltou a importância da "estrutura psíquica" em um texto escrito em 1933, que se poderia dizer um texto-síntese de tudo o que ele escreveu anteriormente sobre a personalidade psíquica (Freud 1933). Sua psicopatologia não se contenta com o estudo dos sintomas, por mais importante que este possa ser. Pierre Fedida, em um excelente estudo sobre "os benefícios da depressão", lembra-nos que é mergulhando na sabedoria do sintoma que apreenderemos a inteligibilidade da estrutura (Fedida, 2002). De fato, se não nos esquecermos de que os sintomas, mais do que rememorar ou revelar um "fato objetivo", escondem um "sentido", então mais facilmente entenderemos que aquilo que sustenta a linguagem dos sintomas e impede que ela se dilua na banalidade das "palavras vazias" é precisamentesua relação dinâmica tanto com a estrutura psíquica que lhes é subjacente, quanto com a história da vida particular de cada indivíduo e da singularidade de seu sofrimento psíquico. Desse modo, estamos acenando para um dado importante no estudo psicanalítico das estruturas psíquicas, vale dizer, elas não anulam a história individual, nem a singularidade própria do sofrimento psíquico daqueles que nelas se inserem, ou dito de um modo ainda mais simples, a estrutura não anula a história individual de cada um, pois ela é também constituída por essa história.

Influenciado pelo estruturalismo, e tendo como referência o modelo lingüístico que marcou toda sua releitura do texto freudiano, Lacan contribuiu significativamente para a abordagem estrutural no campo da pesquisa psicanalítica. Todavia, no presente trabalho não utilizaremos a perspectiva lacaniana, pois queremos limitar nosso ensaio ao texto de Freud, embora reconhecendo que sendo o aparelho psíquico atravessado pela linguagem, o fato de a estrutura ter sido introduzida no campo da linguagem muito contribui para desfazer aquela idéia de estrutura (possivelmente criada por causa das abordagens psiquiátrica e psicológica), concebida como algo rígido e estático, que como um todo, define aprioristicamente a singularidade e as particularidades de suas respectivas partes. Na perspectiva psicanalítica, estrutura e história mutuamente se inter-relacionam, na medida em que a estrutura é marcada pelos elementos diferenciais, que mutuamente se determinam uns aos outros no desenrolar da história de cada um, e ao se determinarem, determinam também a estrutura em sua totalidade (Fortes, 2006).

 

A estrutura psíquica

Freud comparou a estrutura psíquica à estrutura de um corpo químico cristalizado. É verdade que as analogias sempre claudicam, pois nelas as dessemelhanças sobrepõem-se às semelhanças. Apesar disso, a comparação analógica entre a estrutura psíquica e a de um cristal é sugestiva e esclarecedora. De fato, as linhas e os traçados que definem a configuração dos cristais não são visíveis a olho nu. Somente quando o cristal se quebra, elas podem ser vistas; e quando se quebra, o cristal não se quebra de qualquer maneira, mas segundo o traçado das linhas que o estruturam e configuram. O mesmo, diz Freud, acontece com a estrutura psíquica:

Se atiramos um cristal ao chão, ele se quebra, mas não ao acaso. Ele se quebra, em pedaços, segundo suas linhas de clivagem, cuja delimitação, embora invisível, estava predeterminada pela estrutura do cristal. Os doentes mentais são também estruturas partidas e divididas desta natureza. [Wenn wir einen Kristall zu Boden werfen, zerbricht er, aber nicht willkürlich; er zerfällt dabei nach seinen Spaltrichtungen in Stücke deren Abgrenzung, obwohl unsichtibar, doch durch die Struktur des Kristalls vorherbestimmt war. Solche rissige und gesprungene Strukturen sind auch die Geisteskranken] (Freud, 1933, p. 497).

Portanto, embora não se detendo para fazer um estudo mais minucioso da estrutura psíquica, Freud a ela explicitamente se refere no texto supracitado e a concebe como sendo constituída por uma série de linhas, oriundas tanto das disposições constitucionais quanto da história particular de cada indivíduo. De modo semelhante ao que acontece no cristal, essas linhas também não são visíveis a olho nu, pois só se manifestam quando vivências traumáticas especiais desestruturam a personalidade psíquica. As linhas da estruturação psíquica são aquelas que se relacionam com os processos de constituição e formação do Eu, bem como com o processo do desenvolvimento da libido e das relações do Eu com os objetos, tanto do mundo exterior quanto do mundo interior, mediante as quais a subjetividade humana se constitui. Por causa dessa relação com os objetos exteriores, é decisiva a influência do meio-ambiente e da cultura na formação da subjetividade. Freud não a menosprezou, embora tenha dado, em sua psicopatologia, maior destaque aos processos intrapsíquicos.

Jean Laplanche destaca ainda, como pontos nodais de referência na configuração do quadro das estruturas clínicas, o campo tópico, a referência genético-dinâmica e os fatores econômicos, mediante os quais se organiza a subjetividade. O ponto de vista dinâmico é um resumo dos demais, porquanto destaca o conflito defensivo no que ele tem de particular em cada tipo nosológico (Laplanche, 1973). Assim sendo, não será difícil compreender como os sintomas do fenômeno depressivo (geralmente expressos por meio do sentimento do vazio e da tristeza, das quedas de humor, das inibições físicas e psíquicas, da perda da auto-estima, das auto-acusações e auto-repreensões), adquirem uma significação diferente quando articulados a uma estrutura neurótica, psicótica ou a uma organização borderline. É o que vamos tentar mostrar em seguida.

 

A estrutura neurótica

Recordemos brevemente os elementos de base que se inter-relacionam para formar a estrutura neurótica. Nela não aconteceram perturbações graves no processo de constituição nem do ego como instância psíquica, nem do Eu como sujeito, nem fixações ou regressões graves no desenvolvimento da libido capazes de impedir o acesso do indivíduo à experiência estruturante do Édipo2. Todavia, se o neurótico tem livre acesso às vivências edipianas, daí não se segue que ele sempre encontre respostas adequadas para a resolução desse conflito, que para Freud, é o conflito nodal das neuroses [der Kerncomplex der Neurosen]. Diz ele:

A todo ser humano que nasce é atribuída a tarefa de superar o Complexo de Édipo. Quem não tem êxito nesta tarefa cai na neurose. [Jedem menschlichen Neuankömmling ist die Aufgabe gestellt, den Ödipus-komplex zu bewältigen. Wer es nicht zustande bringt, ist der Neurose verfallen] (Freud,1905, p.129, n. 2).

O fato de ter tido acesso à triangulação estruturante do Édipo explica que o neurótico é capaz de estabelecer relações objetais. Sua libido originariamente investida no ego pode ser também investida nos objetos. Por isso, a impossibilidade de investimentos objetais propriamente ditos representa um grande obstáculo para uma boa integração e estruturação da vida psíquica. De fato, se por um lado os investimentos narcísicos de auto-estima são fundamentais para a estruturação do Eu e da vida psíquica em geral, de outro, como adverte explicitamente Freud: "deve-se começar a amar para não adoecer, e deve-se adoecer quando, em conseqüência da frustração, não se pode amar [Man muß beginnen zu lieben, um nicht krank zu werden und muß erkranken, wenn man infolge von Versagung nicht lieben kann]." (Freud, 1914, p. 52).

É certo que o neurótico, para se defender do peso insuportável que por vezes representa a realidade do mundo exterior, freqüentemente se refugia no mundo das fantasias. Mas ele não faz da fantasia a realidade, nem esquece o caminho que pode trazê-lo de volta, do mundo da fantasia ao mundo da realidade exterior. Portanto, seu conflito é fundamentalmente um conflito entre as instâncias psíquicas do ego e do Id. Ele sacrifica as exigências do Id para atender às solicitações do Superego e às exigências da realidade (Freud, 1924, p. 333).

Para Freud, a angústia típica da estrutura neurótica é a angústia da castração, indissoluvelmente unida ao Complexo de Édipo. Ela tem uma natureza diferente da angústia de fragmentação, ou de aniquilamento, típica da estrutura psicótica. Tendo presente este quadro de referências, vejamos agora como descrever, em suas linhas essenciais, a gênese e a significação econômica da depressão neurótica.

 

A depressão neurótica

Há quem designe a depressão neurótica como uma forma de "reação" aos fatores exógenos, seja do ambiente em que se encontra o indivíduo, seja de um modo geral da cultura em que ele se insere, diferenciando-a, assim, da depressão melancólica, que sempre foi considerada como uma depressão endógena. Qualquer que seja o valor desta distinção - pois não se pode esquecer que o distúrbio neurótico é mais do que um distúrbio reativo, uma vez que é sempre a expressão simbólica de um conflito intrapsíquico -, não se pode deixar de reconhecer que as crises de depressão neurótica de fato estão relacionadas às vivências traumatizantes causadas pelas frustrações afetivas, pelo medo do abandono e pelas experiências dolorosas da perda e da falta.

Essas vivências de frustração desencadeiam um processo psíquico, tanto no plano dinâmico, quanto econômico, nos quais se articulam a frustração [die Versagung], a atitude agressiva, o sentimento de culpa e o medo de perder o amor e a estima dos outros, particularmente dos pais. Portanto, a depressão que se caracteriza como um distúrbio reativo às vivências de frustração, de perda e de abandono, só se torna uma depressão neurótica por causa da estrutura neurótica que lhe é subjacente. Daí porque diante das mesmas vivências de frustração, nem todos reagem do mesmo modo. Uma pessoa constitucionalmente predisposta à neurose fica mais susceptível aos efeitos patogênicos dos traumas e das frustrações. A depressão histérica pode, na linguagem de seus sintomas, assemelhar-se a uma depressão melancólica, mas nem por isso faz da histeria uma psicose. O mesmo poderia ser dito, se comparássemos os sintomas típicos de uma depressão borderline e de umadepressão melancólica ou esquizofrênica (Kimura,1998).

Articulado à estrutura neurótica, o sintoma da depressão encontra-se nos quadros clínicos das diversas formas de neurose, especialmente na Histeria de Conversão. Todavia, tanto nas fobias quanto nas neuroses obsessivas, a depressão é um estado muito freqüente, principalmente quando associada ao medo, à agressividade e à culpa. Exatamente porque lidamos, na depressão neurótica, com um sujeito que, não obstante sua imaturidade afetiva, tem um Eu que não sofreu grandes distúrbios no processo de sua constituição, e uma libido organizada sob o primado da genitalidade (para usar a expressão de Freud), as crises depressivas, nas neuroses, nunca adquirem a gravidade das depressões dos estados-limite, nem das depressões psicóticas. Assim, por exemplo, as tentativas de suicídio, no quadro depressivo neurótico, conservam as marcas das reações às dificuldades relativas às necessidades vitais e às frustrações da vida afetiva, ou então, como nas histerias, são encenadas, de modo teatral, para chamar a atenção do objeto de amor, do qual se teme a experiência do abandono. É verdade que a chantagem afetiva às vezes pode ter um resultado desastroso, e o suicídio, que na verdade não era verdadeiramente intencionado, pode acontecer. Mas daí não se segue que, nesses casos, o suicídio tenha a mesma significação do suicídio do melancólico. Porquanto, neste último caso, entra em ação o trabalho destruidor da pulsão de morte, expresso no ódio com o qual o Superego procura destruir o Ego.

 

A estrutura e a depressão melancólicas

O melhor que poderíamos fazer para resumir o essencial do que Freud escreveu sobre a depressão melancólica é analisar seu texto de 1917: Trauer und Melancholie. Mas antes vamos recordar brevemente os elementos-chave constituintes da estrutura psicótica. Neste contexto, será mais fácil entender o discurso freudiano sobre a Melancolia. Para Freud, a psicose é um conflito psíquico entre o Ego e a realidade do mundo exterior, entre o Ego e o Mundo. Se na estrutura neurótica o Ego sacrifica as exigências do Id por causa das críticas do Superego e das imposições da realidade exterior, na psicose ele sacrifica a realidade do mundo exterior para satisfazer às exigências do Id. Dizendo-o com as palavras de Freud:

A neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o seu id, a psicose, porém, é o desfecho análogo de um distúrbio desta natureza nas relações entre o ego e o mundo exterior. [Die Neurose sei der Erfolg eines Konflits zwischen dem Ich und seinem Es, die Psychose aber, der analogue Ausgang einer solchen Störung in den Beziehungen zwischen Ich und Aussenwelt] (Freud, 1924, p. 333).

Daí a célebre noção de rejeição [Verwerfung], que Lacan traduziu por Forclusion, e que sem dúvida é o mecanismo de defesa principal da psicose. Rejeição da realidade e sua ulterior reconstrução mediante os delírios – estes são, para Freud, os dois momentos principais do processo psicótico.

A impossibilidade do psicótico de poder fazer investimentos objetais no mundo da realidade exterior é, por sua vez, a conseqüência de perturbações muito precoces, que tiveram séria influência sobre o processo da constituição do sujeito. O ego do psicótico perde-se na indiferenciação da relação primária fusional, e fica para sempre prisioneiro do imaginário de sua mãe. Phallus imaginário, ele é um complemento ilusório da completude também ilusória de uma "mãe fálica", que não pode assumir a castração simbólica, e por conseguinte, ficará para sempre prisioneira do registro imaginário.

Dentro desse contexto, vejamos o que Freud diz a respeito da estrutura melancólica. Logo no início do artigo sobre Luto e melancolia, ele diz que seu propósito é estudar a dinâmica inconsciente do processo melancólico, a partir de um certo número de casos, cuja natureza psicogênica está fora de dúvida. Feita esta ressalva metodológica preliminar, ele começa comparando a melancolia ao luto. Esta comparação é sugestiva e ao mesmo tempo inquietante. Freud quer explicar a depressão patológica da melancolia, e começa fazendo uma comparação desta com a depressão normal do luto. Por quê? Será porque o patológico, habitando o inconsciente de cada um de nós, não se diferencia do normal? Ou será porque, para ele, a diferença entre o normal e o patológico não é qualitativa, mas puramente quantitativa? De qualquer modo e qualquer que seja o valor dessa abordagem comparativa, não se pode negar que existe uma analogia (dessemelhança na semelhança e semelhança na dessemelhança) entre o trabalho do luto e o trabalho da melancolia.

 

Trabalho do luto

No trabalho do luto encontram-se muitos dos elementos que compõem o quadro clínico da melancolia. Temos, por exemplo, a perda do objeto que foi investido com a libido do ego, a perda do objeto de amor, o estado de espírito doloroso que sempre acompanha a experiência de perda, a conseqüente perda de interesse pelo mundo exterior, na medida em que ele não lembra o objeto perdido, a perda temporária da capacidade de escolher um novo objeto de amor, a inibição motora e psíquica que exprime uma limitação do próprio Ego, todos esses elementos, que são momentos do trabalho do luto, encontram-se também na Melancolia, de um modo muito mais intenso.

No entanto, a diferença entre os trabalhos do luto e da melancolia não é apenas quantitativa. No momento em que esses elementos são relacionados aos elementos estruturantes, que estão na base tanto do trabalho do luto quanto do trabalho da melancolia, a significação de cada um deles adquire uma dimensão especificamente diferente. Depois, o trabalho de luto só pode ser considerado como uma "depressão normal" quando é limitado no tempo. Se o luto prolonga-se por um tempo demasiadamente longo, ele se torna uma vivência patológica, e se manifestará sob a forma seja do luto patológico dos neuróticos, seja sob a forma da melancolia, dependendo da estrutura psíquica daquele que faz o trabalho do luto.

Já sabemos que toda analogia tem, além dos elementos semelhantes, elementos de dessemelhança. Mais ainda: na analogia são os elementos dessemelhantes que são antes de tudo destacados. O mesmo acontece com a analogia entre o luto e a melancolia. No luto, diz Freud, o sentimento de auto-estima não é perturbado e temos consciência do objeto perdido. Na melancolia, mesmo quando o doente sabe quem perdeu, não sabe o que nele perdeu [er zwar weiss wen, aber nicht, was er an ihm verloren hat] (Freud, 1917, p. 199-200). No trabalho do luto, o Ego está absorvido pelas lembranças do morto e tem que se submeter ao veredicto da realidade, vale dizer, a tomada de consciência de que o morto se foi para nunca mais voltar. Na melancolia, não se pode ver com clareza "o que absorve tão profundamente os doentes [was die Kranken so vollständig absorbiert]". No luto, a inibição do ego e o conseqüente isolamento do indivíduo têm um sentido: quem faz o trabalho do luto precisa submeter-se às exigências da realidade, e isto não é possível sem uma grande quantidade de tempo e de dispêndio de energia. De fato, trata-se de um desprendimento libidinal, e levando em conta "a viscosidade da libido", este trabalho exige muito tempo. Ninguém desata facilmente os laços feitos, desfeitos e várias vezes refeitos nas vicissitudes das experiências amorosas. No trabalho do luto, esses laços devem ser pacientemente desatados, e somente quando tiverem sido desfeitos, será novamente possível utilizar a capacidade de investimento libidinal para novos laços afetivos e para novos investimentos amorosos. Somente quando se operar a "solução' [Lösung], vale dizer, a resolução desses laços, tornar-se-á possível uma "substituição"[Ablösung] do objeto de amor, do qual se pranteia a lembrança no luto. Não é sem razão, portanto, que para Freud, as palavras Lösung e Ablösung resumem o essencial do trabalho do luto.

Inteiramente diferente é o trabalho da melancolia em relação ao objeto de amor. Sem dúvida, nela também existe a perda de um objeto, mas o trabalho de elaboração desta perda é muito mais complexo, porque se, como diz Freud, a perda do objeto de amor no luto é uma "perda consciente", na melancolia ela é inteiramente inconsciente, pois é inconsciente a relação que o melancólico tem com seu objeto de amor, sobretudo no que se refere à dimensão narcísica e ambivalente desse relacionamento. Finalmente, no luto, o mundo torna-se vazio e pobre. Na melancolia, é o ego que se torna pobre e vazio. Na sugestiva expressão de Freud: a sombra do objeto caiu sobre o ego [Der Schatten des Objekts fiel so auf das Ich] (Freud, 1917, p. 203). Não é de estranhar que tudo se torne, então, triste e escuro, se o ego mergulha, assim, na sombra do objeto. Dir-se-ia uma eclipse da alma.

 

O trabalho do melancólico

Pois bem, valendo-se da analogia com o luto, Freud descreve o processo melancólico. Este começa com a perda de um objeto de amor, embora o melancólico não tenha consciência do que verdadeiramente perdeu. O esvaziamento do ego, que vai muito além da inibição do luto normal, pode levar o melancólico a um verdadeiro delírio de inferioridade. No entanto, não existe correspondência alguma entre a auto-depreciação do melancólico e sua justificação real. O melancólico, ao proclamar sua culpa e sua indignidade, manifesta não o peso do remorso, mas antes um enigmático gozo, e encontra, como diz Freud, uma certa satisfação em se expor, assim, inteiramente nu à crítica dos outros. Este surpreendente exibicionismo abre uma perspectiva de suma importância para a dinâmica inconsciente do processo da melancolia, ou seja, a dimensão narcisista do vínculo que une o melancólico a seu objeto de amor. Freud sublinha esta contradição: de um lado, temos a atitude de desprezo, de aversão moral e de acusação, que o melancólico manifesta em relação a sua pessoa; de outro, existe certo gozo em proclamar, assim, sua indignidade. Foi analisando esta contradição que ele fez a grande descoberta clínica: no contexto dinâmico das motivações inconscientes do melancólico, "suas queixas [Ihre Klagen] são acusações [sind Anklagen.]" (Freud, 1917, p. 202). Essas acusações, dirigidas contra sua própria pessoa, destinam-se, na verdade, ao objeto de seu amor, ao qual ele se vinculara de modo profundamente ambivalente. Posto isto, é fácil mostrar a seqüência dinâmica do processo melancólico.

 

Dinâmica do processo melancólico

Inicialmente temos uma relação objetal muito frágil e ambivalente. Desde que essa relação é rompida, seja por causa de um distúrbio real, seja por causa de uma decepção mais profunda, a libido, ao invés de ser investida em um outro objeto, é deslocada para o Eu e fundamenta, por meio de uma regressão narcísica, a identificação do Eu com o objeto de amor perdido e abandonado. O processo, portanto, começa com o luto pela perda do objeto, e termina em um processo de identificação narcísica, no qual o Eu passa a se tratar como tratava o objeto. Pode-se ver, nessa identificação com o objeto, a tentativa, quase mágica, de que se serve o melancólico para recuperar seu objeto de amor perdido. Freud vai mais além e diz que o objeto é recuperado e devorado, segundo o modelo profundamente ambivalente da identificação canibal, ou seja, da identificação por incorporação oral. Nele, se o objeto é incorporado para ser conservado e salvaguardado no interior do sujeito, ao ser assim conservado, ele é também destruído. É a partir desta forma de identificação, na qual prevalece a ambivalência do sadismo oral, que entra em cena a pulsão de morte na vida do melancólico (Fedida, 1999).

 

Melancolia e pulsão de morte

A perda do objeto desencadeia a "desunião das pulsões' [die Triebentmischung] de amor e ódio, que caracteriza a relação ambivalente do melancólico com seu objeto de amor. De um modo geral, toda perda, por mais justificada que seja, inscreve-se no inconsciente como uma vivência de abandono e, por conseguinte, como uma vivência de frustração. Ora, toda frustração gera certa agressividade contra a pessoa que provoca a frustração. Já se disse que simbolicamente, durante o trabalho de luto, "mata-se o morto uma segunda vez." (Lagache, 1938, p. 695). Por isso, no luto patológico o sentimento de culpa é tão grande que o sujeito se sente responsável pela morte do morto. Na melancolia, esta ambivalência atinge seu ponto máximo. Laplanche esclarece que na relação consciente do melancólico com seu objeto de amor, é o lado bom do objeto que prevalece. Quando esta se rompe, o lado mau do objeto introjetado passa a dominar a relação (1980, p. 326).

 

O suicídio do melancólico

Neste contexto, compreende-se melhor a tendência do melancólico ao suicídio. É nele que se consuma o assassinato daquele "objeto mau" com que o melancólico se identifica. Freud diz explicitamente:

O ego somente pode se matar quando ele, mediante o retorno do investimento do objeto, pode tratar a si próprio como um objeto, quando ele permite dirigir contra si próprio a hostilidade que visa a um objeto, e esta representa a reação originária do ego contra os objetos do mundo exterior [Das Ich sich nur dann töten kann, wenn es durch die Rückkehr des Objektbesetzung, sich selbst wie ein Objekt behandeln kann, wenn es die Feindseligkeit gegen sich richten darf, die einem Objekt gilt und die die ursprüngliche Reaktion des Ichs gegen Objekte der Außenwelt vertritt] (Freud, 1917, p. 206).

Detenhamo-nos um pouco mais sobre essa tendência suicida do melancólico, pois ela levanta uma questão que parece fundamental para definir o conflito que está na base da melancolia. Laplanche formulou com exatidão a pergunta nos seguintes termos: "quem persegue quem na tópica do melancólico?". A esta pergunta pode-se responder: é a instância crítica e acusadora do Superego que persegue o Ego. Depois da identificação deste com o lado mau do objeto, o Superego o trata da mesma maneira como o Ego tratava o objeto. Esta a razão pela qual Freud faz da melancolia, como uma neurose narcísica, um conflito do Ego com o Superego:

Podemos, por enquanto, postular que tem de haver também doenças que se baseiam em um conflito entre o ego e o superego. A análise nos dá o direito de supor que a melancolia é um exemplo típico deste grupo, e reservaríamos o nome de "psiconeuroses narcísicas" para distúrbios desse tipo [Wir können aber vorläufig postulieren, es muss auch Affektionen geben denen ein Konflikt zwischen Ich und Über-Ich zugrund liegt. Die analyse gibt uns ein Recht anzunehmen, dass die Melancholie ein Muster dieser Gruppe ist, würden wir für solchen Störungen den Namen "narzisstische Psychoneurosen" in Auspruch nehmen] (1924, p. 336).

O Superego perseguidor trata o Ego do melancólico de um modo verdadeiramente cruel e sádico. O que alimenta esta crueldade do Superego é o fato de ela ser marcada pelo jogo da "união" e "desunião das pulsões" [Triebmischung – Triebentmischung], e desse modo, alimentada pela força destrutiva do Id. Que isto nos baste sobre a depressão tal como ela se manifesta na melancolia psicótica. Vejamos, agora, o que a psicanálise freudiana nos diz sobre a depressão borderline.

 

Estrutura e depressão borderline

Freud não fez estudo teórico ou clínico sobre a depressão borderline. Tampouco reservou, em seus escritos psicopatológicos, um lugar especial aos chamados casos-limite ou estados-limite. Mas sua Metapsicologia oferece "modelos teóricos" para uma compreensão psicanalítica daqueles distúrbios da vida psíquica, quando esta é abalada pela violência dos traumas e pela questão dos limites. Explorar e desenvolver tais modelos tem sido o desafio com que se defrontam os teóricos da Metapsicologia e da Clínica psicanalítica em nossos dias. Lembrarei apenas os que me são mais conhecidos. Na França, André Green (1988), Jean Bergeret (1974 e 1985) e Paul Laurent Assoun (1996); na psicanálise anglo-saxônica, Otto Kernberg (1976 e 1985); e entre nós, Luís Cláudio Figueiredo (2003) e Marta Rezende Cardoso (2004).

Coerentes com o que escolhemos como referência metodológica, pensamos que a depressão borderline distingue-se tanto da depressão neurótica quanto da depressão psicótica por causa da estrutura ou da organização psíquica em que se insere. Esta se situa entre a estrutura neurótica e a psicótica, o que torna mais difícil o trabalho de lhe definir o estatuto metapsicológico. E antes de mais nada, poder-se-ia perguntar: nesses casos, trata-se de uma estrutura propriamente dita ou de uma organização psíquica especial composta de elementos que também se encontram em outras estruturas? A pergunta é pertinente porque existem teóricos, para os quais não se deveria falar de uma verdadeira estrutura nos estados-limite, pois a personalidade borderline teria uma organização psíquica cuja singularidade é precisamente a falta de uma verdadeira estruturação psíquica (Bergeret, 1979). Tratar-se-ia, portanto, de uma nova forma de organização com elementos que se encontram em outras estruturas.

Todavia, outros teóricos defendem uma singularidade estrutural para os chamados estados-limite. Para Kernberg (1976), a personalidade borderline caracteriza-se por uma dinâmica extremamente instável, avanços e recuos, oscilações dos sentimentos de amor e ódio, entusiasmo e desânimo, que revelam as duas grandes angústias de abandono e de invasão, típicas da depressão borderline. As principais defesas do borderline são as cisões e a identificação projetiva. Por falta de fronteiras bem investidas, as realidades externa e interna perdem sua consistência. Ora, para que se possa constituir o senso da realidade é preciso que as barreiras externas e internas sejam bem investidas. Sem isto, falta coesão ao Eu, e é precisamente essa falta de coesão do Eu que caracteriza a personalidade borderline.

Portanto, a dificuldade de circular livremente nos espaços fronteiriços de sua vida psíquica acarreta para o borderline graves conseqüências no processo da constituição de seu Eu. As principais dessas conseqüências são: a inconstância objetal, ou seja, o objeto torna-se para ele ou presente em excesso, ou ausente também em excesso, muito elevado, ou muito denegrido, muito bom, ou muito mau; a oscilação afetiva e pulsional, vale dizer, a turbulência emocional, as atuações intempestivas e violentas de sua vida afetiva; e finalmente, a organização do Eu, que tanto pode ser um Eu grandioso e abrangente ou um Eu enfraquecido e quase inexistente. Novamente a dialética do tudo ou nada (Figueiredo, 2003b).

A causa principal dessas dificuldades é uma perturbação precoce na relação primária com a mãe, ou seja, uma dificuldade na passagem da fase da relação fusional (indiferenciação mãe-filho), para a fase em que o bebê começa a distinguir o eu de um não-eu, preenchendo o vazio com fenômenos e objetos transicionais (Winnicott, 1975). O objeto transicional mantém a mãe presente e ausente ao mesmo tempo. E é este jogo alternado da presença e da ausência materna que prepara a criança para as ambivalências e ambigüidades da relação afetiva com o outro. Portanto, a incapacidade materna de facilitar a passagem do estado de indiferenciação para o estado de separação poderia estar na base das dificuldades do borderline de se relacionar com os outros. Quando esta passagem não acontece de modo satisfatório, o Eu pode ficar "petrificado", incapacitado de fazer representações e simbolizações ou de criar relações intersubjetivas. Como disse Rita Maranga (2002), aforma como o boderline foi olhado pelo Outro primordial teria algo de comum com aquilo que a mitologia ensina sobre o olhar da Medusa, que transformava em pedra quem ousasse olhá-la nos olhos.

Quando não faz a passagem da indiferenciação para a separação, o bebê não entra no espaço potencial, e conseqüentemente, permanece incapaz de simbolizar. Ora, o Eu só é capaz de se separar de seus objetos, particularmente dos objetos primordiais, quando é capaz de simbolizá-los. Caso contrário, ficará para sempre prisioneiro de uma angústia que é, ao mesmo tempo, a angústia de perder ou de ser sufocado pelo peso da presença do objeto. Tudo indica que é esta a angústia típica da depressão borderline.

A perda do objeto primordial acarretaria a perda na continuidade do próprio existir e a dificuldade de estar só (Winnicott, 1982). Mas a relação de dependência anaclítica, resultante do medo do abandono, tende a sufocar o objeto. Daí prevalecer, nas relações de objeto do borderline, o predomínio da agressividade sobre o amor, e das forças destruidoras sobre sua capacidade criativa e construtiva. Em conclusão, poder-se-ia dizer que a depressão borderline, caracterizada essencialmente por essa dupla angústia – vale dizer, o medo de ser abandonado pelo objeto primário e o não menor medo de ser por ele sufocado – distingue-se tanto da angústia típica da depressão neurótica (a angústia da castração), quanto da depressão psicótica (a angústia do aniquilamento).

 

À guisa de uma conclusão

Não se trata propriamente de fazer uma conclusão porque nada do que esbocei aqui, como uma pequena contribuição para o estudo psicanalítico da depressão, pretende ser conclusivo, no sentido de encerrar uma reflexão que gostaria que permanecesse aberta à discussão. Partindo da leitura do texto de Freud, tentei articular as manifestações do fenômeno depressivo às diversas estruturas clínicas consagradas pela psicopatologia freudiana, distinguindo assim uma depressão neurótica, diferente tanto da depressão psicótica da melancolia quanto da depressão borderline.

Se por um lado, o conceito de estrutura não é visto com simpatia por muitos teóricos da clínica pelo fato de poder favorecer a uma concepção "cristalizada" do acontecer psíquico, de outro, é preciso não esquecer que uma das finalidades das construções metapsicológicas é relacionar, organizar e dar certa estruturação aos fatos clínicos, com a finalidade de facilitar a compreensão, e dar uma solução aos problemas que a Clínica continuamente está levantando. Uma finalidade análoga (e dizendo análoga estou me referindo a uma semelhança que é também dessemelhante) talvez pudesse ser atribuída às estruturas clínicas das neuroses, das psicoses e dos casos-limite na psicopatologia freudiana. Foi o que tentei fazer no presente ensaio.

 

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Endereço para correspondência
Rua Conselheiro Portela, 139 / 502 – 52020-030 – Espinheiro – Recife/PE
Tel: + 55 81 3244-7647.
E-mail: zephyrinus@globo.com

Recebido em: 27/07/2007
Revisado em: 20/08/2008
Aceito em: 25/08/2008

 

 

Zeferino Rocha

Mestre em Filosofia e Teologia (Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma/Itália); Doutor em Psicologia (Universidade de Paris X – Nanterre/França); Professor Titular Aposentado (Deptº Psicologia/UFPE); Professor no Mestrado em Psicologia Clínica (Universidade Católica de Pernambuco); Membro Honorário do Círculo Psicanalítico de Pernambuco.

 

Notas

1 A articulação dos sintomas depressivos com as estruturas psíquicas que lhes são subjacentes, e a conseqüente classificação das estruturas clínicas em neurótica, melancólica e borderline, embora inspirada em minha leitura do texto freudiano, não foram sistematizadas teoricamente pelo próprio Freud. Trata-se de uma posição assumida pelo autor do presente ensaio, que a submete à avaliação crítica de seus leitores.
2 No texto freudiano não existe uma distinção explícita entre o Eu (indivíduo biológico ou sujeito) e o ego (instância parte da personalidade psíquica). No texto freudiano, os dois termos são expressos pelo pronome pessoal "Ich", e a distinção entre eles só aparece no contexto da frase em que são empregados. Todavia, no intuito de maior clareza didática, farei neste trabalho, sempre que for possível, uma distinção entre o Eu e o ego, indicando com a palavra latina "ego" a instância introduzida juntamente com o Id e o Superego na reformulação freudiana da teoria do psiquismo, e reservando a palavra "Eu" para designar o indivíduo em sua totalidade de indivíduo biológico ou de sujeito.