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Construção psicopedagógica

versión impresa ISSN 1415-6954versión On-line ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. v.17 n.14 São Paulo jun. 2009

 

EDITORIAL

 

Os artigos apresentam em comum as questões relacionadas à constituição do aprendiz e à construção do conhecimento, em diferentes contextos de educação e de saúde. Colocam em destaque as criações das condições de aprendizagem, levando em conta os valores culturais e as articulações entre subjetividade e objetividade, permeadas pelas diferentes crenças, formas de pensar e de expressar.

“Devemos ter em conta o valor das culturas, a sabedoria, os saberes, os modos de fazer, de conhecimentos muito sutis sobre o mundo vegetal e animal, sobre modos de cura (...). Cada civilização possui um pensamento racional, empírico, técnico e, também, um saber simbólico, mitológico e mágico“ (Morin, 2000, p.27).

Ao destacar como tema inicial as questões culturais, o primeiro artigo da revista convida-nos a atravessar as fronteiras do Brasil, em direção a outras culturas da América Latina – Buenos Aires – em busca das diferenciações e pontos comuns em relação à aprendizagem. Adriana Farias, psicopedagoga e arteterapeuta Argentina, apresenta-nos questões significativas sobre a aprendizagem na sua cultura, focalizando a importância e contribuições da arteterapia e da psicopedagogia no processo criativo do aprender, com destaque na criatividade e contribuições das expressões artísticas.

De volta à realidade brasileira, o segundo artigo apresenta pontos de vista sobre novas perspectivas da pesquisa psicopedagógica, levando em conta os recursos da arte, das expressões criativas não verbais, aspectos também valorizados nas pesquisas e aprendizagem brasileira. Neste artigo, Beatriz Scoz, psicopedagoga brasileira, apresenta pontos de vista em relação à subjetividade e novas perspectivas da pesquisa psicopedagógica ao colocar em evidência o valor das expressões não verbais (recursos da “caixa de areia”), que mobilizam a dialógica entre aprendiz e orientador, entre sujeito da pesquisa e pesquisador. A “caixa de areia”, nas suas origens, se constitui como mediações terapêuticas, estudo desenvolvido por Weinrib, A.A (1983), segundo os fundamentos de Carl Jung e Neumann. Como bem diz Estellle L. Weinrib na sua obra “Imagens do self, o processo terapêutico na caixa de areia”.

A terapia na caixa de areia permite uma expressão tangível tridimensional dos conteúdos incipientes inconscientes Os cenários na areia representam figuras e paisagens do mundo interior e exterior, situando-se aparentemente entre estes dois mundos e ligando-os“ (Weinrib L., 1993).

Por meio das construções em areia, complementadas com montagens de estatuetas e outros objetos simbólicos, as projeções inconscientes ocorrem conectadas com possíveis construções e elaborações conscientes que se tornam criativas e reveladoras para os participantes do processo. Scoz apresenta novas utilizações da caixa de areia, ao articular as expressões não verbais com as verbais que possibilitam a dialógica entre pesquisador e sujeito da pesquisa, orientador e aprendiz. Esta é uma, entre outras importantes questões que mobilizam as reflexões e pesquisas de Scoz, ampliando as perspectivas da pesquisa psicopedagógica, por meio das articulações entre expressões não verbais e verbais.

Ao prosseguir sobre a importância das expressões artísticas criativas, tendo como foco os valores das culturas, o artigo seguinte valoriza a importância da dança, das artes cerâmicas e da expressão oral, por meio do canto e dos contos, tão bem desenvolvidas na cultura indígena “Terena”. A pesquisa, apresentada pelas psicopedagogas Marta Brosto e Simone F. Cruz, ressalta os diferentes estilos cognitivo-afetivos e as diferenças de aprendizagem na escola tradicional e na escola da Aldeia Buriti, em Campo Grande, levando em conta as expressões artísticas das crianças indígenas (terenas). As autoras apresentam pesquisas e reflexões que ressaltam a necessidade de se valorizar as capacidades e a pedagogia, levando em conta as matrizes culturais indígenas, sem deixar de lado a aprendizagem e construções da linguagem, do pensamento e do conhecimento da civilização moderna atual. É esta a visão contemporânea de inclusão no processo do aprender, ao considerar o resgate das raízes, em conexão com as construções dos conhecimentos científicos e tecnológicos da cultura moderna dominante.

Os desafios da aprendizagem desdobram-se em novas indagações apresentadas em outros artigos, como as reflexões sobre os projetos psicopedagógicos de Francineide, voltados para a aprendizagem de crianças e a formação de psicopedagogos. Nesta pesquisa, a autora explora os diferentes estilos cognitivo-afetivos, com base nos fundamentos de Carl Jung e apresenta projetos de diagnóstico e intervenção psicopedagógica numa organização do terceiro setor. Nas suas pesquisas, a autora abre espaço para a criação de novas condições de aprendizagem na cultura cearense (Fortaleza). Sem perder de vista o auto-conhecimento do aprendiz e a ampliação de sua consciência sobre cidadania, o trabalho de diagnóstico e a intervenção articulam a subjetividade aos processos de alfabetização e às construções do conhecimento. O artigo reflete sobre os diagnósticos e intervenções tendo em vista as diferentes formas de aprender e de pensar de cada indivíduo, sem deixar de lado o desenvolvimento das construções coletivas, no processo do aprender. A pesquisa orienta-se pelas seguintes questões: como resgatar a consciência e o auto-conhecimento ao articular as construções da linguagem e do pensamento? Como diferenciar e respeitar os estilos cognitivo-afetivos de cada aprendiz? Suas reflexões baseiam-se em pesquisas e conceitos psicopedagógicos fundamentados nos estudos sobre os tipos psicológicos de Carl Jung:

Ao observarmos a dinâmica geral do indivíduo, podemos considerar os estilos referindo-se a um certo jeito do aprendiz se manifestar no mundo, com suas defesas, mecanismos psíquicos, formas de pensar, sentir e de estabelecer contatos (...) Muitas das queixas em torno do problemas de aprendizagem (...) dizem respeito às negações dos educadores, pais e outros mediadores em relação aos estilos cognitivo-afetivos dos aprendizes, aceitando apenas o padrão estabelecido pela cultura em geral.” (Fagali, 2003, p.66).

Que outras condições possibilitam a abertura do espaço para a escuta das diferenças no processo de aprendizagem?

Sonia Saj Porcacchia e Beatriz Scoz apresentam um artigo que valoriza a condição de aprender, tendo em vista a “qualidade do diálogo que ocorre entre o psicopedagogo e o cliente e as opções que daí derivam”. Nas suas reflexões, as autoras destacam a importância da atuação psicopedagógica que “possibilita ao sujeito um espaço dialógico, com opções que partem dele, facilitando o acesso à produção de novos espaços de subjetivação através de sua própria ação”. Na troca recíproca, permeada pela escuta, resgata-se a intenção e o posicionamento ativo do sujeito aprendiz, gerando desta forma as mudanças que favorecem a construção da subjetividade e a melhoria dos processos de ensinar e aprender. As construções ativas possibilitadas no processo de aprender se associam ao processo criativo.

Em síntese, se expressarmos por metáforas, a CRIAÇÃO se associa ao “TOM DA MELODIA“ que acompanha o processo de aprendizagem, facilitado pela dialógica, pelo respeito às múltiplas formas de aprender e de expressar e pelas articulações entre linguagens verbais e não verbais.

A arteterapeuta Selma Ciornai ressalta a importância do processo criativo, ao destacar a fala de Silvano Arieti, apresentada em seu livro “Criatividade e síntese mágica”:

O processo criativo vai além dos métodos usuais de se lidar consigo mesmo ou com o meio. Traz (...) um desejável alargamento da experiência humana (...) A criatividade é um dos meios básicos pelos quais o ser humano se liberta dos grilhões não apenas de suas respostas já condicionadas, mas também de suas escolhas habituais” (Arieti, 1976, apud Ciornai, p. 67).

 

Referência Bibliográfica:

CIORNAI, S. (org). Percurso em arteterapia. Vol. 62. São Paulo: Summus, 2004.

FAGALI, E.Q. Como evitar os problemas de aprendizagem ao dialogarmos com as diferenças e os múltiplos estilos cognitivo-afetivos. In: Temas em educação II. Livro das jornadas 2003. São Paulo: Futuro Eventos, 2003.

Imagens do self: o processo terapêutico na caixa de areia. São Paulo: Summus, 1993.

MORIN E. Saberes globais e saberes locais. Rio de Janeiro: Garmong, 2000.

 

Eloisa Quadros Fagali, Editora Responsável

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