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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. v.18 n.16 São Paulo jun. 2010

 

ARTIGOS

 

Psicopedagogia e ensino superior: o múltiplo e as possibilidades de aprender e ensinar1

 

Psychopedagogy and higher education: the multiple and the possibilities of learning and teaching

 

 

Paula Amaral Faria2

Universidade Federal de Uberlândia

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo aborda a discussão do apoio psicopedagógico em contexto de ensino superior em função das possibilidades de aprender e ensinar nesse espaço. Em um primeiro momento, levantaram-se possibilidades de contribuições da psicopedagogia para o terceiro grau. Trazem-se, ainda, dados de uma pesquisa que foi empreendida por meio de questionário, que indagou profissionais psicopedagogos engajados na área, com a intenção de permitir uma sondagem do sentir, do pensar, do simbólico e da atuação psicopedagógica no ensino superior. Os resultados obtidos, no referendado trabalho, mostraram a carência de pesquisas e produções bibliográficas desenvolvidas para essa temática, como também a necessidade do apoio psicopedagógico para esse nível de ensino. Com isso, essa pesquisa, dentre outras, iniciou uma proposta de investigação sobre a importância da intervenção psicopedagógica com aprendizes no ensino superior e abriu perspectivas para aprofundamento das questões levantadas na extensão do estudo monográfico realizado pela UNIMINAS, em Uberlândia, Minas Gerais, em 2006 e apresentado no presente artigo.

Palavras chave: Psicopedagogia, Ensino Superior, Ensino-aprendizagem.


ABSTRACT

This paper focuses on the discussion of psycopedagogy support in higher education context based on possibilities of learning and teaching in this area. In the first moment we tried to raise possibilities on the psycopedagogy contribution to higher education. Furthermore it shows the research data that was made by a questionnaire wich asks the psycopedagogy professionals about feeling, thinking, simbols and the psycopedagogy in higher education. The reseacrh results showed a lack of research and bibliographical production in this area as well as a the need of psycopedagogy support in higher education. So, this research and other ones started an investigation into the importance of the psycopedagogy intervention in higher education students and opened up perspectives for the emergent questions on the monographic study made by UNIMINAS, in Uberlandia, Minas Gerais, in 2006 and wich it shows in this article.

Keywords: Psychopedagogy, Higher Education, Teaching-learning.


 

 

Introdução

O presente artigo adveio de uma pesquisa monográfica, intitulada “A Psicopedagogia no Ensino Superior - novas possibilidades ao aprender e ensinar”, realizada em 2006, para fins de conclusão de curso de especialização em psicopedagogia, pela UNIMINAS, na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais.

O referido estudo iniciou-se devido à leitura de pesquisas, de relatos de docentes e de alunos sobre o fato de que o ensino tradicional ainda prevalece nas estruturas de ensino superior, sem ampliações das renovações atuais sobre formas de aprender e ensinar, bem como da autoria e construção do conhecimento, considerando a complexidade do saber e do conhecer de forma a integrar a teoria com a prática profissional.

Ao levar em conta esse contexto, o professor do ensino superior tende ainda, na sua maioria, a repassar seus conhecimentos ao aluno, considerando o mesmo como mero receptor e decodificador e não autor da sua própria construção. Ou seja, prevalecem as elaborações mentais dos alunos presas às reproduções de textos lidos, ou o raciocínio lógico limitado com recursos de expressão verbal, sem muitas extrapolações, apoiados apenas no que apreende das aulas expositivas.

Por isso, o estudo levantou a hipótese sobre as contribuições da psicopedagogia para a aprendizagem dos alunos e o ensino do professor no nível de graduação, sabendo que há outros fatores que interferem nesta limitação do ensino e da aprendizagem do terceiro grau. E que a psicopedagogia poderia contribuir no aspecto que diz respeito à modalidade de aprender e de ensinar, neste nível de formação, incentivando a autonomia e a subjetividade do aprendiz que constrói seu conhecimento articulando à sua prática profissional.

Ao fazer o levantamento bibliográfico durante o ano de 2006, foi verificado que existiam escassas produções científicas sobre o tema, o que nos permitiu levantar suposições sobre a necessidade de ampliar pesquisas e projetos psicopedagógicos voltados para o ensino superior.

Em outras palavras, como afirma a psicopedagoga Allessandrini (1996), há uma grande necessidade de referenciais teóricos e de projetos desenvolvidos sobre o processo de ensino - aprendizagem no nível superior, levando em conta a dinâmica relacional entre professor e aluno. Há necessidade de refletir, no processo de ensinar, sobre a capacidade de pensar do adulto, tendo em vista suas aptidões, frente às múltiplas inteligências.

Nesse sentido, a proposta do artigo é discutir, num primeiro momento, sobre as contribuições das abordagens teóricas psicopedagógicas, considerando o múltiplo na aprendizagem. As reflexões buscam apoio nas contribuições de autores como Gardner (2000), que considera o indivíduo possuidor de uma ou várias capacidades de pensar e aprender. As reflexões destacam os estudos e pesquisas de Saiani (2003) e Fagali (2001), estudiosos da área da educação e da psicopedagogia, que se baseiam na teoria sobre os tipos psicológicos de Carl Jung trazendo indicadores para avaliar e utilizar recursos de mediações na aprendizagem, considerando as diferentes formas do aprendiz entrar em contato com o mundo, com suas diferentes capacidades de elaboração e expressão que requerem diferenciações no processo de ensinar.

Num segundo momento, apresenta-se a proposta metodológica da pesquisa. Esta se complementa na pesquisa teórica, com análise das respostas de questionário, discussões e entrevistas com profissionais psicopedagogos atuantes nos projetos, pesquisas e estudos sobre a aprendizagem de adultos universitários e a formação de profissionais. Essa pesquisa procurou fazer uma análise sobre o sentimento, o pensamento e a capacidade simbólica de psicopedagogos atuantes no terceiro grau, levantando considerações sobre as contribuições da aprendizagem e do ensino para o nível de graduação.

 

Contribuições da Psicopedagogia: o múltiplo no ensino-aprendizagem

Um foco importante nos estudos, desenvolvidos em 2006, refere-se ao múltiplo na aprendizagem, levando em conta a dinâmica relacional professor-aluno, sem perder de vista a abrangência da interdisciplinaridade. Os atuais estudos, nessa fundamentação teórica, consideram a visão diversificada da realidade, nas múltiplas formas de pensar, de aprender, de contatar e de processar o conhecimento.

Portilho (1995) analisa a psicopedagogia como área de investigação mediadora e facilitadora da aprendizagem e do ensino, tendo em vista um todo integrado, e a que possui uma visão interdisciplinar diante da construção do conhecimento.

No que se refere ao apoio psicopedagógico aos alunos universitários, a atuação do profissional é mais abrangente do que se supõe. O atendimento a esses alunos deve considerar que, na sua maioria, encontram-se num momento de passagem da adolescência para a fase adulta, período complexo, no qual há uma busca da identidade pessoal, profissional e posterior inserção no mercado de trabalho. Com isso, a busca da identidade, por meio de recursos psicopedagógicos, pode ser um meio de ajuda ao “aprendiz-aluno” no contexto universitário, e orientar o docente na identificação e auxilio aos alunos que apresentam comportamentos de aparente incapacidade, desinteresse e inatividade (HOIRISCH; BARROS; SOUZA, 1993).

Hoirisch; Barros; Souza (1993) compartilham com Pagotti e Pagotti (2003), a opinião de que a melhor medida para condução do apoio ao universitário é a prevenção. Conhecendo os alunos, suas características, potencialidades, suas formas de entrar em contato com a aprendizagem, seu desenvolvimento pessoal, social e acadêmico, no decorrer do curso, será possível ao professor prevenir crises, dificuldades, sanar defasagens, para que realmente esses alunos tenham sucesso na vida profissional.

Para tanto, faz-se necessário identificar as necessidades dos alunos e de quem constrói o conhecimento, colocando como fator essencial a subjetividade esquecida pela própria ciência e as diferentes formas de expressão, não se apoiando apenas numa modalidade e estilo de comunicação verbal.

Com base em Fagali (2001), em torno da concepção de que cada sujeito possui a sua forma, seu jeito de olhar, interpretar as coisas do mundo, individualmente, cada um aprende e expressa essas coisas, os objetos e a escrita da forma que lhe parece mais fácil. Por isso, há uma grande diversidade de formas de processar e expressar o que pensamos e o que sentimos, pois o sujeito utiliza-se de variados recursos cognitivos e afetivos.

Podemos utilizar, por exemplo, o pensamento lógico, o imaginário, o perceptivo, as avaliações valorativas subjetivas e muitas outras capacidades associadas a diferentes desejos, no diálogo com uma rede de informações que abrangem dimensões psíquicas, sociais científicas, etc. (FAGALI, 2001, p.80.)

Conforme Pagotti e Pagotti (2003), num grupo escolar, a construção do conhecimento deveria processar-se no coletivo. Entretanto, a realidade não se mostra desta maneira. Os alunos são tratados como iguais, como se todos tivessem o mesmo padrão cultural, as mesmas modalidades de aprendizagem, os mesmos conflitos e dificuldades, os mesmos interesses e motivações. As diferenças se revelam na vida diária, mas raramente são incorporadas às relações de ensino.

É necessário, pois, analisar e compreender quais são essas diferenças individuais. Com base na teoria de Jung, não se trata de analisar ou psicanalizar os sujeitos em seu processo educacional, mas sim, estudar, pesquisar o campo individual de aprendizagem. Fagali (2001) acrescenta que:

Ao localizar essas múltiplas manifestações do homem, Jung desmistifica o pensamento lógico como única forma, ou a mais dominante arma do saber humano. Portanto, abre portas para outras formas de compreensão da realidade, sobre as diferentes formas de pensar. (p.52.)

Gardner (2000) ressalta a questão da aprendizagem múltipla, questionando a dominância e excessiva valorização da aprendizagem lógica e formal, quando a considera como a única a ser desenvolvida no indivíduo, deixando de lado as outras capacidades cognitivas, como a cinestésica, interpessoal e intrapessoal, musical, espacial, além da verbal e da matemática. O autor reconhece o indivíduo como um ser que possui múltiplas habilidades cognitivas e revela sua crítica às escolas que valorizam uma única visão de ensino-aprendizagem como “visão uniforme”.

Desse modo, encontramos a psicopedagogia como uma área de estudo que possui, em seu objeto, a aprendizagem, o que permite, no seu trabalho, o diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, trazendo contribuições para compreender o processo do aprendiz. Além disso, sugere desenvolver trabalhos interdisciplinares, nos quais cada uma das áreas de conhecimento tem oportunidade da troca de saberes (FAGALI, 2001).

Ainda de acordo com Fagali (2001), não se deve negar as contribuições das antigas concepções de Educação, mas partir para um movimento de transcender o específico, sem perdê-lo, para um olhar que abranja, de forma simultânea, as partes e o todo, o singular e o múltiplo. Esse mesmo movimento se processa com relação às disciplinas escolares. Não se pretende negar a especificidade de cada uma, todavia estabelecer relações por meio do diálogo.

Pode-se ressaltar que para desenvolver trabalhos educacionais, pensando nas relações entre as disciplinas, é necessário que se pense em rede. Nesse sentido, por meio de uma metáfora, poder-se-ia pensar na psicopedagogia como se fosse uma lanterna que nos ajudaria a transitar pelos caminhos da rede de conhecimentos, que antes estavam obscuros, em prol, efetivamente, da construção de trabalhos interdisciplinares em instituições de ensino.

Parece acertado, portanto, dizer que a psicopedagogia já nasceu com o compromisso de integrar os saberes, o afeto e a cognição, buscando a saída para uma modalidade de aprender e de ensinar que reforça a fragmentação. Com isso, é interessante que se desenvolvam projetos, com olhar psicopedagógico em instituições de ensino. Esse olhar que tem por função perceber todos os integrantes do sistema como seres múltiplos que se correlacionam, compartilhando experiências e saberes, e que possibilitará o desenvolvimento de funções de contato, que são facilitadoras e, ao mesmo tempo, desafiantes para desenvolver as que não são tão evidentes (FAGALI, 2001).

Conforme tais estudos, seriam necessários dar subsídios justos ao educador para que possa avaliar seu aluno, investigando suas capacidades e interesses, para além das habilidades linguísticas e lógico-matemáticas. Acredita-se que, assim, o professor teria condições de elaborar propostas educativas em que o conhecimento das diversas áreas dos saberes estejam articuladas entre si e assim significativas para o processo de ensino-aprendizagem.

 

Método

Com o objetivo de uma melhor compreensão da realidade do psicopedagogo no ensino superior, procurou-se inicialmente uma pesquisa bibliográfica em busca do referencial teórico crítico, que possibilitasse a ampliação do olhar frente a estas questões do múltiplo e do subjetivo no ensino e aprendizagem. A pesquisa de caráter qualitativo desenvolveu-se por meio das análises das respostas, através de questionários.

A pesquisa, de natureza exploratória, teve por questão norteadora a compreensão da atuação da psicopedagogia no contexto de ensino superior, identificando inquietações comuns e as diferenças de opiniões sobre o ensino e a aprendizagem no terceiro grau, levando em conta as contribuições da psicopedagogia nesse nível, segundo a percepção dos quatro profissionais representantes, que atuam nesse contexto do ensino, com formação em psicopedagogia. O critério foi a escolha de profissionais que ocupam lugares importantes, pioneiros no trabalho, com a visão psicopedagógica do terceiro grau. Tal critério foi considerado devido ao fato de buscar reflexões de líderes pioneiros na área psicopedagógica que já contribuem com a formação de multiplicadores que estendem esses estudos e atuação, no contexto educacional.

O instrumento utilizado foi questionário aberto realizado à distância, direcionado a profissionais psicopedagogos. Tinha por objetivo permitir uma sondagem sobre os sentimentos, pensamentos e atuações dos entrevistados, levando em conta as atuações, com o olhar psicopedagógico no ensino superior. A partir da análise das respostas dos profissionais, elas foram categorizadas segundo a frequência e diferenças temáticas, bases para as discussões finais. A análise dos resultados, de caráter qualitativo, consistia na seleção das respostas agrupadas em categorias geradoras dos temas para discussão.

Nas discussões, foram ressaltadas a convergência e diferenciação de opiniões e sugestões. No presente artigo, apresentam-se partes das discussões em torno das categorias que foram travadas ao longo da pesquisa, realizada em 2006, considerando o mais relevante para esta comunicação.

Apresentam-se, ainda, dois gráficos, de duas das categorias, abaixo representados, os quais intentam retratar objetivamente parte da pesquisa desenvolvida. Em função da diversidade das variáveis encontradas no estudo e da formatação da Revista, não será possível apresentar todas as sete categorias desenvolvidas.

 

1ª categoria: Incidência da presença da atuação Psicopedagógica no Ensino Superior

Nessa categoria, procurou-se coletar os dados dos profissionais pesquisados em torno de trabalhos práticos e teóricos, visando ao conhecimento da atuação da psicopedagogia no meio universitário.

Todas as respostas demonstraram o pouco enfoque dado à psicopedagogia no ensino superior. Observou-se que 75% dos profissionais desconheciam a existência dessa prática, apesar de serem profissionais já atuantes na psicopedagogia em outros contextos ou mesmo professores de nível superior. Outros 25% apontaram para trabalhos iniciantes.

As análises buscaram uma transposição dos dados qualitativos para os quantitativos, obtendo os resultados representados no seguinte gráfico:

 

 

Esses dados identificados na amostra, em 2006, apresentaram-se de maneira relevante em relação às demais categorias, pois apontam para o fato da não existência efetiva de ações dos psicopedagogos na compreensão de seus trabalhos com adulto. Os profissionais investigados na pesquisa abalizam que, apesar da crescente demanda, esse tipo de serviço ainda é quase inexistente enquanto proposta prática ou se desenvolve de caráter brando e conflituoso.

 

2ª categoria: Função da Psicopedagogia no Ensino Superior

A segunda categoria aborda questões sobre a importância, necessidade e demanda desse tipo de trabalho sob o olhar psicopedagógico abrangendo o ensino superior. Ocorreram identidades de respostas nos seguintes aspectos:

• A necessidade do olhar para o paradigma da Instituição como um todo, e observar as modalidades de aprendizagem dessa Instituição para se verificarem as formas de intervenção mais eficazes em cada organização;

• A importância de um trabalho junto aos professores, enfatizando esse olhar para as diferenças e as demandas dos jovens, na atualidade, não reduzindo o ensino aos desejos e necessidades do professor;

• A possibilidade de trabalho ampliando a aprendizagem dos alunos adultos, com ênfase no grupal, sem excluir necessidades individuais, quando emergem.

 

3ª categoria: A natureza do trabalho no Ensino Superior

Essa categoria refere-se às questões sobre a natureza dos trabalhos psicopedagógicos desempenhados em instituições de terceiro grau. Faz referência à contribuição da psicopedagogia e à relação de influência entre a sociedade e o meio universitário. Trata também dos momentos de estresse e das dificuldades com que os alunos se deparam em relação às habilidades linguísticas e de raciocínio lógico, tão exigido pelo contexto. Discute os critérios de avaliação e de seleção para o egresso no ensino universitário.

Em relação a essas questões, os profissionais pesquisados foram unânimes a respeito de uma maior ênfase nos trabalhos de aprendizagem dos alunos, em grupos. Nas respostas à questão, que faz referência aos recursos de diagnóstico e intervenção, todos os entrevistados tenderam a propor a utilização de recursos psicopedagógicos como jogos, dinâmicas e artes, adaptados às condições cognitivas e afetivas do adulto.

As análises procuraram uma transposição dos dados qualitativos para os quantitativos, obtendo os resultados representados no seguinte gráfico:

 

 

A partir das informações identificadas na amostra, em 2006, aqui destacadas em relação às demais categorias, verificou-se que todos os profissionais indagados recomendam o desenvolvimento de trabalho em grupo com alunos e o emprego dos próprios recursos psicopedagógicos, com as devidas adequações, tendo em vista a aprendizagem no nível cognitivo e afetivo do adulto universitário.

 

4ª categoria: Procedimento de encaminhamentos para o trabalho Psicopedagógico

A quarta categoria analisou as opiniões dos profissionais pesquisados quanto ao atendimento, na própria instituição de curso superior, dos alunos que buscam o apoio por sua própria iniciativa ou por serem encaminhados pelos professores. Observou-se que 100% dos profissionais pesquisados, apesar de reconhecerem a inexistência do serviço, valorizaram o trabalho de suporte psicopedagógico na instituição para atender a demanda dos alunos e os encaminhamentos dos professores.

 

5ª categoria: Fatores facilitadores e dificultadores do trabalho Psicopedagógico junto ao terceiro grau

Nessa categoria, procurou-se verificar, entre os profissionais pesquisados, o que consideram como fatores mais significativos que facilitariam ou dificultariam a execução de um trabalho psicopedagógico no ensino superior.

As respostas referentes a essa categoria tenderam para colocações diferenciadas, apesar de complementares, no que diz respeito aos fatores facilitadores e dificultadores do referido trabalho.

De acordo com os entrevistados, há excepcionalmente uma tendência a focalizar mais o fator dificultador, por ser um tipo de trabalho ainda desconhecido, na sua verdadeira finalidade. 25% relataram que a dificuldade nesse contexto seria a venda aos dirigentes da ideia desse tipo de trabalho que não visa a lucros imediatos e palpáveis; 25% ressaltaram como fator dificultador a concepção de ciência positivista, reducionista, predominante no meio acadêmico; 25% destacaram um dos fatores facilitadores, observado na experiência com alunos, que seria a busca de apoio psicopedagógico por parte dos mesmos. Considerou ainda que a expectativa do encaminhamento do feito pelo professor poderia se transformar num fator dificultador; e, por fim, 25% preferiram não enfatizar as questões de dificuldades e facilidades, mas, sim, considerar momentos distintos da organização e dos processos.

 

6ª categoria: Representação simbólica da aprendizagem no ensino superior

Essa categoria abrange representações simbólicas verbais e não verbais dos profissionais indagados, em torno das suas compreensões sobre a aprendizagem no terceiro grau.

A partir da análise dos símbolos verbais e não verbais, expressos pelos entrevistados sobre a aprendizagem do ensino superior, observou-se que em todas as respostas dos entrevistados havia a tendência a representar o ensino superior como autoridade em relação ao saber e o professor como aquele que fica numa posição intocável, acima dos demais, reproduzindo um saber que, na relação vertical, fica no alto e distante do aluno. Um saber “enrolado” e obscurecido, associado aos obstáculos que não permitem desenrolar o diálogo com o conhecimento e com a aprendizagem, apesar da expressão dos desafios soltos e sem diferenciações e clareza.

 

7ª categoria: Representação simbólica da Psicopedagogia no ensino superior

A última categoria da pesquisa abarca representações simbólicas, verbais e não verbais, no que diz respeito à atuação psicopedagógica em contexto de ensino superior, conforme a opinião dos profissionais pesquisados.

As expressões verbais e não verbais sobre a psicopedagogia no ensino superior tiveram, em comum, imagens e palavras que expressavam a psicopedagogia como um instrumento que tem a possibilidade e a sensibilidade de transitar por variadas relações entre sujeitos e saberes, de realizar associações e de ampliar gradativamente o saber para as várias direções. Todo esse movimento acontece de forma flexível e perpassa todos os processos e contextos relacionados à aprendizagem.

 

Conclusão

O presente artigo teve não somente a intenção de coletar informações em torno da temática da psicopedagogia no ensino superior, como também apresentar uma investigação, realizada em 2006, por meio de questionário, sobre a atuação de profissionais engajados nessa área. Para o trabalho aqui apresentado, intentou-se retomar as leituras desenvolvidas no estudo e descrever no artigo uma pesquisa com cuidados mais científicos, ampliando, assim, as condições de apresentação para um formato mais objetivo.

Nesse sentido, constatou-se, por meio das leituras e das análises dos dados colhidos em 2006, que a psicopedagogia, enquanto área de conhecimento e pesquisa, está lançando as primeiras pedras para o alicerce dessa construção, pois há pouca exploração no campo de atuação no ensino superior. Há necessidade, no entanto, de ampliar as análises, considerando uma amostragem maior de sujeitos entrevistados e a análise das práticas que já estão ocorrendo. A pesquisa monográfica não se completou, segundo rigores científicos, e refere-se a uma etapa exploratória, contando com poucos sujeitos psicopedagogos com conhecimento e ações na área universitária, o que impede qualquer generalização referente à questão. O estudo referendado é um ponto de partida para ampliar a pesquisa e as análises com uma amostragem mais representativa, levando em conta as diferentes realidades brasileiras.

É importante explicitar que se evidenciaram poucas informações e estudos da psicopedagogia atuando nos cursos superiores, até o ano em que foi realizada a pesquisa teórica. Em contrapartida, observa-se extenso referencial teórico sobre as contribuições da psicopedagogia ao ensino regular, de primeiro e segundo graus, que contempla questões sobre o processo de aprender e ensinar, visando a proporcionar ao sujeito-aprendiz situações nas quais deixe fluir o seu potencial criativo. Há, portanto necessidade, conforme o estudo, de ampliar as pesquisas e estudos da aprendizagem do adulto-aprendiz para esse nível de ensino.

Nesse sentido, ressalta-se que, ao analisar as respostas desses profissionais, revelaram-se aspectos de que a própria psicopedagogia, bem como o ensino superior, precisam conscientizar.

O primeiro aspecto constatado na literatura existente e na amostra de 2006 é o fato da não existência efetiva de ações dos psicopedagogos voltadas para o adulto e a inclusão do terceiro grau, até mesmo porque os cursos de formação não contemplam, ainda, na sua maioria, a atuação do psicopedagogo junto ao aprendiz adulto. Os profissionais indagados da pesquisa assinalam ainda que, apesar da crescente demanda por parte dos estudantes, familiares, docentes e dos profissionais engajados, esse tipo de trabalho ainda é quase inexistente enquanto proposta prática ou se desenvolve de forma lenta e conflituosa.

Outro aspecto observado na pesquisa diz respeito à importância, segundo a unanimidade dos pesquisados, em considerar a necessidade da psicopedagogia focalizar seus estudos no nível de ensino superior, em torno das avaliações, das formas de intervenção e reflexões teóricas sobre essa realidade do ensino e da aprendizagem.

No que diz respeito à natureza do trabalho e das formas de diagnóstico e intervenção, não se localizou referencial teórico exclusivo para o terceiro grau, no entanto, todos os profissionais indagados sugerem o desenvolvimento de trabalhos em grupo com alunos, e da utilização dos próprios recursos da psicopedagogia, aplicados em outros níveis, como jogos, dinâmicas, artes, entre outros, com as devidas adaptações, visando à aprendizagem no nível cognitivo e afetivo do adulto universitário. Tais profissionais recomendam novas pesquisas para esse nível de ensino, em prol do desenvolvimento de uma literatura específica em torno do processo ensino-aprendizagem na área da psicopedagogia, voltados para as demandas do ensino superior.

Outra questão detectada na investigação está no que se refere a uma tendência das escolas em privilegiar algumas modalidades e estilos de aprendizagem, com prejuízo de outras. Há estudos que devem ser priorizados para essas discussões como os de Fagali (2001) e de Saiani (2003), os quais consideram as contribuições teóricas de Jung, que ressaltam a importância de acolher a diversidade, as diferentes formas de se relacionar com o mundo por meio da sua tipologia. Um dos quatro entrevistados ressaltou a importância dessas contribuições como suporte para a práxis psicopedagógica no ensino superior.

Há muito, entretanto, que se conquistar em relação às contribuições da psicopedagogia no ensino regular. O desafio maior ainda é a busca de uma psicopedagogia atuante no ensino superior, nível de formação no qual se consolidam movimentos conservadores, embora pareça já haver consciência da necessidade da prática psicopedagógica, confirmada pelos psicopedagogos entrevistados, em 2006.

À guisa de conclusão, esse estudo abre portas a essas reflexões, para que se possa aprofundar mais nas pesquisas que envolvam essa temática, junto a profissionais que atuam no meio universitário. Há necessidade de novas investigações para o desenvolvimento de práticas, diagnóstico e intervenção, criação de instrumentos e mediações nas diferentes áreas do conhecimento, nos cursos de formação universitária.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Paula Amaral Faria
E-mail: paula_afaria@yahoo.com.br

 

 

1 Pesquisa desenvolvida para fins de monografia do curso de Psicopedagogia Clinica e Institucional da UNIMINAS/2006, em Uberlândia-MG, sob a orientação da Prof. Drª Eloisa Quadros Fagali.
2 Pedagoga pela Universidade Federal de Uberlândia; especialista em psicopedagogia pela UNIMINAS; psicopedagoga no Instituto Irma Teresa Valse Pantellini; integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicopedagogia Escolar (GEPPE) pela Universidade Federal de Uberlândia; docente do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da UNIUBE, em Uberlândia- MG. E-mail: paula_afaria@yahoo.com.br

Agradecimento: À professora Drª Eloísa Quadros Fagali que, como orientadora, contribuiu de maneira expressiva para o desenvolvimento do estudo e significativa diante da elaboração desse artigo.

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