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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954

Constr. psicopedag. vol.19 no.19 São Paulo  2011

 

RESENHA

 

 

Rose Skripka N. Gabriel

Psicóloga e Psicopedagoga

 

 

Resenha do livro: SCOZ, Beatriz. Identidade e subjetividade de professores: sentidos do aprender e do ensinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

A construção dessa obra é apoiada na metodologia de trabalho do Jogo de Areia como instrumento facilitador da expressão da subjetividade de profissionais atuantes na Educação Básica.

Cuidadosamente, a autora faz reflexões sobre os relatos dos participantes da pesquisa pautados em sua sensibilidade e conhecimento teórico, para que possamos compreender como acontece o processo de identidade e subjetividade no universo do ensinar e aprender.

Por meio da descrição de sua experiência profissional como educadora e psicopedagoga, bem como sua vivência com o Psicodrama, a terapia junguiana e o Jogo de Areia, Beatriz Scoz nos convida a refletir sobre a instigante questão da necessidade dos professores conhecerem seus próprios processos de aprender como um caminho decisório no momento de compreender o ser que ensina, o ser que aprende e o objeto de conhecimento que é construído entre os dois.

A autora nos traz orientações para que possamos entender que a subjetividade está vinculada ao resgate da trajetória individual, ao modo como cada indivíduo tenta definir a si mesmo, confrontando-se ao mesmo tempo com os diversos contextos sociais.

Ela trabalhou nessa pesquisa com os sentidos que os professores produziam em seus processos de ensinar e aprender em suas famílias, comunidades e escolas, como expressões de formas da realidade nos níveis simbólico e emocional.

Na avaliação do processo de construção de identidade e subjetividade dos professores são valorizados elementos que se entrecruzam e se complementam: o pensamento, como exercício de reflexão e consciência do estado individual, além de sua influência na esfera social e nas construções futuras; a emoção, como expressão dos estados subjetivos; o dinamismo e o diálogo entre o consciente e o inconsciente; o sentido e o significado, apontados como uma unidade, oriundos de uma complexidade da organização subjetiva, não reduzidos aos discursos e finalmente, os espaços intermediários, como locais do potencial criativo, do que virá a se desenvolver.

O Jogo de Areia é uma técnica, desenvolvida por Margareth Lowenfeld em 1935, que preconizava o brincar como possibilidade terapêutica, constituída de uma ou duas caixas de areia e uma coleção extensa de miniaturas, por meio das quais as pessoas podem montar cenas e expressar seus conteúdos.

Desta forma, o Jogo de Areia proporciona um contato profundo com a dimensão simbólica que está ligada à rede de sentidos que já foram construídas pelo indivíduo.

A pesquisa de Beatriz Scoz que utiliza dessa técnica foi realizada com 36 alunos de um curso de Psicopedagogia de Pós-Graduação lato sensu da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) em parceria com o Centro Psicopedagógico de Atividades Integradas de Recife (Cepai) onde era docente.

Os dados da pesquisa vieram tanto das cenas montadas na caixa quanto das narrativas dos participantes, o que exigiu da autora um olhar e uma escuta sensíveis, a percepção acurada do que existe nas entrelinhas da comunicação e estar norteada pela compreensão de que a natureza do pensamento complexo nos traz sempre a incerteza.

À medida que a dimensão da subjetividade dos participantes da pesquisa toma forma e tem espaço para se expressar, pode-se perceber a mudança gradual na reflexão sobre seus próprios valores e expectativas em relação ao processo de ensinar e aprender.

Durante o desenvolvimento do texto e das narrativas torna-se irresistível o movimento de autorreflexão, uma vez que o ser humano é dotado da faculdade de fazer contato com o que viveu e o que percebeu, reorganizando o que está vivenciando agora e atribuindo novos sentidos e significados a sua realidade.

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