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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954

Constr. psicopedag. vol.20 no.20 São Paulo  2012

 

EDITORIAL

 

 

A revista "Construção Psicopedagógica" busca contemplar os leitores com um conteúdo atual e sob diferentes olhares. Este volume traz como tônica aspectos do desenvolvimento humano e da aprendizagem e suas dificuldade nas suas diversas fases: a infância, a adolescência e o adulta. As pessoas e os aprendizes, nessas fases, são tratados tanto em contextos de aprendizagem em que as dificuldades e deficiências estão presentes, como nos diferentes momentos existenciais em que o desenvolvimento segue o seu curso natural. O enfoque dos autores favorece um exercício de reflexão dinâmico, ora com um olhar minucioso em relação ao funcionamento mental e neurológico, sem deixar de lado a complexidade humana em que se apresentam interações emocionais cognitivas e fisiológicas, ora mantendo um olhar amplo sobre deficiências e dificuldades de aprendizagem,nas diferentes fases do desenvolvimento humano, em contexto escolar, hospitalar e clínico.

Iniciamos com a entrevista feita com a Dra Ana Rosa Sancovski, coordenadora geral do curso de especialização em Neuropsicologia e Reabilitação Cognitiva do Centro Nacional de Cursos de Especialização - CENACES. Dra Ana Rosa, elucida as associações entre as questões psicossomáticas e neuropsicológicas e suas inter-relações com a aprendizagem, analisa o surgimento de transtornos neuropsicológicos, sob o olhar psicanalítico e oferece direções e orientações aos profissionais que lidam com as dificuldades de aprendizagem. As reflexões, portanto, ressaltam a importância da psicodinâmica das pessoas e da família, não considerando isoladamente os fatores neurológicos .

A Dra Sara Amores, no primeiro artigo da revista, aprofunda sobre as influências da dinâmica familiar no desenvolvimento e aprendizagem da criança. A autora, Especialista e Consultora em Psiquiatria e Psicologia Pediátrica da Sociedade Argentina de Pediatria-Filial de La Plata, Psicoterapeuta de crianças e famílias, presidente "del Capítulo Familia y Salud Mental" da associação de Psiquiatras argentinos e coordenadora do curso Interdisciplinar de Trabalho em Família e Pediatria, analisa os vínculos que se formam em famílias com crianças discapacitadas e ressalta o vínculo fraterno. Sob o título, "Tener un hermano discapacitado: acerca de la discapacidad y los vínculos familiares". Sara Amores, através de narrativas míticas, exemplifica como desde a antiguidade até os dias atuais, tenta-se explicar a origem das deficiências.

Apesar da relevante influência da dinâmica familiar sobre os problemas de aprendizagem, é importante considerar os problemas específicos associados às habilidades de leitura e orientação temporal. O artigo original de autoria da psicopedagoga Vera Márcia Gonçalves da Silva Pina, professora e supervisora de estágios do curso de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae, traz os resultados de sua pesquisa realizada na dissertação de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento" pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. A pesquisa buscou estabelecer relações entre a habilidade de leitura e o processamento temporal em crianças. Embora haja muitos estudos sobre as dificuldades de leitura, este é um problema que merece ser objeto de pesquisas constantes, haja vista os preocupantes resultados das crianças brasileiras nas provas que avaliam a habilidade de leitura. O artigo "Processamento Temporal: sua importância para a aprendizagem da leitura" amplia a compreensão das dificuldades da leitura e contribui para a atuação psicopedagógica escolar e clínica. Os aspectos cognitivos, no entanto, não podem ser dissociados da dinâmica emocional do aprendiz.

O artigo seguinte apresenta a pesquisa de campo elaborada como dissertação do Mestrado em Educação pela Faculdade de Educação da USP pela Profa Dra Marlene Coelhos Alexandroff, pesquisadora do CENPEC (Centro de Pesquisas em Educação e Cultura e Ação Comunitária) e Professora de Metodologia de Pesquisa do curso de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae. O estudo investigou o papel das emoções na constituição do sujeito e se aprofundou nos fundamentos teóricos de Wallon e Vigotski sobre o desenvolvimento da leitura e da escrita, ressaltando as conexões entre emoção e linguagem e os processos psicopedagógicos que podem refletir positivamente no aprendizado escolar da criança.

Como lidar com estes problemas de aprendizagem em que interagem cognição e emoção, nas intervenções psicopedagógicas para além do contexto escolar, na área de saúde?

Segue o artigo especial de Sonia Maria Colli de Souza da Universidade Paulista. Calcada em sua experiência como Psicopedagoga junto ao ambulatório de gastropediatria da UNIFESP, a autora traz suas reflexões sobre o atendimento psicopedagógico de uma criança em ambiente hospitalar. A autora relata, com detalhes, a transformação e a conquista da autonomia de um paciente. Sonia Coli ressalta a importância da "transcendência da subjetividade no trabalho psicopedagógico" em que se consideram as influências dos fatores sócio-históricos, a importância da própria capacidade resiliente do aprendiz e o autoconhecimento e desenvolvimento de sua autonomia durante o processo de construção do conhecimento e aprendizagem , no contexto de saúde.

A questão de saúde nos remete a outros problemas que merecem destaque, no momento atual, associados ao desenvolvimento e problemas neuropsicológicos, bem como seus efeitos na aprendizagem das pessoas em diferentes fases da vida. Debruçando sobre o processo evolutivo do ser humano, o aumento da longevidade e as possibilidades de um envelhecimento saudável através da intervenção psicopedagógica em um enfoque neuropsicológico, Maria Angélica Moreira Rocha, Psicopedagoga e Professora nos cursos de formação em Psicopedagogia de Salvador Bahia, faz uma revisão sobre o processo evolutivo humano e de resultados de alguns centros de pesquisa sobre as fases da maturidade e o envelhecimento, sugerindo novos enfoques psicopedagógicos na área de educação e saúde.

Diante de problemas em que se focalizam a intervenção na área de saúde, sem deixar de considerar a aprendizagem escolar e a formação de profissionais, o que sugerir em relação a esta interconexão do contexto de saúde e educação? Como lidar com adolescentes num contexto que se caracterizaria como "clínica-escola", com foco na orientação e produção de conhecimento dos profissionais cuidadores? É este o desafio dos profissionais: Maria Gentil Araújo da Silva Lopes, licenciada em História e Psicopedagoga Institucional e Clínica e Rafael de Souza Menezes Psicólogo (Bacharel e licenciado), também Psicopedagogo Institucional e Clínico, sob a orientação da Profa. Dra Hilda Rosa Capelão Avoglia da Universidade Metodista. No artigo, os autores trazem relatos de experiências com uma adolescente em atendimentos numa clínica-escola da Universidade, na baixada Santista, litoral do estado de São Paulo. São experiências que merecem destaque por focalizarem o desenvolvimento e aprendizagem de adolescentes e as produções de conhecimentos clínicos integrados ao desenvolvimento e a formação de profissionais (escola clínica).

Ao considerar questões sobre aprendizagem no âmbito da formação escolar, vale destacar os trabalhos psicopedagógicos desenvolvidos com crianças na escola pública pela psicopedagoga Michelle Brugnera Cruz e sua orientadora, a doutoranda Thaise da Silva, em que apresentam procedimentos psicopedagógicos na aprendizagem de crianças ao brincarem com bonecas . São apresentadas, neste artigo, intervenções psicopedagógicas desenvolvidas em uma escola pública da periferia de Porto Alegre que nos possibilitam um passeio à infância, através do estudo feito em ambiente escolar, sobre o alcance de um brinquedo que todos conhecem e com certeza, se do sexo feminino, já tiveram - a Barbie. Que fascínio essa boneca exerce sobre as crianças, apesar das mudanças sociais de geração em geração? Por que continuam cobiçadas pelas meninas? O que esta pesquisa nos revela, sobre as intervenções psicopedagógicas em que se levam em conta as construções simbólicas, as identificações, transferências e aprendizagem criativa da criança, indo além da manipulação das bonecas de consumo, já prontas e estereotipadas? As autoras trazem revelações sobre essas questões e sugerem as possibilidades de criações, ou novas construções e aprendizagem, sobre o que está estereotipado, com valores próprios da cultura americana (boneca Barbie). Este é um grande desafio psicopedagógico e educacional: o de compreender o que se esconde no fascínio dos brinquedos de consumo, como essas bonecas, e de sugerir novas formas de aprender e criar sobre o que se apresenta estereotipado.

 

Equipe Editorial