SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.21 número22EntrevistaA arte de contar histórias e o conto de tradição oral em práticas educativas índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954

Constr. psicopedag. vol.21 no.22 São Paulo  2013

 

Atendimento na clínica-escola de psicopedagogia: percepção dos pais

 

Assistence in psychopedagogy´s clinic school: parents´ perception

 

 

Carolina Santos VeigaI; Márcia Siqueira de AndradeII

IGraduada em Psicopedagogia pelo UNIFIEO. Centro Universitário FIEO
IIDoutora em Psicologia da Educação pela PUC/SP. Coordenadora do curso de Graduação em Psicopedagogia, Especialização em Psicopedagogia e Mestrado em Psicologia Educacional do UNIFIEO. Centro Universitário FIEO

 

 


RESUMO

Esta pesquisa pretendeu compreender qual a percepção dos pais sobre o atendimento dos filhos na clínica-escola de Psicopedagogia. Selecionou-se de uma amostra 9 mães/pais de crianças e adolescentes atendidos na clínica-escola de Psicopedagogia do UNIFIEO por apresentarem problemas de aprendizagem. Para a coleta de dados foi utilizada a entrevista semi-estruturada. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Os dados coletados foram analisados pela técnica da Análise de conteúdo. Os resultados mostraram que 100% dos participantes declararam-se satisfeitos diante do quadro dos filhos. Essa satisfação aparece interligada à confirmação da expectativa da melhora do desempenho acadêmico dos filhos que aparece como resultante de posicionamentos favoráveis da escola e da família o que contribui para a eficácia do tratamento desenvolvido na clínica-escola.

Palavras-chave: Família, Aprendizagem, Clinica-escola.


ABSTRACT

This research sought to understand the perception of parents on the care of the children in the school clinic of Psicopedagogy. We selected a sample of 9 mothers/parents of children and adolescents in the school clinic of Psicopedagogy to have problems learning. For data collection we used semi-structured interview. The interviews were recorded and later transcribed. The collected data were analyzed by the technique of content analysis. The results showed that 100% of the participants expressed their satisfaction on the improvement of the condition of the children. This satisfaction appears connected to the confirmation of the expectation of improved academic performance of children who appears as a result of favorable positioning of the school and the family which contributes to the effectiveness of treatment developed in the school clinic.

Keywords: Family, Learning, School-Clinica.


 

 

Após a entrevista e transcrição das falas dos participantes analisaram-se os resultados chegando às considerações formuladas a seguir.

Esta pesquisa pretendeu compreender qual a percepção dos pais sobre o atendimento dos filhos na clínica-escola de psicopedagogia.

As relações entre o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança têm sido discutidas em diferentes perspectivas teóricas. O desenvolvimento do sujeito acontece por meio da interação entre suas condições biológicas, sociais e emocionais. Uma vez que haja um desequilíbrio em uma ou mais dessas condições, automaticamente, desencadeia um desequilíbrio na formação do sujeito, sempre exteriorizada durante o processo escolar.

Desde o nascimento, o sujeito passa por diferentes fases, nas quais, adquire conhecimentos, e passa por diversas experiências até chegar a sua vida adulta. As primeiras reações afetivas da criança envolvem a satisfação de suas necessidades e o equilíbrio global.

Para Fernández (1991) a aprendizagem e seus desvios compreendem uma multiplicidade de fatores, que se, considerados isoladamente, empobrecem a compreensão das dificuldades e do sofrimento que gera para todos: aprendiz, educadores e família. Os fatores que podem levar ao fracasso ou ao sucesso escolar podem ser divididos em psicológicos, neurológicos, oftalmológicos, audiológicos, culturais, econômicos, fonoaudiológicos, lingüísticos e biológicos, alertando que possibilitam uma visão dupla e total do ser humano, a partir de aspectos individuais, isto é, subjetivos articulados com fatores contextuais. É importante citar que, segundo Fernández (1991), nenhum fator é estanque, nem aparece isoladamente. A origem do problema de aprendizagem não se encontra na estrutura na estrutura individual. O sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares que se entrelaçam com uma também particular estrutura individual.

A família na sociedade moderna representa um grupo social básico que, tanto influencia como recebe influência de outros grupos, organizações e instituições. A unidade primária que recebe esse nome, em geral é composta de progenitores (pai e mãe, ou um destes) e filhos (ainda que apenas um). Entretanto, múltiplas interações de parentesco e proximidade permitem a um pequeno núcleo diversas combinações que também recebem apropriadamente o nome de 'família'. Embora grandes agrupamentos de pessoas ligados por parentesco sejam adequadamente chamados de família, nosso trabalho volta-se para a unidade básica onde vive a criança.

Não obstante, muito além da estrutura familiar, as atitudes de seus membros são determinantes para o bem-estar geral da família e de cada membro individualmente. Todas as atitudes que contribuem para relações mais harmoniosas, que resultam em maior tolerância e compreensão, na tentativa de construção ou reconstrução da família, parecem contribuir para a sensação de bem-estar de todos os membros (PAIANO, ANDRADE, CAZZONI, ARAÚJO, WAIDMAN, & MARCON, 2007)

Destarte, a família é a principal instituição responsável pelo apoio físico, emocional, educacional e social de seus membros; assim, compreender os aspectos relacionados ao crescimento e desenvolvimento da criança e a realidade da família deve ser um dos focos de atenção do profissional de saúde.

 

Problemas de Aprendizagem

Segundo o National Joint Committee of Learning Disabilities, problema de aprendizagem é um termo geral que refere-se a:

Um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do SNC, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas na auto-regulação do comportamento, na percepção social e na interação social podem existir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências (deficiência sensorial, DM, distúrbios sócio-emocionais) ou com influências extrínsecas (diferenças culturais, inapropriada instrução, etc) elas não são o resultado dessas condições (Fonseca, 1995, p. 71).

Apesar de as informações a respeito da prevalência dos problemas de aprendizagem serem ainda desconhecidos, não somente no país como em toda a América-Latina, alguns estudos realizados permitem estimar que as taxas oscilariam entre 10 a 20%. Isso quer dizer que existiriam aproximadamente 17 milhões de crianças e adolescentes com algum grau de problema de aprendizagem. Entre os principais estudos se destacam os seguintes

a) Estudo de prevalência de distúrbios psicopedagógicos infantis na população escolar de 6 a 11 anos em Santiago do Chile, encontrou 14,4% de prevalência entre os meninos e 16,5% entre as meninas;

b) Estudos efetuados pela OMS indicam que de 15 a 25% das crianças que passam em consulta pelos centros de saúde não especializados têm problemas psicossociais, muitos deles refletidos na escolarização;

c) A prevalência de distúrbios psicopedagógicos infanto-juvenis flutua entre 10 a 20% numa amostra norte-americana. Essa taxa se desdobra em 2% de distúrbios psiquiátricos, de 7 a 8% de distúrbios psicológicos moderados e a porcentagem restante de dificuldades psicossociais refletidas na aprendizagem (OPS, 1997, p.253)

A expressão 'dificuldades de aprendizagem' destaca o desencontro ou a discrepância, decorrente do processo de aprendizagem, entre o que se acredita que a criança seja capaz de aprender potencialmente, sob uma dada situação em sala de aula, e o que ela efetivamente é capaz de realizar (HÜBNER & MARINOTTI, 2002).

As dificuldades que ocorrem nesse processo podem ser decorrentes de uma possível combinação de fatores de ordem pessoal, familiar, pedagógica e social, envolvendo a interação do indivíduo com seu meio, inclusive com seus pais. (MARTURANO & LOUREIRO, 2003).

Não existe uma definição homogênea para os problemas de aprendizagem, seus sintomas são diversos de fins heterogêneos (BARTHOLOMEU, SISTO & RUEDA, 2006). As Dificuldades de Aprendizagem estão correlacionadas a alguns outros fatores, como fatores comportamentais e emocionais (STEVANATO, LOUREIRO, LINHARES & MARTURANO, 2003).

A identificação das dificuldades de aprendizagem apresentadas por escolares vem crescendo, embora há muitos anos se reconheça à relevância de tais problemas. De acordo com os dados da UNESCO a retenção escolar no Brasil está entre as maiores da América Latina (Estado de São Paulo, 1997), sendo o percentual de repetência na primeira série do 1º grau de aproximadamente 54%, o que contribui para o atraso escolar e como conseqüência, para a evasão escolar. Uma parcela apreciável da demanda das clínicas de psicologia é constituída por famílias que buscam ajuda profissional para as dificuldades escolares de seus filhos. Trata-se em geral de crianças na faixa dos sete aos 12 anos, cursando as séries iniciais do ensino fundamental, havendo predomínio de meninos em razão que pode chegar a 4:1 (BARBOSA & SILVARES, 1994; ELIAS, 2002;).

Rutter et al. (2004), rebatendo críticas de que a alta taxa de problemas na leitura entre garotos era decorrente de distorções na interpretação sobre as dificuldades apresentadas pelos meninos, relatam os resultados de quatro grandes estudos realizados na Nova Zelândia e na Inglaterra, mostrando que em todos eles a diferença entre sexos se repetiu, confirmando que os meninos são mais freqüentemente atingidos por dificuldades de leitura.

Complementarmente, Barbaresi, Katusic, Colligan, Weaver e Jacobsen (2005), investigando a incidência de problemas de aprendizagem da matemática entre escolares, também encontraram que meninos são mais freqüentemente atingidos pelo problema do que as meninas.As estatísticas nacionais, embora precárias no que se refere à desagregação por sexo, não deixam dúvidas quanto à diferença de desempenho escolar entre meninos e meninas em todo o ensino fundamental e médio. Pode-se tomar os dados sobre evasão e repetência ou as informações sobre defasagem entre série cursada e idade da criança: qualquer dessas cifras indica que os meninos teriam maiores dificuldades escolares.

 

Método

Participantes

Selecionou-se de uma amostra 9 responsáveis (mãe ou pai) de crianças e adolescentes atendidos na clínica-escola por apresentarem problemas de aprendizagem.

Instrumentos

Neste estudo, foi utilizada a entrevista semi-estruturada. O roteiro da entrevista contemplou dados objetivos dos participantes: (sexo, idade, escolaridade e profissão dos pais, sexo idade e escolaridade dos filhos, número de filhos da família, situação conjugal dos pais) e dados subjetivos que se referem às atitudes, valores, opiniões e sentimentos peculiares às experiências dos entrevistados relacionadas ao atendimento psicopedagógico dos filhos. (MINAYO, 1996).

As questões foram as seguintes:

1. Como descobriu os problemas de aprendizagem do filho?

2. Quem indicou a clínica-escola para atendimento de seu filho?

3. O que pensa sobre este atendimento?

4. O que você espera deste atendimento?

5. Na sua opinião o que seu filho pensa sobre o atendimento?

6. Quais as principais dificuldades que você e sua família encontram para a realização deste atendimento?

7. Na sua opinião o que a escola pensa sobre este atendimento?

8. Após o diagnóstico e devolutiva você pretende continuar o tratamento de seu filho na clínica?

 

Procedimentos

O projeto foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Foi solicitada uma declaração para realização da pesquisa, sendo concedida a autorização para a sua implementação no âmbito da clínica-escola de Psicopedagogia do UNIFIEO. Atendendo à Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,1996) , foi emitida uma carta informando aos participantes sobre o tema e o objetivo do estudo, assegurando que as informações serão tratadas anônima e sigilosamente e servirão apenas para fins técnico-científicos. Os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas.

 

Tratamento dos dados

Para analisar o material pertinente a esta pesquisa, descrevemos e relacionamos dados demográficos e categorias temáticas abordadas nas entrevistas. Para compreender o processo subjetivo de cada participante nos reportamos à utilização da Análise de conteúdo.

 

Resultados e discussão

Em relação ao problema de aprendizagem dos filhos 100% das respostas indicam que a escola teve papel determinante na descoberta da dificuldade, conforme depoimentos a seguir: "Foi através da escolinha. A professora perguntou se ele tinha algum problema. Eu falei que desde que ele entrou na escola as professoras falavam, mas nunca procurei levar a fundo se era realmente problema. Aí, pediram para encaminhar para o neurologista e ele encaminhou para cá." (Depoimento de P4). Da mesma forma: "A escola onde estudava pediu para que ele passasse na Psicopedagoga, pois estava com dificuldade no aprendizado. (Depoimento de P9)

Grande parte dos entrevistados, 70%, declararam que o problema surgiu entre a Pré-escola, a Primeira e Segunda série do Ensino Fundamental. Esse período escolar caracteriza-se pela ênfase dada na aprendizagem da leitura e escrita. Os anos iniciais de escolarização parecem ser cruciais, no que diz respeito a aprender a ler. As experiências de aquisições positivas de leitura, nos primeiros dois anos e meio de escolarização formal, são favoráveis para uma visão positiva do aprendiz sobre si mesmo (CHAPMAN & TUNMER, 1997). Seguem depoimentos confirmando o exposto:

Depois da 3ª fase do jardim a professora sempre falou da dificuldade, na realidade eu acho que ele não tinha dificuldade de aprendizagem, ele tem preguiça de pensar, preguiça de desempenhar o papel sozinho, o raciocínio todo eu acho. É uma dificuldade que ele mesmo se coloca.(Depoimento de P3)

Em relação a esse tema, dificuldades de leitura e escrita, vários estudos foram realizados em uma variedade de idiomas (SMYTHE, EVERETT & SALTER, 2004; MASAGÃO,2004) sem que tenham sido esgotadas todas as questões. Na perspectiva de Sternberg e Grigorenko (2003), as dificuldades de leitura e escrita são decorrentes de uma interação entre fatores biológicos, cognitivos e sociais.

Estudos internacionais como o Programme for International Student Assessment - PISA (2003) mostram o Brasil ocupando uma das últimas posições quando se considera a habilidade de leitura e escrita. Revelam ainda que, dentre quarenta e um países participantes do estudo, o menor índice de evolução quando se compara o desempenho de 2000 com o de 2003 pertence ao Brasil. As estatísticas governamentais, como as demonstradas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (INEP, 2007), também mostram um quadro preocupante em termos de desempenho em leitura e escrita no Ensino Fundamental.

Dessa forma, a indicação de que os problemas de aprendizagem dos filhos dos participantes desta pesquisa tenham sido percebidos, na sua maioria, no momento em que a aprendizagem da leitura e escrita é mais exigida na escola, parece confirmar o que diz a literatura especializada.

A indicação da Clínica-escola de Psicopedagogia foco desta pesquisa ocorreu, em 40% dos casos, por profissionais da área da saúde e, em 60% dos casos por profissionais da área da educação. O fato de os problemas de aprendizagem terem sido detectados na escola, favorece o encaminhamento pelos profissionais da educação, conforme depoimentos a seguir: "A professora perguntou se ele tinha algum problema. Eu falei que desde que ele entrou na escola as professoras falavam, mas nunca procurei levar a fundo se era realmente problema. Aí, pediram para encaminhar para o neurologista e ele encaminhou pra cá" (Depoimento de P4). Ainda, na mesma linha de argumentação:

Na escola. A partir da 2ª série a professora percebeu que ela era diferente das crianças. As crianças eram agitadas e ela quietinha no mundo da lua; a classe pegando fogo e ela lá sempre na dela, quietinha com pensamento bem vago." (Depoimento P8).

Em geral, a literatura aponta que a maioria das crianças com queixa de insucesso escolar é encaminhada para tratamento pela família e pela escola (SANTOS E ALONSO, 2004). Bossa (2002) salienta, ainda, o fato de que a escola é, hoje, o lugar privilegiado de identificação das "anormalidades" infantis no seio da sociedade e que os especialistas em terapêuticas educativas, muitas vezes, acabam alimentando as exigências de perfeição com promessas de reparação dos "fracassos" na criança e na família. Como diz Cordié (1996, p.24), há uma "pressão social que se exerce sobre todos e que gera, muitas vezes, uma angústia surda que a criança tem dificuldade em identificar".

Em relação ao atendimento em si, 100% dos participantes declararam-se satisfeitos diante da melhora do quadro dos filhos conforme depoimentos seguintes:

Eu sei que meu filho tem melhorado bastante, principalmente na primeira fase eu pude ver uma melhoria bem acentuada, até mesmo porque ele se identificou demais com a outra terapeuta. Eu acho que a melhora dele foi bem perceptiva, ele gosta de fazer as atividades. Em questão de superar-se, no ano passado foi bem notório. O desenvolvimento, a questão de organização, no entanto esse ano ele está mais relapso. (P3)

Da mesma forma P2 afirma:

Eu estou gostando. Ele está melhorando bem depois que começou. Ele era desorganizado, ele ficava voando, mas agora ele está mais no aprendizado. Antes não conseguia tirar um 'S', mas depois que ele começou, no ano passado, ele tirou 'S' em tudo, então foi um avanço. Ela falou que ele melhorou bem.

Para Fernàndez (1991), a família que apresenta um membro com problemas de aprendizagem muito freqüentemente funciona como um bloco indissociado, em que qualquer tentativa de diferenciar-se pode ir de encontro ao mandado familiar de anulação da diferença. A percepção positiva dos pais sobre o atendimento psicopedagógico dos filhos está diretamente associada à melhora do desempenho acadêmico das crianças. Essa posição favorável dos responsáveis acaba contribuindo ainda mais para o desenvolvimento dos filhos, na medida em que parece aumentar a adesão de todos ao tratamento, tornando-os colaboradores do terapeuta.

Essa questão aparece novamente confirmada nos depoimentos sobre a expectativa dos pais em relação aos atendimentos. Dos entrevistados, 100% têm como expectativa a solução do problema de aprendizagem dos filhos: "Um resultado bom. Que ela consiga chegar no objetivo, que é aprender a ler direitinho e escrever." Depoimento de P5). E da mesma forma : "Que ele consiga assimilar, consiga se desenvolver sozinho a aprendizagem na escola.(Depoimento de P1)

Sobre a percepção dos filhos em relação ao atendimento, 100% dos pesquisados informam que os filhos gostam do atendimento. Essa percepção também surge atrelada á melhora do desempenho acadêmico conforme depoimento: "Ela adora, ela fala que está melhor para ela. Ela está tirando nota alta, coisa que antes ela não se interessava. (Depoimento de P7).

A melhora do rendimento acadêmico parece trazer consigo outros ganhos, em especial no que tange às interações interpessoais: "Quando fala que é para vir para a clínica ele gosta e se adaptou com o pessoal que atende ele"..(Depoimento P1).

Como já foram expostos, os estudos sobre problemas de aprendizagem vêm repetidamente apontando uma associação entre dificuldades de comportamento e de aprendizagem, entretanto, não há consenso sobre a ordem de ocorrência destas dificuldades e se existe uma relação de causa e efeito entre elas. Além disso, a maioria dos estudos utiliza apenas uma fonte de informações, ou a família (pais) ou a escola (professores), apesar de a literatura apontar que, por terem perspectivas diferentes, é possível que a avaliação de pais e professores também seja diferente, tanto no que se refere a problemas de comportamento quanto de aprendizagem.

Sobre isso Roeser e Eccles (2000) propõem que as dificuldades comportamentais e emocionais influenciam problemas acadêmicos e estes afetam os sentimentos e os comportamentos da criança, sendo que estas dificuldades podem se expressar tanto de forma internalizada, por meio de ansiedade, depressão, retraimento e sentimentos de inferioridade, quanto externalizada, por meio de comportamentos e atitudes que geram conflitos com o ambiente e, geralmente, são marcados por características de desafio, impulsividade, agressão, hiperatividade e ajustamento social pobre. A melhora no desempenho acadêmico melhora o comportamento e conseqüentemente as relações interpessoais.

Em relação à percepção que os pais trazem sobre a opinião da escola em relação ao atendimento psicopedagógico dos filhos, 100% das respostas afirmam que a escola é favorável ao trabalho. Afirmam, ainda, que o desempenho acadêmico das crianças, após o início do tratamento está melhor, conforme depoimentos seguintes:

Olha, na escola quando comentamos com a professora dele ela gostou e falou até que (ele) estava se desenvolvendo. Eu falei que ele estava em atendimento com psicopedagoga, aí ela falou que está sendo ótimo que ele está conseguindo assimilar bastante na escola. (Depoimento P1).

Da mesma forma P3 discorre sobre o tema:

Ela enfatiza bastante que é necessário. A professora não sabia que ele estava em acompanhamento psicopedagógico porque ele estava no período da tarde e mudou para de manhã. Quando eu falei, ela até se sentiu aliviada, que ela ia indicar uma psicopedagoga para ele. Eu vejo que eles dão muita importância para isso, tanto que eles querem saber o retorno que o Caio está tendo. Como foi solicitado documentações, então, eles querem o retorno para saber como está sendo.

A posição favorável da escola é confirmada por P2: "Ela pensa bem porque está indicando muitas crianças para a clínica. Tem professoras que estudam na UNIFIEO e falam que aqui é bom, as crianças que já estão fazendo tratamento aqui estão melhorando." O depoimento de P5 confirma a posição: "Até agora eles falaram que ela está melhorando. Está desenvolvendo bem."

A posição favorável da família e da escola aparece como facilitador do tratamento da criança. Com o apoio de ambos, o terapeuta pode realizar seu trabalho de forma eficaz e harmônica, dispondo dos recursos necessários para outros encaminhamentos que se fizerem necessários.

 

Considerações Finais

Esta pesquisa buscou compreender qual a percepção dos pais sobre o atendimento dos filhos na clínica-escola de psicopedagogia. Para a consecução dos objetivos foram entrevistados os responsáveis por 9 crianças e/ou adolescentes que eram atendidos na clínica-escola por apresentarem problemas de aprendizagem por ocasião da pesquisa.

Os resultados mostraram que 100% dos participantes declararam-se satisfeitos diante da melhora do quadro dos filhos. Essa satisfação aparece interligada à confirmação da expectativa da melhora do desempenho acadêmico dos filhos. Esta melhora aparece como resultante de posicionamentos favoráveis da escola e da família, o que contribui para a eficácia do tratamento desenvolvido na clínica-escola.

A contínua reflexão acerca do atendimento e das estratégias de intervenção colocadas em prática nas clínicas-escola de psicopedagogia tem subsidiado a adequação do trabalho desenvolvido às reais necessidades da clientela e o planejamento de reestruturações na organização do serviço. Dessa forma, o atendimento psicopedagógico permanece constantemente aberto a reformulações, com o intuito de aprimorar os serviços prestados, cuja relevância vem sendo corroborada pela experiência desde sua implementação.

Vale ressaltar, ainda, a importância da característica interdisciplinar da atuação do psicopedagogo que busca a articulação dos aspectos afetivos, cognitivos e sociais presentes nos processos de aprendizagem.

Cumpre assinalar, por fim, que o presente estudo pode também fornecer elementos importantes para a criação de programas semelhantes em outras clínicas-escola, uma vez que, serviços de atendimento psicopedagógico representam uma modalidade de intervenção extremamente relevante - e ainda pouco explorada - na realidade do país.

Como se trata de um estudo feito com um pequeno número de participantes, faz-se necessário aprofundamento quanto a vários aspectos, tais como a realização de um estudo longitudinal que avalie a efetiva contribuição do trabalho psicopedagógico para o desenvolvimento das crianças que buscam ajuda. A avaliação da satisfação dos participantes e um follow-up a médio e longo prazo parecem ser essenciais para conferir maior solidez ao desenvolvimento desta modalidade de atendimento. A formação e treinamento de profissionais também constituem questões importantes para a realização desta tarefa, que pode em muito contribuir como forma de atenção à saúde em um contexto carente de recursos nesta área.

 

Referências

AZEVEDO, Cleomar. Aspectos motivacionais e afetivos na mediação de professores alfabetizadores; Motivational and affectiv issues. In: Mediation of teachers alfabetizadores; Motivacionales y afectivos cuestiones en mediación de maestros alfabetizadores. Psico (Porto Alegre), v. 41, n. 4, p. 479-487, 2010.         [ Links ]

BARBARESI, W.J.; KATUSIC, S.K,; COLLIGAN, R.C.; WEAVER, A.M.& JACOBSEN, S.J. Math learning disorder: Incidence in a population-based birth cohort, 1976-1982, Rochester, Minnesota. Ambulatory Pediatrics, n.5, 281- 289, 2005.         [ Links ]

BARBOSA, J. I. & SILVARES, E. F. Uma caracterização preliminar das clínicas-escola de Fortaleza. Estudos de Psicologia, 1994, n.11, 50-56.         [ Links ] 

BARTHOLOMEU, D; SISTO, F. F. & RUEDA, F. J. Dificuldades de aprendizagem na escrita e características emocionais de crianças. Psicologia em estudo,  Maringá,  v. 11,  n. 1, Apr.  2006, 139-146.         [ Links ]

BOSSA, N.A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2002.         [ Links ]

BRASIL. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Conselho Nacional de Saúde. [online] 20. 1996. [acesso 20 set. 2011] Disponível: conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc        [ Links ]

CHAPMAN, J.W. & TUNMER, W.E. A longitudinal study of beginning reading achievement and reading self-concept. In: Brasilian Journal Educional Psychologie. 1997, v. 67, n.3, 279-91.         [ Links ] 

CORDIÉ, A. Os atrasados não existem: psicanálise de crianças com fracasso escolar (pp.15-22). Porto Alegre: Artes Médicas,1996.         [ Links ]

ELIAS, L. C. S. Crianças que apresentam baixo rendimento escolar e problemas de comportamento associados: caracterização e intervenção. Tese de Doutorado Não-Publicada. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003.         [ Links ]  

FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.         [ Links ]

FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas,1995.         [ Links ]

HÜBNER, M. M. & MARINOTTI, M. Crianças com dificuldades escolares. In E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em clínica comportamental infantil (vol. 2, pp. 259-304). Campinas, SP: Papirus, 2002.         [ Links ]

INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Resultados do SAEB 2005- Brasil e Pernambuco. Brasília- DF, 2007. [acesso 20 set. 2012] Disponível: < http://www.inep.gov.br/        [ Links ]

MARTURANO, E. M., & LOUREIRO, S. R. O desenvolvimento sócio-emocional e as queixas escolares. In A. Del Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem (pp. 259-291). Campinas, SP: Alínea, 2003        [ Links ]

MINAYO, M. C.S. O desafio do conhecimento - pesquisa qualitativa em saúde. 4 a Ed., São Paulo, HUCITEC, Rio de Janeiro, ABRASCO, 1996.         [ Links ]

OPS (Organización Panamericana de la Salud), OMS (Organización Mundial de la Salud). Atención Integrada a las Enfermedades Prevalentes de la Infancia: informe AIEPI del programa global OMS - 1996-1997. Washington (DC): Las Organizaciones; 1999. (Serie HCP/HCT/AIEPI-99.2).         [ Links ]   

PAIANO, M.;, ANDRADE, B. B.; CAZZONI, E.; ARAÚJO, J. J.; WAIDMAN, M. A. P.; MARCON S. S. Distúrbios de conduta em crianças do ensino fundamental e sua relação com a estrutura familiar. In: Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano . 2007, vol. 17, no. 2, 111-121.         [ Links ]

PISA. Profil de perfomance de élèves en compréhension del ́écrite et en sciences;         [ Links ]

Apprendre aujourd'hui, réussir demain - Premiers résultats de PISA 2003. [acesso 20 set. 20012] Disponível: www.pisa.oecd.org/document.         [ Links ]

Retenção está entre as maiores da América Latina (1997,19 de outubro). Estado de São Paulo.         [ Links ]

ROESER, R.W., & ECCLES, J.S. Schooling and mental health. In: A.J. Sameroff, M. Lewis, & S.M. Miller (Orgs.), Handbook of developmental psychopathology (pp. 135-156). New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, 2000.         [ Links ]  

RUTTER, M., CASPI, A., FERGUSSON, D., HORWOOD, L. J., GOODMAN, R., MAUGHAN, B., MOFFITT, T. E., MELTZER, H., & CARROLL, J. Sex differences in developmental reading disability: new findings from 4 epidemiological studies. Journal of American Medical Association, v. 291, n.16, 2007-2012, 2004.         [ Links ] 

SANTOS, W. P.& ALONSO, M.Z. Caracterização da demanda infantil de um serviço de psicologia. Revista do Ministério da Saúde Pública, n.3, 35-42, 2004        [ Links ]

Smythe, J. Everett & R. Salter. The international book of dyslexia: A guide to prac- tice and resources. London: John Wiley & Sons, 2004        [ Links ]

STEVANATO, I.S.; LOUREIRO, S. R.; LINHARES, M.B.M.& MARTURANO, E.M. Autoconceito de crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Psicologia em estudo. 2003, vol.8, n.1, 67-76 .         [ Links ]