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Construção psicopedagógica

Print version ISSN 1415-6954

Constr. psicopedag. vol.24 no.25 São Paulo  2016

 

RESENHA

 

 

Rose Skripka N. Gabriel1

 

 

BARONE, Leda Maria Codeço; CASTANHO, Marisa Irene Siqueira; MARTINS, Lilian Cassia Bacich (Orgs.). Psicopedagogia: teorias da aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013, 255 pags.

Nesta obra encontramos organizadas, para estudo e pesquisa, teorias da Psicologia desenvolvidas no século XX, que são referenciais no trabalho da docência e prática clínica nas áreas de Educação, Psicologia e Psicopedagogia.

As organizadoras deste livro empenharam-se no resgate dos estudos filosóficos e científicos do desenvolvimento da aprendizagem humana, apresentando os textos de maneira a não favorecer uma teoria sobre a outra, mas ressaltando o valor e a necessidade de observarmos o enfoque que cada teoria nos traz de acordo com as demandas de nosso trabalho.

No capítulo 1, Marisa Irene Castanho, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IP-USP), revisita as bases epistemológicas que explicam a relação do sujeito que aprende e o objeto. Na perspectiva do Inatismo, considera-se que há uma estrutura inata no sujeito para a compreensão do objeto. Já para o Empirismo, as experiências pelas quais o sujeito passa é que vão fazendo um conjunto de conhecimentos que se organizam em medida crescente de complexidade.

Na visão do Construtivismo, o conhecimento se dá pelo diálogo constante entre sujeito e objeto, a realidade é construída coletivamente e os conflitos são a base da transformação. A autora sugere o uso de nossa reflexão para avaliarmos o constructo inteligência, a vida em sociedade e o homem compondo a história.

Leda Maria Codeço Barone, Doutora em Psicologia Escolar (IP-USP), apresenta-nos no Capítulo 2 as contribuições da teoria psicanalítica para a compreensão da aprendizagem. Embora nos esclareça que a Psicanálise não se deteve no estudo da aprendizagem, aproveita esta teoria para o trabalho clínico. Leda nos aponta que Freud denominou "atenção flutuante" toda conversa fora das normas vigentes e "interpretação psicanalítica" o processo que ajuda o paciente a dar sentido para seus assuntos. Traz-nos Herrmann (1999), que afirma que o ato de interpretar produz a "ruptura de campo", ou seja, é um método que trabalha a produção de conhecimento e a cura. Desta feita, a autora considera o método psicanalítico como favorável nas investigações dos problemas de aprendizagem.

O capítulo 3, apresentado por Cinthia de Azevedo Piccinato e Viviane Rosalie Duarte, ambas Mestres em Análise Experimental do Comportamento (PUC-SP) e Mariângela Gentil Savoia, Doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), abordam as bases da Análise do Comportamento Aplicada, na qual o Behaviorismo é sua base filosófica. A Psicopedagogia Comportamental verifica o que gera a dificuldade de aprendizagem, dando enfoque na vida acadêmica do sujeito: observam-se suas competências, avaliam-se as condições ambientais onde ocorre a dificuldade de aprendizagem e o que faz o comportamento permanecer. O trabalho do psicopedagogo comportamental é pautado em preparação de consequências reforçadoras e planejamento dos objetivos esperados que o sujeito alcance. A proposta das autoras é o seguimento de um roteiro de ações, para que o trabalho tenha um resultado continuado, onde a aprendizagem torna-se um reforçador intrínseco.

A Epistemologia Genética de Piaget é discorrida no Capítulo 4 por Denise da Cruz Gouveia, Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IP-USP). Denise expõe detalhadamente os conceitos da teoria piagetiana, fornecendo aporte para o diagnóstico psicopedagógico adequado a cada etapa do desenvolvimento da criança, visto que a teoria de Piaget se ocupa do surgimento do pensamento lógico, a racionalidade e o conhecimento científico. Para a autora, por meio da perspectiva piagetiana obtemos um panorama dos défices junto com a observação da produção escolar da criança, o que nos capacita fazer a comparação com o que é esperado dela em sua idade e no ensino formal. O método oferece o campo para a intervenção psicopedagógica, pois no momento em que estamos examinando a criança podemos desafiá-la no que ela pensa, desestabilizando-a e promovendo a mudança. Nesta abordagem o erro é considerado fundamental para a construção do conhecimento.

No Capítulo 5, Lilian Cassia Bacich Martins, Mestre em Educação: Psicologia da Educação (PUC-SP), Marisa Irene Siqueira Castanho, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IP-USP) e Rossana Aparecida Vieira Maia Angelini, Mestre em Educação, Administração e Comunicação (Universidade São Marcos-SP), discorrem sobre a Psicologia sócio histórica. Na abordagem histórico-cultural e na conceituação de Vygotsky a criança se desenvolve atuando no seu meio físico e social, mediada tanto por seu aparato fisiológico como pelos outros com os quais convive. É pelo outro que a criança tem contato com a cultura, podendo construir gradualmente sua visão de mundo. Na atuação prática da Psicopedagogia atenta-se para a verificação da Zona de Desenvolvimento Próximo, ou seja, o que a criança faz com ajuda e que em breve fará sozinha. Por meio da mediação/interação social, o profissional identifica o que a criança faz só, e a partir daí impulsiona o crescimento do saber. As autoras enfatizam que a mudança na aprendizagem/conhecimento não acontece só pela entrada de novos conhecimentos, mas a qualidade deste avanço está ligada à escuta e ao olhar do psicopedagogo preparados para a diversas representações do real.

A Teoria Psicogenética de Henri Wallon é apresentada no Capítulo 6 por Regiane Rodrigues de Moraes, Mestre em Educação: Psicologia da Educação (PUC-SP) e Simone Alarcon Oncalla, doutoranda em Psicobiologia (UNIFESP). Wallon observava as crianças em atividade, relacionando-se com o seu meio, postulando ser o desenvolvimento decorrente da relação dialética do organismo com o meio. Analisou que a afetividade, a ação motora, e a cognição estão indiferenciadas no início da vida; havendo uma incessante alternância de manifestações emocionais e cognitivas no decorrer do crescimento. Para cada estágio de desenvolvimento uma destas irá predominar. No trabalho clínico baseado nos postulados de Wallon, o profissional deverá estar atento ao meio com o qual a criança convive, as relações que são estabelecidas na família, ao fato de que para cada faixa etária do desenvolvimento, que é dinâmico e conflituoso, a esfera afetiva predominará ou o conhecimento é que virá à baila. A perspectiva walloniana contribui para a Psicopedagogia por descrever em cada estágio de desenvolvimento quando ocorrem as predominâncias e alternâncias das esferas afetiva e cognitiva, lembrando sempre da totalidade do indivíduo, um ser que pensa, que sente e se movimenta, expressando sua personalidade. Outrossim, o mote do trabalho educativo é a adequação às necessidades da criança.

Assim como a ciência e a pesquisa têm a característica de não aceitar o que é limitante, mas questionam, discutem, trazem reflexões e soluções, este livro nos instiga à continuidade da busca pela crítica, à saída das visões restringentes. No final de cada capítulo há sugestões de leituras auxiliares, questões para reflexão, exercícios em grupo e filmes de conteúdo relacionado com as teorias tratadas.

 

 

1 Psicóloga e Psicopedagoga

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