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Construção psicopedagógica

versión impresa ISSN 1415-6954

Constr. psicopedag. vol.25 no.26 São Paulo  2017

 

Resenha

 

 

Rose Skripka N. Gabriel1

 

 

PALERMO, Roberta Rossi Oliveira. Psicopedagogia institucional e a atuação em grupos de trabalho. Curitiba: Appris, 2016, 109 p.

Doutoranda e Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Roberta Rossi Oliveira Palermo aborda a aplicação prática da Psicopedagogia em contextos onde à primeira vista a questão da aprendizagem não é um tema imprescindível, seja nas realizações de projetos de trabalho ou na formação de grupos.

Nesta obra a autora defende a educação como chave para a eficácia de uma organização, portanto campo de trabalho e pesquisa para o psicopedagogo institucional.

No primeiro capítulo Roberta discorre sobre a história da Psicopedagogia no Brasil, levando o leitor a compreender as origens da prática do psicopedagogo e ter um panorama dos fundamentos teóricos que compõem seu corpus de conhecimento.

Os processos de aprendizagem são mencionados numa perspectiva crítica, na qual a autora aponta no capítulo dois o distanciamento em que nossa sociedade se encontra do prazer de aprender.

Em sequência, no capítulo três, é problematizada a aprendizagem na escola, tema amplamente discutido, todavia com muitas barreiras a serem superadas, em grande parte por decorrência de uma sociedade que desvincula o objeto do conhecimento da afetividade, tornando o aprender rotulado e distante do verdadeiro processo onde habitam as potencialidades do aprendente.

No intuito de relacionar o aprendizado não somente com a escola, mas com qualquer outro ambiente onde se possa aprender algo, a autora expõe no capítulo quatro a Epistemologia Convergente de Jorge Visca, psicólogo e professor, estudioso da Epistemologia da Psicopedagogia.

A Epistemologia Convergente integra três teorias fundamentais: a Psicanálise de Freud, a Psicologia Social de Pichon-Rivière e a Psicologia Genética de Piaget. A interdisciplinaridade das três vertentes teóricas citadas permite aos profissionais da Educação, Psicologia, Sociologia, entre outros, conceber o aprendizado em sua complexidade, abarcando os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e estruturais, correspondentes ao processo da aprendizagem em diversos contextos, seja na escola ou nas organizações.

A Psicanálise vem contribuir com a observação das pessoas em seu cotidiano, levando em conta a percepção, a afetividade e a memória, tornando possível o entendimento de como está o vínculo com a aprendizagem. A Teoria da Psicologia Social de Pichon-Rivière nos traz a compreensão do grupo como mais do que simplesmente a soma dos integrantes. Neste ponto de vista, a teoria de Jorge Visca dialoga com a teoria de Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, que sustentou ser importante estudar o aprendizado considerando a multiplicidade de fatores envolvidos nas suas relações e contradições.

Além do mais, a Epistemologia Genética de Piaget coloca o ser que aprende como agente central do aprendizado, levando à reflexão de que o objeto do aprendizado é visto de forma diferente por cada indivíduo, de acordo com seus esquemas assimiladores possíveis.

Dando continuidade à explanação, a autora aborda no capítulo cinco a instituição como objeto de estudo da Psicopedagogia, valendo-se dos saberes da Administração e do mundo corporativo, campo de diversidades conceituais, onde o psicopedagogo atuante depara-se com divergências e confluências de saberes nas equipes multidisciplinares.

Considerando que a aprendizagem depende em parte do mundo circunjacente para acontecer, no capítulo seis a autora dedica-se à definição de grupo e suas implicações entre as pessoas da organização e a atuação do psicopedagogo, no sentido de que este profissional se ocupa dos processos de aprendizagem e dos relacionamentos, diferenciando-se dos objetivos dos demais profissionais das empresas.

No capítulo sete é delimitada a temática do comportamento organizacional, de fundamental importância para o psicopedagogo que irá trabalhar na organização, destacando-se a influência mútua dos níveis individual, grupal e estrutural da empresa. Entendendo-se que a Psicopedagogia trabalha pautada numa visão que integra muitos elementos, o psicopedagogo institucional deverá familiarizar-se tanto com a área da administração, tais como as funções e estrutura organizacional quanto com o estudo do ambiente e das pessoas e suas conexões.

O conceito de grupo e seu funcionamento são expostos no capítulo oito a partir da teoria de Wilfred Ruprecht Bion, psicanalista, que desenvolveu suas contribuições apresentando a análise do grupo por meio da identificação de padrões de comportamento. A Psicopedagogia está intensamente ligada ao trabalho com grupos dentro da organização, uma vez que examina as políticas e missões das empresas e os aspectos subjacentes das percepções das pessoas e como elas se relacionam.

À guisa de conclusão, no capítulo nove são tecidas algumas reflexões: a Administração e a Psicopedagogia são áreas complementares no estudo do comportamento em grupo, enquanto a administração dá ênfase aos modelos esperados dentro da organização, a psicopedagogia debruça sobre as origens comportamentais sócio familiares; o profissional da administração privilegia o relacionamento social demandado por questões decisórias do mercado e o psicopedagogo elege a compreensão dos processos grupais, e o espaço para que cada pessoa possa expressar e aprender sobre os papéis inerentes à organização.

No final do livro constam um roteiro vivencial que orienta o psicopedagogo com atividades que possibilitam a conscientização crítica dos envolvidos e aplicação no dia a dia do que foi aprendido e um projeto de vivência de papéis.

O percurso do livro é fundamentado no Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPP), colaborando desta forma com a ciência e ousando quando traz a problematização dos grupos em empresas e a atuação da Psicopedagogia. Desta forma, instiga o profissional pesquisador a nunca ser negligente e acomodado com o que lhe apresentado como certo, outrossim, devendo se ater ao desenvolvimento das novas metodologias e intervenções.

 

 

1 Psicóloga e Psicopedagoga

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